Veja as Variações Linguísticas do nosso país. Elas se refletem nos diferentes modos de falar o mesmo idioma Português. As Variações podem ser geográficas, históricas, sociais ou contextuais. Fique atento às dicas para mandar bem na prova do Enem!
Você sabia que o Brasil possui variadas formas de falar o português? Temos muitos falares que se adequam a realidade sociocultural de cada região de nosso país. Vamos conhecer nossas variações linguísticas?
O que são variações linguísticas
Assim como outras, a língua portuguesa brasileira apresenta diferenças de interpretação e de construção de sentidos das palavras, isso acontece devido a fatores de natureza histórica, regional, sociocultural ou situacional que constituem o que chamamos de variações linguísticas.
Essas variações linguísticas caem direto no Enem. Elas podem ocorrer nas camadas fonológica, morfológica, sintática, léxica ou semântica. Veja nas dicas da professora Mercedes Bonorino, do Curso Enem Gratuito:
Você pode entender as Variações Linguísticas da seguinte forma:
A língua é a forma que o homem tem de entender o seu universo interno e externo, ou seja, a idade, o sexo, o meio social, o espaço geográfico, tudo isso tornará a língua peculiar, diferente e única.
Tipos de variações linguísticas
As variações linguísticas, de acordo com Fernando Pestana, podem ser definidas como:
Variações Diacrônicas, ou Históricas;
Variações Diatópicas, de natureza Geográfica, Regional, ou Dialetal;
Variações Distráticas, de natureza Social ou Cultural;
Variações Diafásicas, de natureza Situacional ou Expressiva.
Variações diacrônicas ou históricas
As variações diacrônicas ou históricas ocorrem quando a língua apresenta mudanças dentro da linha do tempo. Normalmente isso acontece ao longo de um determinado período de tempo e pode ser identificado quando se comparam dois estágios de uma língua. No ambiente rural, ainda se conserva uma linguagem com traços antigos, com mudanças mais visíveis no léxico e na semântica.
Podemos perceber essa variação linguística no seguinte trecho da crônica “Antigamente”, de Carlos Drummond de Andrade:
“(…) Acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a phtysica, feia era o gálico. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos lombrigas, asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-goma, a casimira tinha de ser superior e mesmo X.P.T.O. London, não havia fotógrafos, mas retratistas (…)”
É aquela que apresenta mudanças de região para região, o que simplesmente conhecemos como sotaque (pronúncia típica de uma região). O sotaque é o principal identificador do lugar onde determinado indivíduo vive, e se estende também ao vocabulário, sentido das palavras, estrutura sintática etc.;
Por exemplo: “A Feira de Caruaru”, de Luiz Gonzaga:
“A Feira de Caruaru, / Faz gosto a gente vê. / De tudo que há no mundo, / Nela tem pra vendê, / Na feira de Caruaru. (…) Tem loiça, tem ferro véio, / Sorvete de raspa que faz jaú, / Gelada, cardo de cana, / Fruta de paima e mandacaru. / Bunecos de Vitalino, / Que são cunhecidos inté no Sul, / De tudo que há no mundo, / Tem na Feira de Caruaru”.
Variação diastrática (social, sociocultural)
São as variações ocorridas em razão da convivência entre os grupos sociais. A língua apresenta mudanças em camadas sociais diferentes (nível socioeconômico) e grupos sociais diversos (profissionais da mesma área, surfistas, funkeiros, políticos, comediantes etc.).
Também podem ser as transformações de sentido por meio das gírias e dos jargões, ou até mesmo a linguagem que se vale de termos técnicos compartilhados por um grupo (jargão) que pertence a uma mesma área de conhecimento profissional (o economês, o juridiquês, o cientifiquês etc.).
Exemplo: Observe os diálogos de um porteiro com um “doutor”’ e de um médico com uma paciente, respectivamente:
O Porteiro e o doutor
– Bom dia, dotô.
– Bom dia.
– Seu Jorge, os portero aqui da área tão fazendo uma caxinha pá comemorá o fim do ano com um churraquinho; ó só, os moradores vão poder estar participando, viu?
– Bem, Osvaldo, eu até gostaria de participar da comemoração de vocês, mas infelizmente só vou poder ajudar com a caixinha; ajuda?
– Claro, dotô! Brigadão!
– Disponha.
O Médico e uma paciente
– Boa tarde.
– Pois não, em que posso ajudar a senhora?
– Bem, eu estive aqui semana passada com uma dor nas articulações muito grande.
– Dona Kátia, sua prostração me incomoda muito e queremos evitar que sua condição avance para uma anquilose, certo?
– Prosta… o quê? Anqui… o quê?
– Fica calma, vou explicar e depois receito um remédio, ok?
Variação diafásica (situacional, expressiva)
São as variações linguísticas que se dão em função do contexto comunicativo, ou seja, a ocasião determina o modo como vamos falar com o interlocutor, podendo ser formal ou informal.
Vai depender do contexto, das circunstâncias, da situação comunicativa, quando um falante varia o uso da língua se está em um ambiente familiar, profissional, formal, informal, etc., considerando o grau de intimidade, o tipo de assunto tratado e quem são os receptores.
Veja esses três diálogos:
Pais e filha
– Papai, o que é sexo?
– Que isso, menina?! Que história é essa?
– Ah, papai, uma coleguinha minha me falou que a mamãe dela faz isso com…
– Quem é essa menina, filha?!
– É a Julinha.
– Michele, vem aqui.
– Que foi, Pedro?
– Mamãe, por que o papai ficou nervoso com o sexo? É ruim?
– Que isso, menina?! Que história é essa?
– Michele, ela quer saber o que é sexo, é isso.
– Ah, amorzinho, vem aqui pra eu te explicar. Não é nada, não. Sai daqui, Pedro! Bem, filha, é o seguinte: não tem quando o papai e a mamãe se beijam e se abraçam?
– Ãrrã.
– Então, isso é sexo. É beijo e abraço entre o papai e a mamãe.
– Ah… entendi. Posso te dar um beijo e um abraço então, né?
– Não!… Quer dizer… Claro, filhota! Vem cá.
Amigos jovens em um bar
– Fala aí, parceiro!
– E aí, muleque! Beleza?
– Pô, tranquilão.
– E aí, vamo jogá aquela sinuquinha?
– Junto com aquela gelada.
– Já é.
Empregador e candidato a emprego
– Bem, senhor Mário, por que devemos contratar o senhor para a vaga de inspetor dessa escola?
– Senhor Roberto, com o devido respeito ao senhor e a sua instituição, seria uma honra trabalhar aqui, uma vez que as referências que tenho dessa escola são ótimas. Agora, quanto a por que me contratar, só posso lhe dizer a verdade: eu sou uma pessoa comprometida com o que faço, sou perfeccionista e responsável com meu horário, além de gostar muito de me relacionar com o público infanto-juvenil. Enfim, acho que o trabalho pode ser meu porque eu creio que tenho um bom perfil.
– Ok, senhor Mário, iremos entrar em contato depois, mas desde já, agradeço sua apresentação.
Simulado de variações linguísticas
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Pergunta 1 de 10
1. Pergunta
(IBMEC SP Insper/2019)
Texto I
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
– Dessa vez, disse ele, vais para Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra cousa um filho que me faz isto…
(Machado de Assis, Memóri-
as Póstumas de Brás Cubas)
Texto II
Ela deixou um bilhete, dizendo que ia sair fora
Levou meu coração, alguns CDs e o meu livro mais da hora
Mas eu não sei qual a razão, não entendi por que ela foi embora
E eu fiquei pensando em como foi e qual vai ser agora
É que pena, pra mim tava tão bom aqui
Com a nega mais teimosa e a mais linda que eu já vi
Na canção de Luccas Carlos, encontram-se expressões e usos linguísticos comuns na fala informal dos jovens contemporâneos, como se pode comprovar nas seguintes expressões destacadas:
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Pergunta 2 de 10
2. Pergunta
(UNEMAT MT/2018)
Considere o seguinte trecho: “[…] e então, adicionam-se duas colheres de açúcar mascavo e mexe-se a calda por dois minutos […]”.
A partir das palavras em destaque e das noções de variação linguística, assinale a alternativa correta.
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Pergunta 3 de 10
3. Pergunta
(UCB DF/2018)
Texto 1
Fim de feira
1 No hipermercado aberto de detritos,
ao barulhar de caixotes em pressa de suor,
mulheres magras e crianças rápidas
4 catam a maior laranja podre, a mais bela
bata refugada, juntam ao passeio
6 seu estoque de riquezas, entre risos e gritos.
ANDRADE, C. D de. Antologia Poética.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, p. 94.
Texto 2
À sombra de algo
Tendo como referência o fenômeno da variação linguística e a significação contextual dos vocábulos e expressões empregados no texto Fim de feira, assinale a alternativa correta.
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Pergunta 4 de 10
4. Pergunta
(UCB DF/2018)
Considerando as informações do texto e o fenômeno da variação linguística, assinale a alternativa correta.
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Sobre a linguagem usada como recurso na construção do texto, levando-se em consideração as diferentes formas linguísticas utilizadas pelos autores na composição de suas obras, é correto inferir que
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Pergunta 6 de 10
6. Pergunta
(UCB DF/2017)
Medicina e Literatura
1 Medicina e literatura partilham um território comum. 2 Ambas lidam com a condição humana, a dor, a doença, a 3 morte, bem como a figura do médico tem sido tema de 4 muitas e importantes obras literárias. (…) De outro lado, 5 não raro, escritores demonstram uma sensibilidade especial 6 para entender a relação médico-paciente, o que pode ser 7 muito útil para médicos e estudantes de medicina. 8 Finalmente, ambas lidam com a palavra; no caso da 9 medicina, a palavra é um instrumento terapêutico; no caso 10 da literatura, um instrumento de criação estética. Mas 11 interessantes paralelos podem ser estabelecidos entre esses 12 diferentes usos da palavra. A inter-relação entre medicina e 13 literatura é um dos aspectos principais das chamadas 14 humanidades médicas, que vêm sendo introduzidas nos 15 currículos de várias escolas médicas.
medicina-e-literatura/>. Acesso em: 26 abr. 2017, com adaptações.
O texto é um fragmento extraído de um discurso proferido pelo escritor Moacyr Scliar aos alunos de Medicina de uma universidade em Minas Gerais. Considerando o referido contexto comunicativo e o fenômeno da variação linguística, é correto afirmar que
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Pergunta 7 de 10
7. Pergunta
(UNINORTE AC/2017)
Chico Bento nasceu das observações do Mauricio de Sousa junto ao homem do campo. Sabe-se que a língua varia no tempo, no espaço e nas diferentes classes socioculturais.
O texto exemplifica variação linguística identificada como
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Pergunta 8 de 10
8. Pergunta
(IFPE/2017)
Sobre a linguagem dos personagens do texto, da página do Facebook “Bode Gaiato”, avalie as assertivas abaixo.
I. O texto verbal, embora escrito, revela aproximação com a oralidade. A grafia da palavra “nãm” evidencia esse aspecto.
II. Os falantes se utilizam de uma linguagem com fortes marcas regionais, como, por exemplo, a escolha da palavra “mainha”.
III. O diálogo entre mãe e filho revela o registro formal da linguagem, como podemos perceber pela utilização das expressões “venha cá pra eu…” e “que nem…”.
IV. O vocábulo “boizin”, formado a partir da palavra inglesa “boy”, é uma marca linguística típica de grupos sociais de jovens e adolescentes.
V. Visto que todas as línguas naturais são heterogêneas, podemos afirmar que a fala de Júnio e sua mãe revelam preconceito linguístico.
Estão CORRETAS apenas as afirmações contidas nas assertivas
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Pergunta 9 de 10
9. Pergunta
(IFPE/2017)
EVOCAÇÃO DO RECIFE
(…)
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
(…)
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira.
20ª Edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 448 p.
Devido à primazia que se tem concedido à língua padrão, muitos consideram a “língua do povo” a que se refere o poema como incorreta. Este fenômeno de atribuir menor valor a determinadas variedades da língua denomina-se
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Pergunta 10 de 10
10. Pergunta
(IFPE/2016)
No último balão da tirinha de Maurício de Sousa, o autor escreveu “mais” em vez de “mas” na tentativa de representar, na escrita, a forma como a personagem Chico Bento, supostamente, pronunciaria a conjunção adversativa. Existem diversas formas e níveis de variação linguística, justamente, porque somos influenciados por diversos fatores, tais como: região, escolaridade, faixa etária, contexto comunicativo, papel social etc. Com base nesses pressupostos, assinale a alternativa que representa uma variante linguística característica do falar popular mineiro.
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Sobre o(a) autor(a):
Regina é Licenciada Plena em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e, além de manjar de Português, gosta de desenhar pessoas.
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