Conheça as crônicas de Rubem Braga, um dos mestres brasileiros do gênero. Revise Literatura para mandar bem no Enem!
Quem foi Rubem Braga
Rubem Braga, nascido em Cachoeiro de Itapemirim, em 12 de janeiro de 1913, foi sem dúvida dos melhores cronistas brasileiros. Iniciou-se no jornalismo profissional muito cedo, aos 15 anos, no Correio do Sul, de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, fazendo reportagens e assinando crônicas diárias no jornal Diário da Tarde.
Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte em 1932, mas não exerceu a profissão, dedicando-se ao jornalismo. Transferindo-se para Recife, dirigiu a página de crônicas policiais no Diário de Pernambuco. Nesta cidade, fundou o periódico Folha do Povo. Em 1936 lançou seu primeiro livro de crônicas, O Conde e o Passarinho, e fundou em São Paulo a revista Problemas.
Como correspondente, passou a acompanhar grandes eventos como a Segunda Guerra Mundial, na campanha de 1944-1945, pelo Diário Carioca; a cobertura da primeira eleição de Perón, 1946, na Argentina; a segunda eleição de Eisenhower, nos Estados Unidos. Visitou inúmeros países das Américas, Europa, África e Índia; e até desempenhou função diplomática em Rabat (Marrocos).
Após seu regresso, exerceu o jornalismo em várias cidades do país, fixando domicílio no Rio de Janeiro, onde escreveu crônicas e críticas literárias para o Jornal Hoje, da Rede Globo. Foi um dos sócios da Editora do Autor e da Editora Sabiá no período de 1967 a 1971. Trabalhou no jornalismo da TV-Globo e escreveu crônicas para revistas.
Foi um dos cronistas mais importantes do nosso país. Publicou duas dezenas de livros com suas crônicas, dentre eles, O verão e as mulheres (que é, na verdade, a 4ª edição de A Cidade e a Roça), escreveu o romance Casa do Braga, e fez a adaptação de algumas obras importantes e traduziu Terra dos Homens, Antoine de Saint-Exupéry. Rubem Braga faleceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de dezembro de 1990.
A crônica de Rubem Braga
Rubem Braga fez da crônica o seu foco literário. Seu estilo se caracteriza pelo estilo, influenciado pelo jornalístico: construção ágil, direta, sem adjetivações, pelo despojamento verbal e pelo hábito de escrever eliminando excessos.
Outro recurso é reproduzir a estrutura das conversas informais. Começa falando de um tema e conduz o leitor a outro tema bem mais complexo.
Em sua obra, Rubem Braga autor procura identificar algo singular no termo “coisa de carioca”, ou seja, um hábito ou comportamento comum, como ir “tomar um cafezinho”. Além de seguir um tempo cronológico determinado, também há o uso da oralidade na escrita e o coloquialismo na fala das personagens.
Em Rubem Braga, constantemente o narrador conversa com seus leitores como uma estratégia marcante – muito praticada, inclusive, por Fernando Sabino. Outro traço em comum é a relação que os dois autores guardam com a infância e a inocência, sempre exaltados e idealizados, como você pode ver na crônica a seguir:
Ai de ti, Copacabana
Publicado em 1960, o livro reúne crônicas escritas de abril de 1955 a março de 1960, selecionadas e organizadas pelo próprio autor. As crônicas abordam assuntos do cotidiano, as memórias da infância (ponto fundamental da obra de Braga) e dos amores da mocidade.
São textos em que valorizam a natureza, a simplicidade da vida, os pobre, humildes e sofredores. Retratando o tédio urbano e a atmosfera melancólica das grandes cidades, Braga capta os pequenos momentos que compõem a condição humana, trazendo e interpretando para o leitor os diversos sentimentos dispersos nesses instantes. Veja uma das crônicas do livro:
O homem e a cidade
“Agora, que não preciso mais ir à cidade todo dia, descubro um prazer novo em andar por essas velhas ruas do centro onde tanto vaguei outrora. E pego um estranho dia de verão: há um alto nevoeiro aéreo sob o céu azul, mas o vento espanta alegremente as nuvens esgotadas de chover; o ar é fino, a luz é clara, a manhã é assanhada, com uma alegria de convalescente que pela primeira vez, depois de longa doença, sai a passear entre as árvores, o mar e as montanhas azuis.
Parece que estamos em maio ou setembro, num desses dias cambiantes e leves em que as folhas têm um brilho mais feliz. E sinto prazer em andar pela calçada larga da Rua do Passeio, em espiar as grandes vitrinas coloridas de presentes de Natal. (Não quero comprar nada, não preciso ganhar mais nada, não é verdade que recebi na minha porta a graça juvenil de uma rosa amarela?)
A calçada está cheia de gente, e é doce a gente se deixar ir andando à toa. Na Rua Senador Dantas vejo livros, camisas, aparelhos elétricos, discos, fuzis submarinos, gravatas; e os cartazes dizem que tudo é muito barato e fácil de comprar, os cartazes me fazem ofertas especiais para levar agora e só começar a pagar em fevereiro… Muito obrigado, muito obrigado, mas não preciso de nada. Entretanto, gosto de ver essa fartura de coisas: fico parado numa porta de mercearia contemplando reluzentes goiabadas e frascos de vinho, bebidas e gulodices de toda a espécie que vieram de terras longes se oferecerem a mim.
Mas de repente houve alguma coisa — a visão de um muro, o som de uma vitrola distante, algum rosto no meio da multidão? — alguma coisa que me devolveu ao meu ser antigo. Sou um rapaz magro nesta mesma rua, sou o verdadeiro estudante de 1929 e talvez cruze uma esquina, sem conhecê-la ainda, aquela que há de ser a minha amada, e tire do bolso a minha carteirinha da Faculdade para ter direito ao abatimento do cinema. Mas logo, por um instante, sou o homem dramático e silencioso de 1938, e caminho carregado de angústia por essa calçada que, entretanto, é a mesma de hoje — há o vento palpitando nos vestidos coloridos de mulheres finas que sorriem com dentes muito brancos entre os lábios úmidos. E vou andando, tomo um café, sinto uma grande ternura pela cidade grande onde outrora te amei tanto, tanto, oh! para sempre perdida Lenora.
Lenora… E me dá uma humildade entre o povo, completo o dinheiro da entrada de um menino que quer ir ao cinema, espero um bonde, ajudo uma senhora gorda a subir com seu embrulho, ela agradece e sorri, é cinqüentona e pobre, mas seu sorriso é bom, ela e eu somos cidadãos da mesma cidade e antes de saltar ela me desejará boas entradas. Vem o condutor, tem cara de alemão e é gordo, mas ágil e paciente, todos pagam sua passagem na boa ordem civil e cordial. Um homem conduz uma gaiola dentro do bonde, todos querem ver o passarinho — é um pintassilgo, diz ele.
Quieto, vou repetindo sem voz, para mim mesmo, teu nome, Lenora — perdida, para sempre perdida, mas tão viva, tão linda, batendo os saltos na calçada, andando de cabelos ao vento dentro de minha cidade e de minha saudade, Lenora.”
(texto extraído do livro “Ai de ti Copacabana”)
Análise da crônica
Como você pode ver, a crônica traz um breve flagrante do cotidiano da cidade e do tédio urbano, que servem de mote para a recordação melancólica e nostálgica do narrador. O nome da mulher amada e perdida ecoa em suas memórias, presas para sempre nos lugares onde as pessoas estiveram um dia. A cidade e suas ruas são as marcas pelas quais o narrador vai identificando e interpretando a si mesmo.
Para apreciação de mais um pouco da obra de Rubem Braga, segue uma crônica do autor, “O Cafezinho”, do livro O conde e o passarinho & Morro do isolamento:
Cafezinho
“Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava falar com um delegado e lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho. Ele esperou longamente, e chegou à conclusão de que o funcionário passou o dia inteiro tomando café.
Tinha razão o rapaz de ficar zangado. Mas com um pouco de imaginação e bom humor podemos pensar que uma das delícias do gênio carioca é exatamente esta frase:
– Ele foi tomar café.
A vida é triste e complicada. Diariamente é preciso falar com um número excessivo de pessoas. O remédio é ir tomar um “cafezinho”. Para quem espera nervosamente, esse “cafezinho” é qualquer coisa infinita e torturante. Depois de esperar duas ou três horas dá vontade de dizer:
– Bem cavaleiro, eu me retiro. Naturalmente o Sr. Bonifácio morreu afogado no cafezinho.
Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no cafezinho. Sim, deixemos em todos os lugares este recado simples e vago:
– Ele saiu para tomar um café e disse que volta já.
Quando a Bem-amada vier com seus olhos tristes e perguntar:
– Ele está? – alguém dará o nosso recado sem endereço. Quando vier o amigo e quando vier o credor, e quando vier o parente, e quando vier a tristeza, e quando a morte vier, o recado será o mesmo:
– Ele disse que ia tomar um cafezinho…
Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos até comprar um chapéu especialmente para deixá-lo. Assim dirão:
– Ele foi tomar um café. Com certeza volta logo. O chapéu dele está aí…
Ah! fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim. A vida é complicada demais. Gastamos muito pensamento, muito sentimento, muita palavra. O melhor é não estar.
Quando vier a grande hora de nosso destino nós teremos saído há uns cinco minutos para tomar um café. Vamos, vamos tomar um cafezinho.
Rio, 1939.”
(O conde e o passarinho & Morro do isolamento. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 156-157.)
Resumo sobre a crônica como gênero narrativo
Para terminar, veja um resumo sobre a crônica enquanto gênero narrativo, com a professora Camila, de Literatura!
Questões sobre Rubem Braga
Agora, resolva as questões sobre Rubem Braga selecionadas pelo professor e verifique se você entendeu as características da crônica do autor.
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Pergunta 1 de 10
1. Pergunta
(FCM MG/2018)
AO CRESPÚSCULO, A MULHER
Ao crepúsculo, a mulher bela estava quieta, e me detive a examinar sua cabeça com atenção e o extremado carinho de quem fixa uma flor. Sobre a haste do colo fino estava apenas trêmula: talvez a leve brisa do mar; talvez o estremecimento de seu próprio crepúsculo. Era tão linda assim, entardecendo, que me perguntei se já estávamos preparados, nós, os rudes homens destes tempos, para testemunhar a sua fugaz presença sobre a terra. Foram precisos milênios de luta contra a animalidade, milênios de milênios de sonho para se obter esse desenho delicado e firme. Depois os ombros são subitamente fortes, para suster os braços longos; mas os seios são pequenos, e o corpo esgalgo foge para a cintura breve; logo as ancas readquirem o direito de ser graves, e as coxas são longas, as pernas desse escorço de corça, os tornozelos de raça, os pés repetindo em outro ritmo a exata melodia das mãos.
Ela e o mar entardeciam, mas, a um leve movimento que fez, seus olhos tomaram o brilho doce da adolescência, sua voz era um pouco rouca. Não teve filhos. Talvez pense na filha que não teve… A forma do vaso sagrado não se repetirá nestas gerações turbulentas e talvez desapareça para sempre no crepúsculo que avança. Que fizemos desse sonho de deusa? De tudo o que lhe fizemos só lhe ficou o olhar triste, como diria o pobre Antônio, poeta português. O desejo de alguns a seguiu e a possuiu; outros ainda se erguerão como torvas chamas rubras, e virão crestá-la, eis ali um homem que avança na eterna marcha banal.
Contemplo-a… Não, Deus não tem facilidade para desenhar. Ele faz e refaz sem cessar Suas figuras, porque o erro e a desídia dos homens entorpecem Sua mão: de geração em geração, que longa paciência Ele não teve para juntar a essa linha do queixo essa orelha breve, para firmar bem a polpa da panturrilha. Sim, foi a própria mão divina em um momento difícil e feliz. Depois Ele disse: anda… E ela começou a andar entre os humanos. Agora está aqui entardecendo; a brisa em seus cabelos pensa melancolias. As unhas são rubras; os cabelos também ela os pintou; é uma mulher de nosso tempo; mas neste momento, perto do mar, é menos uma pessoa que um sonho de onda, fantasia de luz entre nuvens, avideusa trêmula, evanescente e eterna.
Mas para que despetalar palavras tolas sobre sua cabeça? Na verdade não há o que dizer; apenas olhar, olhar como quem reza, e depois, antes que a noite desça de uma vez, partir.
(Rubem Braga. A traição das elegantes.
R.J.: Editora Sabiá, 1967, pp.61-63.)
A crônica de Rubem Braga, ao abordar o corpo feminino, demonstra:
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Pergunta 2 de 10
2. Pergunta
(FCM MG/2018)
Os trechos dos textos de Drauzio Varella e de Rubem Braga que mais se identificam, total ou parcialmente, com o cartum são:
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Pergunta 3 de 10
3. Pergunta
(Uniube MG/2017)
Leia o fragmento a seguir, retirado da crônica A mulher ideal, de Rubem Braga:
Fraca é a minha imaginação; não sei inventar nada, nem o enredo de um conto, nem o entrecho de uma peça; se tivesse imaginação escreveria novelas, e não croniquetas de jornal.
(RIBEIRO, Carlos (org.). Melhores crônicas: Rubem Braga.
São Paulo: Global, 2013, p. 239)
Nesse fragmento, é possível percebermos o pensamento do autor sobre o ato de produção. A esse instrumento de construção chamamos de:
Correto
Resposta correta!
Incorreto
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Pergunta 4 de 10
4. Pergunta
(CEFET MG/2015)
Meu ideal seria escrever…
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história mais engraçada!”. E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – “mas essa história é mesmo muito engraçada!”. […]
Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – “por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!”. E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história. […]
E quando todos me perguntassem – “mas de onde é que você tirou essa história?” – eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito contar uma história…”.
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.
BRAGA, Rubem. In: A traição das elegantes.
Record: Rio de Janeiro, 1982, p. 93.
Ao abordar seu próprio processo de escrita, Rubem Braga, em sua crônica, alude a uma importante função social da literatura.
Segundo o texto, o que motiva o autor a escrever é uma preocupação artística de natureza
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Pergunta 5 de 10
5. Pergunta
(UEL PR/2015)
Não Ameis a Distância!
Em uma cidade há um milhão e meio de pessoas, em outra há outros milhões; e as cidades são tão longe uma da outra que nesta é verão quando naquela é inverno. Em cada uma dessas cidades há uma pessoa; e essas pessoas tão distantes acaso pensareis que podem cultivar em segredo, como plantinha de estufa, um amor a distância?
Andam em ruas tão diferentes e passam o dia falando línguas diversas; cada uma tem em torno de si uma presença constante e inumerável de olhos, vozes, notícias. Não se telefonam mais; é tão caro e demorado e tão ruim e além disso, que se diriam? Escrevem-se. Mas uma carta leva dias para chegar; ainda que venha vibrando, cálida, cheia de sentimento, quem sabe se no momento em que é lida já não poderia ter sido escrita?
A carta não diz o que a outra pessoa está sentindo, diz o que sentiu a semana passada… e as semanas passam de maneira assustadora, os domingos se precipitam mal começam as noites de sábado, as segundas retornam com veemência gritando – “outra semana!” e as quartas já têm um gosto de sexta, e o abril de de-já-hoje é mudado em agosto…
Sim, há uma frase na carta cheia de calor, cheia de luz; mas a vida presente é traiçoeira e os astrônomos não dizem que muita vez ficamos como patetas a ver uma linda estrela jurando pela sua existência – e no entanto há séculos ela se apagou na escuridão do caos, sua luz é que custou a fazer a viagem? Direis que não importa a estrela em si mesma, e sim a luz que ela nos manda; e eu vos direi: amai para entendê-las!
Ao que ama o que lhe importa não é a luz nem o som, é a própria pessoa amada mesma, o seu vero cabelo, e o vero pelo, o osso de seu joelho, sua terna e úmida presença carnal, o imediato calor; é o de hoje, o agora, o aqui – e isso não há.
Então a outra pessoa vira retratinho no bolso, borboleta perdida no ar, brisa que a testa recebe na esquina, tudo o que for eco, sombra, imagem, um pequeno fantasma, e nada mais. E a vida de todo dia vai gastando insensivelmente a outra pessoa, hoje lhe tira um modesto fio de cabelo, amanhã apenas passa a unha de leve fazendo um traço branco na sua coxa queimada pelo sol, de súbito a outra pessoa entra em fading um sábado inteiro, está-se gastando, perdendo seu poder emissor a distância.
Cuidai amar uma pessoa, e ao fim vosso amor é um maço de cartas e fotografias no fundo de uma gaveta que se abre cada vez menos… Não ameis a distância, não ameis, não ameis!
(BRAGA, R. 200 crônicas escolhidas.
Rio de Janeiro: Record, 2013. p.435-436.)
A respeito do conjunto das crônicas de Rubem Braga indicadas para leitura, assinale a alternativa correta.
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Pergunta 6 de 10
6. Pergunta
(UFAM/2015)
Leia agora o início da crônica “O Vassoureiro”, de Rubem Braga.
Em um piano distante alguém estuda uma lição lenta, em notas graves. De muito longe, de outra esquina, ouve-se também o som de um realejo. Conheço o velho que o toca, ele anda sempre pelo meu bairro; já fez o periquito tirar para mim um papelucho em que são garantidos 93 anos de vida, muita riqueza, poder e felicidade.
Ora, não preciso de tanto. Nem de tanta vida, nem de tanta coisa mais. Dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza; poder somente para mandar um pouco, pelo menos, em meu nariz; e da felicidade um salário mínimo: tristezas que possa aguentar, remorsos que não doam demais, renúncias que não façam de mim um velho amargo.
Joguei uma prata da janela, e o periquito do realejo me fez um ancião poderoso, feliz e rico. De rebarba me concedeu 14 filhos, tarefa e honra que me assustam um pouco. Mas os periquitos são muito exagerados, e o costume de ouvir o dia inteiro trechos de óperas não deve lhes fazer bem à cabeça. Os papagaios são mais objetivos e prudentes, e só se animam a afirmar uma coisa depois que a ouvem repetidas vezes.
Enquanto isso – oh! – Chiquita, a pequenina jabota, passeia a casa inteira, erguendo com certa graça o casco pesado sobre as quatro patinhas tortas, e espichando e encolhendo o pescoço curioso, tímido e feio. Nunca diz nada, o que é pena, pois deve ter uma visão muito particular das coisas.
Leia as afirmativas a seguir, feitas a respeito de fenômenos sintáticos e linguísticos do texto de Rubem Braga:
I. O primeiro período (que começa com “Em um piano”) é simples e, por desconhecer a identidade de quem pratica a ação, o cronista emprega um pronome indefinido.
II. No período seguinte, a expressão “o som de um realejo” exerce a função sintática de objeto direto.
III. Ao dizer que precisa apenas de um salário mínimo de felicidade, o cronista está empregando uma metáfora.
IV. No último parágrafo, a fim de expressar seu espanto e admiração, o autor empregou e escreveu de modo correto a interjeição “oh!”
Assinale a alternativa correta:
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Pergunta 7 de 10
7. Pergunta
(UNIFOR CE/2015)
O Pavão
(Rubem Braga)
Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade. Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! Minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
(Crônicas de Rubem Braga. Disponível em: Acesso em: 01/08/2014)
No que se refere ao assunto, modo de apresentar e finalidade, respectivamente, pode-se considerar que a crônica de Rubem Braga apresenta:
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Pergunta 8 de 10
8. Pergunta
(IFAL/2015)
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:
— Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém?”
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém…
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”
E assobiava pelas escadas.
(BRAGA, Rubem. In: Para gostar de ler. Crônicas. Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino,
Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. 12ª ed. Ática: São Paulo, 1989. p.63-64.)
O texto O padeiro, de Rubem Braga, é uma crônica mundana, de teor filosófico. Podemos observar que os trechos presentes nessa narrativa, em sua maioria, dispõem de sequências textuais com verbos no presente do indicativo. A intenção do autor ao elaborar sua escrita dessa forma é
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Pergunta 9 de 10
9. Pergunta
(IFAL/2015)
Uma tarde, em Buenos Aires…, também do escritor Rubem Braga.
Uma tarde em Buenos Aires eu estava meio triste – mas não bebi, não telefonei, não procurei nenhuma pessoa amiga. Fechado no meu capote e no meu silêncio pus-me a andar pela rua cheia de gente. As grandes luzes só se acendem às dez da noite e, desde muito cedo, no inverno, é escuro. Há um poder nessa multidão que desfila na penumbra como um rio grosso com seu murmúrio. Deixei-me ir pela Florida, dobrei talvez em Tucumán, subi até Suipacha, desemboquei em Corrientes, e eu era mais um homem de capote no seio da multidão, e a multidão me embalava e me fazia bem. E por ser impessoal e não ter pressa e não ter pressa nem rumo, por ter um capote e sapatos grossos e por andar entre meus desconhecidos irmãos, eu me senti mais livre. E cumpri os ritos da multidão, comprei meu jornal, tomei meu café, li o placar das últimas notícias, fiquei um instante distraído mirando os frangos que giravam se tostando numa rotisseria.
Quando voltava para o meu hotel, por Florida, me lembrei do primeiro verso de um soneto que li há muito tempo, parece que de Alfonsina Storni, “lo encontré en una esquina de la calle Florida…” Fiquei com esse verso na cabeça, pensando vagamente que esse homem sem nome que alguém encontrou em uma esquina de la calle Florida podia ser eu, como podia ser milhões de outros, e tirei disso não sei que vago e particular consolo.
Não foi em uma esquina, mas foi ainda na Florida que encontrei alguém: era um casal de amigos brasileiros em lua-de-mel. Os dois estavam felizes, alegres deles mesmos e de tudo o mais, falando do prazer das compras de lã e da carne soberba dos restaurantes. Estimei encontrá-los, e a felicidade do casal me fez bem, mas senti, com certa curiosidade, que no fundo de mim não havia a menor inveja. Ide-vos, noivos morenos, por Florida e Corrientes, ide-vos felizes por todos os caminhos da vida. Só vos invejarão os que também procuram ser felizes; minha longa tarefa é outra, é não ser infeliz e me proteger e guardar, ser forte dentro de mim, forte, quieto, sereno. Essa tarefa me distrai; e, vendo em vossos olhos a felicidade, eu descobri que em verdade já não a procuro mais. Já passei por esse caminho; sobre minha cabeça, quando ia por ele, mais de uma árvore deixou cair flores. Não choro esse tempo; simplesmente ele passou. Assim vai passando a multidão, e dentro dela caminho outra vez, lentamente, distraído e tranquilo como um boi.
(http://contobrasileiro.com.br/?p=1662)
Marque a alternativa em cujo trecho o escritor Rubem Braga não comete deslize algum quanto ao emprego da pontuação.
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Pergunta 10 de 10
10. Pergunta
(UNIRG TO/2014)
As crônicas de Rubem Braga resgatam aspectos do cotidiano que singularizam os episódios narrados. Na crônica “O padeiro”, a singularização da personagem-título ocorre por meio da
Correto
Resposta correta!
Incorreto
Resposta incorreta. Revise o conteúdo desta aula para acertar na hora da prova.
Sobre o(a) autor(a):
Renato Luís de Castro é graduado em Letras/Francês pela Unesp-Araraquara, e mestrado em Estudos Literários também na Unesp, atualmente concluindo Licenciatura pela UFSC.
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