Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Ariano Suassuna são os destaques. Neste post você conhecerá um pouco sobre o romance e a dramaturgia da terceira geração modernista, matéria comum no Enem.
O romance psicológico e o regionalista serão duas das vertentes mais importantes dessa geração de prosadores.
A terceira geração modernista no Brasil inicia-se após o término do Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1945, e se desenvolve até meados da década de 1950, quando as denominadas “tendências literárias contemporâneas” começam a aparecer, como o Concretismo, a Poesia-Práxis, e a Poesia Marginal.
Esse período ficou marcado mundialmente pelo fim da segunda guerra mundial e pelo começo da guerra fria, numa tensão permanente entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco comunista, sob comando da Rússia à frente da URSS.
A Geração de 45
Conhecida também como a “Geração de 45”, a prosa da Terceira Geração Modernista está composta por autores importantes como João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Ariano Suassuna. A pesquisa estética e experimentalismo modernista continuaram a ser amplamente praticados nessa geração.
Características da prosa da Terceira Geração Modernista
A terceira Geração Modernista, de início, é conservadora e até pode ser interpretada como uma espécie de retrocesso, se comparada à primeira. Convivem, nessa época, variantes bem distintas,
Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles, por meio de romances e contos, enveredam pela sondagem interior, psicológica, iniciada por Graciliano Ramos. A elas duas interessam a observação do ser no mundo, as suas angústias, o tempo que vai e não retorna, os sentimentos absolutos: a raiva, a inveja, os ciúmes, a dor, a solidão, a perda, a esperança, a liberdade, etc.
Existem, ainda, outros enfoques da prosa da terceira geração modernista: o regionalismo universal de João Guimarães Rosa, uma realidade de sentimentos, ações e humanidade.
Para Guimarães Rosa importava destacar não apenas o lugar de gente rude, o sertão real, mas o daquelas criaturas que poderiam habitar quaisquer lugares do mundo, feitas de carne, osso, sangue e agudezas da vida. Além disso, leve-se em consideração o ritmo claramente poético de sua prosa.
Principais autores da Geração de 45
Ariano Suassuna (1927 – 2014)
Ariano Suassuna é um dos grandes nomes da cultura nordestina. Exaltado principalmente pela atuação no teatro brasileiro, o escritor fundou o Movimento Armorial nos anos 70, que tinha como objetivo utilizar a cultura popular para formar uma arte erudita.
Confira agora com a professora Camila Zuchetto Brambilla, que dá aulas de literatura no canal do Curso Enem Gratuito, a incrível trajetória e as obras geniais de Ariano Suassuna. Ele é o autor do clássico “Auto da Compadecida“.
Entre as obras desse autor, destacamos alguns nomes: “Um Mulher Vestida de Sol” foi à primeira peça escrita. As mais conhecidas foram “Auto da compadecida”, de 1957, e “O Santo e a Porca”, de 1964, a primeira, inclusive, ganhou versões no cinema e na televisão.
O nome do escritor é sempre atrelado ao teatro, principalmente pelo papel que desempenhou na modernização do teatro brasileiro. A produção teatral de Ariano Suassuna tem como característica a improvisação e o texto popular.
João Guimarães Rosa (1908-1967)
Para começar a revisão sobre Guimarães Rosa, confira este resumo inicial com a professora Camila Brambilla, do canal do Curso Enem Gratuito:
A Vida e a Obra de Guimarães Rosa:
Nascido na pequena cidade mineira de Cordisburgo, o escritor João Guimarães Rosa foi médico, diplomata concursado, e representou o Brasil em vários lugares do mundo. A experiência de ter sido médico no interior de Minas Gerais foi fundamental para a construção do seu universo literário.
A obre da Guimarães Rosa é composta por narrativas curtas, como novelas e contos, e apenas um romance. “Grande Sertão: Veredas” (1956). Possui também um livro de poemas, “Magma” (1936).
Suas personagens são tipo humano que poderiam ser classificados como caboclos: caipiras do norte de Minas, com seus falares enviesados, sobre suas mulas e cavalos, vivendo o cotidiano das coisas simples, da violência e da ignorância. As criaturas que ele inventa pertencem ao que podemos classificar como regionalismo universal ou realismo mágico.
O sertão é um pretexto para discutir experiências humanas que se mostram em quaisquer lugares deste planeta(universais). Exemplos: na inocência do coração das crianças, como em “Manuelzão e Miguelim”, na novela “Campo Geral”.
Na transformação pela dor, como em “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de “Sagarana”. Ou então a aventura na qual o conhecimento livra-nos do perigo, em “O burrinho pedrês” (outro conto de “Sagarana”).
A prosa de Guimarães Rosa está repleta de invenções, palavras raras e neologismos, e tem sido bastante estudada e admirada nos meios acadêmicos, e por isso é tão presente em exames de vestibular.
“De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de difícil, peixe vivo no moquém: quem mói no asp’ro não fantasêia. Mas, agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei nesse gosto de especular idéia. O diabo existe e não existe. Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso…”
(ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. p.26. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)
Rosa, não satisfeito em criar um universo singular, utilizando como mote as histórias do sertão brasileiro, precisou criar também a sua própria linguagem. Tornando-o um dos autores mais ricos e criativos da literatura brasileira.
Clarice Lispector (1920-1977)
Nascida na Ucrânia, durante uma viagem dos pais, Clarice Lispector chegou ao Brasil com dois meses, passando a infância no Nordeste do país. Deixou o Recife na adolescência e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhava como secretária, de dia, e cursava Direito, à noite.
O seu primeiro romance, “Perto do coração selvagem (1943), foi lançado quando a autora tinha 19 anos. Veja uma introdução à obra de Clarice Lispectos com a professora Camila:
Em suas obras, e desde o início de sua produção, rompeu com os paradigmas narrativos tradicionais, criando um contexto existencialista, que se preocupava com a essência dos seres, sondando-lhes as alegrias, angústias, dúvidas, decepções, contentamentos e esperanças.
É o que encontramos em “A Hora da Estrela”(1977), “A Paixão Segundo GH”(1964), “O Lustre”(1946), “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”(1969), Em seus contos e romances.
“A Hora da Estrela”,(1977) transformado em filme, seria a sua obra mais conhecida. Narra a vida da imigrante nordestina Macabéa, que vem para o Rio de Janeiro e leva uma vida difícil e sem sentido, trabalhando como secretária; comendo mal; tendo como divertimento uma estação de rádio monótona e convencional; sendo humilhada por quase todos, incluindo a amiga e o namorado; morando em uma pensão com pessoas em condições parecidas com as dela.
Em meio à precariedade e falta de propósito de sua existência, que vai sendo explorada ao longo do texto, a narradora é capaz de nos fazer observar momentos de grandeza e iluminação de seus personagens, ainda que possam ocorrer num contexto, por vezes, trágico.
É o se chama de Epifania, entendimento súbito de uma verdade superior. São ápices assim que constituem os momentos clímax das obras de Clarice.
Outras características da obra de Clarice que devem ser apontadas são: O Fluxo de Consciência, que é o monólogo interior dos personagens, a abordagem do mistério metafísico da existência; a ruptura com o tempo cronológico; a atmosfera e enredo cotidiano, visando o universalismo.
Estilo e técnicas que pertencem à tendência dos romances com narrativa psicológica, comum entre os autores da terceira geração do modernismo.
Se você quiser saber mais sobre esse momento do Modernismo, veja esta aula:
Questões sobre a prosa da Terceira Geração Modernista
Para terminar seus estudos, resolva as questões sobre a prosa da Terceira Geração Modernista selecionadas pelo professor!
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Pergunta 1 de 10
1. Pergunta
(FPS PE/2017)
O movimento da produção artística conhecido como Modernismo – que teve, no Brasil, expressiva aceitação também na pintura – deixou na literatura um grande e significativo legado. Entre poetas, romancistas, cronistas, contistas foram muitos os que procuraram:
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Pergunta 2 de 10
2. Pergunta
(UNICAMP SP/2017)
“São Francisco botava o dedo nas feridas dos leprosos. Mas é que ele era um santo, fazia milagres, e ela é simplesmente Doralice Leitão Leiria, um ser humano como qualquer outro.”
(Érico Veríssimo, Caminhos cruzados.
São Paulo: Companhia de Bolso, 2016, p.77.)
Os fragmentos acima captam um dos traços principais de Caminhos cruzados no que diz respeito à identidade narrativa das personagens. Considerando o conjunto do romance, tal traço consiste em uma
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Pergunta 3 de 10
3. Pergunta
(USF SP/2017)
A produção literária de cada época é classificada de acordo com o conjunto de características comuns, dando origem às escolas ou estéticas literárias. A seguir, você encontrará uma série de afirmações a respeito das escolas, dos autores e das obras que compõem o rico acervo da Literatura brasileira. Analise-as.
I. O Barroco é composto pela produção de Gregório de Matos, que escreve poesia religiosa, satírica, amorosa, filosófica e erótica. O outro nome de destaque nesse momento – Padre Antônio Vieira, que escreve sermões religiosos e de caráter crítico-analítico – não pode ser considerado parte da Literatura nacional devido à sua origem europeia.
II. O Romantismo tem uma produção extensa: três gerações na poesia e romances de temas diversos na prosa. Um dos principais nomes do Romantismo nacional é José de Alencar, que escreveu, dentre outros, o romance indígena Iracema. Nessa obra, a beleza e as qualidades da personagem-título são comparadas a elementos da natureza e se destacam com relação a eles, em um exercício de idealização típico dessa escola literária.
III. O Realismo no Brasil é sinônimo de Machado de Assis. A obra inicial desse movimento, Memórias póstumas de Brás Cubas, traz, entre outras características, a conversa com o leitor, a metalinguagem, as referências intertextuais, a análise psicológica, a quebra de linearidade narrativa e o ceticismo.
IV. O Naturalismo destaca-se pelo desvendamento das misérias humanas no aspecto coletivo, em especial nos espaços em que vivem os menos favorecidos. Influenciadas pelo cientificismo, obras como O cortiço, de Aluísio Azevedo, Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, e O Ateneu, de Raul Pompeia, trazem elementos como o determinismo, o evolucionismo e o criacionismo.
V. As obras em prosa do Pré-Modernismo estabelecem a problematização do país ao abordar questões pertinentes a regiões do Brasil que permaneciam desconhecidas pela grande maioria dos brasileiros até então. Igualmente engajada, a produção literária da Geração de 30 ecoa os princípios pré-modernistas e traz obras em que denunciam as mazelas locais, em especial do Nordeste brasileiro, como Cacau, Fogo morto, Vidas secas e Capitães da areia.
É correto o que se afirma em
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Pergunta 4 de 10
4. Pergunta
(Mackenzie SP/2017)
Incidente em Antares (fragmento)
01 Durante alguns minutos a defunta fica a olhar em torno – para a 02 esplanada, o céu, o muro do cemitério, a lanterna acesa caída no 03 chão… Depois se põe de joelhos e nessa posição, lentamente, faz 04 a volta do esquife vizinho, desatarraxando-lhe a tampa, que tenta 05 em vão erguer, terminada a operação. Bate três vezes com o punho 06 cerrado na tampa do caixão negro, cujo ocupante responde, após 07 segundos, com três batidas semelhantes. D. Quitéria vê a tampa 08 que ela desaparafusou erguer-se lentamente e por fim cair para um 09 lado. Um homem de estatura mediana e vestido de escuro sai do seu 10 féretro, dá alguns passos com uma rigidez de boneco de mola, olha a 11 seu redor, inclina-se, apanha a lanterna, passeia a sua luz pelo muro 12 do cemitério, depois pela copa dos cinamomos, projeta-a contra a 13 esplanada e por fim foca o rosto da dama, que continua ajoelhada.
14 — D. Quitéria Campolargo! – exclama o desconhecido. — Que honra! 15 Que prazer!
Érico Veríssimo
Auto da Barca do Inferno (fragmento)
01 Anjo Que quereis?
02 Fidalgo Que me digais,
03 pois parti tão sem aviso,
04 se a barca do Paraíso
05 é esta em que navegais.
06 Anjo Esta é; que demandais?
07 Fidalgo Que me leixeis embarcar.
08 Sou fidalgo de solar,
08 é bem que me recolhais.
10 Anjo Não se embarca tirania
11 neste batel divinal.
12 Fidalgo Não sei porque haveis por mal
13 que entre a minha senhoria…
14 Anjo Pera vossa fantesia
15 mui estreita é esta barca.
16 Fidalgo Pera senhor de tal marca
17 nom há aqui mais cortesia?
18 Venha a prancha e atavio!
19 Levai-me desta ribeira!
20 Anjo Não vindes vós de maneira
21 pera entrar neste navio.
22 Essoutro vai mais vazio:
23 a cadeira entrará
24 e o rabo caberá
25 e todo vosso senhorio.
26 Ireis lá mais espaçoso,
27 vós e vossa senhoria,
28 cuidando na tirania
29 do pobre povo queixoso.
30 E porque, de generoso,
31 desprezastes os pequenos,
32 achar-vos-eis tanto menos
33 quanto mais fostes fumoso.
Gil Vicente
A armadilha (fragmento)
01Meu nome é Mort. Ed Mort. Sou detetive particular. Pelo menos isso é 02 o que está escrito numa plaqueta na minha porta. Estava sem trabalho 03 há meses. Meu último caso tinha sido um flagrante de adultério. 04 Fotografias e tudo. Quando não me pagaram, vendi as fotografias. 05 Eu sou assim. Duro. Em todos os sentidos. O aluguel da minha 06 sala ― o apelido que eu dou para este cubículo que ocupo, entre 07 uma escola de cabeleireiros e uma pastelaria em alguma galeria de 08 Copacabana ― estava atrasado. Meu 38 estava empenhado. Minha 09 gata me deixara por um delegado. A sala estava cheia de baratas. 10 E o pior é que elas se reuniam num canto para rir de mim. Mort. Ed 11 Mort. Está na plaqueta.
Luis Fernando Veríssimo
Assinale a alternativa que NÃO pode ser associada a Érico Veríssimo e sua obra:
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Pergunta 5 de 10
5. Pergunta
(PUC RS/2017)
Leia o excerto do romance Intermitências da Morte, de José Saramago, e analise as afirmativas.
No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada. Nem sequer um daqueles acidentes de automóvel tão frequentes em ocasiões festivas, quando a alegre irresponsabilidade e o excesso de álcool se desafiam mutuamente nas estradas para decidir sobre quem vai conseguir chegar à morte em primeiro lugar.
I. A partir de uma situação fantástica, a inexistência de mortes é vista como um fato inquietante.
II. Conforme o texto, podemos inferir que adoentados em estado grave foram salvos da morte, libertando-se de seu sofrimento.
III. O estilo do autor é marcado pela oscilação entre a narrativa de um fato e o comentário dissertativo sobre ele.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são, apenas,
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Pergunta 6 de 10
6. Pergunta
(Mackenzie SP/2017)
01 No desequilíbrio dos mares,
02 as proas giram sozinhas…
03 Numa das naves que afundaram
04 é que certamente tu vinhas.
05 Eu te esperei todos os séculos
06 sem desespero e sem desgosto,
07 e morri de infinitas mortes
08 guardando sempre o mesmo rosto
09 Quando as ondas te carregaram
10 meu olhos, entre águas e areias,
11 cegaram como os das estátuas,
12 a tudo quanto existe alheias.
13 Minhas mãos pararam sobre o ar
14 e endureceram junto ao vento,
15 e perderam a cor que tinham
16 e a lembrança do movimento.
17 E o sorriso que eu te levava
18 desprendeu-se e caiu de mim:
19 e só talvez ele ainda viva
20 dentro destas águas sem fim.
Cecília Meireles, “Canção”
Assinale a alternativa correta sobre Cecília Meireles e o Modernismo brasileiro.
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Pergunta 7 de 10
7. Pergunta
(PUC GO/2015)
Hermano não falava nunca de sua casa. Alegava não compreender muito bem porque o homem devia ter um lar. O homem, diziam-lhe sempre, era o ser livre. Nem Deus o quis privar da liberdade. E Deus era o manda-chuva do mundo. E seu criador. Um dia, entediado, ele começou a brincar com barro, na sua olaria. Nos quintais do céu, Jeová havia mandado construir uma, para fabricar telhas e com elas consertar goteiras no purgatório. Brincando, suas mãos infinitamente idosas fizeram uma travessura digna de boa surra. Criaram o Homem! Um boneco de barro, metido a muita cousa. Mas Jeová se arrependeu da brincadeira. Vendo o que faria o boneco, saído de si em momento de tédio, atirou-o num monte enorme de barro. E lá o deixou. Livre.
Deus não fez como seu Manoel açougueiro que criou a Regina e o Chiquinho – um casal de bonecos pretos – e nunca mais os largou.
Hermano achava que o tal homem seria verdadeiramente livre se não tivesse todos os dias que ir a casa para almoçar. Para tomar banho. Para dormir. E mexer numa tulha cheia de problemas mesquinhos. Falta de feijão; educação, futuro, contas do padeiro, baratas e trabalho. Dogmas, normas, inibições. Para ele, o homem não era livre. Livre, sim, era o burro. Um burro come onde encontra capim. Não tem que voltar, tarde da noite, para uma cama no quarto de uma casa, numa rua de cidade. Quanta limitação! Qual, o homem não era livre.
Maya, de Ursulino Leão, é um romance moderno nas ideias que vestem as personagens, focalizando os problemas relacionados à busca por um mundo que muitos acham irrealizável. Romance moderno também no estilo vivo, construído com frases curtas que fornecem menos expressões que sugestões, uma vez que todos os elementos – ação, personagens, espaço – relacionam-se diretamente com as inquietações e aspirações do herói e influenciam na linha condutora principal do romance: a busca que faz o protagonista. A interioridade do herói é o ápice no romance, pois é ela que vai ser influenciada pelas ações que o cercam.
A respeito do fragmento selecionado do romance Maya (Texto), avalie as afirmativas a seguir:
I. pode-se observar, no fragmento escolhido, a relação do protagonista com o mundo e sua constante busca pela libertação do homem.
II. Hermano é um homem alheio à sociedade e descrente no futuro.
III. Hermano ignora as leis do Estado e os ritos da Igreja.
IV. Hermano defende que a religiosidade de algum modo é o encontro do homem com outras realidades: o sagrado, o mistério e a liberdade.
Em relação às proposições analisadas, assinale a única alternativa cujos itens estão todos corretos:
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Pergunta 8 de 10
8. Pergunta
(FGV /2014)
O período da literatura brasileira posterior ao clímax do chamado Modernismo “paulista” – período esse também conhecido como “Modernismo de 1930”, no qual surge, por exemplo, o chamado “romance nordestino”,
I. beneficiou-se da liberdade de pesquisa estética conquistada pelo primeiro Modernismo, a qual incorporou e normalizou;
II. procurou enraizar fortemente suas histórias e personagens em realidades bem determinadas e concretas e,
III. com frequência, introjetou nas obras a radicalização político-ideológica característica do período.
Está correto o que se afirma em
Correto
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Pergunta 9 de 10
9. Pergunta
(UEPG PR/2009)
A respeito das características da terceira geração do Modernismo e, mais especificamente, sobre Guimarães Rosas e Clarice Lispector, de que tratam, respectivamente, os dois textos abaixo, assinale o que for correto.
Texto I
Os espaços que se entreabrem, na obra de Guimarães Rosa, são modalidades de travessia humana. Sertão e existência fundem-se na figura da viagem, sempre recomeçada.
(Benedito Nunes, 1976)
Texto II
[…] levar nossa língua canhestra a domínios pouco explorados, forçando-a a adaptar-se a um pensamento cheio de mistério, para o qual sentimos que a ficção não é um exercício ou uma aventura afetiva, mas um instrumento real do espírito, capaz de nos fazer penetrar em alguns labirintos mais retorcidos da mente.
(Antonio Candido, 1977)
Correto
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Pergunta 10 de 10
10. Pergunta
(PUC GO/2015)
Adeus, meu Canto
Adeus, meu canto! É a hora da partida…
O oceano do povo s’encapela.
Filho da tempestade, irmão do raio,
Lança teu grito ao vento da procela.
O inverno envolto em mantos de geada
Cresta a rosa de amor que além se erguera…
Ave de arribação, voa, anuncia
Da liberdade a santa primavera.
É preciso partir, aos horizontes
Mandar o grito errante da vedeta.
Ergue-te, ó luz! — estrela para o povo,
— Para os tiranos — lúgubre cometa.
Adeus, meu canto! Na revolta praça
Ruge o clarim tremendo da batalha.
Águia — talvez as asas te espedacem,
Bandeira — talvez rasgue-te a metralha.
[…]
(ALVES, Castro. Melhores poemas de Castro Alves.
7. ed. São Paulo: Global, 2003, p. 109.)
Antônio de Castro Alves foi um poeta romântico da terceira geração e cultor da poesia “condoreira”, caracterizada pela abundância de imagens grandiosas e sonoras, adequadas à declamação pública. O poeta desvela as mazelas impregnadas nas camadas sociais, sobretudo a situação opressora pela qual passavam as senzalas brasileiras, em meio aos castigos dos seus senhores. Era imprescindível que alguém clamasse por liberdade, com a finalidade de despertar nas consciências a necessidade de um mundo mais igualitário e mais justo. Tais objetivos são materializados no texto “Adeus meu canto”. Sobre esse poema de Castro Alves (Texto), marque a alternativa correta:
Correto
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