As Treze Colônias e a formação dos Estados Unidos da América

As Treze Colônias Britânicas eram povoados criados pelos ingleses após a chegada na América do Norte. As colônias se concentravam no leste do continente e se espalharam entre o norte e o sul, com características distintas.

Muito se fala sobre os Estados Unidos nos dias de hoje, mas o quanto você conhece de sua história? E a história anterior ao surgimento dos Estados Unidos? E o que foram as Treze Colônias? Confira nossas explicações para estas e outras questões neste texto!

Por que Treze Colônias?

Primeiramente, historiadores não costumam se referir a outros contextos utilizando os nomes atuais dos lugares onde ocorreram. Bom, pelo menos isso acontece quando o lugar onde determinado processo histórico ocorreu era conhecido por outro nome.

Assim como a cidade de Florianópolis até o fim do século XIX era conhecida como Nossa Senhora do Desterro, aqui iremos nos referir às Treze Colônias Britânicas e não aos Estados Unidos da América. Do contrário, estaríamos cometendo um anacronismo, uma incompatibilidade histórica.

A falácia dos “descobrimentos” da América

A ocupação do território americano começou há cerca de 16 mil anos por povos de origem asiática. Acredita-se que isto tenha sido possível graças a uma baixa do nível do mar entre a Sibéria e o Alasca. Nesse sentido, a ocupação humana no continente se deu em etapas, mas teria ocorrido em um tempo relativamente curto se compararmos com outras partes do mundo.

De antemão, é sempre importante ressaltar isto para não cairmos em outra falácia histórica: dos “descobrimentos”. Por muito tempo se propagou a ideia de que nos séculos XV e XVI os europeus realizaram diversas descobertas de terras ao redor do mundo.

Na verdade, esses territórios estavam sendo ocupados há milhares de anos. Acredita-se que só na América do Norte viviam cerca de 8 milhões de indígenas quando Colombo aportou no Caribe. Além disso, há também fortes indícios de que os Vikings chegaram lá séculos antes dos colonizadores do início da modernidade, todavia sem permanecer na região.

As Grandes Navegações

Como já se sabe, os ingleses, franceses e holandeses não foram os pioneiros das Grandes Navegações, apesar de terem disputado e ocupado territórios na América do Norte. Os portugueses e os espanhóis largaram na frente nesta corrida.

Antes mesmo de Colombo, os chineses estiveram na Califórnia no início do século XV, mais especificamente em 1429, sob o comando de Zheng He. Mas, em virtude de conflitos militares, eles acabaram não ocupando a região.

colonos ingleses treze colonias
Figura 1: Pintura de George Henry Boughton representando os peregrinos, um dos primeiros grupos de colonos ingleses da América do Norte. Na imagem são representadas crianças, líderes religiosos e homens armados que escoltam o grupo em meio a um cenário coberto de neve. A imagem é de 1867, um século após a independência dos Estados Unidos. Imagem disponível em: https://bityli.com/0VUyH, acessada em 20 de maio de 2020.

Mas os espanhóis merecem destaque. Eles foram os primeiros sujeitos do atual continente europeu a pisar naquelas terras do outro lado do Atlântico, 400 anos após Leif Erikson e seu bando. Isso explica porque a maioria dos países americanos adota o espanhol (ou castelhano) como língua oficial.

Até a independência das Treze Colônias, a maior parte do território que conhecemos hoje como Estados Unidos era dominado pela coroa espanhola (com exceção dos indígenas).

Refugiados e a colonização das Treze Colônias

Como vimos, os ingleses não estiveram nem perto de serem os primeiros habitantes do “Novo Mundo”. Mas como explicar o fato da sua língua ser a mais falada na porção norte do continente nos dias de hoje? A resposta encontra-se na ocupação e colonização.

Os primeiros habitantes anglo-saxões a virem para a América do Norte, mais especificamente para a região das Treze Colônias Britânicas, eram protestantes. Isso ocorreu no século XVII, quando a Igreja Católica e a Igreja Anglicana reagiram violentamente ao luteranismo, ao calvinismo e ao presbiterianismo.

Com a perseguição religiosa, muitos protestantes viam como opção de um recomeço a ida para a América. Esta não era, na verdade, uma opção excelente, mas foi mais interessante do que ser preso e torturado pelos anglicanos e católicos. Além disso, as guerras e a desigualdade social foram motores da migração (como continuam sendo até hoje).

Companhias de comércio

A América para um europeu neste período estava longe de um lugar ideal, com ataques de indígenas, fauna e flora desconhecidas e sem as instituições do velho continente. No entanto, para muitos refugiados protestantes e famílias pobres era a oportunidade de começar uma nova vida.

A vinda destas famílias e grupos religiosos ocorreu de maneira diferente das colônias Ibéricas. Os colonos do norte atravessaram o Atlântico pelas Companhias de Comércio. Entre as mais conhecidas estão as Companhias de Plymouth e a de Londres.

Alguns dos primeiros colonos foram os peregrinos, calvinistas ingleses que se estabeleceram na região da Nova Inglaterra. Lá fundaram a Colônia de Plymouth no inicio do século XVII. Eles ficaram conhecidos posteriormente como os “pais fundadores” dos Estados Unidos. Além disso, a Inglaterra passaria a enviar também contingentes de pessoas pobres para dar vazão a sua crescente população.

Colônias do norte e colônias do sul

Sucessivamente, mais levas de imigrantes foram chegando ao longo do século XVII e do século XVIII. A primeira colônia foi Virgínia, fundada em 1607 e última foi Geórgia, em 1733. A geografia americana influenciou na ocupação dos espaços.

Aqueles protestantes que buscavam construir uma nova vida ocuparam as regiões mais ao norte, onde o clima temperado se assemelhava com o europeu. Lá o trabalho livre e a alfabetização valorizada pela ética protestante foram mais comuns. Nesse sentido, a economia era muito mais voltada para a própria região (interna) do que para a exportação (externa).

produção têxtil nas 13 colonias
Figura 2: Desenho ilustrando a produção têxtil caseira na Nova Inglaterra, com colonos manipulando máquinas de fiar e teares. Imagem retirada do livro: História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI/ Leandro Karnal … [et AL.]. – São Paulo: Contexto 2007.
No sul, o clima mais quente propiciou o surgimento das plantations, lavouras de monocultura voltadas para a exportação rumo à Europa. Dessa maneira, nestas colônias foi amplamente utilizado o trabalho escravo de africanos.

Estas pessoas eram trazidas também por companhias de comércio como a Royal African Company, mas de maneira forçada. Uma vez nas colônias do sul, elas eram forçadas a trabalhar em campos de algodão, tabaco e outros gêneros agrícolas.

As colônias do norte não usavam escravos?

Apesar desta distinção, não devemos lançar um olhar tão dicotômico para as colônias britânicas. Apesar do norte não utilizar o trabalho escravo como no sul, os negros que se refugiassem para lá eram capturados e devolvidos para seus antigos senhores. Além disso, as colônias eram interligadas por rotas comerciais envolvendo também o Caribe, África e Europa.

Nas colônias do norte compravam-se produtos das Antilhas e produziam-se embarcações, rum e peles (itens manufaturados). Estes produtos eram vendidos e trocados na costa Africana por escravizados. Por sua vez, estes últimos eram vendidos no Caribe e nas colônias do sul. Portanto, as colônias do norte também se aproveitavam da escravidão.

Assim seguiu-se a vida nas Treze Colônias Britânicas até os conflitos que levaram a sua independência em relação à Inglaterra, dando origem aos Estados Unidos da América.

Resumo sobre as Treze Colônias

Por fim, veja uma videoaula e resolva os exercícios sobre o tema.

Exercícios sobre as Treze Colônias

1- (PUCCamp SP)

Recorda que tempo é dinheiro (…) Recorda que crédito é dinheiro (…) o dinheiro pode gerar dinheiro (…) O caminho da riqueza depende principalmente de duas palavras: diligência e frugalidade; isto é, não desperdices tempo nem dinheiro, mas os emprega da melhor maneira possível.

(Benjamin Franklin, 1748. Apud Leandro Karnal. Estados Unidos: a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2001, p. 91)

De acordo com o texto, as ideias apresentadas têm relação com

a) a ética protestante, na qual religiosidade, trabalho honesto e busca pelo lucro se mesclam harmonicamente, perspectiva muito cara aos calvinistas e que foi bastante difundida na região da Nova Inglaterra.

b) a crença de que o enriquecimento e o impulso à expansão do capitalismo eram formas de redenção espiritual, aspecto fundamental da filosofia dos quakers que se instalaram em colônias centrais como Nova Iorque, Nova Jersey e Pensilvânia.

c) os objetivos dos imigrantes anglicanos, que eram instalados temporariamente pela monarquia inglesa nas colônias meridionais como Massachussets e Geórgia, a fim de “fazer a América”, isto é, acumular capital e regressar à Inglaterra.

d) o way american of life, doutrina difundida no contexto da independência das Treze Colônias a fim de atrair trabalhadores de países vizinhos dispostos a colaborar com o progresso norte-americano.

e) a ideologia difundida pelos puritanos, os Pilgrim Fathers, que se instalaram na região sul e protagonizaram a Marcha para o Oeste, processo que derivou na implantação do sistema familiar e altamente lucrativo conhecido como plantantion.

2- (UFT TO)

O Dia de Ação de Graças, celebração tipicamente americana nasceu com o decreto do presidente George Washington, em 1789. Essa data está relaciona à gratidão dos pioneiros pela primeira colheita de 1622. Foi depois da guerra civil que ela se tornou oficial e nacional, sendo comemorado toda última quinta-feira do mês de novembro

Adaptado de TOTA, Antonio Pedro. Os Americanos. Rio de Janeiro: Contexto, 2009.

As comemorações reafirmam  identidades políticas. No contexto da Independência dos Estados Unidos, o dia de Ação de Graças celebrado anualmente, consolidou

a) o nativismo e o puritanismo.

b) o europeísmo e o indianismo.

c) o nativismo e o indianismo.

d) o americanismo e o puritanismo.

e) o americanismo e o nativismo.

3- (UFRGS)

Considere as afirmações abaixo, sobre os processos de colonização e as estruturas sociais das Américas nos séculos XVII e XVIII.

I. Nas colônias inglesas e francesas do Caribe, a unidade de produção predominante foi a pequena propriedade agrícola, em que trabalhavam camponeses livres, de origem majoritariamente europeia.

II. Nas colônias da Nova Inglaterra, predominaram as plantations monocultoras e exportadoras, em que a forma de trabalho principal era a mão de obra escravizada.

III. Na Nova França, atual Quebec, os colonizadores estabeleceram um sistema senhorial baseado no feudalismo francês, o que gerou uma grande concentração de terras e uma baixa atração de imigrantes para esses territórios.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e II.

e) I, II e III.

Gabarito:

  1. A
  2. E
  3. C

Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

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