A descolonização da África e da Ásia

A descolonização foi o processo de independência de países da África e da Ásia que foram alvo do neocolonialismo entre os séculos XIX e XX. Entenda!

O que você conhece sobre Nelson Mandela, Mahatma Gandhi, Frantz Fanon e Ho Chi Minh? Todos eles foram líderes em processos de descolonização de países da África e da Ásia. Conheça mais sobre processo de independência de países africanos e asiáticos nesta aula de História!

Imperialismo na Ásia e na África

Na segunda metade do século XIX, as potências europeias veem muitos de seus territórios coloniais ultramarinos na América se libertarem do seu julgo. O sistema colonial, resquício da política mercantilista da Era Moderna (1453-1789), garantia muitas riquezas para as potências europeias. Com essa mudança de paradigma, os continentes africanos e asiáticos passam a ser alvos de um novo colonialismo europeu.

Neste novo contexto, as principais justificativas para a invasão e exploração daqueles territórios era o “fardo do homem branco”. Em outras palavras, através de argumentos religiosos e pseudocientíficos, potências europeias afirmavam estar levando a civilização a diferentes povos da África e da Ásia. Um evento marcante deste processo histórico é a Conferência de Berlim, entre 1884 e 1885, quando as principais nações europeias dividiram entre si os territórios do continente africano.

Este processo ficou conhecido como imperialismo ou neocolonialismo e só chegou ao fim em meados do século XX. É naquele período, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1960, que as nações africanas e asiáticas passam a tornarem-se independentes, pelo menos oficialmente. Veremos a seguir como ocorreram esses processos de emancipação em cada um dos continentes, dando destaque para os casos mais conhecidos.

Descolonização na África

Como dito, o continente africano foi alvo da investida de várias potências europeias. Estas, por sua vez, visavam obter recursos naturais, mão de obra barata e mercados consumidores para seus produtos industrializados.

Argélia

Entretanto, nem todos os territórios ocupados pelos europeus tinham o estatuto jurídico de colônia, ainda que na prática assim se assemelhassem. Este foi o caso da Argélia, que em 1848 tornou-se uma extensão do território francês. Contudo, isso não significava que os argelinos, ou pelo menos todos eles, tinham os mesmo direitos políticos que os franceses.

O preconceito dos franceses com relação à população negra de seus territórios ultramarinos foi denunciado pelo psiquiatra e filósofo Frantz Fanon. Apesar de ter nascido na Martinica, território francês no Caribe, Fanon participou ativamente em movimentos pela independência de nações africanas, sobretudo da Argélia.

Franz Fanon - descolonizaçãoRetrato de Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo caribenho que teve importante participação nos movimentos de independência africanos. Fonte: https://cutt.ly/lfgpsPT.

Congo

O Congo Belga é outro caso singular e trágico da ocupação europeia no continente. A presença belga naquele território ocorreu porque foi concedido ao Rei Leopoldo II durante a Conferência de Berlim em caráter de propriedade privada. O monarca afirmava que atuaria naquele território em prol de interesses filantrópicos, levando à civilização daquela população.

No entanto, o que de fato ocorreu foi a exploração do território e da população. Entre as diversas violências praticadas, uma das mais conhecidas foi a prática da mutilação de membros como punição quando os congolenses não atingiam as cotas de produção. Entre os recursos mais explorados no Congo estavam a borracha e o marfim.

Pan-africanismo

Como reação à exploração europeia na África, em maio de 1963 foi fundada a Organização para a Unidade da Africana (OUA). Seu primeiro líder, Sylvanus Olympio, presidente do Togo livre, havia sido morto dois meses antes da fundação.

Os princípios dessa organização eram baseados no Pan-africanismo, que era, em outras palavras, um projeto tanto de libertação como de integração das nações africanas. O I Congresso Pan Africano foi realizado em Paris, ainda em 1919, e de lá saíram as primeiras diretrizes de um projeto maior, reivindicando a autogestão das colônias africanas e a obtenção de direitos para as diferentes populações.

Independências de países africanos:

Em seguida, confira a relação de países e seus anos de independência com relação às potências coloniais.

Grã-Bretanha

Tornaram-se independentes da Grã-Bretanha os seguintes países:

  • África do Sul (1910);
  • Egito (1922);
  • Sudão (1956);
  • Gana (1957);
  • Nigéria (1960/61);
  • Serra Leoa (1961);
  • Camarões (1961);
  • Tanzânia (1961/63);
  • Uganda (1962);
  • Quênia (1963);
  • Malaui (1964);
  • Zâmbia (1964);
  • Gâmbia (1965);
  • Botsuana (1966);
  • Lesoto (1966);
  • Maurício e Suazilândia (1968);
  • Seicheles (1976);
  • Zimbábue (1980).

Portugal

  • Guiné-Bissau (1974);
  • Moçambique (1975);
  • Cabo Verde (1975);
  • São Tomé e Príncipe (1975);
  • Angola (1975).

Itália

  • Líbia (1951);
  • Etiópia (1952);
  • Somália (1960).

França

  • Marrocos (1956);
  • Tunísia (1956);
  • Guiné (1958);
  • Camarões (1960);
  • Togo (1960);
  • Senegal (1960);
  • Mali (1960);
  • Madagascar (1960);
  • Benin (1960);
  • Níger (1960);
  • Burkina Fasso (1960);
  • Costa do Marfim (1960);
  • Chade (1960);
  • Congo Brazzaville (1960);
  • Gabão (1960);
  • Mauritânia (1960)
  • Argélia (1962);
  • Comores (1975);
  • Jibuti (1977).

 

Espanha

  • Marrocos (1956/69);
  • Guiné Equatorial (1968);
  • Saara Ocidental (1975).

Bélgica

  • Zaire (1960);
  • Burundi (1962);
  • Ruanda (1962).

É importante lembrar que os territórios desses países foram ocupados também por outras potências, como foi o caso da Namíbia e do Togo, que foram domínios alemães.

Em seguida, assista a este vídeo do canal Nerdologia apresentado pelo Filipe Figueiredo sobre a independência da Argélia e entenda melhor o processo de descolonização da África:

Descolonização na Ásia

A Ásia, o maior continente do globo, também foi palco das incursões imperialistas da Europa. Principalmente ingleses e franceses, mas também alemães, portugueses e holandeses, apoderaram-se e administraram vastas regiões asiáticas.

Os movimentos de independências daqueles domínios ocorreram principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Tal conflito foi um marco decisivo para os movimentos de emancipação por diversos fatores:

  • Enfraquecimento dos países europeus;
  • Colaboração das populações coloniais no conflito;
  • Início da Guerra Fria, com o apoio dos blocos de poder que buscavam ampliar suas zonas de influência.

China

Talvez os casos mais emblemáticos da independência asiática sejam os da China, Índia e Vietnã. Os chineses foram invadidos não apenas por uma, mas por várias potências que visavam explorar seu território. A presença estrangeira no país fez, inclusive, que partidos rivais como o Kuomintang e o Partido Comunista Chinês (PCC) atuassem em cooperação.

Índia

A independência da Índia (1947) também merece destaque, sobretudo com relação à forma como foi obtida. O líder indiano Mahatma Gandhi advogava por uma luta não armada, baseada em boicotes e greves com relação às instituições britânicas.

Vietnã

Na Indochina, mais especificamente no Vietnã, a independência aconteceu pela luta armada. Várias nações estiveram presentes em seu território, como os holandeses, portugueses e japoneses. Apesar disso, foram os franceses os que mais exploraram a região do atual Vietnã, pelo menos no contexto dos séculos XIX e XX.

Ho Chi Mihn - descolonizaçãoRetrato do líder vietnamita e socialista Ho Chi Mihn que lutou contra franceses e japoneses, buscando expulsá-los da Indochina. Fonte: https://cutt.ly/bfgpexu.

Nesse processo de independência destaca-se Ho Chi Minh, um revolucionário vietnamita e socialista que liderou ações contra a presença francesa no país. O reconhecimento da independência do Vietnã (divido em norte e sul), Camboja e Laos ocorre em 1954, na Conferência de Genebra.

Videoaula sobre descolonização do Vietnã

Revise este conteúdo sobre descolonização do Vietnã com este vídeo do Icles Rodrigues, historiador do canal Leitura ObrigaHistória:

Exercícios sobre descolonização na África e na Ásia

 1- (FEI  SP/2008)

Os continentes asiático e africano foram palco, a partir do final da Segunda Guerra Mundial, de processos de descolonização mais ou menos violentos. Em 1954 o ___________ era reconhecido como uma monarquia independente. O governo pró-China foi substituído por um pró-EUA em 1970. Em 1975, o ___________ derrubou o presidente e instalou uma ditadura sangrenta sob o controle de __________.

A alternativa que completa corretamente as lacunas é:

a) Cambodja – Khmer Vermelho – Pol Pot

b) Vietnã – Khmer Vermelho – Ho-Chi-Minh

c) Laos – Pathet Lao – Tiao Souphamouvong

d) Vietnã – Pathet Lao – Pol Pot

e) Cambodja – Khmer Vermelho – Heng Samrin

2- (UFPEL RS/2007)

Em 1887 o Vietnã passou a ser, oficialmente, uma colônia, situada na Península da Indochina e era fornecedora de arroz, borracha e madeira para o mercado europeu, nos moldes do modelo imperialista implantado pelas grandes nações capitalistas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, foi fundada a Liga para a Independência do Vietnã (Vietminh), de orientação socialista e liderada por Ho Chi Minh.

Depoimento do advogado português Jorge Santos, In: RODRIGUES, Urbano Tavares (org.). A Guerra do Vietname. Lisboa: Estampa, 1968.

A colonização referida foi efetivada no século XIX, pelo seguinte país:

a) China.

b) Japão.

c) Estados Unidos.

d) Inglaterra.

e) França.

f) I.R.

3- (PUCCamp SP/2015)

(…) a insistência em descrever a natureza, arrolar os seus bens e historiar a vida ainda breve da Colônia indica um primeiro passo da consciência do colono, enquanto homem que já não vive na Metrópole e, por isso, deve enfrentar coordenadas naturais diferentes, que o obrigam a aceitar e, nos casos melhores, repensar diferentes estilos de vida. Se por um lado sua atitude em face do índio, por exemplo, prende-se aos comuns padrões culturais de português e católico-medieval, seu contato com os nativos leva-o a uma observação curiosa, da qual pode nascer uma nova avaliação.

(Adaptado de: BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1982. 3. ed., 3a tiragem, p. 20)

A contestação à condição de colônia motivou, no século XX, diversos movimentos independentistas na África. Movimentos dessa natureza

a) variaram no tocante à violência empregada por ambos os lados, havendo casos em que o processo foi desencadeado por leis e plebiscitos, caso da Guiné, e outros nos quais se deflagraram guerras sangrentas, caso da Argélia.

b) eclodiram especialmente após a II Guerra Mundial, quando a Organização das Nações Unidas anunciou que, legalmente, nenhum país poderia mais ter colônias ou protetorados.

c) obtiveram pouco êxito, existindo, até hoje, diversas nações subjugadas política e economicamente às suas velhas metrópoles, caso da Líbia, Marrocos e África do Sul.

d) aconteceram em grande número no entreguerras, quando da realização de três Conferências dos Povos Africanos que pressionaram a Europa e obtiveram algumas independências mediante o respeito à partilha territorial vigente.

e) inspiraram-se nas ideias e na ação heroica de líderes que pregavam, aos colonizados, a necessidade da luta armada, caso de Patrice Lumumba, Agostinho dos Santos, Gandhi, Frantz Fanon e Nelson Mandela.

Gabarito:

  1. A
  2. E
  3. A

Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

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