O que foi o apartheid na África do Sul

O apartheid foi uma política de segregação racial implantada em 1948 na África do Sul. Leis proibiam a convivência e a ocupação de brancos e negros nos mesmos espaços. Entenda!

O apartheid, apesar de ter sido uma espécie de política segregacionista aplicada em diferentes lugares, ficou conhecido principalmente com o caso Sul Africano. Entenda mais sobre o apartheid na África do Sul com esta aula de História!

Imperialismo na África do Sul

A África do Sul é um país que, anteriormente à sua independência em 1961, fez parte dos territórios ultramarinos do Império Britânico. Mas a presença humana na região é muito anterior à presença do homem branco, datando de mais de quarenta mil anos atrás.

De lá para cá, surgiram, desapareceram e criaram-se povos com culturas próprias. Alguns deles como os Khoi e os Zulus mantiveram contatos com os colonizadores europeus na Era Moderna.

Os primeiros europeus a pisarem em solo ao sul do continente africano foram os portugueses no contexto das expedições ultramarinas. Posteriormente, em 1602, os holandeses estabeleceram uma colônia na região do Cabo Ocidental, em 1652.

A presença holandesa na região possibilitou o surgimento de um idioma próprio que recebeu o nome de africâner e é utilizado até hoje no país. Em 1795 os britânicos ocupam a região do Cabo, consolidando sua presença lá em 1806.

Mapa da África do Sul - ApartheidMapa da África do Sul. Fonte: https://cutt.ly/RfhCqgV.

Regime do apartheid na África do Sul

A presença branca na África austral se caracterizou pela colonização e exploração tanto dos recursos naturais quanto da mão de obra dos povos nativos. A partir da segunda metade do século XVII iniciou a escravidão na região, sistema que teve a duração de 250 anos. Mas, quando foi abolida pelo Império Britânico em 1833, isso não significou que a população negra detinha os mesmos direitos que os brancos.

No ano de 1948, ainda sob o regime britânico, é então implantado o apartheid na África do Sul, regime legal criado pelo Partido Nacionalista para segregar e explorar a população negra daquele território.

A partir de então, por lei, negros não podiam dividir e frequentar os mesmos espaços que os afrikaners (brancos), fosse dentro de um ônibus, em instituições de ensino ou mesmo em uma praça. Até mesmo os banheiros e bebedouros eram divididos com base na crença do conceito de raça.

Tal divisão não era simplesmente uma separação da população pela cor de pele, mas significava o sucateamento da qualidade de vida dos africanos negros. Eles não possuíam acesso a direitos trabalhistas, direitos políticos, aos meios de produção e à terra.

Placa do apartheid na África do SulPlaca amarela indicando exclusividade das pessoas brancas no uso de instalações públicas. A mensagem está escrita em inglês e em Africanêr, dois idiomas oficiais da África do Sul. Fonte: https://cutt.ly/FfgpmyL.

Tal segregação limitava drasticamente o progresso econômico, intelectual e político da população negra da África do Sul, ou seja, a maioria dos habitantes. O mundo ocidental, imerso no contexto da Guerra Fria, fez pouco caso do apartheid sul africano até a década de 1980.

Na verdade, discriminação semelhante ocorria no próprio Estados Unidos, líder do bloco capitalista no conflito ideológico. Tal situação só encontraria mudança naquele país na década de 1960, com o ápice da luta pelos direitos civis.

Congresso Nacional Africano e Nelson Mandela

O Congresso Nacional Africano (CNA) é um partido e movimento político surgido na África do Sul em 1912 que luta contra as políticas segregacionistas e preza pela conciliação entre a população negra e branca.

Apesar de ter iniciado seus protestos de modo pacífico, a partir da década de 1960, em virtude da violência do regime, passou para a luta armada. O CNA, assim como o Congresso Pan Africano (PAC) e o Partido Comunista Sul Africano (SACP), passou para a ilegalidade.

Nelson Mandela - ApartheidFotografia de Nelson Mandela em 1960. Ele está agachado queimando um passe obrigatório para a circulação de negros, em forma de protesto. Fonte: https://cutt.ly/UfgpiY0.

Uma das figuras mais icônicas na luta contra o apartheid na África do Sul foi Nelson Mandela. Ele ganhou destaque internacional e chegou a se tornar o primeiro presidente negro do país.

Mandela era um advogado de formação e participava de modo pacífico dos protestos contra o regime segregacionista até os anos 1960. Sua postura mudou com o Massacre de Shaperville em 1960, quando a polícia matou 69 pessoas e feriu outras 180, desarmadas, que protestavam contra o apartheid.

Após entrar para o MK, o braço armado do CNA, formado em 1961, Mandela e outros líderes foram presos, acusados de traição e condenados no Julgamento de Rivônia. Mandela passou 27 anos preso, até o enfraquecimento do apartheid.

Confira este vídeo do canal Nerdologia sobre o centenário de Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul:

O fim do apartheid

Em 1990, Mandela sai da prisão e volta à cena política. Em 1993 ele é condecorado com o prêmio Nobel da Paz e, no ano seguinte, é aclamado como o primeiro presidente negro da África do Sul.

Durante o tempo em que Mandela ficou preso ocorreu o fim da Guerra Fria, o crescimento do movimento negro no mundo e uma série de independências de nações no continente africano e asiático. O apartheid já não era mais ignorado pela comunidade internacional e passou a ser alvo de críticas.

Só em 1985 pessoas brancas e negras na África do Sul puderam, legalmente, casar-se e manter relações sexuais. Só no ano seguinte, em 1986 a população negra pôde, legalmente, passar a residir e trabalhar em espaços com os brancos.

Entretanto, na prática, ainda há uma forte herança do apartheid no país. Há áreas residenciais predominantemente brancas e a grande maioria das pessoas mais pobres são negras. Movimentos políticos ainda lutam por reforma agrária e direito ao acesso à terra.

Apesar de a eleição de Mandela ser um fator importante na luta contra a discriminação racial na África do Sul, sua postura conciliatória foi muito criticada por não realizar mudanças mais profundas.

Videoaula

Revise esta aula com este vídeo do canal Parabólica sobre o apartheid na África do Sul e, em seguida, responda às questões:

Exercícios sobre o apartheid na África do Sul

1- (FUVEST SP/2019)

Em junho de 1995, a seleção de rugby da África do Sul conquistou a Copa do Mundo dessa modalidade esportiva ao vencer a equipe da Nova Zelândia por 15 a 12, na cidade de Johannesburgo. O capitão sul-africano, François Pienaar, recebeu a taça destinada à seleção campeã das mãos de Nelson Mandela.

Esse acontecimento esportivo

a) é um dos marcos do fim do Apartheid, devido à constituição de uma primeira seleção multirracial representando a África do Sul.

b) tornou-se uma das justificativas para o veto à participação da África do Sul em eventos esportivos devido à proibição da presença de atletas brancos.

c) permitiu a vitória eleitoral de Mandela, apoiado massivamente pelos bôeres insuflados pelo nacionalismo sul-africano.

d) desencadeou uma série de conflitos raciais entre negros e brancos devido às rivalidades entre os atletas da seleção sul-africana.

e) foi realizado graças a um esforço conjunto de Nelson Mandela e de Frederik de Klerk, agraciados, por isso, com o prêmio Nobel da Paz.

2- (UEM PR/2019)

Sobre o regime de segregação racial estabelecido no século XX, na África do Sul, assinale o que for correto.

01. O regime segregacionista foi estabelecido por uma minoria constituída de descendentes de holandeses e de ingleses que colonizaram a região e se estabeleceram no País.

02. O Apartheid negava direitos civis aos negros e impedia que eles fossem proprietários de terras.

04. Na década de 1950, o Congresso Nacional Africano (CNA), entidade fundada no início do século XX, radicalizou sua luta contra o regime de segregação racial, conclamando os negros à desobediência civil.

08. Após a Segunda Guerra Mundial, os nacionalistas sulafricanos iniciaram uma luta armada, organizados na Frente de Libertação Nacional (FLN). Holanda e Inglaterra, países de origem de uma minoria branca que dominava a África do Sul, enviaram tropas para combatê-los.

16. Na década de 1980, iniciou-se um novo tipo de luta contra o Apartheid, a Intifada. Armados apenas com pedras, os negros passaram a reagir ao regime segregacionista.

3- (UERJ/2018)

Tínhamos a incumbência de reelaborar nosso passado sombrio, contribuindo assim para tratar um povo traumatizado e ferido. Uma tarefa grandiosa, já que todos os sul-africanos tinham suas lesões. Queríamos obter a unidade da nação e a reconciliação.

DESMOND TUTU. Adaptado de dw.com, 29/10/2008.

O arcebispo Desmond Tutu dirigiu a Comissão da Verdade na África do Sul, entre 1996 e 1998, durante o governo do presidente Nelson Mandela.

Ao propor “a unidade da nação e a reconciliação”, o arcebispo buscava enfrentar os problemas causados pela vigência do regime de:

a) segregação racial

b) natureza totalitária

c) ordenamento cultural

d) disciplinarização social

Gabarito:

  1. A
  2. 07
  3. A

Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

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