Max Horkheimer: quem foi e o que diz sua teoria crítica

O filósofo alemão Max Horkheimer foi um dos fundadores da Escola de Frankfurt e responsável por desenvolver a teoria crítica utilizada nas ciências humanas. Sabia mais!

O filósofo alemão Max Horkheimer (1895-1973), juntamente com Theodor Adorno, foi um dos membros fundadores do Instituto para Pesquisa Social. O Instituto ficou conhecido popularmente como a Escola de Frankfurt, como o próprio Horkheimer iria a escrever em a ‘Dialética do Esclarecimento’.

Meu camarada Horkheimer foi quem deu início a uma parada chamada teoria crítica. Ao refletir sobre teoria tradicional e teoria crítica em um texto homônimo escrito durante o exílio, ele se tornou um marco do pensamento crítico que seria seguido pelos demais intelectuais.

Max HorkheimerFigura 1: Max Horkheimer foi um filósofo e sociólogo alemão, famoso por seus estudo sobre a Teoria Crítica. 

Horkheimer e a Escola de Frankfurt

Foi um tanto quanto complicado para os filósofos de Frankfurt desenvolverem suas ideias. Isso porque a Escola de Frankfurt foi fundada na Alemanha em 1924, e já em 1933 o fervor do nazismo tomava as ruas do país.

Parte dos filósofos da Escola eram judeus, e ser judeu em meio ao terceiro Reich não era uma coisa segura. A sede da Escola teve que ser transferida e, nesse meio tempo, muitas das pesquisas foram interrompidas.

Foi o caso de Horkheimer, um judeu que estudara Marx e o comunismo e que, diga-se de passagem, tomou a frente da Escola de Frankfurt como seu diretor. Para deixar a coisa ainda mais perigosa, Horkheimer escrevia sobre o autoritarismo e o militarismo, temas que faziam afronta ao regime de Hitler.

Embora os intelectuais da Escola de Frankfurt almejassem que o conhecimento ali produzido fosse utilizado para além do círculo acadêmico a fim de servir de base para transformações sociais, não dá para deixar de se surpreender com a coragem e a audácia dessa galera ao fazer todo esse trabalho na iminência do terceiro Reich.

Não à toa, a influência desses acontecimentos nas obras dos frankfurtianos foi tão marcante. Vários autores abordaram os problemas resultantes do totalitarismo, criticaram os regimes fascistas ou, ainda, se utilizaram das experiências vividas em decorrência dos acontecimentos sem igual que ocorreram na época, como, por exemplo, o Holocausto.

Escola de Frankfurt - HorkheimerFigura 2: A Escola de Frankfurt na Alemanha. Os intelectuais frankfurtianos entendiam que a teoria marxista tradicional não poderia explicar adequadamente o turbulento e inesperado desenvolvimento de sociedades capitalistas no século XX.

A teoria tradicional

Antes de entender propriamente o que Horkheimer quis dizer com teoria crítica, é válido ressaltar que ela se deu em oposição ao que se caracterizou como teoria tradicional. Sendo assim, borá lá entender que parada é essa de teoria tradicional.

A origem da teoria tradicional está vinculada ao desenvolvimento das ciências naturais, aquelas que estudam as características gerais e fundamentais da natureza, bem como as leis e regras naturais que a regem.

Então, a teoria tradicional está ligada a elas, pois se apoia naquela ideia de validar as paradas a partir de leis de causa e efeito presentes nas ciências naturais. Desse modo, para validar-se uma teoria é necessário testá-la com base nessas leis. Caso haja algum problema com esses testes, deduzimos que há algo de errado com a teoria ou, em alguns casos, com os experimentos usados para testá-la.

Assumindo que correu tudo bem, a teoria é, então, validada. Para auxiliar-nos nesse processo, contamos com o método dedutivo. Tal método já era empregado por Aristóteles, quando ele fazia seus silogismos, naquilo que hoje ficou conhecido como lógica aristotélica.

Bom, essa história de teoria tradicional ganhou força dentro das ciências humanas com o filosofo francês René Descartes (1596-4650). Seu discurso do método é um bom exemplo disso. Daí para frente, começamos a elaborar os sistemas filosóficos a partir da teoria tradicional.

Sendo assim, há um forte fundamento empírico na teoria tradicional. Nesse sentido, preocupamo-nos muito mais com os caminhos (métodos) a serem seguidos do que com a teoria propriamente dita, o que é algo bastante problemático para Horkheimer.

René DescartesFigura 3: René Descartes foi um filósofo, físico e matemático francês

A teoria crítica de Horkheimer

Do ponto das ciências humanas, é complicado a gente se pautar nesse tipo de teoria. Isso ocorre porque há uma dificuldade e até incapacidade de se obter provas empíricas daquilo que está se buscando. Como é que você prova, a partir de experimentos, que as pessoas são boas ou más por natureza? Ou ainda, como é possível mostrar empiricamente que as pessoas tem alma?

Em outras palavras, ao avaliarmos os fenômenos físicos, o observador pode se distanciar e, dessa maneira, perceber de forma panorâmica o que está rolando. Mas quando o observador é o objeto de seu próprio experimento, será que é possível obter resultados precisos?

Você acha que é possível ser observador e observado? Ou, em palavras, sujeito e objeto da experiência ao mesmo tempo? Será que isso não compromete a imparcialidade da investigação? Será que as ciências humanas são tão previsíveis quanto as ciências naturais?

Esse tipo de reflexão levou Horkheimer a repensar a validade da teoria tradicional. Ora, ao pensar de maneira crítica, a teoria tradicional é o que podemos chamar de teoria crítica, embora a teoria crítica não se resuma a isso.

Na real, pode ser bastante problemático falar em teoria crítica como algo singular. Isso porque, para além de Horkheimer, ela se configura como um conjunto de teorias pautadas pelo antipositivismo e pela crítica da ordem vigente.

Uma análise latu sensu da teoria crítica suscitaria em uma definição bastante fragmentada, já que os intelectuais marxistas que formavam a Escola de Frankfurt utilizam-se da teoria crítica para tecer suas análises sobre as mazelas econômicas, sociais, estéticas e culturais da realidade, geradas principalmente pelo capitalismo.

Diferença entre teoria crítica e teoria tradicional

Segundo Horkheimer, a teoria tradicional fomenta a hegemonia das classes dominantes ao passo que a teoria crítica corrobora a busca pela emancipação dos sujeitos. Nesse sentido, a teoria crítica entende que a emancipação dos indivíduos acontece nas representações próprias de uma classe.

Por outro lado, a teoria tradicional não é capaz de demonstrar as peculiaridades existentes nas ciências humanas.  Por conta disso, pressupõe o indivíduo como algo mais genérico. Isso faz com que o comportamento dos indivíduos passe a ter a própria sociedade como objeto.

Bom, para esclarecer melhor essa relação entre a teoria crítica e o marxismo, se liga nessa entrevista que o próprio Horkheimer protagonizou.

Por fim, Max Horkheimer estabeleceu um marco na análise da teoria crítica e teoria tradicional, uma vez que reconheceu as diferenças históricas presentes na origem dos conceitos em questão, tal qual os estabelecidos por Karl Marx lá no século XIX. É por isso que Horkheimer está sempre à frente das discussões entre teoria crítica e teoria tradicional.

Exercícios sobre Horkheimer

1- (UNICENTRO 2018)

O movimento intelectual criado por um grupo de filósofos e cientistas sociais de orientação marxista em 1924, na Alemanha, caracterizado pela reflexão crítica sobre a sociedade contemporânea e as teorias que a explicam e que foi fortemente perseguido pelo nazismo, ficou conhecido como

(A) Materialismo Histórico.

(B) Escola de Annales.

(C) Positivismo.

(D) Escola de Frankfurt.

(E) Escolástica.

2- (Unioeste PR/2013)    

Em seu artigo Max Horkheimer: teoria crítica e materialismo interdisciplinar (2011), o filósofo Luís Sérgio Repa afirma que a teoria crítica procurou reintegrar a razão pelas promessas não cumpridas pelo Iluminismo. Entre os pensadores ligados a Escola de Frankfurt, Max Horkheimer se destacou por ter sistematizado e teorizado a teoria crítica, além de ter formulado um programa de pesquisa. Entre os principais fundamentos teóricos da teoria crítica frankfurtiana, assinale a alternativa correta.

a) O grande mérito da teoria crítica foi separar teoria e prática e de considerar a realidade social distante do seu devir histórico.

b) A teoria crítica faz uma crítica das noções de teoria e práxis, suprimindo a separação entre o ser e o dever, tão caras ao marxismo e ao ativismo político.

c) Segundo a teoria crítica de Horkheimer, o pesquisador é neutro em relação à sociedade que estuda e critica, ou seja, a teoria critica separa o sujeito do objeto do conhecimento.

d) A teoria crítica tem como principal característica não se preocupar com os problemas sociais do tempo presente e por demonstrar desinteresse pela emancipação humana diante das estruturas econômicas, políticas e culturais de seu tempo.

e) A ideia de emancipação humana e de um comportamento critico em relação à sociedade e à cultura contemporânea não é uma preocupação da teoria critica, pois ela não anseia uma sociedade emancipada por um interesse universalista.

Gabarito

  1. D
  2. B

Sobre o(a) autor(a):

Os textos e exemplos acima foram preparados pelo professor Ernani Silva para o Blog do Enem. Ernani é formado em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista. Ministra aulas de Filosofia em escolas da Grande Florianópolis. Facebook: https://www.facebook.com/ErnaniJrSilva

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