Francis Bacon e o empirismo inglês

Francis Bacon foi um filósofo, cientista, ensaísta e político inglês, e também um dos principais nomes da corrente filosófica do empirismo.

Conhecimento é poder! Essa é a máxima de um sujeito chamado Francis Bacon. Ele possuía uma acuidade com a Filosofia que transformou o mundo a sua volta. Por isso, é frequentemente chamado de pai do empirismo britânico.

Francis Bacon
Francis Bacon ostentava o título de Barão de Verulam e Visconde de Saint Alban. É considerado por muitos o fundador da Ciência Moderna.

Pai do empirismo britânico porque, como você deve imaginar, Francis Bacon é inglês. A Grã-Bretanha por sua vez, teve uma forte tradição de filósofos empiristas, pensadores que foram inspirados por Francis Bacon a seguir essa corrente filosófica. Mas vamos com calma, antes de tudo bora lá trocar uma ideia sobre a época em que Bacon estava inserido.

Revolução Científica

Francis Bacon nasceu após o ápice da Filosofia do Renascimento. Toda aquela empolgação do período anterior com o mundo antigo já havia passado. A moda agora era uma abordagem mais científica do conhecimento, seguindo a onda de nomes como Giordano Bruno, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Isaac Newton.

Esse conjunto de ideias e interpretações inovadoras do mundo ao nosso redor ficou conhecido como Revolução Científica. Durou de meados do século XVI até o século XVIII. Nessa época, a ciência, que antes estava ligada à Teologia, separou-se da igreja e se tornou um conhecimento autônomo.

Francis Bacon
O conceito de Revolução Científica não era utilizado na época em que ocorreu. Somente em 1939 que um pensador chamado Alexandre Koyré começou a usar o conceito para se referir ao período de mudanças intelectuais radicais pós Renascimento.

O empirismo inglês

Em Londres, cidade de Bacon, a igreja já não tinha tanto poder assim. Isso porque toda confusão matrimonial causada por Henrique VIII, que foi excomungado pela igreja católica em julho de 1533, levou a Inglaterra a romper com Roma. Daí toda aquela pressão da igreja que atravancava os avanços da ciência acabou sendo bem mais amena na Inglaterra. Isso criou um cenário propício para o surgimento da tradição empírica no país.

O próprio Bacon dizia reconhecer como legítimas as doutrinas da igreja. Contudo, ele também se manifestava a favor de a ciência ser estudada de maneira separada da religião. Com isso, a aquisição do conhecimento seria algo bem mais fácil, rápido e prático.

A partir desse contexto surgiram outros pensadores que adotaram o empirismo como corrente filosófica. Os herdeiros mais famosos dessa tradição foram John Locke, George Berkeley e David Hume.

Francis Bacon
Figura 3: Filósofos empiristas ingleses.

Método científico

Talvez a maior contribuição de Bacon para posteridade foi a elaboração de um método científico. O pensador defendia que a Filosofia avançava por meio da formulação de leis de generalidade crescente. Ou seja, para conhecer o mundo devemos observá-lo e, a partir disso, criar regras universais para seu entendimento.

Segundo o filosofo, nós somos capazes de observar o mundo de duas maneiras. A primeira é pela antecipação, ou seja, sem a necessidade de experimentos, fazendo com que não se exija amostras práticas para que o conhecimento seja verdadeiro. A segunda maneira se dá pela observação e interpretação, ou seja, utilizando um método para realizar experiências. Assim, podemos observar o mundo em busca de verdades gerais.

francis bacon
O método indutivo vai do menor para maior, isto é, parte de uma premissa individual para chegar em uma premissa geral. Já no método dedutivo, a conclusão está implícita nas premissas.

Para Bacon, o conhecimento válido é aquele que pode ser repetido. Desta forma, o filosofo aplica o que chamamos de método indutivo. É possível traçar as origens desse método até a Grécia Antiga, num momento próximo ao surgimento da Filosofia. O grande Aristóteles já fazia uso da indução quando falava sobre sua Filosofia Primeira.

Método indutivo

Em seus estudos sobre lógica, Aristóteles dizia que a partir da observação de uma característica que se repete em determinada coisa, podemos, por meio do método indutivo, concluir que todas as coisas possuem essa característica. Se liga no exemplo:

Observando os animais mamíferos, eu posso notar que eles não botam ovos. Ora, eu observei individualmente centenas de mamíferos e notei que eles não botam ovos. Basta, segundo Aristóteles, observar esse grupo para ser induzido a concluir que mamíferos não botam ovos. Pelo fato de a característica de não botar ovos se repetir, por meio do método indutivo, eu concluo que todos os mamíferos possuem essa característica.

Para mostrar que nem sempre essa história de observação e repetição e válida, conheça o Ornithorhynchus anatinus, vulgo Ornitorrinco. Um mamífero que bota ovos!

Exemplos negativos

De volta a Bacon, o inglês propôs uma variante dessa abordagem. Em vez de observamos o mundo e partir disso extrair conclusões afirmativas (como por exemplo: todo filosofo é barbudo, a fim de concluir que para ser filosofo é preciso ter barba), ele propôs o oposto: buscar exemplos negativos.

Esse exemplo negativo funciona de maneira contrária, buscando o grupo dos filósofos que não possuem barba. Embora a finalidade seja a mesma, elencar por meio da observação as coisas em categorias para obtenção de uma lei universal, o método empregado é bem diferente.

Ora, ambos os métodos acima são considerados empíricos, pois se fundamentam na observação do mundo para produzir enunciados verdadeiros. Contudo, a variação proposta por Bacon foi algo inédito até então.

Tal variação é muito importante para prevenir essas falsas conclusões, como no caso do ornitorrinco, pois a partir dela é possível a eliminação de características não essenciais naquilo que observamos. Portanto, é algo que vai além do empirismo aristotélico ao buscar a qualidade das coisas e não somente a quantidade.

Ciência como guia

Francis Bacon acreditava no papel transformador das ciências nas vidas das pessoas. O inglês desejava algo a mais do que o estudo meramente teórico do mundo. Ele buscava uma abordagem prática para os problemas cotidianos que o cercavam, corroborando com a luta pelo fim da superstição da época.

É bacana (talvez demasiadamente otimista) embarcar na onda de Francis Bacon e pensar que o conhecimento é algo que nos dá poder para nos livrar dos grilhões que a ignorância nos submete. Pensar que a partir dos avanços nas ciências o homem deixa de ser escravo da natureza e passa a ser um sujeito autônomo que, através do progresso científico, molda o mundo em benefício da humanidade.

Contudo, ficam os questionamentos: será que é como ele dizia, conhecimento é mesmo poder? Essa noção de progresso científico não trouxe só benefícios para humanidade. Basta olharmos para as duas grandes guerras, que com campos de extermínio e bombas atômicas, aterrorizaram o mundo com o conhecimento científico que acumulamos.

Videoaula sobre Francis Bacon

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Exercícios sobre Francis Bacon

1- (Enem 2013)

Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.

CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado).

Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em

(A) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes.

(B) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia.

(C) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso.

(D) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos.

(E) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos.

2- (Uel 2012)

A figura do homem que triunfa sobre a natureza bruta (Fig. 5) é significativa para se pensar a filosofia de Francis Bacon (1561-1626). Com base no pensamento de Bacon, considere as afirmativas a seguir.

I. O homem deve agir como intérprete da natureza para melhor conhecê-la e dominá-la em seu benefício.

II. O acesso ao conhecimento sobre a natureza depende da experiência guiada por método indutivo.

III. O verdadeiro pesquisador da natureza é um homem que parte de proposições gerais para, na sequência e à luz destas, clarificar as premissas menores.

IV. Os homens de experimentos processam as informações à luz de preceitos dados a priori pela razão.

Assinale a alternativa correta.

(A) Somente as afirmativas I e II são corretas.

(B) Somente as afirmativas II e IV são corretas.

(C) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

(D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

(E) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

3- (Uel 2011)

Leia o texto a seguir.

O pensamento moderno caracteriza-se pelo crescente abandono da ciência aristotélica. Um dos pensadores modernos desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristóteles – considerando que esta não permitia explicar o progresso do conhecimento científico – foi Francis Bacon. No livro Novum Organum, Bacon formulou o método indutivo como alternativa ao método lógico-dedutivo aristotélico.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Bacon, é correto afirmar que o método indutivo consiste

(A) na derivação de consequências lógicas com base no corpo de conhecimento de um dado período histórico.

(B) no estabelecimento de leis universais e necessárias com base nas formas válidas do silogismo tal como preservado pelos medievais.

(C) na postulação de leis universais com base em casos observados na experiência, os quais apresentam regularidade.

(D) na inferência de leis naturais baseadas no testemunho de autoridades científicas aceitas universalmente.

(E) na observação de casos particulares revelados pela experiência, os quais impedem a necessidade e a universalidade no estabelecimento das leis naturais.

GABARITO:

  1. C
  2. A
  3. C

Sobre o(a) autor(a):

Os textos e exemplos acima foram preparados pelo professor Ernani Silva para o Blog do Enem. Ernani é formado em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista. Ministra aulas de Filosofia em escolas da Grande Florianópolis. Facebook: https://www.facebook.com/ErnaniJrSilva

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