O ceticismo filosófico e a vida comum. Resumo Enem

Você é daqueles que desconfia de tudo? Só acredita nas coisas vendo? O ceticismo é a corrente filosófica favorita dos desconfiados, chega mais e vamos entender um pouco desse conteúdo do Enem!

O ceticismo é uma das escolas da filosofia que datam da Antiguidade, da mesma maneira que o estoicismo, o epicurismo, o hedonismo, etc. No entanto, pouca coisa daquilo foi escrito pelos céticos antigos sobreviveu à passagem do tempo.

Não confunda nem o ceticismo do dia a dia, das pessoas que em nada acreditam, com Ceticismo Filosófico, que é o método de pensamento e investigação científica criado por René Descartes na Idade Contemporânea.

Pirro de Élis

Lá na Grécia, berço da filosofia, há muito tempo atrás, um cara chamado Pirro foi o responsável pela criação da escola cética. Pirro era um cara comum que tentou se tornar pintor. Entretanto, não obteve muito sucesso nessa empreitada.

Ele decidiu, então, se juntar a uma expedição organizada por Alexandre, o grande, aquele que se tornou o soberano do império Macedônio e ajudou a difundir a cultura helênica pelo mundo.

Pirro de Élis - ceticismo
Imagem 1: Pirro de Élis foi um filósofo grego, nascido na cidade de Élis, considerado o primeiro filósofo cético.

Conta-se que nessa expedição, Pirro conheceu diversos sábios da Pérsia e também da Índia, absorvendo muito de seu conhecimento. A partir desse choque de culturas, o fundador do ceticismo cresceu muito como filósofo e passou a dedicar-se com afinco à filosofia.

Retornando à Grécia, Pirro fundou o que veio a ser conhecido como ceticismo. Podemos caracterizar essa escola principalmente pela sua obstinada recusa aos dogmas, isto é, os céticos (filósofos da escola de Pirro) eram contrários a qualquer doutrina de caráter indiscutível.

Fundamentos do ceticismo

Existem algumas ideias que fundamentam a filosofia dos céticos, a começar pela impossibilidade de conhecermos a natureza do mundo a nossa volta. Essa incapacidade foi chamada de acatalepsia.

A palavra nasce da oposição ao pensamento de outra escola da época, os estoicos, que afirmavam ser possível compreender o mundo a nosso redor, o que chamaram de catalepsia.

Ademais, era de extrema importância para os céticos manter uma suspensão dos juízos. Isto é, se existem diversas afirmações acerca do mundo, nenhuma delas é passível de ser conhecida em sua real natureza.

Logo, nenhuma delas é melhor que a outra. Assim sendo, aos céticos é fundamental essa despreocupação acerca do mundo, algo que foi chamado de ataraxia, conceito comum também aos estoicos e epicuristas.

Tirinha - ceticismo
Imagem 2: O ceticismo é de vital importância para a filosofia. É destaque nas obras de filósofos como Hume, Montaigne e Kant.

Bom, então nossa impossibilidade de conhecer esse mundão que nos cerca deve, segundo os céticos, nos levar a uma vida mais despreocupada. Está aí um bom argumento para a gente “ficar de boas”, não é?

Afinal, debater sobre o mundo é debater sobre coisas imaginárias, já que não podemos conhecer realmente a natureza dessas coisas. Mas como “ficar de boa” não faz ninguém gabaritar o Enem, vamos seguir com a nossa aula.

O ceticismo e dogmatismo no cotidiano

Talvez o mais importante legado do ceticismo para nossa vida cotidiana seja o antidogmatismo, ou seja, não aceitar o mundo como algo cheio de verdades absolutas incontestáveis.

O dogma é uma parada fundamentada na nossa aceitação da verdade, sem qualquer tipo de questionamento sobre a sua veracidade. Um argumento dogmático deve ser tido como verdade absoluta. Assim sendo, fica evidente a antítese do ceticismo ao dogmatismo.

verdades absolutas - ceticismo
Imagem 3: A noção da não crença no ceticismo gerou alguns paradoxos famosos. Contudo precisamos entende-lo enquanto postura acerca do mundo e não como mais um dogma.

Trazendo isso para nosso cotidiano, o ceticismo nos desperta do sono dogmático, assim como foi com Kant, e nos dá uma nova alternativa para enxergar o mundo. Você pode não ser um cético, mas mesmo assim adotar uma postura cética em relação as adversidades da vida.

Problemas complexos tais como legalização de entorpecentes, a dissolução da polícia ou mesmo a laicidade do Estado, devem ser analisados com um olhar mais cético. Dessa maneira, nos livramos dos preconceitos tolos e dos dogmas que aprisionam nosso intelecto.

Aliás, o preconceito é algo inadmissível do ponto de vista cético. Observe que o prefixo da palavra advém de uma concepção prévia de algo. Ou seja, antes mesmo de conhecer algo, você já emite um juízo acerca dele.

Essas ideias absurdas, como racismo, xenofobia, homofobia e o machismo – para citar só alguns dos vários preconceitos existentes – são fundamentadas em dogmas que não fazem, do ponto de vista racional, sentido algum.

Daí a importância dessa postura cética, não aceitar esses absurdos só porque dizem conhecer a real natureza deles. Além do que, muitas das origens dessas besteiras se perderam num passado remoto.

O Ceticismo Filosófico

Dento do campo das ciências do pensamento existe o Ceticismo Filosófico, que é um caminho, um método para encontrar o conhecimento, e que não se confunde com o ceticismo do senso comum.

A origem do Ceticismo Filosófico está em René Descartes, filósofo e matemático francês (1596 -1650). Logo no começo da Idade Moderna Descartes utilizou a dúvida enquanto método para abrir as possibilidades do conhecimento e chegar a novas descobertas.

A raiz da formulação original estabelecida por Descartes foi: eu duvido para poder conhecer melhor. Ou seja, ao mesmo tempo em que ele manifesta uma dúvida, ele estabelece um método, um procedimento, para “testar se a dúvida de fato procede”.

Resumo sobre o Ceticismo Filosófico

Este raciocínio que se constitui no método do Ceticismo Filosófico colocou o homem mais perto da verdade, num processo contínuo de aproximação cada vez mais do que seria a essência sobre determinada coisa, sobre um determinado objeto ou conhecimento.

O ceticismo para Descartes significa em questionar os fundamentos do que seriam as “verdades”, para coloca-las em teste, e verificar se elas resistem às provas de consistência para sobreviver ao ceticismo metodológico.

O conhecimento, para se apresentar enquanto válido precisa passar por uma série de provas para ser confirmado ou refutado. E, mesmo quando é confirmado, ele permanece passível de aprimoramentos pelos movimentos e novas descobertas de conhecimento relacionado.

Por isso o Ceticismo Filosófico carrega em si uma atitude de desconfiança em relação às certezas que são apresentadas. A postura filosófica de uma crítica é que permite ao ser humano duvidar, separar, distinguir e julgar aquilo que nos é apresentado como conhecimento.

A dica do professor Marciel Evangelista Cataneo, do canal do Curso Enem Gratuito,  é que, mesmo no dia a dia, na vida do cotidiano, é preciso ter mais Ceticismo Filosófico do que adotar comportamento dogmáticos ou meramente céticos.

Para resumir o que você viu até agora sobre o ceticismo e fixar o conhecimento aprendido, veja esta aula:

Exercícios:

1- A palavra “ceticismo” ou “cético” possui muitos significados. Quando falamos do ceticismo antigo, o qual das alternativas abaixo define mais corretamente seu pensamento?

a) Não acreditar em nada que não possa ser observado.

b) Negar a existência de deus e outros seres sobrenaturais.

c) Suspender o juízo sobre todas as crenças.

d) Defender que somente os deuses conhecem a verdade.

2- Entre os filósofos abaixo, qual pode seguramente ser considerado um cético?

a) Platão.

b) Aristóteles.

c) Kant.

d) Pirro.

3- Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.

LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.

O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:

a) Desprezar qualquer convenção e obrigação social.

b) Atingir o verdadeiro prazer como princípio de uma vida feliz.

c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza.

c) Aceitar o determinismo e ocupar-se com as verdades absolutas.

Gabarito

1- C

2- D

3- C

Sobre o(a) autor(a):

Os textos e exemplos acima foram preparados pelo professor Ernani Silva para o Blog do Enem. Ernani é formado em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista. Ministra aulas de Filosofia em escolas da Grande Florianópolis. Facebook: https://www.facebook.com/ErnaniJrSilva

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