O Renascimento foi um movimento artístico, cultural e científico que teve início no século XIV na cidade italiana de Florença e que alteraria os padrões de arte e pensamento europeus.
No contexto da história europeia, o Renascimento artístico, cultural e científico é um dos marcos da transição do final da Idade Média para o início da Idade Moderna. É chamado de Renascença devido à mudança de pensamento e visão de mundo, que não correspondiam mais aos ideais da Igreja.
Hoje, vamos entender como a cidade italiana de Florença foi o berço para o Renascimento artístico e cultural que viria a florescer em outras partes da Europa. Acompanhe esta aula para entender melhor como estes acontecimentos influenciaram também a arte!
O início do Renascimento
A Idade Média foi um período largamente marcado pela Igreja e pelos seus ideais. Isso porque a prioridade era a religiosidade, que preponderava sobre ideias humanistas.
A palavra “renascença” carrega consigo o significado do ato de nascer de novo ou de ressurgir. Dessa forma, o Renascimento artístico e cultural foi o início de uma era, no início do século XV, chamada de Idade Moderna, em que aquela forma de enxergar o mundo foi sendo desconstruída. Isso implicou no interesse por produções intelectuais e artísticas produzidas na Grécia e Roma antigas.
A leitura da Bíblia dá lugar a obras de filosofia de autores clássicos, como Platão, Aristóteles e Homero, trazendo à tona ideais humanistas que priorizam o ser humano e suas relações.
Todavia, é importante destacar que este não é um fato que implica na perda de fé ou rejeição ao conhecimento da teologia. Pelo contrário, a admiração pela simbologia cristã e sua representação seguiram inspirando artistas da Renascença.
O fato é que, dali em diante, os ensinamentos da Igreja medieval (que defendia que o ser humano não poderia fazer nada sem a ajuda Deus) não estavam mais de acordo com a nova abordagem que estava surgindo.
Diante do contexto, a revalorização do clássico influenciou fortemente a pintura, a escultura e a arquitetura na Itália. Assim, a arte devocional ganhou características mais naturalistas, reflexo de um olhar cuidadoso e apurado diante da forma humana e da natureza.
O contexto social do Renascimento
Além das mudanças verificadas na filosofia e nas artes, o período do Renascimento foi marcado por grandes mudanças no contexto social da Europa. Tanto é assim que, além de se falar em Renascimento artístico e cultural, a História também estuda o Renascimento comercial. Ou seja, uma série de eventos culminaram no declínio do sistema feudal e no surgimento de novos modelos comerciais e econômicos.
Representantes do Renascimento artístico em Florença
A obra a seguir, que foi iniciado por Paolo Uccello e finalizada por outro pintor, retrata alguns artistas:
Conforme as inscrições abaixo de cada imagem, estão representados Giotto, (1270-1337), o próprio Ucello (1397-1475), Donatello (1386-1466), Antonio Manetti (1423-1497) e, por fim, Filippo Brunelleschi (1377-1446).
Giotto
Dentre os artistas mais reconhecidos e aclamados está Giotto. Para essa nova maneira de pensar que surgia, as poesias e artistas que eram bem vistas apresentavam uma produção “tão boa quanto a dos antigos”.
Foi dessa forma de Giotto foi largamente aclamado como um mestre responsável pelo verdadeiro renascimento da arte. Juntamente a ele, um grupo de jovens artistas se uniu com a proposta de criar uma nova arte e romper com as ideias do passado.
Brunelleschi
O arquiteto Filippo Brunelleschi era o líder do grupo, que foi contratado para concluir a gótica catedral de Florença. Ele dominava as características do gótico, movimento muito presente que vinha sendo modificado pela nova visão de mundo.
A população de Florença desejava uma catedral com um domo (cúpula ou teto arredondado) e Brunelleschi foi o único capaz de cumprir a tarefa com maestria, conforme a imagem abaixo.
A partir da grandiosidade do projeto e execução da Catedral de Florença, o arquiteto foi convidado para planejar outras construções. Contudo, nunca procurou influências em construções antigas. O que ele pretendia era criar uma nova maneira de construir, de forma que a arquitetura clássica fosse livremente utilizada na criação de novas formas harmônicas e belas.
A produção de Brunelleschi foi tão significativa e revolucionária que, por quinhentos anos, arquitetos europeus e americanos seguiram sua influência. Assim, não é raro encontrar em cidades e aldeias construções baseadas nos ideais do arquiteto.
Além disso, Brunelleschi não é apenas o fundador da arquitetura da Renascença. É atribuída a ele outra descoberta fundamental no campo das artes, que viria a dominar a arte também nos séculos subsequentes: o uso da perspectiva.
A despeito do conhecimento prévio dos gregos, que aplicavam a perspectiva em seus quadros, como os helenísticos, que desenvolveram a técnica de criar ilusão de profundidade, é evidente que nenhum deles aplicavam a perspectiva de acordo com as leis matemáticas.
Foi Brunelleschi que apresentou aos artistas instrumentos matemáticos para fazer com que os objetos pareçam diminuir à medida que se afastam. Basta lembrarmos de artistas clássicos e suas obras: nenhum deles era capaz de desenhar uma rua arborizada que se afasta em direção ao fundo do quadro até desaparecer no horizonte.
Masaccio
O pintor Masaccio (1401-28) seguiu as teorias de Brunelleschi sobre o conceito de perspectiva e buscou aplicar as noções de profundidade em uma superfície plana, como a de uma tela ou parede. Foi, portanto, um dos primeiros artistas a incorporar as ideias de Brunelleschi em suas obras. A obra a seguir é uma produção que marcou a história da arte.
A pintura mural de Masaccio encontra-se em uma igreja de Florença e representa a Santíssima Trindade com Nossa Senhora e São João aos pés da cruz, juntamente aos mecenas. É importante frisar que a pintura, para a época, foi revolucionária e totalmente inovadora.
Ao olharmos para a obra, percebemos a noção de profundidade através dos planos. Assim, o que está mais perto de nossos olhos está em primeiro plano, e assim por diante. Sequencialmente, Masaccio influenciou outros pintores, como Fra Angelico (1395-1455).
Fra Filippo, Botticelli e Donatello
Outros artistas importantes do período em Florença são Fra Filippo Lippi (1406-1469), uma referência importante à representação da perspectiva, e Sandro Botticelli, aprendiz de Lippi.
A obra de Botticelli é marcada especialmente pela pintura “Primavera”, de 1480. O significado desta obra é curioso: há uma linha de pensamento que acredita que trata-se de uma série de episódios. Dentre os personagens, estão Zéfiro, o vento oeste, Vênus e Clóris.
Quanto à escultura, o artista de maior destaque e que pertencia ao círculo de Brunelleschi era Donatello (1386-1466). Um dos exemplos mais significativos é o de uma das primeiras esculturas do artista:
A obra foi encomendada pela associação dos armeiros e tem como uma das principais características o fato de São Jorge, um santo, estar colocado no chão, o que se opõe às representações religiosas do período gótico, em que as imagens pairavam em fileiras solenes, como se fossem de outro mundo. O rosto de São Jorge é diferente das representações medievais, em que havia serenidade e aparente tranquilidade. Aqui, a fisionomia transparece concentração, força e energia.
A cidade de Florença foi, portanto, o berço do Renascimento Artístico, movimento considerado um divisor de águas na história, especialmente da arte. A mudança da forma de pensar e de enxergar o mundo refletiu diretamente na produção artística, seja na arquitetura, na pintura ou na escultura.
Videoaula sobre o Renascimento artístico
Agora, vem com a gente assistir o vídeo “Isto nunca mais acontecerá – o Renascimento em Florença”, do canal de Henry Bugalho:
Exercícios
1- (Unesp 2017)
A pintura representa no martírio de Cristo os seguintes princípios culturais do Renascimento italiano:
a) a imitação das formas artísticas medievais e a ênfase na natureza espiritual de Cristo.
b) a preocupação intensa com a forma artística e a ausência de significado religioso do quadro.
c) a disposição da figura de Cristo em perspectiva geométrica e o conteúdo realista da composição.
d) a gama variada de cores luminosas e a concepção otimista de uma humanidade sem pecado.
e) a idealização do corpo do Salvador e a noção de uma divindade desvinculada dos dramas humanos.
2- (Unicamp 2016)
A teoria da perspectiva, iniciada com o arquiteto Filippo Brunelleschi (1377-1446), utilizou conhecimentos geométricos e matemáticos na representação artística produzida na época. A figura a seguir ilustra o estudo da perspectiva em uma obra desse arquiteto. É correto afirmar que, a partir do Renascimento, a teoria da perspectiva
a) foi aplicada nas artes e na arquitetura, com o uso de proporções harmônicas, o que privilegiou o domínio técnico e restringiu a capacidade criativa dos artistas.
b) evidencia, em sua aplicação nas artes e na arquitetura, que as regras geométricas e de proporcionalidade auxiliam a percepção tridimensional e podem ser ensinadas, aprendidas e difundidas.
c) fez com que a matemática fosse considerada uma arte em que apenas pessoas excepcionais poderiam usar geometria e proporções em seus ofícios.
d) separou arte e ciência, tornando a matemática uma ferramenta apenas instrumental, porque essa teoria não reconhece as proporções humanas como base de medida universal.
3- (UPF 2016)
A charge a seguir satiriza o padrão de beleza durante o Renascimento Cultural.
Sobre o conjunto de ideias e concepções que marcaram o Renascimento, é correto afirmar:
a) As ideias dos filósofos renascentistas tornaram-se populares, influenciando movimentos revolucionários. Esses ideais seriam retomados no século XIX pelos pensadores socialistas.
b) Os pensadores do Renascimento recuperaram ideias da Antiguidade clássica, agindo de acordo com as orientações religiosas da Igreja Católica Romana.
c) A Igreja Católica, como principal compradora das obras dos artistas, se tornou uma defensora das ideias renascentistas.
d) O Renascimento contribuiu para o reforço de valores humanistas em toda a Europa.
e) O Renascimento como movimento intelectual provocou uma ruptura na Igreja, dividindo-a a partir de então em Igreja Ortodoxa e Igreja Romana.
Gabarito:
- C
- B
- D