Reformas religiosas: a fragmentação do cristianismo no ocidente

Veja Martinho Lutero e as reformas religiosas. Elas foram uma grande ruptura na história ocidental. Entenda os efeitos de seu impacto, que atravessou continentes e séculos, aqui no Curso Enem Gratuito!

Para começarmos a entender qualquer processo histórico precisamos visitar seus antecedentes, saber quem esteve envolvido e por quais interesses. Este caso não é diferente. A história das reformas religiosas se passa na Europa Ocidental, ao final da Idade Média, nos séculos XVI e XVII, onde a Igreja Católica era hegemônica no controle de mentes e corpos.

Desde sua oficialização como religião do Império Romano, por Teodósio I em 380, o cristianismo teve de disputar espaço com outras religiões. Estas outras religiões foram denominadas de pagãs e as eventuais cisões dentro do seu domínio, chamadas de heresias.

Os motivos das Reformas Religiosas

Até o fim da Idade Média, as heresias passaram a ser controladas, e as principais perdas do cristianismo foram com o Cisma do Oriente em 1054 e nas batalhas contra o Islamismo. Este último teve seu avanço contido na Península Ibérica por Carlos Martel na batalha de Poitiers em 732, e estava separado da Europa pelo mar Mediterrâneo.

O que a Igreja Católica não esperava é que o fim de seu domínio incontestável iria começar dentro de sua própria estrutura. Um de seus sacerdotes passou a questionar práticas pouco religiosas e ganhou apoio de príncipes interessados nas terras da igreja, assim como em diminuir sua autoridade sobre seus domínios.

Eles ficaram conhecidos como príncipes protestantes, líderes políticos de principados dentro do Sacro Império Romano Germânico. Além deste fator, a ascensão da burguesia, a exploração do trabalho da população pobre e camponesa, e a maior circulação de livros também contribuíram para esta ruptura.

Martinho Lutero e a Reforma Protestante

Confira agora no resumo com o professor Felipe Oliveira, do canal do Curso Enem Gratuito, como foi que um simples frade mudou de cabeça pra baixo a história da Igreja Católica.

As dicas do professor Felipe

  1. É de conhecimento geral que a Igreja Católica monopolizou por cerca de mil anos os assuntos ligados a fé, bem como as mentalidades durante toda a idade média, tendo adquirido status de instituição supranacional durante o feudalismo.
  2. No entanto, o tempo da Reforma chegou após mudanças significativas nas esferas sociais, políticas e econômicas a partir do desenvolvimento das cruzadas e renascimentos comercial, urbano e cultural. Confira os temas do vídeo:
  3. O que foi a Reforma Protestante? Principais causas: simonia e nicolaísmo, venda de relíquias e indulgências, Igreja X burguesia, Papa X reis.
  4.  Martinho Lutero e a Reforma Luterana: 95 teses, Dieta de Worms, Revoltada Anabatista, Dieta de Spira, Confissão de Augsburgo, salvação pela fé, batismo e eucaristia, idioma nacional, livre interpretação da Bíblia, fim do celibato e do culto de imagens, Paz de Augsburgo.
  5. João Calvino e a Reforma Calvinista: Calvino + burguesia, Consistório de Genebra, predestinação divina, riqueza como sinal de salvação.
  6.  Rei Henrique VIII e a Reforma Anglicana: rei X Papa, ato de supremacia, Igreja Anglicana.
  7.  Contrarreforma ou Reforma Católica: Concílio de Trento, Inquisição, Index, Companhia de Jesus.
Reformas Religiosas na Europa central

O território hoje definido como Alemanha, há alguns séculos, era denominado Sacro Império Romano Germânico. Este império era formado por diversos outros domínios de nobres, que poderiam ser principados, ducados ou condados.

Lá, o monge Martinho Lutero passou a questionar as doutrinas da Igreja Católica, sobretudo em relação ao seu controle sobre a fé dos fiéis e por toda a corrupção com a venda de indulgências e de supostas relíquias sagradas.

Neste contexto, a indulgência consistia na compra do perdão dos pecados envolvendo nobres e eclesiásticos. Também se acreditava que ter uma relíquia sagrada poderia trazer bênçãos ao proprietário.

Lutero, que havia feito uma viagem a Roma e pode visualizar toda a opulência com a qual os sacerdotes viviam, começou a ficar incomodado. O pecado da avareza parecia ter infectado a sede da Igreja Católica.

Junto a isso, ele percebia que quando fiéis poderiam interpretar passagens bíblicas de maneira distinta das autoridades, eles eram logo reprimidos. Todas essas, e mais outras perturbações, foram elencadas por Lutero em um manifesto conhecido como as 95 teses, e foram entregues por ele às autoridades da igreja.

lutero e as reformas religiosas
Figura 1: Martinho Lutero. Retirado de: https://portugues.ucg.org/revista-boa-nova/martinho-lutero-a-reforma-inacabada

Seu esforço de denunciar as inconsistências da Igreja provocou autoridades religiosas mais poderosas, a ponto de ele receber uma intimação do Papa Martinho V. Ao receber a carta vinda de Roma, Lutero queimou-a em público, o que fez com que fosse excomungado e ainda mais perseguido pela Igreja.

Porém, suas acusações serviam muito bem ao interesse de príncipes que desejavam terras da Igreja e também a diminuição da interferência religiosa em seus negócios. Vai ser na Dieta de Espira que o imperador Carlos V será contrariado pelos nobres protestantes, que não mais adotavam a fé católica.

Apesar de Lutero ganhar muita popularidade entre os pobres ao defender que somente a fé os levaria ao reino do céu, e não as obras feitas com dinheiro, ele defendia a autoridade dos nobres, que exploravam os pobres tanto quanto a igreja.

Suas defesas podem ser categorizadas em: 1) Salvação pela fé, e não por dinheiro; 2) O fiel pode acessar Deus sem o intermédio de sacerdotes, apenas guiado pela fé e a bíblia; 3) Não seria necessário pagar pelos sacramentos e reduzindo a obrigatoriedade destes ao batismo e a eucaristia; 4) Fim do celibato para os clérigos (Lutero, inclusive, era apaixonado por uma monja!).

A invenção da imprensa é central para entender as Reformas Religiosas, pois graças a ela mais bíblias puderam circular pela Europa, possibilitando um maior número de interpretações da fé cristã.

Lutero traduziu a bíblia para o alemão e também defendia a celebração da missa em língua nacional, ao invés do velho latim. A disputa entre protestantes e católicos é diminuída com a Paz de Augsburgo, em 1555, e os fiéis de cada reino deveriam seguir a religião de seu respectivo governante. Porém, este marco não põe fim a perseguição dos protestantes pelos católicos.

Assista o vídeo do canal Nerdologia e veja mais detalhes sobre esta história:
Reformas Religiosas na França/Suíça:

João Calvino foi uma figura de grande importância nesse processo pela influência das ideias Luteranas. A ideia de que os fiéis poderiam interpretar as passagens bíblicas e os sinais de Deus através da fé viria muito bem a calhar para este religioso, que criou uma nova doutrina também muito influente.

Essa doutrina ficou conhecida como Calvinismo, e ganhou adeptos por diferentes regiões da Europa. Na França os adeptos da nova religião foram chamados de huguenotes, na Inglaterra de puritanos e na Escócia de presbiterianos.

Uma questão importante de ser observada é que no caso dos puritanos, em virtude da perseguição pela igreja Anglicana, estes indivíduos acabaram se refugiando na região norte das 13 colônias inglesas da América. Lá eles buscaram reconstruir suas vidas e cultuar sua fé em uma região com um clima parecido com o europeu, e acabaram colonizando boa parte do território que atualmente constituí os Estados Unidos.

Calvino criou sou doutrina de forma que ela contemplava os anseios do novo grupo social que ascendia: a burguesia. A lógica acumulativa do inicio do capitalismo esbarrava em dogmas da fé cristã, como a crítica à avareza e à ganância.

Um exemplo disso era a condenação, por parte da Igreja Católica, da usura, que é a prática de cobrar juros altos. A burguesia, que não era bem vista por estes motivos, ficou muito satisfeita com a Doutrina da Predestinação de Calvino.

Esta teoria, em termos gerais, afirmava que Deus já havia decidido quais seriam as almas que iriam para o céu e para o inferno, e para descobrir o destino de cada alma bastaria ver se o individuo obtém sucesso econômico através do seu trabalho duro e da poupança.

Com este argumento que reforçava e justificava a moral do capitalismo, Calvino ganhou muita popularidade. O problema é que toda essa popularidade chamou a atenção da Igreja Católica e Calvino foi obrigado a se mudar para Genebra, na Suíça, onde suas ideias foram mais bem aceitas.

joao calvino e as reformas religiosas
Figura 2: João Calvino. Imagem retirada de: http://paleonerd.com.br/2015/06/26/calvino-um-cara-sangue-nos-oio/
Reformas Religiosas na Inglaterra:

Na Inglaterra absolutista deste mesmo período, problemas semelhantes aconteciam. Henrique VIII, o rei inglês deste período que era casado com Catarina de Aragão, via-se diante de um problema sobre a sucessão de seu trono: todos os bebês que tinha com sua esposa morriam pouco tempo após o nascimento. Isto era uma coisa grave, pois sem herdeiros legítimos o trono poderia ser ocupado por usurpadores.

Como de costume, os nobres tinham muitas amantes, e Henrique VIII teve sua atenção atraída por uma mulher em particular: Ana Bolena. Ana, que havia engravidado do rei, trazia novas esperanças ao monarca de ter seu herdeiro, mas como legitimar este filho que nasceria bastardo? O jeito seria anular seu casamento com Catarina de Aragão e casar-se com Ana Bolena.

Porém, o papa Clemente VII negou o divórcio a Henrique VIII, pelo fato de Catarina de Aragão ser tia de Carlos V, o imperador do Sacro Império Romano Germânico da Dieta de Espira.

Henrique, então, casa secretamente com Ana Bolena e é excomungado pelo papa. Em virtude disso promulga o Ato de Supremacia, que decreta a separação da Igreja Anglicana (da Inglaterra) em relação à Igreja Católica.

Henrique VIII, que além de ser a autoridade suprema nas leis dos homens, também passou a ser autoridade suprema da religião de seu reino. De praxe, a coroa ainda passou a arrecadar os impostos que antes eram destinados à Igreja Católica, assim como suas terras na Inglaterra.

henrique VIII e as reformas religiosas
Figura 3 – Henrique VIII. Imagem retirada de: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/henrique-viii-monarca-predador.phtml
Contra as reformas religiosas (contrarreforma)

A Igreja Católica não poderia deixar todos estes eventos ameaçarem sua hegemonia sem contra atacar. Sua resposta veio no Concílio de Trento, onde foram reafirmados, principalmente, os seguintes dogmas:

1) Validade das indulgências, mas não sua comercialização;

2) Proibição do casamento de religiosos;

3) Infalibilidade do papa;

4) Criação do Index (catálogo de obras proibidas pela Igreja);

5) Reafirmação dos sete sacramentos;

6) Retomada do Tribunal do Santo Ofício (Inquisição).

Essas foram as bases da contrarreforma da Igreja Católia. Em relação à perda de fiéis, a Igreja passou a apostar na catequização dos povos originários dos continentes onde Portugal e Espanha chegaram com suas expedições marítimas, sobre tudo os povos nativo americanos.

Por iniciativa de Inácio de Loyola foi criada a Companhia de Jesus, cujos membros ficaram conhecidos como jesuítas. Estes eram incumbidos de “salvar a alma dos índios”, ensinando-os a leitura da bíblia e os modos “civilizados”. No Brasil e nos territórios espanhóis, os jesuítas construíram reduções onde também eram ensinados a elaborar instrumentos musicais, levantar igrejas e a louvar o Deus cristão.

Assista a este vídeo do telecurso e visualize um pouco mais sobre esta história que você acabou de ler.

Exercícios:

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