Veja como a Igreja Católica teve um papel importante na história da filosofia. Confira o que foi a fé na perspectiva da Patrística. E, muitos séculos depois, como o pensamento cristão se modificou com Santo Tomás de Aquino.
O que foi a Patrística? – A Patrística foi uma doutrina filosófica criada por alguns padres que também exerceram a função de filósofos durante um período da história.
A missão desses pensadores da Igreja Católica era proporcionar uma argumentação Lógica e ontológica com a finalidade de afirmar e defender a existência de um Deus (Católico, uno, onipotente, onipresente e onisciente).
Além disso, era tarefa da Patrística, isto é, dos padres, a compreensão profunda da Fé cristão e sua eventual transcrição para um formato mais racional. Ora, Fé e Razão nem sempre andam lado a lado, muito pelo contrário, antes disso esses dois conceitos eram antagônicos.
Sendo assim, a Patrística foi uma corrente filosófica que se passou durante a Idade Média, quando os padres produziram textos para defender o Cristianismo, buscando uma conciliação entre Fé e razão, que nem sempre se deram bem.
Introdução à Patrística
Veja com o professor de filosofia Alan Ghedini, do canal do Curso Enem Gratuito, um resumo inicial sobre a Patrística:
Essa corrente filosófica (Patrística) ocorreu numa uma época marcada pela forte presença da religião, onde epidemias que mataram um terço da população. Para entender melhor este período, vamos contextualizá-lo historicamente.
Figura 1. Filosofia cristã formulada pelos padres da Igreja nos primeiros cinco séculos de nossa era, buscando combater a descrença e o paganismo e que fundamentou-se em conceitos procedentes da filosofia grega.
O Contexto da Patrística
Idade Média
A Idade Média foi um período bastante longo. Estendeu-se desde o século V (quando Teodósio I instituiu o Cristianismo como a única religião permitida no Império Romano) até o século XV (pouco antes do Brasil ser invadido).
O seu início foi marcado pela queda do Império Romano do Ocidente no ano de 476. Já seu fim tem como marco histórico a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453, pouco antes das grandes navegações.
Há quem chame a Idade Média de Idade das Trevas. Visto que, muito dos avanços científicos ocorridos na Europa, sofreram uma grande oposição. Essa oposição é por vezes interpretada como retrocesso se comparamos à produção cultural e científica da Antiguidade Clássica.
Durante esse período, a humanidade foi assolada pela Peste Negra, uma das mais devastadoras pandemias da nossa História. Essa peste matou cerca de 200 milhões de pessoas na Europa e Ásia. Dizem que só na Europa, houve a morte de pelo menos um terço da sua população total.
Ora, nem tudo foram pulgas e pânico na Idade Média, muita coisa boa surgiu nessa época também. Na produção agrícola por exemplo, foi inventado o moinho, a charrua e várias técnicas de adubamento e rodízio de terras.
Agora, a herança que mais nos interessa aqui nos foi deixada por influentes filósofos, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Esses dois padres, posteriormente canonizados, juntamente com o trabalho de vários de seus monges, corroboraram para preservar a cultura grega e romana. Isso vai ser essencial para o surto de revalorização da Antiguidade Clássica ocorrido durante o Renascimento.
A Filosofia Cristã
A Filosofia Cristã da Idade Média, isto é, a Patrística, procurava interpretar o cristianismo a partir de conceitos da filosofia grega. Ora, como não havia uma Lógica na narrativa cristã, muitos questionamentos eram levantados e pouco consenso havia dentro da religião. A Lógica, inspirada na Lógica aristotélica, foi uma peça fundamental que a Patrística se valeu para a construção da doutrina cristã.
A sacada da Patrística foi unificar as ideias cristãs. Tal acontecimento levou a igreja a abandonar os ideais da doutrina cristã primitiva e incorporar várias ideias gregas. Isso tornou possível o combate das heresias e a justificativa da fé para converter a todos para a fé cristã.
Dentre as principais ideias que a Patrística trouxe à tona estão: a teologia e o teocentrismo, bem como, o tal do pecado original, a criação do mundo a partir do nada, além é claro daquelas confusas ideias de um Deus como trindade una.
Teologia e Teocentrismo
O Teocentrismo é uma doutrina religiosa que acredita que Deus é o centro de todo o Universo. Ele é responsável pela criação de todas as coisas, inclusive do próprio universo. Vale lembrar que qualquer tipo de ideia que contrariava essa noção era rechaçada pela igreja, fazendo com que a mentalidade teocêntrica permanecesse forte na população por séculos.
Teocentrismo vem do grego Theos, que significa Deus, e do sufixo Kentron que significa centro. Embora não tenha gênero (assim como anjos) é comum tratamos Deus sempre no masculino, além de representa-lo como um velho branco barbudo.
Outro ponto importante da Patrística é a Teologia. Ela consiste no estudo da natureza de Deus, desde os seus atributos até sua relação conosco. Em sentido estrito, limita-se ao Cristianismo, mas em sentido amplo, aplica-se a qualquer religião. É ensinada como uma disciplina acadêmica, tipicamente em universidades, seminários e escolas de teologia.
O papel fundamental da Patrística tendo a Teologia como sua ferramenta foi a revolução e, em certo sentido, a modernização dos dogmas da Igreja. É importante ressaltar que foi nesse período que as Universidades foram criadas. As primeiras escolas medievais se instalavam e eram regidas pelas igrejas e mosteiros, a partir daí vai surgir outra parada importante para época que foi a Escolástica.
Os Santo Padres
Os grandes responsáveis por toda essa Filosofia Medieval foram os padres. Estudiosos da Filosofia e grandes teólogos esses padres foram, em sua grande maioria, consagrados santos devido a sua imensa contribuição para a Fé cristã.
Uma das coisas mais desafiadoras e importantes que foi teorizado pelos padres, mais especificamente por Santo Agostinho, diz respeito a forma como o mal pode existir no mundo. uma vez que, tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade.
O padre Aurelius Augustinus Hipponensis, depois canonizado como Santo Agostinho, foi um pensador influenciado pelo maniqueísmo. Essa corrente de pensamento dizia que o mundo seria regido pelas forças do bem e do mal, numa concepção platônica de mundo.
Na pegada de combater esse maniqueísmo, Agostinho aprimorou o conceito de pecado original e desenvolveu o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus. Tudo isso culminou na mais famosa teoria de Agostinho a respeito da origem do mal.
Vamos lá, se Deus é perfeito, criador de tudo, ele também seria criador do mal? Ora, se Deus criou o mal, como é possível que ele possua uma bondade infinita? E digo mais, se ele é onipotente, como “diacho” existe tanta miséria e desgraça no mundo? Seria ele o mano responsável por toda essa infelicidade?
Para Santo Agostinho, não! Segundo o filósofo, o mal não é mais que a ausência do bem, a ausência da obra divina. Ou, para ser mais preciso, o mal não é algo que foi criado. A origem do mal estaria no livre-arbítrio, concedido por Deus. Ora, todo mal seria o resultado do livre afastamento do bem. Isto é, resultado do afastamento das pessoas em relação a Deus.
Além dessa, existe outra teoria famosa postulada por Agostinho, essa teoria parte do fato de sermos criados à imagem e semelhança de Deus. Por isso, possuímos uma centelha divina que nos dá a condição para alcançar as verdades eternas.
Todas as pessoas têm essa parada aí (centelha divina). Essa é a Teoria da Iluminação de Santo Agostinho. Essa ideia de Agostinho é inspirada numa outra teoria mais antiga, a reminiscência de Platão, segundo a qual as ideias já residiriam em nossa alma e caberia ao filósofo despertá-las.
Por fim, Agostinho defendia a ideia de que, embora a verdade estava na Fé, o melhor caminho para alcança-la seria a razão. Com isso Santo Agostinho consegue conciliar Fé e Razão. Essa genialidade serviu para inspirar outros filósofos como Tomás de Aquino.
Veja o pensamento de Santo Tomás de Aquino
Confira agora com a professora paula Pille, do canal do Curso Enem Gratuito, os fundamentos filosóficos do pensamento de Santo Tomás de Aquino.
Ao contrário da fé pela crença absoluta defendida por Santo Agostinho, a filosofia de São Tomás busca uma convergência entre a fé e a razão. A existência de Deus torna-se evidente pelas comprovações da própria natureza, pela origem e permanência do Universo.
São Tomás desenvolve Cinco Vias para comprovar a existência de Deus como a causa e a origem única possível para todo o Universo.
Exercícios sobre a Patrística
Bom, se liga nos exercícios a seguir e teste aí seus conhecimentos a respeito da Patrística e da Filosofia Medieval.
1 (Uncisal 2011) Uma das preocupações de certa escola filosófica consistiu em provar que as ideias platônicas ou os gêneros e espécies aristotélicos são substâncias reais, criadas pelo intelecto e vontade de Deus, existindo na mente divina. Reflexões dessa natureza foram realizadas majoritariamente no período da história da filosofia:
(A) Pré-socrático.
(B) Antigo.
(C) Medieval.
(D) Moderno.
(E) Contemporâneo.
2 (Ufu 2010) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão).
(PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p.77.)
Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão.
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas diferenças:
(A) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.
(B) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos.
(C) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma do corpo.
(D) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existe em cada um.
3 (Ufu 2003) A teoria da iluminação divina, contribuição original de Agostinho à filosofia da cristandade, foi influenciada pela filosofia de Platão, porém, diferencia-se dela em seu aspecto central.
Assinale a alternativa abaixo que explicita esta diferença.
(A) A filosofia agostiniana compartilha com a filosofia platônica do dualismo, tal como este foi definido por Agostinho na Cidade de Deus. Assim, a luz da teoria da iluminação está situada no plano suprassensível e só é alcançada na transcendência da existência terrena para a vida eterna.
(B) A teoria da Iluminação, tal como sugere o nome, está fundamentada na luz de Deus, luz interior dada ao homem interior na busca da verdade das coisas que não são conhecidas pelos sentidos; esta luz é Cristo, que ensina e habita no homem interior.
(C) Agostinho foi contemporâneo da Terceira Academia, recebendo os ensinamentos de Arcesilau e Carnéades, o que resultou na posição dogmática do filósofo cristão quanto à impossibilidade do conhecimento da verdade, sendo o conhecimento humano apenas verossímil.
(D) A alma é a morada da verdade, todo conhecimento nela repousa. Assim, a posição de Agostinho afasta-se da filosofia platônica, ao admitir que a alma possui uma existência anterior, na qual ela contemplou as ideias, de modo que o conhecimento de Deus é anterior à existência.
Gabarito 1. C, 2. D, 3. B.