Revolução Russa: o que foi, causas e quando ocorreu

A Revolução Russa foi uma série de revoltas que ocorreram em 1917. Elas derrubaram o regime do czar Nicolau II e levaram o Partido Bolchevique ao poder. Entenda mais!

A Revolução Russa ocorreu em fevereiro, outubro ou novembro de 1917? Ou terá sido em 1905? Venha descobrir os motivos pelos quais existem tantas dúvidas e aprenda ainda mais sobre a Revolução Russa.

O que foi a Revolução Russa

A Revolução Russa foi o processo histórico constituído por uma série de revoltas que culminaram na derrubada do regime absolutista dos czares e a ascensão do Partido Comunista ao poder em 1917.

A Revolução Russa teve causas ligadas à economia do país, deteriorada pela participação na Guerra Russo-japonesa e na Primeira Guerra Mundial, e pelo descontentamento com a repressão violenta perpetrada pelo regime czarista. Tal contexto ocasionou o surgimento de conselhos operários, denominados “sovietes”.

Com o início da Revolução, diferentes grupos lutaram pelo poder, especialmente os mencheviques e bolcheviques. Os últimos, liderados por Lênin, restaram vitoriosos com a tomada do poder em outubro de 1917.

Quando ocorreu a Revolução Russa?

A Revolução Russa é tratada por diversas perspectivas entre estudiosos. Uma das controvérsias mais atenuantes reside no período em que este processo teria ocorrido. Apesar de associarmos a revolução à chegada do socialismo no poder, há estudiosos que defendem que ela teria começado com as revoltas de 1905. Outros que teria sido em fevereiro de 1917, e não em outubro.

Seja como for, aqui serão apresentados os principais eventos deste processo que remonta à década de 1860. Contudo, antes de começar, é importante lembrar que a Rússia utilizava o calendário juliano, e não o modelo gregoriano (o qual utilizamos) no período da revolução. Aquele calendário, mais antigo, possui 13 dias de atraso em relação ao nosso e foi substituído somente em fevereiro de 1918.

A fim de que você entenda melhor a diferença e a implicação disso, vamos exemplificar: se o dia do Domingo Sangrento foi em 9 de janeiro para os russos, para nós este mesmo dia era 22 de janeiro. Para fins didáticos, apresentaremos primeiro a data no calendário juliano e, em seguida, entre parênteses, a data no calendário gregoriano. Agora, voltemos para o século XIX.

Causas da Revolução Russa

A Rússia, apesar de ser uma grande potência europeia desde muito tempo, foi um dos países que mais tardou para abandonar o absolutismo. Os czares, monarcas russos, governavam vastos territórios há séculos e só desapareceram com a Revolução de Outubro (Novembro) de 1917.

A Rússia pré-revolução

Até a segunda metade do século XIX, a economia russa era esmagadoramente agrária. Por consequência, a população era composta principalmente por camponeses. Estes ainda dependiam muito dos ciclos climáticos para que suas colheitas pudessem render e viviam sob uma jurisdição feudal.

Em outras palavras, estavam presos à terra pelo controle exercido pelos nobres. Ao mesmo tempo, a igreja, que na Rússia é ortodoxa, também exercia controle e contribuía para a exploração da população.

Em 1861, sob o governo de Alexandre II, os direitos feudais são abolidos. Contudo, as massas camponesas continuaram a ser exploradas pelos grandes proprietários de terras. Aos poucos, a atividade industrial na Rússia começa a crescer e com isso há uma maior diversificação econômica.

Além disso se observa um aumento e movimento da população e o surgimento de novas profissões e classes. Em 1863, as universidades ganham autonomia. Tais transformações também alimentavam a vontade de uma transformação política.

Nicolau II - Revolução RussaRetrato de Nicolau II, da dinastia Romanov. Fonte: https://cutt.ly/EswuyCx.

A Guerra Russo-japonesa e a Revolução de 1905

A Rússia adentra o século XX ainda como uma monarquia absolutista, diferentemente da maior parte dos países ocidentais. Em fevereiro de 1904 o Czar Nicolau II entra em guerra contra o Japão, que também era um império, em uma disputa por territórios chineses. Inicia-se, então, a Guerra Russo Japonesa, que irá durar até setembro de 1905, com a saída dos russos e vitória dos japoneses.

É sempre importante lembrar que toda guerra gera descontentamento e resistência entre as populações envolvidas. Elas também significam muitos investimentos, e a derrota pode provocar tanto uma crise econômica como uma crise política. Neste caso não foi diferente.

O que foi o Domingo Sangrento

Em 9 (22) de janeiro de 1905, um protesto popular e pacífico em frente ao Palácio de Inverno do Czar, em São Petersburgo, na época capital do Império, termina em um massacre. Os soldados russos atiram nos manifestantes e a data fica conhecida como Domingo Sangrento.

Esse episódio, somado aos descontentamentos da guerra e da exploração laboral, propagam uma série de outras revoltas e greves, acontecimentos decisivos para a saída da Rússia da guerra. Um destes episódios envolve os marinheiros do encouraçado Príncipe Potemkin, no Mar Negro. Neste período formam-se os conselhos de operários denominados “sovietes”.

Soldados russos - Revolução RussaSoldados russos, armados e com trajes de frio, marchando por uma rua, em 1917, carregando uma faixa onde está escrito “Comunismo”. Imagem e informações retiradas de https://cutt.ly/0swu9l0,

O motim de 1905 foi o tema do filme O Encouraçado Potemkin, de Serguei Eisenstein, que está disponível no Youtube com legendas em português.

A Duma Imperial

Diante do cenário de revoltas, Nicolau resolve criar a Duma Imperial, uma assembleia parlamentar e representativa, mas muito restrita e limitada. Ele tratou de reservar para si o direito de fechar a assembleia quando quisesse. O descontentamento com essa falsa liberalização do poder resultou em protestos e a Duma foi fechada pela primeira vez em apenas seis semanas.

A Rússia na Primeira Guerra Mundial

Em julho (agosto) de 1914, a Alemanha declara guerra à Rússia, e o país se envolve no que ficará conhecido como a Primeira Guerra Mundial. Apesar de inicialmente a defesa da pátria ter unido a população, posteriormente o descontentamento com a guerra predomina.

A Rússia sofre diversas derrotas e baixas, ao ponto do próprio czar decidir tomar o controle das tropas. Parte desse péssimo desempenho se explica pelo atraso industrial e bélico do país no período.

O início da Revolução Russa

O governo imperial estava em profundo descrédito não só com os populares, mas também com as elites. Assim, em fevereiro de 1917, a monarquia é deposta e instaura-se um governo provisório através da Duma, que decide pela permanência na guerra.

Em abril, Vladimir Ulianov, que ficará conhecido como Lênin, chega de trem na capital, Petrogrado (O nome São Petersburgo havia sido substituído por ser muito “germânico” no contexto da guerra). A partir de então, a disputa entre projetos políticos se torna ainda mais intensa.

Disputa entre liberais e socialistas

Uma diversidade de movimentos surge na disputa pelo poder da Rússia naquele momento e ela gira em torno, principalmente, de ideais liberais e socialistas. De forma geral, os liberais desejavam uma república que fosse controlada, preferencialmente, pelas elites. Já os socialistas defendiam o fim das classes sociais. Entretanto, é importante destacar que cisões marcantes separavam esses grupos internamente.

Mencheviques e bolcheviques

No caso dos socialistas, a principal divisão se dava entre os mencheviques e bolcheviques. Os primeiros, liderados por Alexander Kerenski, defendiam uma passagem gradual para o socialismo, através de reformas. Já os bolcheviques, inspirados pelas teses revolucionárias de Lênin, defendiam a tomada do poder.

Lênin - Revolução RussaLênin discursando para a população em um palanque de madeira. Segundo a fonte utilizada, a imagem data de 1923. Fonte: https://cutt.ly/AswoUIh.

Kerenski, que havia se tornado primeiro-ministro em julho, distanciava-se cada vez mais dos sovietes. No final de agosto, o general L. Kornilov, que era responsável por disciplinar os opositores do governo, tenta dar um golpe de Estado.

A vitória dos bolcheviques

Após a fracassada tentativa, Kerenski resolve proclamar a república em setembro, porém não dura muito tempo. Em 25 e 26 de outubro de 1917 os bolcheviques tomam o poder na capital. Em seguida, inicia-se uma série de transformações, desde a reforma agrária e a abolição da propriedade privada até a saída da Rússia da guerra.

Assim, a República Russa torna-se a República Socialista Federativa Soviética da Rússia e passa a ser controlada pelo Partido Comunista. Todavia, a situação leva alguns anos para adquirir estabilidade. Lênin sofre uma tentativa de assassinato por uma militante chamada Fanny Kaplan, que o alveja com dois tiros que quase o mataram.

Instaura-se, então, o Terror Vermelho, onde oposicionistas são largamente perseguidos e mortos. O país se vê mergulhado em uma longa guerra civil que só terminará em 1921, quando o Partido Comunista se consolida no poder. Em 1924, Lênin morre e o controle do partido passa para Josef Stálin após disputá-lo contra Leon Trotsky.

Videoaula

Se você busca entender mais ainda sobre a Revolução Russa, nossa dica é este vídeo do canal Leitura ObrigaHistória, apresentado pelo Icles Rodrigues e pela Luana Jalles:

Exercícios sobre a Revolução Russa

1- (UNIFOR CE/2020)

A figura abaixo representa a Revolução Russa, em 1917, em um momento em que Lenin discursava para soldados:

Lenin discursa para um grupo de soldadosFonte: https://www.todamateria.com.br/revolucao-russa/

A respeito deste momento histórico, é possível afirmar que

a) houve uma guerra civil entre os Vermelhos (mencheviques) e os Brancos (bolcheviques).

b) os bolcheviques saíram vitoriosos e, em 1922, criaram a União Soviética, ao fim do congresso dos sovietes.

c) após a morte de Lênin, ocorreram disputas pelo poder, até que Stalin venceu Trotsky, tornando-se líder do Partido Comunista Russo, fundado pelos Brancos, também conhecidos como socialistas revolucionários.

d) Stalin permaneceu muito tempo no poder em razão da relação amistosa que firmou com a oposição a seu governo, mediante alianças e troca de favores.

e) em 1917, o partido bolchevista, até então comandado por Stalin, assumiu o poder, após a abdicação do czar Nicolau I, encerrando mais de 300 anos de império da dinastia Romanov.

2- (UEG GO/2019)

Leia o texto a seguir.

A revolução permanente é uma utopia: a guerra permanente é uma realidade. 1914-1985: Primeira Guerra Mundial, Guerra do Rif, Guerra Civil Espanhola, Segunda Guerra Mundial, guerras da Indochina, da Coréia, do Vietnã, da Argélia, a chamada “Guerra Fria”.

VICENT, G; PROST, A. História da Vida Privada. São Paulo: Cia. das Letras, 1992. p. 201. v. 5.

Após a morte de Lênin houve um racha entre os líderes da Revolução Russa. Como contraposição à tese da “revolução em um só país”, a concepção de Revolução Permanente, uma proposta que pretendia transformar o processo revolucionário em ação incessante e global, foi defendida por

a) Stálin, sucessor de Lênin.

b) Trotsky, líder do exército vermelho.

c) Nicolau II, último czar da Rússia.

d) Gorbatchov, criador da Perestroika.

e) Marx, principal teórico do comunismo.

3- (ACAFE SC/2018)

A Revolução ocorrida na Rússia, em 1917, está completando 100 anos. Foi efetivamente o primeiro regime socialista duradouro implantado por um país. Nesse contexto, e acerca dos eventos que se relacionam com esta revolução é correto afirmar, exceto:

a) A insatisfação da população com o Czar (Monarca Russo) só crescia. As longas jornadas de trabalho, os altos impostos e a falta de alimentos contribuíram para o levante contra o Czar.

b) Durante a Guerra Civil, o Exército branco contou com o apoio de nações capitalistas, como Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Japão.

c) Os mencheviques foram diretamente responsáveis por implantar o socialismo na Rússia, obtendo o apoio dos sovietes e do parlamento russo, conhecido como Duma.

d) No final do ano de 1917 iniciava-se o regime socialista na Rússia, liderado por Lênin. As fábricas, os bancos e os estabelecimentos comerciais foram nacionalizados.

Gabarito:

  1. B
  2. B
  3. C

Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

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