O existencialismo é um movimento que surgiu na Filosofia durante o século XX que busca analisar o ser humano a partir de suas experiências.
Há algum sentido em nossa existência? Essa é uma das perguntas que compõem o existencialismo. Venha estudar esse conteúdo e aperfeiçoar seus conhecimentos para o Enem!
O que é o existencialismo?
O existencialismo é um movimento que surgiu na Filosofia durante o século XX, visando a abordar os problemas de uma sociedade em transformação. Visto que a humanidade acabara de sair de duas guerras mundiais, essa corrente filosófica tinha por foco analisar o ser humano e sua prática existencial.
Um certo bairrismo marca esse movimento, pois a grande maioria dos filósofos existencialistas são franceses. Todavia, não é porque a França é o palco do movimento que não existem pensadores existencialistas ao redor do globo. Inclusive, um século antes alguns filósofos já faziam algo que serviu de base para o existencialismo. Há quem diga que o próprio Sócrates já fazia essa parada lá na Grécia antiga.
Origens do existencialismo: Kierkegaard e Dostoiévski
Podemos traçar as bases estruturantes do movimento existencialista a partir do século XIX. Alguns filósofos daquela época concentraram seus esforços na reflexão acerca da vivência humana em um mundo cheio de significados.
Meu “camarada” Sören Aabye Kierkegaard (1813 – 1855) foi um desses percursores do existencialismo. Ele teorizava que os significados do mundo são dados pelo indivíduo. Portanto, devemos viver da maneira mais fascinante e verdadeira que conseguirmos, ainda que existam momentos em que a angústia ou o absurdo nos afastem disso.
Além de Kierkegaard, outro “camarada” que serviu de modelo para as ideias existencialista foi o filósofo russo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821 – 1881). Meu “parça” Dostoiévski ficou bem famoso por conta das suas obras literárias como “Crime e Castigo”, de 1866, “O Idiota”, de 1869 e “Os irmãos Karamazov”, de 1881.
As obras acima, embora não apresentem um sistema filosófico estruturado, influenciaram a formação do existencialismo. Elas apresentam diversos questionamentos sobre a vida e defendem a liberdade como valor central da existência humana de tal maneira que alguns trechos se tornaram motes dessa linha de pensamento. Por exemplo: ‘Se Deus não existe, tudo é permitido’, demostrando, assim, essa “pegada” mais libertária.
Bom, já que falamos de Kierkegaard e Dostoiévski, não podemos deixar de fora o homem do bigode mais lustroso da Filosofia, Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900). Durante sua caótica trajetória como filósofo, ele tratou das mais variadas questões em suas obras, incluindo questões acerca da existência humana.
Lá no século XIX, Nietzsche denunciou o crescente niilismo em que se encontrava a Europa e defendia uma mudança nos critérios levados em consideração ao fazermos as escolhas de nossas vidas. Marcado por afirmações ácidas e histórias extravagantes, Nietzsche é responsável por grande parte das teorias que estruturaram o existencialismo do século XX.
A temática da filosofia existencialista
A corrente existencialista trata dos temas que permeiam a nossa existência, buscando refletir o sentido de nossas ações e os valores que são caros à nossa vida. Tudo isso tendo como base a liberdade do indivíduo e a reflexão humanista, uma vez que não considera válidas as crenças deterministas de outrora.
Ora, para embarcar nessa onda, precisamos assumir a liberdade como ponto de partida para a reflexão acerca da nossa existência. O axioma central para tal é aquela famosa ideia de a existência precede a essência. Isto é, a gente primeiro é (existe) e depois busca ao longo da vida a nossa essência.
Assim, o existencialismo se configura em uma “parada” antagônica a qualquer forma de alienação e determinismo, pois defende que nós somos os responsáveis imediatos pelo significado que damos às nossas vidas.
Outra coisa bastante recorrente no pensamento existencialista é a reflexão acerca da barbárie. Como ela – a barbárie – foi algo escrachado e periclitante no século XX, os intelectuais da época dedicaram-se a analisar e evidenciar suas causas e consequências.
Bom, se colocarmos em perspectiva aquela ideia sobre tudo ser possível, estaríamos também admitindo que as regras éticas são voláteis? “Saca só”, se há uma falta de sentido no mundo além daquele que nós atribuímos, há também uma falta de moralidade ou mesmo noção de justiça?
Essas e outras questões sobre os problemas que cercam a investigação do absurdo e da barbárie são temas recorrentes de diversos pensadores existencialistas, como, por exemplo, Albert Camus, filósofo ganhador do Nobel de literatura de 1957.
Kierkegaard e o indivíduo singular
O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, enquanto percursor do existencialismo, foi um crítico feroz da religião, particularmente do cristianismo. Suas obras, recheadas de ironias e metáforas, retratam o problema do indivíduo singular.
Para Kierkegaard, é equivocado pensar um sistema filosófico pautado em conceitos, pois o sujeito pensante – indivíduo singular – não tem uma existência conceitual. Dessa maneira, os sistemas filosóficos, em geral, acabam se preocupando mais com os conceitos das paradas do que com a existência.
A ideia do dinamarquês é que devemos viver a nossa vida em torno de uma ideia que represente para nós, individualmente, o ideal de uma existência vivida. A sacada aí é buscar algo com caráter mais pessoal, visto que as escolas helênicas, por exemplo, tinham uma pegada parecida, mas com foco mais universal.
Principais filósofos do existencialismo
O mundo viveu a aflição de duas grandes guerras durante o século XX. Assim, nesse período, vários intelectuais acabaram servindo no front de batalha, fato que mudou abruptamente a maneira que enxergavam o mundo. Jean-Paul Charles Aymard Sartre (1905 – 1980) foi um deles.
Meu “camarada” Sartre foi o autor daquela máxima que há pouco comentamos: ‘A existência precede a essência’. Ele negava que exista uma essência determinadora do ser, afirmando que somente a nossa experiência existencial é capaz de definir nossas vidas. Dessa forma, nós nos estruturamos segundo nossas experiências materiais cotidianas. Em outras palavras, a gente se define a partir da nossa caminhada por esse “mundão”.
Além de Sartre, outra pensadora importante do existencialismo e da Filosofia foi Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir (1908 – 1986), cujo talento conseguia ser maior que sua quantidade de nomes. Simone e Sartre geralmente são citados aos pares, isto porque formaram um casal durante longos anos. Como não poderia deixar de ser, essa relação era algo fora do normal, os dois mantinham, o que hoje chamamos de relação aberta, algo super polêmico para época.
Existencialismo na literatura e no cinema
Saindo um pouco da França, é possível encontrar vários outros pensadores existencialistas, como Franz Kafka, o cara que escreveu aquele incrível conto intitulado ‘A Metamorfose’, no qual o protagonista acorda no corpo de uma barata. Também ficou famoso por sua obra ‘O Processo’, na qual um indivíduo se vê acusado que um crime que não sabe se cometeu.
Além da literatura, o existencialismo também inspirou cineastas renomados como Ingmar Bergman e Jean-Luc Godard, ganhadores do Oscar. Mais recentemente podemos citar Stanley Kubrick, diretor de vários filmes icônicos do cinema contemporâneo.
Por fim, o existencialismo é uma corrente filosófica bastante atual. Sua influência aparece nas mais diversas áreas, se estendendo pelas mais variadas expressões artísticas. Suas teorias, mais do que responder a questões elementares da filosofia, como: ‘qual o sentido da vida?’, nos fazem refletir acerca da pertinência dessas perguntas.
Exercícios
1- (Enem 2016)
Ser ou não ser – eis a questão.
Morrer- dormir- Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa a reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
SHAKESPEARE, W. Hamlet. Porto Alegre: L&PM, 2007.
Este solilóquio pode ser considerado um precursor do existencialismo ao enfatizar a tensão entre:
a) consciência de si e angústia humana.
b) inevitabilidade do destino e incerteza moral.
c) tragicidade da personagem e ordem do mundo.
d) racionalidade argumentativa e loucura iminente.
e) dependência paterna e impossibilidade de ação.
2- (Uenp/2009)
Segundo Raymond Plant, em seu livro Política, Teologia e História, o argumento de que a essência precede a existência implica na necessidade de um criador; assim, quando um objeto vai ser produzido (um martelo, uma caneta, uma máquina), ele obedece a um plano pré-concebido, que estabelece sua forma, suas principais características e sua função, ou seja, ele possui um propósito definido, uma essência que define sua forma e utilidade, e precede a sua existência. Segundo Sartre há um ser onde essa situação se inverte, e a existência precede a essência: o ser humano. Assim, seria o próprio homem o definidor de sua essência.
De acordo com Sartre, a expressão “a existência precede a essência” pode ser interpretada como:
a) O homem se constrói de acordo com sua própria história e não de acordo com uma essência abstrata e pré-determinada.
b) A existência humana depende do plano que Deus determina a cada um.
c) A essência é mais importante que a existência.
d) O Homem não tem existência livre, pois ela é sempre precedida pela essência.
e) A liberdade não participa do contexto da existência do homem, porque ele segue as determinações da essência.
3- (Ueap 2011)
“A existência precede a essência.” O que melhor define esta frase do filósofo francês Sartre?
a) Primeiro o homem existe, depois se define.
b) O homem é o que ele concebe e não o que ele faz.
c) O homem é “em si” e não “para si”.
d) A vida de um homem está ligada a sua essência.
e) A vida humana é totalmente determinada por Deus.
Gabarito
- A
- A
- A