A geopolítica na Guerra Fria

A Guerra Fria foi um importante momento político e econômico da história do mundo. Venha revisá-lo e prepare-se para o Enem e vestibulares.

A geopolítica mundial passou por inúmeras transformações que nos trouxeram até as condições atuais. A história e suas consequentes mudanças espaciais nos dão uma pista de que a ordem mundial não é estática, mas segue sempre em movimento. Reflita sobre essas questões estudando o período da Guerra Fria e não vacile no Enem!

O início da Guerra Fria

Em maio de 1945 o exército soviético ocupava Berlim, forçando o governo de extrema-direita da Alemanha nazista à rendição. Iniciava-se, assim, o fim da Segunda Guerra Mundial. Fato que se consolidaria com o lançamento das duas bombas atômicas estadunidenses nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, dando fim à resistência japonesa e garantindo a vitória dos Aliados contra o Eixo.

Com o fim da guerra, a Europa e vários países de outros continentes sofreram intenso declínio econômico, com cidades destruídas e produções agropecuárias e industriais arrasadas. As duas guerras mundiais foram responsáveis por encerrar a hegemonia europeia conquistada nos séculos anteriores.

O continente se viu economicamente desorganizado e refém da urgência pela reconstrução. A partir de então, uma nova ordem mundial polarizada se iniciava, com duas potências que saíram vitoriosas da guerra disputando o poder: Estados Unidos da América e União Soviética (URSS).

A polarização da Guerra Fria

Nesse período, a União Soviética já se destacava frente às economias mundiais em alguns setores produtivos, como petroquímico e siderúrgico, além de infraestrutura energética e transportes. Através de sua expansão territorial, conquistando países situados por todo o leste europeu, difundiu o modelo de socialismo que buscavam espalhar mundo afora.

Este fator foi essencial para o crescimento soviético – que com um governo centralizado e um sistema de economia planificada, determinava suas prioridades, controlando a mãos de ferro toda a produção industrial, agropecuária e também cultural.

Do outro lado da polarização, os Estados Unidos eram a principal liderança do mundo ocidental, difundindo o capitalismo. A guerra já havia se tornado um importante negócio para aquele país, que entre as décadas de 1930 e 1960 apresentou as maiores taxas médias de crescimento econômico do planeta.

A propaganda do american way of life voltou à cena com toda a força no pós-guerra, sendo o aumento da capacidade de consumo da classe média estadunidense motor para a expansão do consumismo e do modelo capitalista em diversos países, com o governo dos EUA buscando sempre garantir seu poder de influência.

Essa reordenação do mundo em dois blocos antagônicos foi a regra durante toda a Guerra Fria. No continente europeu, havia uma linha que delimitava nitidamente a divisão espacial entre os dois sistemas políticos e econômicos, conhecida como “cortina de ferro”.

cortina de ferro guerra fria
Os limites da cortina de ferro no continente europeu. Fonte: http://www.historiadigital.org/historia-geral/idade-contemporanea/guerra-fria/questao-enem-2009-cortina-de-ferro/

Plano Marshall e Doutrina da Contenção

Em 1947 – mesmo ano de lançamento do Plano Marshall, que consistia numa ajuda econômica de grandes proporções dos EUA às nações europeias destruídas pela guerra, visando consolidar o capitalismo na região –, as relações entre as duas superpotências se acirraram.

Juntamente com o Plano Marshall, houve o lançamento da Doutrina de Contenção (ou Doutrina Truman), por parte do presidente dos EUA, Harry Truman, que afirmava abertamente ter a firme intenção de barrar o avanço do socialismo no mundo. A partir de então a Guerra Fria é, de certo modo, oficializada.

Acirramento do conflito

Isto abre um período de cerca de 40 anos de disputas mais ríspidas, com a corrida armamentista e tecnológica (aeroespacial, inclusive) e os intentos de ampliação de suas áreas de influência adquirindo maior intensidade. Todos os acontecimentos político-militares do período em todo o mundo (1947-1989) eram acompanhados de perto pelos dois países.

Tão de perto que nos principais conflitos tiveram interferência direta, posicionando-se em apoio aos diferentes lados antagônicos – como, por exemplo, na Guerra da Coreia (1950-1953), um dos momentos de maior tensão entre EUA e URSS.

Diante do poderio bélico e nuclear escancarado com as explosões das bombas atômicas estadunidenses em 1945, a URSS já em 1949 demonstrou possuir uma certa igualdade em caso de conflito militar. Para demonstrar esse poderio, efetivou seu primeiro teste nuclear e propagandeou o seu domínio dessa tecnologia. Dessa forma, aumentou o medo e a tensão em todo o mundo, considerando as proporções catastróficas de uma possível guerra nuclear.

Precavendo-se nesse sentido, ainda em 1949, os EUA lideraram a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Essa aliança militar formou um sistema de defesa multinacional, reunindo, além do país líder, Canadá e diversos países também capitalistas da Europa.

A resposta soviética veio em 1955, com a criação do Pacto de Varsóvia. A organização tinha basicamente o mesmo objetivo: a defesa militar comum entre seus associados, que eram adeptos do sistema socialista aliados da URSS – extinto em 1991, com o fim da União Soviética.

A influência dos EUA e da URSS

Para além dos blocos militares, os serviços de espionagem e inteligência tiveram importante papel estratégico, mudando os rumos de diversos países. Na América Latina, a influência estadunidense foi no sentido de apoiar governos favoráveis às suas investidas no continente e alinhados com sua política externa liberal.

Em países não alinhados, houve uma espécie de continuidade da Doutrina Truman, com a própria CIA (Agência de Inteligência dos EUA) auxiliando golpes militares em diferentes países, frente a uma suposta “ameaça comunista” no continente.

Foi desse modo que iniciou a Ditadura Militar no Brasil, após a deposição do presidente eleito João Goulart (Jango). Jango mantinha uma política externa independente das duas superpotências e buscava fazer reformas voltadas às questões sociais e trabalhistas.

Mas, de 1964 a 1985 os militares inseriram o Brasil na política externa promovida pelos EUA. De 43º PIB mundial em 1964, o Brasil foi para 9º lugar ao fim do regime. No entanto, a dívida externa que era de 3,7 bilhões de dólares no início, atingiu em 1985 o déficit de 95 bilhões.

Em termos sociais, a população favelada do Rio de Janeiro passou de 450 mil em 1965 para 1,8 milhão em 1980. Enquanto isso, em São Paulo foi de 40 mil em 1972 para mais de um milhão em 1980. Marcado pela censura, repressão, e perseguição política por parte do governo militar, esse período deixou um saldo de centenas de pessoas mortas e desaparecidas, assim como em outros países latino-americanos.

Mas no lado da URSS também houve forte repressão. O destaque vai para as tentativas de insurreição na Hungria, em 1956, e na Tchecoslováquia, em 1968. Ambas foram sufocadas pelo exército soviético que exercia forte controle sobre essas e outras regiões.

O termo Terceiro Mundo (que depois passou a ser sinônimo de países subdesenvolvidos) refere-se aos países que decidiram, em 1955, na Conferência de Bandung, não se alinhar a nenhuma das superpotências. Enquanto isso, o Primeiro Mundo referia-se aos países capitalista e o Segundo Mundo aos socialistas.

Crise dos mísseis

Outros eventos marcantes do período foram a Revolução Cubana de 1959, que levou a pequena ilha a alinhar-se ao bloco socialista, e a derrota estadunidense na Guerra do Vietnã em 1973, após dezenas de milhares de mortes no conflito e forte pressão contrária por parte da própria população estadunidense.

Apesar de uma tentativa de coexistência pacífica, após a morte do ditador soviético Josef Stalin, as tensões permaneceram, principalmente, por conta da corrida armamentista. No ano de 1962 a URSS instalou em Cuba uma base de lançamento de mísseis nucleares, tentando conter possíveis invasões à ilha.

Iniciou-se assim a crise dos mísseis, quando Cuba foi bloqueada pela marinha e aviação estadunidenses, sob ordem do presidente Kennedy. Duras negociações tiveram curso até que o secretário-geral Nikita Krushev recuasse, retirando os mísseis soviéticos num acordo em que os EUA prometeram não invadir Cuba e também retirar seus mísseis posicionados na Turquia.

Fim da Guerra Fria

O fim da Guerra Fria teve muito a ver com a corrida armamentista e espacial, já que a URSS buscava acompanhar os EUA nesse setor, onerando grande parte de sua economia. Outros setores da economia ficaram deficientes, e a economia planificada mostrou-se frágil ao não desenvolver tecnicamente o que era considerado secundário pelo Estado, como os bens de consumo. Desse modo, os custos da Guerra Fria se tornaram insustentáveis e a União Soviética já não conseguia garantir o sustento de sua crescente população.

A partir de 1985, o governo de Mikhail Gorbachev se viu obrigado a ceder, iniciando uma transição política e socioeconômica (Perestroika). O governante reformulou a economia, transformando o sistema de produção e da propriedade, além de introduzir mecanismos de mercado.

Como a resistência de setores comunistas era intensa, sua administração implementou um conjunto de reformas que garantiam a liberdade de expressão e informação (Glasnost), visando a propaganda e apoio popular para as mudanças em andamento.

A política de austeridade levou a URSS a consolidar acordos de desarmamento com os EUA. O objetivo era eliminar os gastos da corrida armamentista e recuperar sua economia. Essas medidas ocasionaram um efeito dominó, com a queda dos governos socialistas no Leste Europeu, a democratização das instituições e a abertura às eleições livres e diretas.

Essas mudanças tiveram efeitos imediatos nas dinâmicas fronteiriças, com a paulatina liberação de migrações entre as áreas capitalistas e socialistas. Contudo, foi a própria população que se encarregou de garantir as aberturas de caminhos.

Entre novembro de 1989 e outubro de 1990 consolidava-se o marco do fim do modelo de socialismo da URSS: a queda do muro de Berlim e a reunificação da Alemanha – que até então era dividida em Alemanha Ocidental, capitalista, e Alemanha Oriental, socialista.

Resumo sobre a Guerra Fria

Sugestão de leitura

Você curte HQs? Então talvez possa gostar de Watchmen! Com a Guerra Fria de pano de fundo, Watchmen é uma série de história em quadrinhos que retrata a vida de um grupo de super-heróis naquele período. Ela foi escrita por Alan Moore, ilustrada por Dave Gibbons, e publicada originalmente pela editora DC Comics entre 1986 e 1987. No ano de 2009, foi lançada sua adaptação cinematográfica, do gênero ação, dirigida por Zack Snyder.

Um grande abraço e bons estudos!

Exercícios:

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Referências de Guerra Fria:

CARVALHO, M. B.; PEREIRA, D. A. C. Geografia do Mundo: fronteiras. São Paulo: FTD, 2012.

LUCCI, Elian Alabi; BRANCO, Anselmo Lazaro; MENDONÇA, Cláudio. Geografia Geral e do Brasil – ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2005.

SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. 3 v. São Paulo: Scipione, 2013.

Sobre o(a) autor(a):

O texto acima foi preparado pelo professor João Marcelo Vela para o Curso Enem Gratuito. João é licenciado e mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Dá aulas de Geografia e Filosofia em escolas da Grande Florianópolis desde 2015, além de atuar como articulador de Ciências Humanas. E-mail para contato: [email protected]

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