A vida tem critério para ser vivida? Quais seriam os valores que devemos levar em conta ao viver? O filósofo prussiano Friedrich Nietzsche faz uma reflexão Niilista sobre assunto. Bora conferir?
Qual é o critério certo para viver a vida? Quer dizer, será que estudar, compartilhar memes, rejeitar chamadas de São Paulo e pagar boletos podem resumir a ideia de viver? A inquietação acerca do porquê fazemos tais ações foi o que levou o filósofo prussiano Friedrich Nietzsche a escrever sobre esse tema, “o critério da vida”. Veja mais sobre a filosofia de Nietzsche nessa aula.
A filosofia de Nietzsche e o critério da vida
Nietzsche defendia a ideia de que a vida deveria ser o critério a ser levado em conta quando refletimos acerca de nossas ações e ponderamos sobre nossos julgamentos. De maneira mais objetiva, essa ideia diz algo a respeito de criarmos o nosso próprio caminho e não vivermos a sombra dos caminhos dados a nós.
Estudos sobre a vida na história da Filosofia
Desde os primórdios da Filosofia, diversos pensadores ponderaram a respeito da vida. Ora, os filósofos vêm tentando dar sentido ao mundo e com isso acabaram por criar uma narrativa filosófica a respeito da vida.
Desde antes dos estudos sobre a Felicidade dos quais Aristóteles se ocupou, existe uma vertente claramente dominante no pensamento ocidental. É nessa linha que a filosofia de Nietzsche vai focar seus esforços numa “Genealogia insana” em busca da verdade.
É sensato dizer que, quando Platão divide o mundo em dois, com aquela história de Mundo das Ideias ele “viralizou” na Filosofia. Diversos outros pensadores adotaram seu raciocínio de uma forma ou de outra. E, a partir dele, desenvolveram várias outras linhas de pensamento filosófico.
Todavia, essa ideia de dois mundos (Mundo Real e Mundo das Ideias) teve vasta influência na maneira em que nós entendemos o mundo. A filosofia de Nietzsche vai alegar que a partir dessa visão platônica o mundo das ideias se tornou o lugar em que jazem os valores.
Em contrapartida, o mundo real, esse em que você supostamente está agora enquanto lê essa aula, converteu-se em algo supérfluo. Uma espécie de mundo “café com leite”, em que o real valor das coisas não está aplicado em si. Ou seja, um mundo sem importância.
Em sua jornada genealógica, Nietzsche vai investigar os principais momentos em que essa dicotomia se espalhou na filosofia. E o que Nietzsche encontrou? Bom, após Platão, o cristianismo voltou a sugerir de maneira enérgica a existência de dois mundos. Ao invés de um mundo das ideias, a doutrina cristã prega a imagem de um céu/paraíso no qual os virtuosos seriam bem recebidos.
A filosofia de Nietzsche e o cristianismo
Assim sendo, Nietzsche entendeu que o cristianismo – incluindo Santo Agostinho e São Tomás – valorizava mais o céu do que o mundo em que vivemos. Isto é, na doutrina cristã, o próprio mundo real é menos real que o paraíso!
Para o filósofo, no cristianismo o mundo real é desvalorizado frente a esse mundo ideal, pois a fé cristã o entende como um degrau para alcançar o céu. Sendo assim, Nietzsche entende que o cristianismo está negando a própria vida real em favor de uma vida no além.
Toda essa influência, desde a concepção do pecado até a criação de um mundo imaginário como recompensa, é algo que, segundo Nietzsche, nos afasta da vida e nos aproxima da morte. Por isso, o filósofo chamava de sacerdotes da morte aqueles que pregavam a religião, pois, eles pregavam o abandono desse mundo e dessa vida em detrimento a um mundo imaginário.
A consequência de toda essa ideia se manifesta em nossas vidas de maneira bastante impactante. Somos levados a sentir pesar por viver, o ressentimento pelo deleite de viver é algo que nos ataca por todos os lados.
O Niilismo
Qual é a superação dessa condição de escravos do além? As críticas de Nietzsche, embora bastante ácidas, também serviram para a criação de uma superação desse dualismo platônico.
Sendo assim, para Nietzsche, a maior preocupação que devemos ter é com a vida. Ou seja, para o filósofo é importante valorizar o mundo em que vivemos, o mundo real e não esse conto de fadas moralista que pregam por aí.
Assim sendo, antes de cairmos de braços abertos nesse mundo e aproveitar a vida, é preciso primeiro derrubar os ídolos. Isto é, precisamos nos libertar dos grilhões impostos pelas doutrinas dos outros, principalmente as do cristianismo.
Para isso, o caminho tomado por Nietzsche foi a adesão ao Niilismo. Essa corrente filosófica adota uma postura crítica frente ao mundo. Há um princípio cético que norteia essa teoria, fazendo com que seus adeptos não tomem por certo qualquer que seja a suposta verdade apresentada.
O termo Niilismo apareceu pela primeira vez na obra literária de Turguêniev “Pais e Filhos”. Nela, um personagem afirma: “Um niilista é um homem que não se curva ante qualquer autoridade, nem aceita nenhum princípio sem exame, qualquer que seja o respeito que esse princípio envolva”.
Nietzsche definiu o Niilismo como sendo a morte da Divindade Cristã e seus princípios. Ele diz algo mais ou menos assim: “O Niilismo é a falta de convicção em que se encontra o ser humano após a desvalorização de qualquer crença”. Assim, só após nos livramos de todas as crenças, após não restar mais nada é que estamos verdadeiramente livres para escolher nosso caminho.
Por fim, a proposta apresentada por Nietzsche consiste em renunciarmos o paraíso em detrimento ao mundo real pois, o critério da vida não pode ser outro que não ela própria. Para isso, podemos nos apoiar no Niilismo e com ele alcançar a liberdade para escolher nosso caminho. Resta saber qual é o caminho a ser escolhido.
Resumo sobre a filosofia de Nietzsche
Para terminar, assista à videoaula a seguir, em que o professor Ernani Júnior da Silva faz um resumo sobre a filosofia de Nietzsche.
Questões sobre a filosofia de Nietzsche
Agora, resolva as questões sobre a filosofia de Nietzsche selecionadas pelo professor e veja como esse assunto cai no Enem e nos vestibulares.
1) (Ufsj 2012) Na perspectiva nietzscheana, o livre-arbítrio é um erro porque
a) ao declarar que os homens são livres, as forças coercitivas, como o poder da Igreja, agem com o claro intuito de castigá-los, julgá-los e declará-los culpados.
b) os homens, indignos como são, jamais alcançarão a dimensão da ideia implícita no livre-arbítrio.
c) o cristianismo, apesar de seus esforços candentes, não conseguiu tirar a culpa do ser humano.
d) a fatalidade impressa no ser humano está na sua historicidade, no seu livre-arbítrio, e por isso mesmo o Homem está condenado à culpa.
2) A transvalorização da moral proposta por Nietzsche é:
a) A aceitação da moral tradicional como sendo universal e absoluta.
b) É o estudo sobre a origem da moral tradicional para que possamos conservá-la, tendo em mente a sua importância ao desenvolvimento do indivíduo como ser humano.
c) É a crença incondicional que os valores que devem ser preservados são aqueles que provêm da fé cristã, única fonte capaz de dizer o que é bom ou mal à humanidade.
d) É a superação da moral tradicional, para que os atos do homem forte não sejam pautados pela mediocridade das virtudes estabelecidas. Para tanto é preciso recuperar o sentimento de potência, a alegria de viver, a capacidade de invenção e a condição do próprio homem definir o que é bom ou ruim para si e para os demais, sem imposição ou aceitação do que já foi convencionado por estranhos.
3) (Enem/2016) Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra, Rio de Janeiro. Ediouro, 1977.
O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista, uma vez que
A) reforça a liberdade do cidadão.
B) desvela os valores do cotidiano.
C) exorta as relações de produção.
D) destaca a decadência da cultura.
E) amplifica o sentimento de ansiedade.
Gabarito
1) A,
2) E,
3) D.