Vamos embarcar numa jornada rumo a compreensão das ideias de Georg Hegel e ver como elas inspiraram desde o materialismo de Marx e o existencialismo de Sartre até as questões do Enem.
Talvez um dos mais famosos filósofos do século XIX e um dos grandes nomes da Filosofia no campo da Metafísica é, sem sombra de dúvida, Georg Hegel. Defensor do monismo, Hegel era um adepto do Idealismo, teoria filosófica a qual o mundo material só consegue ser conhecido inteiramente de maneira subjetiva.
O pensamento de Hegel
A ideia central dentro da Filosofia hegeliana é que as “paradas” que existem no mundo são, todas elas, aspectos de uma única coisa que se modifica. Isto é, os fenômenos a nossa volta são concepções distintas de um mesmo espírito que, com o passar do tempo, reintegra essas concepções em si mesmo.
Influências da filosofia de Hegel
Antes de continuarmos “Hegel a dentro”, faz-se necessário entender de onde é que veio toda essa história. Bom, a começar por Immanuel Kant, ícone da Filosofia Moderna.
Kant havia proposto, anteriormente a Hegel, uma teoria acerca do mundo conciliando a visão empirista de David Hume e a visão Racionalista de René Descartes.
Em oposição às ideias de Kant, surgiu o idealismo alemão. Essa abordagem tinha como foco suplantar a Filosofia kantiana e seu idealismo transcendental.
Embora Hegel reconhecesse os diversos avanços que Kant havia feito ao tentar eliminar toda ingenuidade filosófica que se destacava até então, seu fracasso estava na sua explicação de mundo por meio das categorias.
O mundo sujeito a mudanças
Georg Hegel vai então tentar entender o mundo sem suposições, como o fizera Kant. Principalmente no que diz respeito a ideia de categorias, uma vez que as categorias kantianas são exclusivas e por isso não podem derivar-se umas das outras.
O pensamento hegeliano afirmava justamente o contrário, o mundo (as categorias) está sujeito a mudanças.
Essa discussão já ocorreu há muito tempo, quando dois caras argumentaram a respeito de tomar banho duas vezes no mesmo rio, mas calma! Não tem nada a ver com quando a gente começa a cheirar mal. Na realidade, é sobre o rio ser o mesmo ou ter mudado.
A Filosofia hegeliana baseia-se nessa discussão sobre o rio, em especial a ideia de Panta Rei – tudo flui – que Heráclito defendia. Então, vale super a pena você conferir aqui no Blog nossa discussão sobre os Filósofos Pré-Socráticos para entender melhor de onde Hegel tirou suas ideias.
Sendo assim, para Hegel tudo está em constante transformação, todas as coisas do mundo são sujeitas à mudança, assim como disse Heráclito lá nos meados do século VI a.c. Ora, as categorias kantianas se baseavam na imutabilidade das coisas. Então, em oposição a isso Hegel vai propor a Dialética, partindo da premissa de Heráclito de que tudo fui.
A dialética de Hegel
A dialética é um algo meio antigo na filosofia. Ela deu as caras junto com Zenão, filósofo grego, na famosa Escola de Eléia. Vários foram os filósofos que fizeram uso dessa ferramenta da Lógica, até o próprio Kant se utilizou desse recurso. Entretanto, Hegel a colocou num outro patamar ao propor o que hoje chamamos de Dialética hegeliana.
Hegel propõe uma interpretação imanente do mundo, ao contrário de Kant que propôs uma realidade transcendente. Isto é, quando eu falo em imanente me refiro a algo que possui seu próprio princípio e fim. Já a interpretação transcendente diz respeito a algo que possui uma finalidade exterior e superior a ela própria.
Assim sendo, Hegel afirmou que sua interpretação imanente garantiria quatro coisas. A começar por não supor nada. Segundo, só lhe seria útil aquilo que fosse o mais amplo possível. Em terceiro lugar disse que as noções gerais dessa interpretação de mundo imanente geram noções especificas.
Agora, a quarta noção é de longe a mais importante para que você fique fera em Hegel e mande bem no Enem. A quarta afirmação diz que esse processo acontece inteiramente dentro dele mesmo.
Tese e antítese
Isso quer dizer que, toda a tese contém nela própria uma antítese. Esse conflito só será solucionado a partir de uma superação desse problema, isto é, uma síntese. Portanto, a contradição entre tese e antítese se torna apenas uma limitação gerada pela falta de entendimento do problema original.
O filósofo alemão utiliza um exemplo muito bom para explicar isso. Veja:
Para Hegel o conceito de Ser – denotando tudo que existe – contém a antítese do Não Ser – denotando aquilo que não existe. Embora contrários, eles são dois aspectos de um mesmo conceito melhor aprimorado.
O conceito síntese que soluciona essa problemática, quase shakespeariana, entre o ser e o não ser é o conceito de vir a ser. Pois, quando afirmamos que algo vem a ser, dizemos que ela se move de uma condição de não ser para uma condição de ser!
Ora, o conceito de Ser não era um conceito exclusivo (e imóvel), era somente uma das três partes que compõe o conceito de vir a ser. À vista disso, o conceito de vir a ser não é um conceito alienígena, ou seja, um conceito que vem de fora.
Pelo contrário, para resolver a questão do ser e do não ser devemos entender que tornar-se foi sempre o significado da contradição entre o ser e o não ser.
Esse exemplo que Hegel utilizou no qual a tese (ser) e sua antítese (não ser) geraram uma síntese (vir a ser) marca o princípio do processo que é a Dialética. Essa “parada” se repete numa espiral de conceitos cada vez mais refinada pois cada síntese é uma nova tese que por consequência tem sua antítese e gera uma nova síntese.
Por fim, ao defender a ideia de que conhecemos o mundo a partir da Dialética, Hegel afirma que as estruturas do pensamento são mutáveis e não irredutíveis como afirmava Kant.
Dessas estruturas surgem novas estruturas, cada vez mais refinadas num movimento lógico de teses e antíteses. Essas ideias acabaram inspirando uma gama de pensadores como Karl Marx em 1846 e Jean-Paul Sartre em 1943.
Resumo
Para terminar, assista à videoaula abaixo, em que o professor Alan, de Filosofia, explica os principais pontos do pensamento de Hegel!
Questões sobre Hegel
Bom, agora é com você, é hora de testar seus conhecimentos com as questões a seguir.
1) (Ueg 2010)
Hegel, prosseguindo na árdua tarefa de unificar o dualismo de Kant, substituiu o eu de Fichte e o absoluto de Schelling por outra entidade: a ideia. A ideia, para Hegel, deve ser submetida necessariamente a um processo de evolução dialética, regido pela marcha triádica da
a) experiência, juízo e raciocínio.
b) realidade, crítica e conclusão.
c) matéria, forma e reflexão.
d) tese, antítese e síntese.
2) (Ufu 2013)
A dialética de Hegel
a) envolve duas etapas, formadas por opostos encontrados na natureza (dia-noite, claro-escuro, frio-calor).
b) é incapaz de explicar o movimento e a mudança verificados tanto no mundo quanto no pensamento.
c) é interna nas coisas objetivas, que só podem crescer e perecer em virtude de contradições presentes nelas.
c) é um método (procedimento) a ser aplicado ao objeto de estudo do pesquisador.
3) (Ufu 2012)
O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a flor o refuta; do mesmo modo que o fruto faz a flor parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade em lugar da flor: essas formas não só se distinguem, mas também se repelem como incompatíveis entre si […].
HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1988.
Com base em seus conhecimentos e na leitura do texto acima, assinale a alternativa correta segundo a filosofia de Hegel.
a) A essência do real é a contradição sem interrupção ou o choque permanente dos contrários.
b) As contradições são momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem, todos são igualmente necessários.
c) O universo social é o dos conflitos e das guerras sem fim, não havendo, por isso, a possibilidade de uma vida ética.
d) Hegel combateu a concepção cristã da história ao destituí-la de qualquer finalidade benevolente.
GABARITO
- D
- C
- B