Venha conferir como o filosofo francês Michael Foucault revolucionou os estudos acerca do Poder e sua relação com a Verdade. Esse filósofo moderno nos mostrou como a influência das Fake News impacta nossas vidas. Vem conferir, é conteúdo do Enem.
Quando falamos sobre verdade, de maneira geral, entendemos como uma coisa única e imutável que permanece inabalável com o passar das eras ao passo que guia a humanidade rumo ao futuro. O filosofo francês Michael Foucault olhou toda essa ideia e decidiu estudar o assunto mais afundo. Nessa aula, você vai entender mais sobre a ideia de verdade e poder para Foucault.
Verdade e poder para Foucault
Para isso, Foucault rompe com a visão estabelecida de verdade como pináculo imutável da humanidade. Ele defende, então, a ideia de que a verdade é algo criado a partir de determinadas forças políticas para manter uma elite no controle.
Arqueologia das ciências humanas
Fazendo uma análise histórica do problema em questão, Foucault investiga o pensamento humano em busca da origem das coisas. Essa investigação foi chamada pelo autor de arqueologia das ciências humanas.
O estudo de Foucault tem uma pegada bem parecida com o estudo feito por Nietzsche ao escrever A Genealogia da Moral. Isso porque ambos os estudos buscam, principalmente a partir da análise da língua e da história, entender a origem de conceitos e costumes que temos hoje.
Nosso agir, segundo Foucault, é regido por uma série de regras – das quais podemos ou não estar cientes – que são determinadas pelo momento histórico em que nos encontramos. Ora, por serem atreladas à história, essas regras acabam mudando com o passar do tempo. Logo, é necessária uma arqueologia para exumar a maneira que as pessoas pensavam eras atrás.
Nessa busca arqueológica, Foucault focou em dois conceitos específicos: o homem e a humanidade. Misoginia a parte, esses conceitos se fundamentam nas ideias de Immanuel Kant, o filósofo que floresceu a Filosofia ao deixar de lado aquela velha ideia a respeito de como é o mundo, e passou a se indagar sobre a maneira como vemos o mundo.
Ao supor que a humanidade sempre foi dessa maneira, isto é, ao supor que a verdade é algo imutável, estamos falando que essa humanidade sempre foi o conceito de verdade criado pelos iluministas do Século XVIII. Assim, desconsideramos todo o pensamento antigo, medieval, renascentista e etc. que precedeu nossa época.
Compunha-se assim a justificativa base para a tese de que a verdade é mutável e altera-se de acordo com as circunstâncias, tais como o espaço e o tempo; ela é gerada por um fenômeno denominado Poder.
O Poder para Foucault
Dissertar sobre o Poder não era algo novo na época do Foucault, ainda sim, a Filosofia tinha até esse momento postulado a fonte do Poder no estado. Hobbes acreditava que o Poder residia (e necessitava residir) no soberano – alguém cujo poder seja soberano – para assim livrar as pessoas das mazelas da sociedade.
Um outro sujeito famoso era Maquiavel, que pregava a ideia de que o Poder era demostrado por meio da força e imposição da vontade de um soberano de maneira mais visceral. Sua visão a respeito do Poder fica bem nítida com aquela ideia que prioriza ser temido ao invés de ser amado.
A visão do poder em Foucault era diferente do que até então havia se teorizado. O filósofo francês acreditava que, ao invés de centralizado na figura do estado ou de um soberano o Poder estava difundido nos micro-lugares.
Assim sendo, é supérfluo fundamentar uma teoria filosófica na autoridade institucional analisando essa “instituição” chamada de Estado. Visto que o Estado é apenas uma das diversas expressões da estrutura e das configurações que o Poder assume na nossa sociedade.
Já que o Estado é apenas uma das diversas faces do Poder, quais são as outras? O poder em Foucault teria micro relações. Por exemplo, quando você está na escola ou no cursinho, existe uma relação de Poder entre você e seu professor. Ou ainda, no caso de uma penitenciária, existe uma relação de poder entre o sujeito encarcerado e o carcereiro.
Essas relações acontecem em nossa vida das maneiras mais ordinárias possíveis. Desde sua relação com seu patrão (empregado/empregador) até na sua estrutura familiar. Por conta disso, o Poder em Foucault não pertence a ninguém. Para Foucault o Poder não está localizado ou centrado em uma instituição.
Da Verdade e do Poder em Foucault
Bom, já dizia Francis Bacon nos idos do Século XVII que “Conhecimento é Poder”. Corroborando com essa visão, Michael Foucault entendia que o conhecimento (aquela “parada” gerada pela verdade) garantia, a quem o detém, certos privilégios. Assim, podemos adaptar a máxima de Bacon para algo como Verdade é Poder.
Como a verdade é algo mutável, pois é uma produção histórica, ela existia nas mais diversas formas. O que fez com que determinados grupos ou indivíduos conseguissem, por meio de um discurso, que se dizia verdadeiro, determinados privilégios na sociedade. Ora, o Poder é um efeito da Verdade, isto é, aquele que detém a narrativa a respeito de um campo, tem sobre esse campo Poder.
Veja, se você olhar internet a fora, vai encontrar um monte de pessoas dizendo um monte de absurdos sobre os mais diversos temas. Como exemplo, podemos pensar no terraplanismo. Você acha até pretensos filósofos, sem quaisquer credenciais, defendendo esse absurdo que já foi devidamente refutado quando o Poder que o sustentava – A igreja e o pensamento cristão – ruiu.
Então perceba que essa Verdade está atrelada a uma época cuja maior expressão do Poder vinha da Igreja (e todas as micro relações envolvidas com ela).
Se você quiser desenvolver seu filósofo interior, é só comparar a enxurrada de Fake News em que o mundo tem se afogado nessa década e as relações de Poder que isso gerou. Temos alguns indivíduos postulando enunciados falsos (ou como dizemos na Lógica: Falácias) e compartilhando com o mundo.
Por conta das micro-relações, como por exemplo, do Youtuber com o inscrito ou do digital influencer com o seu seguidor, essas pretensas Verdades (falácias) acabam se alastrando e gerando mudanças no tecido social. Garantindo, assim, o poder a uma corja de enganadores que depois fazem a manutenção dessas falácias de maneiras esdrúxulas para continuar com o Poder.
Há então uma relação direta entre Verdade e Poder, tanto é que na arqueologia elaborada por Foucault foi possível concluir que algumas relações de Poder, isto é, a ação de determinados instrumentos de Poder, produziram uma Verdade diferente ao longo da história.
Temos então um ciclo da Verdade e do Poder. O Poder é utilizado para postular algumas verdades e essas verdades por sua vez garantem Poder a quem as forjou, fazendo com que o Poder permaneça tal como é, garantindo a validade da Verdade.
Por fim, meu camarada Foucault pregava que a Verdade é uma construção histórica e consequentemente se alterava de acordo com o Poder vigente na época. Assim, a Verdade passou de algo que era absoluta para uma coisa relativa e nós assim como a Verdade também somos produtos de nossa história e estamos sujeitos aos efeitos dessa relação entre Verdade e Poder.
Agora é contigo, bora lá fazer resolver essas questões e ficar afiado para o Enem.
Resumo sobre o pensamento de Foucault
Para saber mais sobre as ideias de Foucault e o poder em Foucault, veja essa excelente videoaula do Professor Allan para o nosso canal:
Exercícios sobre verdade e poder para Foucault
Agora, para testar seus conhecimentos, faça os exercícios que selecionei para você.
1) (Unioeste 2016) Os estudos realizados por Michel Foucault (1926-1984) apresentam interfaces que corroboram para estudos em diversas áreas de conhecimento, entre as quais a Filosofia, Ciências Sociais, Pedagogia, Psiquiatria, Medicina e Direito. Em 1975, Foucault publicou a obra “Vigiar e Punir: história da violência das prisões”, na qual propunha uma nova concepção de poder, a qual abandonava alguns postulados que marcaram a posição tradicional da esquerda do período. Sobre a concepção de poder foucaultiana, é CORRETO afirmar.
(A) Só exerce poder quem o possui, por se tratar de um privilégio adquirido pela classe dominante que detém o poder econômico.
(B) O poder está centralizado na figura do Estado e está localizado no próprio aparelho de Estado, que é o instrumento privilegiado do poder.
(C) Todo poder está subordinado a um modo de produção e a uma infraestrutura, pois o modo como a vida econômica é organizada determina a política.
(D) O poder tem como essência dividir os que possuem poder (classe dominante) daqueles que não têm poder (classe dos dominados).
(E) O poder não remete diretamente a uma estrutura política, ao uso da força ou a uma classe dominante: as relações de poder são móveis e só podem existir quando os sujeitos são livres e há possibilidade de resistência.
2 (Enem 2010) A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros pastores: a lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes que agonizam no dia que está amanhecendo.
FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes. 1999
O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à organização social.
Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização das sociedades modernas é
(A) combater ações violentas na guerra entre as nações.
(B) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados.
(C) coagir e servir para refrear a agressividade humana.
(D) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos de uma mesma nação.
(E) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos.
3) Enem (2010) A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros pastores: a lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes que agonizam no dia que está amanhecendo.
FOUCAULT. M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In. Em defesa da
sociedade. São Paulo: Martins Fontes. 1999
O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização das sociedades modernas é
(A) combater ações violentas na guerra entre as nações.
(B) coagir e servir para refrear a agressividade humana.
(C) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos de uma mesma nação.
(D) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos.
(E) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados.
Gabarito
1. A, 2. B, 3. E.