A atual fase do capitalismo, chamada de informacional, é caracterizada pela intensificação dos fluxos de capitais, mercadorias e pessoas, e pela grande importância do conhecimento.
Esta aula irá tratar das principais características do capitalismo informacional e da Terceira e Quarta Revoluções Industriais. Esses temas serão trabalhados no contexto da globalização econômica e do desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação e transporte como fatores fundamentais para o incremento dos fluxos internacionais.
O que é capitalismo informacional
Capitalismo informacional é um termo criado pelo sociólogo espanhol Manuel Castells, em sua obra “A Sociedade em Rede”, publicada em 1996. Ele se refere à quarta fase do capitalismo, que iniciou no fim do século XIX. O capitalismo informacional é marcado pelo avanço da globalização, da robótica, dos computadores e da internet.
A fim de que você compreenda sua trajetória e suas características, vamos abordar o histórico das revoluções industriais e alguns conceitos importantes.
O impacto das Revoluções Industriais
Ao longo do tempo, os seres humanos desenvolveram um conjunto de habilidades, ferramentas e métodos. Tudo isso possibilitou a transformação da natureza e a construção do espaço geográfico de acordo com suas necessidades em diferentes momentos históricos.
A Primeira e a Segunda Revoluções Industriais foram importantes porque as tecnologias desenvolvidas modificaram a capacidade de produção e a circulação de mercadorias. Com essas mudanças, as indústrias passaram a produzir bens em uma escala maior e se estabelecer em diferentes localidades, mudando a distribuição geográfica da cadeia produtiva.
Entretanto, a partir de 1970, entrou em curso uma nova revolução tecnológica, denominada 3ª Revolução Industrial, Revolução Técnico Científica ou Revolução da Tecnologia da Informação.
Os principais avanços dessa revolução foram na área das Tecnologias da Informação (TIs). Tal mudança permitiu que as informações produzidas pelas novas tecnologias da informática resultassem no desenvolvimento de processos e de produção com rapidez e precisão.
As inovações possibilitaram mais rapidez na circulação de informações e produtos. Ao acelerar a velocidade dos meios de transporte, o tempo de deslocamento das pessoas e mercadorias diminuiu consideravelmente. Eram as origens do capitalismo informacional.
Videoaula sobre a Terceira Revolução Industrial
Saiba mais sobre a 3ª Revolução Industrial com a videoaula do prof. Carrieri no nosso canal:
Flexibilização de produção
Os avanços tecnológicos permitiram uma expansão do capitalismo para espaços de produção até então inéditos. Esse processo ficou conhecido como “flexibilização da produção” e permitiu às empresas de maior porte se instalar e produzir em qualquer região do planeta (desconcentração industrial).
Com esse processo, as transnacionais puderam flexibilizar geograficamente sua produção, acentuando seus lucros. A produção foi barateada por meio da obtenção de mão de obra mais barata, isenção fiscal, leis ambientais brandas, leis trabalhistas flexíveis, disponibilidade de fontes de energia e matérias-primas abundantes.
Fotografia de uma linha de produção em uma indústria chinesa. Grandes empresas costumam produzir seus produtos ou partes deles na China, onde a mão de obra costuma receber menor remuneração do que em outros países.
Dessa maneira, tais empresas passaram a ter acesso a mercados cada vez mais distantes, e os lucros continuaram sendo remetidos às suas sedes nos países centrais (norte desenvolvido e rico).
Quarta Revolução Industrial
O início do século XXI foi marcado pelas tecnologias digitais, pelos avanços nas áreas da internet, da robótica, da inteligência artificial, da nanotecnologia e da aprendizagem automática (das máquinas), que estão transformando a sociedade e a economia global.
Hoje, os países mais desenvolvidos vivem a 4ª Revolução Industrial, também conhecida como Indústria 4.0. A marca dessa revolução industrial é a conexão tanto entre tecnologias como entre o mundo físico, digital e biológico. Com a disseminação da “internet das coisas”, cada vez mais dispositivos, equipamentos e objetos estão conectados uns aos outros e à internet.
Essas evoluções tecnológicas tornaram as fábricas mais “inteligentes”, passando a usar menos mão de obra nas linhas de produção. Isso porque a cadeia produtiva passa a ser operacionalizada por sistemas computadorizados e robôs com inteligência artificial.
Tal fato aumenta o desemprego estrutural, uma vez que há a substituição do trabalho humano pelas máquinas, sendo que este é um processo de difícil reversão.
Paradigma tecnológico
Se por um lado esse novo paradigma tecnológico amplia as expectativas de aumento da produção (sustentada por novos padrões de consumo), por outro preocupa pelo aumento dos índices de desemprego causado pela automação industrial e pelo agravamento das desigualdades sociais.
As revoluções industriais promoveram avanços nos sistemas de comunicação e transporte que, por sua vez, favorecem a interligação territorial e a aproximação dos lugares, determinantes no processo de globalização.
As informações transportadas pelos fluxos de telecomunicações são imateriais, mas a presença de um eficiente sistema de transmissão de dados é imprescindível para o desenvolvimento estratégico, econômico e social de um país inserido na Era da Informação.
Os novos padrões tecnológicos aumentaram o alcance das comunicações e, conforme essas tecnologias evoluíram, as informações foram alcançando distâncias cada vez maiores. Assim, os fluxos tornam-se cada vez mais rápidos.
Atualmente, os cabos submarinos são os principais responsáveis pelo fluxo de informações entre os continentes. Esses cabos são considerados mais eficientes do que os satélites em função da fibra óptica. Essa tecnologia suporta um fluxo muito maior de dados, transmite em menor tempo e com maior qualidade.
As inovações tecnológicas da Terceira e Quarta Revoluções Industriais estão diretamente relacionadas ao processo de globalização. Isso porque o desenvolvimento da tecnologia da informação nos transportes e nas telecomunicações permitiu a aceleração dos fluxos de capitais, de mercadorias, de dados e de pessoas em escala global, como nunca antes havia acontecido na história da humanidade.
Capitalismo informacional
A atual fase do capitalismo informacional caracteriza-se pela intensificação dos fluxos de capitais especulativos e capitais produtivos no mundo. As novas tecnologias favorecem a transferência imediata de capitais pelos investidores especulativos.
Uma parcela significativa do capital produtivo que se destinava à expansão, melhoria ou instalação de novas unidades de produção passou a ser investida em atividades relacionadas à especulação financeira. Esse capital especulativo, volátil e de curto prazo é aplicado me nível global, principalmente em bolsas de valores.
O crescimento dos fluxos de capitais produtivos ocorreu com a migração das multinacionais de seus países de origem para as nações menos desenvolvidas em busca de vantagens financeiras.
Essa migração das multinacionais foi possível graças ao avanço nos transportes e nas telecomunicações. Esses avanços propiciaram as transformações nas estruturas produtivas, permitindo a fragmentação da linha de produção e sua dispersão por diversas nações.
Nessa Nova Divisão Internacional do Trabalho (DIT) estabelecida com a globalização, as vantagens competitivas de cada país são consideradas pelas empresas multinacionais antes de investir seu capital produtivo. Com a dispersão da produção, o fluxo de comércio e de mercadorias se intensificou.
A automação industrial favoreceu o crescimento da produtividade e a expansão do consumo, contribuindo para aumentar o fluxo global de mercadorias. A aceleração dos fluxos de capitais produtivo, especulativo e de mercadorias é um dos principais aspectos econômicos da globalização.
As redes de comunicação e transportes estão cada vez mais difundidas pelo espaço geográfico. A interação entre os lugares do mundo intensificou-se nos últimos anos.
Aldeia Global
Nesse contexto, o termo “Aldeia Global” é usado para retratar a integração de diferentes povos e culturas pelos meios de comunicação, especialmente filmes, televisão, internet, redes sociais, dentre outras. Isso cria uma cultura de massa que, muitas vezes, substitui ou menospreza os valores culturais tradicionais.
O processo de disseminação da cultura de massa faz com que algumas marcas e produtos sejam divulgados no mundo todo, criando uma tendência de homogeneização da cultura mundial.
A cultura de massa é fortemente marcada por produtos e serviços estadunidenses. Essa hegemonia deve-se também aos meios de comunicação, que propagam comportamentos, formas de se vestir, hábitos alimentares, entre outros modos de vida da cultura dos Estados Unidos.
Em sua fase atual, a globalização tem intensificado as desigualdades sociais e econômicas no mundo. O poder econômico e político mundial está atrelado à capacidade de pesquisa e desenvolvimento tecnológico dos países, assim como à qualidade de vida de suas populações.
Esses poderes foram influenciados pela capacidade produtiva, científica e tecnológica proveniente das inovações técnicas, que transformaram as sociedades de modo desigual ao longo da história.
A inserção no mundo globalizado exige vultosos investimentos financeiros em tecnologia e infraestrutura, que nem sempre estão ao alcance de todos os países de maneira igualitária.
Nos países em desenvolvimento (emergentes), o baixo investimento em educação dificulta a qualificação da mão de obra, a pesquisa e a criação de novas tecnologias. Como consequência, eles tornam-se ainda mais dependentes das inovações tecnológicas estrangeiras e a desigualdade entre as nações é perpetuada.
Para saber mais sobre o capitalismo informacional, assista à videoaula e, em seguida, responda aos exercícios:
Exercícios sobre o capitalismo informacional
1) ENEM – 2017
Esse sistema tecnológico, em que estamos totalmente imersos na aurora do século XXI, surgiu nos anos 1970. Assim, o microprocessador, o principal dispositivo de difusão da microeletrônica, foi inventado em 1971 e começou a ser difundido em meados dos anos 1970. O microcomputador foi inventado em 1975, e o primeiro produto comercial de sucesso, o Apple II, foi introduzido em abril de 1977, por volta da mesma época em que a Microsoft começava a produzir sistemas operacionais para microcomputadores.
CASTELLS, M. A sociedade em rede: a era da informação. São Paulo: Paz e Terra, 1999 (adaptado).
A mudança técnica descrita permitiu o surgimento de uma nova forma de organização do espaço produtivo global, marcada pelo(a):
a) primazia do setor secundário.
b) contração da demanda energética.
c) conectividade dos agentes econômicos.
d) enfraquecimento dos centros de gestão.
e) regulamentação das relações de trabalho.
2) ENEM – 2015
Um carro esportivo é financiado pelo Japão, projetado na Itália e montado em Indiana, México e França, usando os mais avançados componentes eletrônicos, que foram inventados em Nova Jérsei e fabricados na Coreia. A campanha publicitária é desenvolvida na Inglaterra, filmada no Canadá, a edição e as cópias, feitas em Nova York para serem veiculadas no mundo todo. Teias globais disfarçam-se com o uniforme nacional que lhes for mais conveniente.
REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo no século XXI. São Paulo: Educator, 1994 (adaptado).
A viabilidade do processo de produção ilustrado pelo texto pressupõe o uso de:
a) linhas de montagem e formação de estoques.
b) empresas burocráticas e mão de obra barata.
c) controle estatal e infraestrutura consolidada.
d) organização em rede e tecnologia de informação.
e) gestão centralizada e protecionismo econômico.
3) (Fac. Santo Agostinho MG/2019)
Sem dúvida, a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em especial, aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico, traça seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnológico.
Castells, M. (2010). A sociedade em rede – A era da informação: economia, sociedade e cultura. Tradução Roneide Venancio Majer. 6. ed. São Paulo, Brasil: Paz e Terra.
Sobre o assunto abordado no texto, pode-se concluir que
a) Os países detentores das patentes tecnológicas comandam unilateralmente a economia mundial, proibindo a comercialização de tecnologias produzidas em países subdesenvolvidos.
b) As tecnologias típicas da Globalização aumentaram a autossuficiência econômica dos países.
c) Os avanços tecnológicos em telecomunicações e transportes promoveram o aumento da complexidade nas relações entre os diferentes espaços mundiais, porém, não foram capazes de extinguir as históricas diferenças socioeconômicas entre as sociedades.
d) O comércio de tecnologias em âmbito mundial contribuiu para a diminuição da pobreza nos “Países do Sul”.
Gabarito:
- C
- D
- C