Cruzadas: o que foram, quais suas motivações e consequências

Temas de filmes, livros e videogames, as Cruzadas e as ordens de cavaleiros despertam nossa curiosidade até hoje. E também são assuntos que caem no Enem e nos vestibulares! Acompanhe esta aula de História para saber mais sobre os conflitos entre cristãos e muçulmanos!

Para os cristãos da Idade Medieval, peregrinar para cidades sagradas era algo muito importante. Eles iam para Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela para pagar promessas, pedir uma graça ou como forma de penitência. Além disso, essas viagens eram as únicas oportunidades para muitos fiéis conhecerem outra parte do mundo. E foram elas que deram início às Cruzadas.

A cidade de Jerusalém era a que mais recebia visitantes, pois também era sagrada para judeus e muçulmanos. Desde o século VII, a Palestina, região onde está localizada Jerusalém, estava dominada por muçulmanos que autorizavam a entrada de fiéis de outras religiões.

No entanto, em 1078, a cidade foi tomada por outro povo muçulmano, os turcos seljúcidas. Eles eram hostis aos cristãos e, por isso, proibiram suas peregrinações e tomaram territórios bizantinos.

Motivações das Cruzadas

Em 1095, o papa Urbano II começou a convocar cristãos para lutarem contra os seljúcidas. Mas recuperar Jerusalém não era o único objetivo da Igreja. As expedições em direção à Palestina, que ficaram conhecidas como Cruzadas, também tinham motivações políticas.

Elas serviriam ao propósito de unir os cristãos no combate de um inimigo comum e, com isso, acabar com a crise enfrentada pela Igreja nos séculos X e XI. Além disso, como os bizantinos se uniriam a eles nas batalhas, o papa tinha esperança de unificar novamente as Igrejas do Ocidente e Oriente, que estavam separadas desde o Cisma do Oriente, em 1054.

É possível perceber essas intenções num trecho do discurso de convocação de Urbano II:

“Cessem, pois, os ódios intestinos, apaguem-se os contenciosos, aplaquem-se as guerras e sossegue toda a discórdia e inimizade. Empreendei o caminho do Santo Sepulcro, arrancai aquela terra àquele povo celerado e submetei-la a vós”.

Com essas justificativas, a Igreja começava a promover o que considerou uma “guerra santa” contra os muçulmanos e em busca da expansão do catolicismo.

Para motivar as pessoas a irem combater numa terra distante e desconhecida, a Igreja prometeu a salvação da alma de quem morresse em combate. Apesar disso, os cristãos tinham outros interesses nas Cruzadas. Os nobres queriam conquistar novas terras e riquezas, os mercadores desejavam que as expedições reabrissem o comércio no Mediterrâneo, e os camponeses almejavam alcançar sua liberdade.

mapa das cruzadas
Mapa das Cruzadas.

A Primeira Cruzada

As Cruzadas eram compostas por várias expedições que saíam da Europa Ocidental em direção à “Terra Santa” de Jerusalém. Os primeiros grupos partiram em 1096 e eram formados, basicamente, de pessoas pobres sem nenhum treinamento militar. Conhecida como “Cruzada Popular” ou “Cruzada dos Mendigos”, a expedição de cerca de 40 mil pessoas fracassou antes mesmo de chegar ao seu destino.

Os soldados entraram em conflito com populações locais de camponeses pelo caminho, muitos morreram de fome e aqueles que alcançaram a Palestina foram rapidamente derrotados. Apenas 3 mil cruzados retornaram para suas casas.

O segundo grupo de peregrinos era formado por cerca de 53 mil cavaleiros. Por isso, ficou conhecido como “Cruzada dos Nobres”. Apesar de passar por dificuldades semelhantes ao grupo anterior, obteve êxito na conquista de Jerusalém.

Em 1099, a cidade sagrada foi transformada no Reino Latino de Jerusalém. Também foram conquistados os condados de Edessa e Trípoli. Quando voltaram para suas casas, os cavaleiros que participaram da cruzada foram recompensados com terras.

primeira cruzada
luminura de 1350 retratando a tomada de Jerusalém pelos cruzados.

Outras Cruzadas 

Os reinos fundados pelos cristãos, entretanto, não duraram muito tempo. Os muçulmanos voltaram a conquistar o território de Edessa em 1145, o que motivou a Segunda Cruzada. A nova expedição foi liderada pelo rei da França e pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico, e acabou sendo derrotada. A Terceira Cruzada também foi comandada por reis e, novamente, os cristãos não obtiveram sucesso em recuperar o domínio de Jerusalém.

Os conflitos entre cristãos e muçulmanos eram incessantes. Ao todo, foram empreendidas oito Cruzadas entre 1096 e 1270, e foi apenas na primeira que a Igreja Católica saiu vitoriosa. Além disso, o saldo de mortes foi enorme. Somente na Primeira Cruzada, unindo os dois lados do combate, 40 mil pessoas perderam suas vidas.

A intenção de unir as Igrejas do Ocidente e do Oriente também não foi concretizada. O imperador bizantino considerava-se o soberano dos cristãos em terras orientais, mas os cruzados nunca aceitaram sua autoridade. Inclusive, a Quarta Cruzada ficou conhecida como “Cruzada Bandida” porque os soldados atacaram o Império Bizantino em vez dos muçulmanos. Por causa disso, os cristãos orientais recusaram qualquer tentativa de aproximação de Roma.

Contudo, a Europa Ocidental não teve apenas perdas, pois conquistou importantes postos mercantis no Mediterrâneo. A Igreja também teve seus benefícios. O papa viu sua autoridade aumentar e a instituição enriquecer ainda mais. E, no final das contas, apesar de Jerusalém estar nas mãos dos muçulmanos, a peregrinação de cristãos foi autorizada.

O ideal de cavalaria

Quando alguém fala em Cruzadas, é provável que você lembre de cavaleiros com cruzes vermelhas pintadas nos uniformes. Realmente, muitos os homens que foram às Cruzadas eram cavaleiros da nobreza feudal e cavaleiros errantes, que vagavam pelas cidades com a esperança de obter riquezas vencendo torneios.

Antes das Cruzadas, os cavaleiros causavam problemas que a Igreja tentava solucionar. Eram frequentes os conflitos entre nobres pela posse de terra. Havia muita violência nas ações dos cavaleiros, que invadiam terras, saqueavam bens, atacavam a população desarmada e estupravam mulheres.

No século X, a Igreja criou uma campanha chamada “Paz de Deus” para cristianizar os cavaleiros. Eles passaram a ter que fazer um juramento prometendo manter a paz e proteger a sociedade. Além disso, um calendário de guerras foi instituído para que não houvesse conflitos em dias santos.

Cavaleiros nas Cruzadas

Mas o que realmente funcionou para disciplinar a cavalaria foi enviá-los para as Cruzadas, pois as guerras saíram do território da Europa Ocidental e os cavaleiros uniram-se em uma missão comum.

A partir de então, a cavalaria se tornou uma atividade sagrada e os cavaleiros deveriam, em teoria, seguir uma série de normas éticas. Eles juravam proteger a Igreja, os órfãos, as viúvas, não poderiam mentir e nem atacar adversários indefesos.

Para cumprir esses compromissos, passaram a se organizar em ordens. As mais famosas foram a Ordem dos Templários e a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos. Para participar delas, era preciso passar por um treinamento que durava anos.

cavaleiros templários - cruzadas
Gravura de 1875 representando os cavaleiros templários.

Os valores seguidos pelos cavaleiros, como lealdade, fidelidade e dedicação, acabaram dando origem às novelas de cavalaria e aos poemas de gesta. Uma das obras mais famosas que trata do assunto é “Dom Quixote de La Mancha”, que satiriza a novela de cavalaria  e os próprios cavaleiros medievais.

Apesar de todo o idealismo da teoria, os muçulmanos viram uma prática bem diferente. Durante as Cruzadas, milhares de crianças, mulheres e idosos foram mortos pelos cavaleiros em cidades como Antioquia e Jerusalém. 

Ainda que ambos os lados tenham cometido atrocidades, como a escravização da população e o saque das cidades, os cristãos eram mais violentos. A brutalidade foi tamanha que os ocidentais passaram a ser vistos pelos islâmicos como bárbaros sanguinários.

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Exercícios sobre as Cruzadas:

01 – (UNITAU SP/2019)    

Leia o trecho do texto Annales Herbipolensis, de autor anônimo, do início do século XII:

“E não [foram às cruzadas] apenas homens da plebe, mas também reis, duques, marqueses e outros poderosos deste mundo, acreditando assim que prestavam serviço a Deus. […] Porém, as intenções destas várias pessoas eram diferentes. Algumas, na realidade, ávidas de novidades, iam para saber coisas novas sobre as terras. Outras eram levadas pela pobreza, por estarem em situação difícil em sua casa; estes homens foram combater não apenas os inimigos da Cruz de Cristo, mas mesmo os amigos do nome cristão, onde quer que vissem a oportunidade de aliviar a sua pobreza”.

PEDRERO-SANCHEZ, M. G. Histórias da Idade Média:
textos e testemunhas. São Paulo: Ed. da Unesp, p. 86.

Sobre as cruzadas, é CORRETO afirmar:

a) Diferentes personagens participaram do movimento das cruzadas, mas pode-se afirmar que os nobres iam para as batalhas em busca de riqueza e de terras no Oriente Médio.

b) O movimento cruzadista é um exemplo das relações entre nobreza e Igreja, segundo as quais a primeira controlava o destino da segunda.

c) A miséria levou diversas pessoas às cruzadas, pois o voto de pobreza e o combate ao inimigo de Cristo eram atos de fé.

d) As intenções das várias pessoas que iam às cruzadas eram diversas, mas a principal era conhecer coisas novas, para fugir da estagnação científica imposta pela Igreja.

e) As cruzadas compõem um movimento complexo, que articulou estruturas políticas, religiosas, sociais, culturais e mentais.

2 – (IFGO/2019)    

A partir do final do século XI tornou-se comum, na Europa Medieval Ocidental, que era a obrigação de todos os cristãos combater o Islã. Este é o contexto em que se desenvolvem as Cruzadas. Sobre esse movimento, é correto afirmar que:

a) foi um movimento promovido pelos muçulmanos, que também era conhecido pelo nome de jihad.

b) as Cruzadas tinham pouca influência religiosa, tratando-se de um movimento de caráter político e militar que pretendia ampliar o controle de mais terras por parte dos reinos cristãos do Ocidente.

c) o combate ao Islã foi um movimento efêmero de forma que os europeus precisavam dedicar apenas poucos homens e pouco tempo em tal missão.

d) tratou-se de um movimento de caráter religioso e militar que tinha como objetivo central a retomada da Terra Santa que, naquele momento, estava sob o controle dos muçulmanos.

3 – (PUCCamp SP/2016)

(…) os mitos e o imaginário fantástico medieval não foram subitamente subtraídos da mentalidade coletiva europeia durante o século XVI. (…) Conforme Laura de Mello e Sousa, “parece lícito considerar que, conhecido o Índico e desmitificado o seu universo fantástico, o Atlântico passará a ocupar papel análogo no imaginário do europeu quatrocentista”.

(VILARDAGA, José Carlos. Lastros de viagem: expectativas,
projeções e descobertas portuguesas no Índico (1498- 1554)
. São Paulo: Annablume, 2010, p. 197)

Durante a Idade Média, havia um imaginário vinculado às cruzadas, pautado pela concepção de que

a) os nobres tinham a missão sagrada de proteger a população europeia dos “infiéis” que, após a tomada da Península Ibérica, vinham impondo violentamente sua crença e cobrando altos impostos a toda a cristandade.

b) os vassalos deveriam morrer por meio do “bom combate” pois, ainda que não houvesse esperança alguma de reconquistar Jerusalém, o sacrifício humano fortaleceria a fé católica e o poder do Papa.

c) a Guerra Santa iniciada pelos muçulmanos era uma provação que os cristãos deveriam enfrentar para que a tragédia da Peste Negra e outros castigos divinos não voltassem a incidir sobre o Ocidente.

d) a longa peregrinação e os combates militares movidos pela fé, a fim de recuperar a Terra Santa, assegurariam, a todos os participantes, o perdão de seus pecados e a purificação de suas almas.

e) o enriquecimento obtido através de pilhagens deveria ser inteiramente destinado às ordens mendicantes instaladas no Oriente e às famílias pobres muçulmanas como prova do não apego aos bens materiais pela Igreja católica.

GABARITO: 

1) Gab: E

2) Gab: D

3) Gab: D

Sobre o(a) autor(a):

Ana Cristina Peron é formada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestranda em História na mesma universidade. Também é redatora do Curso Enem Gratuito e do Blog do Enem.

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