Administração colonial: portugueses, ingleses e franceses

Agora que você já entendeu um pouco mais como ocorreu a colonização espanhola na América, vamos ver como ela se diferencia da experiência de outras nações em mais um texto de História do Curso Enem Gratuito!

Em história, devemos compreender que cada processo é único. Portanto, por mais que haja semelhanças entre diferentes experiências, sempre existem aspectos singulares que não podem ser ignorados. Este é o caso das colonizações portuguesa, inglesa e francesa em relação à administração colonial espanhola.

Veremos como a situação específica de cada metrópole, somada aos seus interesses estratégicos, produziu efeitos únicos sobre diferentes regiões do continente americano. Cada forma de administração colonial foi crucial para a concretização dos processos políticos posteriores.

Administração colonial portuguesa

Os historiadores ainda debatem se Cabral tinha a pretensão de chegar em Pindorama assim que saiu de Portugal com sua esquadra. Mas o fato é que quando os lusitanos chegaram aqui, eles não ocuparam a terra da mesma forma que os concorrentes espanhóis.

Por meio dos primeiros contatos com os nativos com as trocas de presentes, celebrações das primeiras missas e registro sobre a “nova” terra, os portugueses trataram de iniciar a busca por ouro, mas não obtiveram sucesso.

Porém, uma terra desconhecida também oferecia produtos únicos. Dentre as riquezas naturais encontradas por aqui, a que mais foi explorada inicialmente foi o pau-brasil. A árvore recebeu este nome por causa da cor vermelha de sua seiva, que era aproveitada para produzir uma tintura de cor nobre e de difícil obtenção na Europa. A abundância do pau-brasil era tanta que o território foi batizado em homenagem à planta.

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Figura 1: Mapa do Brasil colônia ilustrando a extração de pau-brasil pelos indígenas. Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/277182552037513062/?autologin=true

Para adentrar as matas e extrair o pau-brasil, os portugueses contaram com a mão de obra indígena. Inicialmente, foram feitas trocas com produtos de baixo valor, mas que eram desconhecidos para os indígenas, como espelhos e ferramentas de metal. Tal prática é conhecida como escambo.

A exploração do pau-brasil foi concedida pelo rei a arrendatários por meio de estanco-régio (uma concessão), e o primeiro beneficiário foi Fernando de Noronha. A economia do pau-brasil era extrativista e, portanto, não renovável. Por causa da exploração, a árvore foi sumindo aos poucos do litoral brasileiro.

Os portugueses também se limitaram a fundar alguns entrepostos comerciais, priorizando o comércio com o oriente até 1530. Neste período, as relações comerciais com as Índias começaram a declinar e o Brasil passou cada vez mais a ser alvo de interesses estrangeiros. Com isso, o rei português resolveu garantir a posse da terra por meio da ocupação.

Martim Afonso de Sousa foi o primeiro português incumbido de expulsar os estrangeiros, encontrar riquezas, explorar e colonizar essa terra. Com isso, acabou fundando a vila de São Vicente. Mas o território colonial era um lugar pouco atrativo para os europeus viverem, sendo visto apenas como fonte de riqueza para aqueles que mais estavam dispostos a arriscar suas vidas.

Com o interesse de ocupar ainda mais a colônia, a coroa portuguesa dividiu o território em capitanias hereditárias (não confundir com as capitanias gerais espanholas). Ao todo, foram 15 capitanias confiadas a nobres que passaram a ser chamados de donatários.

Aos donatários era incumbida a tarefa de estabelecer feitorias, levar a fé cristã, cultivar a terra e defende-la de estrangeiros. Para isso, eles tinham o direito de conceder porções menores de terras para outros portugueses (as chamadas sesmarias), cobrar impostos e escravizar os indígenas. Tais deveres e direitos estavam estabelecidos num documento denominado Foral. As capitanias eram cedidas pela Carta de doação, e se o donatário viesse a falecer, o controle passava para seus filhos, se assim o rei ainda quisesse.

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Figura 2: Capitanias hereditárias. Disponível em: https://historiazine.com/as-capitanias-hereditarias-4f470ec4a7b3

Porém, as capitanias não foram eficientes em seus objetivos, pois as distâncias entre as colônias ainda eram muito grandes e poucos portugueses tinham interesse em vir habitar a região.

Assim, a partir de 1549 estabeleceram-se os governos-gerais com sede em Salvador, onde nobres eram nomeados governadores que representariam o rei português na colônia. Eles tinham por objetivo auxiliar e fiscalizar as capitanias em seus deveres anteriormente mencionados. Também eram responsáveis por garantir a exploração do interior do continente, fato que se concretizou com a ação dos ambiciosos bandeirantes. Os três primeiros governadores gerais foram Tomé de Sousa, Duarte da Costa e Mem de Sá.

A colonização do Brasil continuou com a presença de jesuítas promovendo a fé cristã por meio de reduções construídas pelos indígenas e com a exploração do trabalho de africanos escravizados. As lavouras de cana-de-açúcar se tornam o carro-chefe da economia brasileira. O produto era levado para a Europa para ser refinado e revendido a um alto preço, pois era cobiçado pela população do continente.

O período entre 1580 e 1640 compreende a União Ibérica, quando Portugal e seus domínios passaram para a Espanha devido a uma questão sucessória. Foi nesta época que os holandeses invadiram e permaneceram no litoral brasileiro por quase 30 anos.

No século XVII, os portugueses descobriram jazidas de ouro e pedras preciosas na atual região de Minas Gerais. Isso desencadeou uma interiorização e crescimento populacional nunca visto até então na colônia. Tal processo acabou até transferindo a sede portuguesa na colônia para o Rio de Janeiro, onde era escoado o ouro para a Europa.

Diversas revoltas coloniais surgiram ao longo deste período, tanto iniciadas por colonos, como o caso da Conjuração Mineira, como por escravizados. Neste último caso, devemos lembrar da figura de Zumbi e de seu governo sobre o quilombo dos Palmares.

Administração colonial inglesa

Distante da América portuguesa e ao norte do continente, os ingleses disputavam terras com espanhóis, franceses e indígenas. Ao contrário dos países ibéricos, a colonização britânica ocorreu por empresas, ou seja, pela iniciativa privada. Estas eram as Companhias de Comércio, responsáveis por transportar produtos e pessoas através do Atlântico.

Diferente do que houve na maior parte do continente, dentre a população inglesa havia aqueles que viam na América a chance de reconstruir suas vidas longe da Europa. Foi o caso dos puritanos, que eram perseguidos pelos anglicanos na Inglaterra. Eles ocuparam as regiões mais ao norte, onde fundaram colônias e lá se dedicaram ao trabalho artesanal, produção de rum, comércio de peles e à profusão de sua fé. Eram as colônias de povoamento, onde vigorava mão de obra livre.

Já nas colônias de exploração, ao sul, o cenário era diferente. Lá vigoravam as plantations escravistas, que eram lavouras de monocultura destinadas à exportação para o mercado europeu. Eram plantados principalmente algodão, milho e tabaco, utilizando-se para isso o trabalho de africanos escravizados.

Assim, enquanto no norte a economia era predominantemente voltada para si, o sul visava o mercado externo. Essas diferenças foram centrais na Guerra da Secessão, no século XIX, quando aquele território já era independente e conhecido como Estados Unidos.

A totalidade do território inglês no continente americano formava o conjunto das treze colônias britânicas. Entre elas, as Antilhas, a Europa e a África havia um lucrativo comércio triangular (às vezes quadrangular), onde produtos de cada uma dessas regiões eram transportados e vendidos para outra.

Um exemplo é o caso de quando os colonos do norte adquiriam melaço trazido das Antilhas para produzir rum. A bebida era comercializada na África em troca de pessoas escravizadas, que eram transportadas até as colônias do sul, onde eram vendidas para fazendeiros que exportavam matéria-prima para a Europa.

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Figura 3: Região das treze colônias britânicas em relação ao atual território dos EUA. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/treze-colonias

Administração colonial francesa

Os franceses também ocuparam territórios na América setentrional (ao norte). A atual província de Quebec, no Canadá é reflexo de sua colonização. Além dela, a região da Louisiana – que compreendia uma vasta área do atual território estadunidense –, a ilha de São Domingos – atual Haiti – na América Central, e a Guiana Francesa também pertenceram à França. Esta última permanece até hoje como território francês.

Dentre estas regiões, a que mais recebe destaque é a colônia de São Domingos, pois era uma lucrativa produtora de açúcar. O território teve um importante processo de independência que acabou influenciando outros países americanos. Ele foi realizado por negros escravizados, e por este motivo sofreu com pesadas sanções. A independência do Haiti é um feito único na história do continente Americano.

No Brasil também tivemos um episódio relacionado à administração colonial francesa. Em 1555, calvinistas franceses – também chamados de huguenotes –, realizaram uma ocupação no atual território do Rio de Janeiro e que ficou conhecida como França Antártica. Sua intenção era formar um núcleo colonial, mas acabaram sendo malsucedidos.

Ficou curioso sobre a invasão francesa no Brasil? O professor Felipe te conta tudo!

Exercícios:

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Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

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