Além dos lucros e da produtividade movida a vapor na Revolução Industrial, as relações sociais e de trabalho também passaram por profundas transformações com consequências únicas. Iremos discutir tudo isso nesta aula de História.
A industrialização inglesa foi o início de um processo de transformação global em termos sociais, culturais, econômicos, políticos e ecológicos, sem precedentes. O investimento da burguesia na otimização da produção fabril tinha um objetivo claro: a maximização de lucros. Esse processo teve um custo humano muito alto: homens, mulheres, crianças e idosos moviam essa economia trabalhando em exaustivas jornadas diárias de até 14 horas, com remuneração escassa e constantemente sujeitos a acidentes de trabalho. Foi nesses contexto que surgiram vários movimentos operários.
Diante dos olhos capitalistas estes sujeitos não tinham grande valor, apesar de serem essenciais para o processo industrial. Isso porque sempre havia pobres e miseráveis vindos do campo procurando trabalho e poderiam substituir aqueles insatisfeitos ou mutilados.
Movimentos operários no século XIX
Diante de tamanha exploração, os operários ingleses passaram a se organizar para contestar as condições de vida e trabalho que levavam. Buscavam não só jornadas de trabalho menores e melhoria nos ambientes de trabalho, mas também exigiam maior poder de participação nas decisões políticas. Veremos alguns destes movimentos operários a seguir.
Ludismo
O nome deste movimento pode ser associado a história de um operário de nome Ned Ludd, que teria quebrado os teares de seu patrão em um momento de revolta. A história da figura de Ludd é controversa, mas o ludismo foi uma manifestação bem real. Grupos de trabalhadores revoltados com o maquinário industrial organizavam a invasão de fábricas e destruíam estes equipamentos.
A razão para isso era de pura rebelião: as máquinas eram investimentos que substituíam a mão de obra humana. Isso tirava empregos dos trabalhadores em nome da produtividade, além de acelerar o ritmo de trabalho e provocar acidentes. Porém, os ludistas não lograram maior sucesso, pois as máquinas podiam ser substituídas por outras, não atingindo o verdadeiro cerne daquela situação: as relações sociais de trabalho.
Cartismo
O movimento cartista ganhou notoriedade por entender que a pressão política era o meio viável para transformações reais da vida dos trabalhadores britânicos. O nome deste movimento operário advém do documento intitulado Carta do Povo, elaborado por Fergus O’Connor e William Lovett. Este documento foi apresentado ao Parlamento Inglês em 1838 contendo as seguintes reivindicações:
1) Direito de voto para todos os homens maiores de 21 anos;
2) Igualdade de representação para todos os distritos eleitorais;
3) Voto secreto;
4) Eleições todos os anos para o Parlamento;
5) Fim do censo eleitoral, que estipulava uma riqueza necessária para compor a Câmara dos Comuns;
6) Remuneração das funções parlamentares, para que operários pobres também pudessem ocupar cargos políticos.
A legislação da Inglaterra ainda limitava a participação política entre homens tendo como base suas posses. Se essa desigualdade de direitos já era uma barreira enorme a ser superada, no caso das mulheres ela era muito maior, pois precisavam reivindicar seus direitos contra a burguesia e contra os homens de sua própria classe social.
Os cartistas lograram grande apoio popular, obtido através da divulgação de suas ideias. Conseguiram conquistas como limitação do trabalho infantil e redução da jornada de trabalho. Porém, com o passar do tempo, seus membros não conseguiram manter a vitalidade do movimento e ele acabou desaparecendo. Contudo, sua organização serviu de inspiração para outros trabalhadores da Europa que passaram a reivindicar direitos iguais e a lutar por melhores condições de vida.
Trade Unions (Sindicatos)
A mais conhecida organização de trabalhadores de qualquer categoria profissional é o sindicato. Nele, empregados se organizam para que juntos possam ter um peso maior na hora de negociar com o patronato. Formas semelhantes de atuações de trabalhadores são conhecidas antes mesmo da Revolução Industrial, mas é neste momento que elas vão ser mais popularizadas.
Como dissemos anteriormente, naquele contexto, os indivíduos eram praticamente desprezíveis para os industriais ingleses. Mas a partir do momento que todos decidissem se organizar em movimentos operários, cruzar os braços, interromper a produção e fechar a fábrica, os prejuízos iriam se acumular. No pensamento capitalista tempo é dinheiro, e as greves organizadas pelo sindicato significavam uma quebra da lógica liberal.
Pelo fato de muitos industriais influenciarem nas decisões do Parlamento Inglês, – isso quando eles mesmos não ocupavam cadeiras no Ministério –, os sindicatos, greves e paralisações foram criminalizados e combatidos por muito tempo. Para garantir a repressão dos movimentos operários, foi utilizado o poder coercitivo da polícia, que invadia reuniões e dissipava manifestações com violência.
Apesar de serem duramente combatidos, os sindicatos não desapareceram. Lutando para sobreviver, passaram a ganhar força, tanto na Europa como nos Estados Unidos, onde na região norte fazia sua própria Revolução Industrial.
Inclusive, o dia 1º de Maio é celebrado em memória aos trabalhadores que morreram no confronto com policiais em Chicago em meio a uma greve geral. Ainda assim, a exploração da mão de obra infantil e as desigualdades salariais entre homens e mulheres continuaram a existir legalmente até o século XX na maioria dos países ocidentais.
Contribuições Socialistas e Anarquistas
Na história do trabalho durante o século XIX é impensável não mencionar os movimentos socialista e anarquista no contextos dos movimentos operários de luta pela transformação social da realidade de trabalhadoras e trabalhadores. São figuras de referência destas correntes Karl Marx e Mikhail Bakunin, respectivamente.
Marx e Friederich Engels foram intelectuais que ficaram conhecidos na história como socialistas científicos. A terminologia advém do fato de estes pensadores elaborarem uma análise da história da humanidade baseada nas relações de trabalho e proporem caminhos para a transformação da realidade dos trabalhadores europeus.
Para eles, em termos gerais, a história sempre se modificou quando uma massa de pessoas exploradas no trabalho se revoltava contra a ação de seus exploradores. Para Marx e Engels isso era evidente, pois os escravizados na antiguidade lutavam contra seus senhores, os servos feudais e a burguesia contestaram os privilégios da aristocracia e do clero, e agora restava aos proletários lutarem contra os proprietários industriais.
O comunismo defendido pelos autores seria um estágio em que não haveria mais classes sociais e cada família seria responsável pela sua própria economia. Os homens deveriam tomar consciência da sua condição de explorados e iniciar uma luta de classes contra seus patrões.
Ao tomarem o poder, Marx explica que os homens haveriam de instaurar uma Ditadura do Proletariado, onde os trabalhadores manteriam controle das fábricas e repartiriam toda a produção igualmente entre os trabalhadores.
Só depois desta etapa, também chamada de socialismo, é que a humanidade chegaria na plenitude do comunismo. Não é por acaso que suas ideias não agradaram nenhum um pouco a burguesia e os estadistas de sua época. No entanto, a influência destes pensadores mobilizou a ação de operários e são objetos de estudo até hoje.
Por outro lado, os anarquistas, influenciados por Mikhail Bakunin e Pierre Proudhon, distinguiam-se dos socialistas por defenderem que qualquer forma de hierarquia e poder iria se consolidar em opressão. Além de lutarem contra o poder religioso e o poder do Estado, também contestavam o poder nas relações de trabalho.
Também defendiam uma sociedade sem classes na qual o indivíduo seria livre da opressão, mas discordavam dos socialistas quanto aos meios para se atingir essa realidade. Defendiam que uma ditadura do proletariado seria uma possibilidade para alguém usurpar o poder e jamais permitir sua dissolução. O pensamento anarquista ainda influencia pessoas no mundo inteiro. No Brasil, se atribui a eles a influência da primeira greve geral em 1917.
Videoaula sobre doutrinas sociais
Para terminar sua revisão sobre os movimentos operários que surgiram a partir da Revolução Industrial, assista à videoaula abaixo!
Exercícios sobre movimentos operários
Para terminar, resolva os exercícios abaixo com questões selecionadas pelo nosso professor!
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Pergunta 1 de 10
1. Pergunta
(PUCCamp SP/2016)
Durante o processo de industrialização na Europa, a exploração social foi intensa devido às duras condições de trabalho impostas, contra as quais emergiram movimentos operários significativos no século XIX, caso do
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Pergunta 2 de 10
2. Pergunta
(Fac. Direito de Sorocaba SP/2016)
Leia os versos de uma canção do início do século XIX.
De pé ficaremos todos
E com firmeza juramos
Quebrar tesouras e válvulas
E pôr fogo às fábricas daninhas.
(Apud Leo Huberman, História da riqueza do homem)
Essa canção está relacionada
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Pergunta 3 de 10
3. Pergunta
(FM Petrópolis RJ/2016)
Entendendo o horário eleitoral (2014)
Nos dias atuais, muitos eleitores brasileiros têm opinião similar à do telespectador representado na charge. Mas nem sempre foi assim. Ao contrário: em meados do século XIX, na Inglaterra, ganhava força um movimento social de trabalhadores cujas demandas partiam de premissa frontalmente oposta àquela que está associada à opinião do “eleitor” da charge.
O nome desse movimento social e uma demanda que expunha quanto à remuneração do trabalho de representação parlamentar estão apresentados, respectivamente, em:
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Pergunta 4 de 10
4. Pergunta
(UECE/2016)
Atente ao seguinte excerto: “De 1815 a 1847, F. Gaillot arrola uma quinzena de casos ocorridos e outros tantos de tentativas abortadas. O ludismo é mais importante em 1848, quando assume feições particularmente graves, à imagem da duração da crise e da esperança despertada pela nova República”.
(PERROT, M. Os excluídos da História. Operários, mulheres,
prisioneiros. Trad. Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p.37.)
Sobre o ludismo, é correto afirmar que
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Pergunta 5 de 10
5. Pergunta
(IFGO/2015)
Há 150 anos, a primeira tentativa de união dos trabalhadores do mundo
Não surpreende, portanto, que tenha nascido na Inglaterra, berço da Revolução Industrial, a tentativa pioneira de organização dos trabalhadores a nível mundial. No dia 28 de setembro de 1864, cerca de 2 mil pessoas se reuniram no salão do St. Martin’s Hall, em Londres, para assistir a um comício de dirigentes sindicais ingleses que contaria com a participação de um pequeno grupo de colegas franceses. Ali seria fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), modelo e inspiração para as principais organizações operárias surgidas depois. A AIT teve vida curta, sendo esvaziada com a transferência de sua sede para Nova York em 1872 e dissolvida quatro anos depois, mas um século e meio após sua fundação ainda é capaz de provocar controvérsias, como as disputas entre comunistas e anarquistas.
A Revolução Industrial foi um fenômeno de grande importância para uma profunda reestruturação no mundo do trabalho e tem grandes implicações na atualidade.
Com base na matéria de jornal apresentada, assinale a alternativa correta.
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Pergunta 6 de 10
6. Pergunta
(IFSP/2015)
O movimento Cartista surgiu na Inglaterra entre as décadas de 30 e 40 do século XIX e reivindicava melhores condições de vida e de trabalho a nova classe operária. Antes dele, ocorreu o Ludismo, o qual
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Pergunta 7 de 10
7. Pergunta
(UEFS BA/2015)
Na escola inglesa The School of Life, que abriu filiais no Brasil, o físico irlandês Stephen Little é professor de mindfulness, uma filosofia moderna cuja orientação é estimular as pessoas a ter atenção em cada atividade que desempenham. Little considera os estímulos tecnológicos rivais desta meta e, neoludita, tomou medidas drásticas contra os gadgets. “Não quero me distanciar do que há de prazeroso na vida, como olhar o mundo sem uma tela na frente”, diz. Ele instalou em sua casa um dispositivo que desliga o wi-fi às 6 da tarde e decidiu checar o e-mail apenas duas vezes ao dia. (VILICIC; BEER, 2015, p. 81).
VILIVIC, F.; BEER, R. Thibum! Veja. São Paulo:
Abril, ed. 2413, ano 48, n. 7, 18 fev. 2015, p. 66.
O termo “neoludita”, aplicado ao físico irlandês, se diferencia do movimento ludita, que eclodiu na Inglaterra na primeira fase da Revolução Industrial, porque o
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Pergunta 8 de 10
8. Pergunta
(ACAFE SC/2015)
De modo geral, a Revolução Industrial foi o período entre os séculos XVIII e XIX em que aconteceram diversas transformações nas formas de produção de mercadorias e produtos. A produção artesanal e manufatureira acabou sendo substituída pela produção em série, realizada por trabalhadores assalariados e com o uso de máquinas. A Inglaterra foi o Estado pioneiro nesse processo.
Acerca do pioneirismo inglês na Revolução Industrial, todas as alternativas estão corretas, exceto a:
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Pergunta 9 de 10
9. Pergunta
(IFES/2015)
Nas primeiras décadas do século XI, a Inglaterra consolidou-se como principal potência mundial, situação que vigorou até o início do século XX. A rainha Vitória ocupou o trono inglês durante a maior parte desse século. Adotou uma política marcadamente burguesa e impulsionadora do liberalismo. O período vitoriano foi também uma época de grandes conquistas sociais e políticas, a saber:
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Pergunta 10 de 10
10. Pergunta
(FPS PE/2017)
A Revolução Industrial imprimiu uma nova feição à Europa, propiciando, além de um novo sistema de produção e relações de trabalho, novas ideologias sociais e concepções de riqueza, como:
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Sobre o(a) autor(a):
Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.
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