Usar analogias para introduzir argumentos na sua redação pode facilitar bastante sua produção de texto no Enem. Aprenda como utilizar esta técnica argumentativa.
Saber utilizar uma analogia (comparação implícita) pode te tornar capaz de quebrar o senso comum, além de deixar o seu texto mais crítico, didático e interessante.
O que é analogia
Chamamos de analogia uma metáfora (comparação implícita, sem a palavra “como”) de uma área ou caso diferente do qual estamos trabalhando no texto, mas que apresente pontos em comum com o que estamos analisando. Então vamos aprender como utilizar a analogia na redação?
Analogia na redação
Para entender melhor como podemos usar uma analogia, podemos pensar em temas relacionados às questões sociais. Nestes temas, por exemplo, é muito útil apropriar-se da literatura, cinema, música ou artes plásticas para ilustrar um raciocínio.
Ou seja, usar trechos de histórias que você leu ou assistiu e que possuam características em comum com a situação que você está analisando pode facilitar sua argumentação e render uma boa introdução. Para este tema, seguindo esta linha estratégica, você poderia, por exemplo, citar “Capitães da Areia”, do Jorge Amado, para discutir algo como a diminuição da maioridade penal.
Lembre-se de que as analogias sempre possuem maior impacto se aliadas a fatos da contemporaneidade. No caso que usei para exemplificar as analogias, é possível relacionar o Pedro Bala, protagonista do livro citado, a menores infratores que são desde cedo agregados ao tráfico de drogas. Com essa analogia na redação, você arrancaria um sorriso do(a) corretor(a), não acha?
Isso porque, além de demonstrar que você sabe relacionar o tema proposto ao conhecimento que você adquiriu ao longo da sua vida escolar e de seu cotidiano, também mostra que você tem lido e se apropriado dessas histórias.
Analogia e generalização
O único risco de utilizar a analogia na redação é a generalização. Para argumentar faça comparações com pontos específicos, não force a adaptação de teorias ou realidades muitos distintas. Isso poderia fazer com que o(a) corretor(a) entendesse que você está modificando uma história apenas para servir ao seu argumento. Nesse caso, a analogia acabaria perdendo o sentido.
Não entendeu? Vejamos um exemplo do que você não deveria fazer neste caso que estamos estudando: seria uma generalização muito grosseira utilizar a Teoria da Evolução de Darwin como analogia para falar da diminuição da maioridade penal.
Além da reprodução do clichê de “só os fortes sobrevivem” – o que não abarca do darwinismo, você correria o risco de cair em um determinismo social, ou seja, considerar que as questões sociais sejam gerenciadas somente pela biologia, o que exclui o seu caráter histórico.
Como argumentar na redação
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Exemplo de analogia na redação
Agora que você já viu os principais pontos da técnica, veja um exemplo de analogia na redação para entender como utilizar
Isso não é um cachimbo
Em uma famosa tela de Magritte observa-se um cachimbo desenhado, acompanhado da inscrição: “Isso não é um cachimbo”. De fato, não o é, mas apenas a sua representação. Somos nós que enxergamos a imagem e imediatamente a assimilamos ao objeto real, sem considerar que ambos não são iguais. Magritte sabia como o homem ignora a distinção entre a imagem e o real, e que essas imagens atribuem significados ao real. Instituições como o casamento, a Igreja e o Estado, por exemplo, dependem de seu simbolismo para perpetuarem-se. Porém, devemos saber distinguir entre o que são e o que representam.
No plano individual, o significado do casamento é indissociável de sua permanência na sociedade. Não é seu valor jurídico que o estimula, ou leva noivos e noivas a movimentarem milhões de reais por ano em vestidos, festas e bolos. O que motiva o casamento tradicional é a imagem atribuída a ele, de união de corpos. Não é, necessariamente, essa a imagem que melhor o caracteriza: o casamento pode ser idealizado no início, mas eventualmente as altas expectativas se frustram, como aconteceu com o personagem Bento Santiago no livro “Dom Casmurro”.
Já no plano coletivo, as Igrejas são extremamente dependentes de seu valor simbólico. A existência de catedrais, mesquitas e sinagogas, assim como a de hierarquias entre padres, bispos e cardeais; exige que os homens vejam nelas algo que ultrapassa o real. A fé e a religião tornam a Igreja não um simples local e uma hierarquia vazia, mas um poder. Este existe como consequência da religião, tanto assim que obras como o “Auto da Barca do Inferno” só tem valor moralizante em uma sociedade que acredite na Igreja Católica. Sem a imagem, a doutrina perde seu valor.
Outra instituição atrelada à imagem é o Estado. Da mesma forma que ocorre com a Igreja, o poder e a legitimidade do Estado emanam da crença. Seus funcionários deixam de ser pessoas e passam a representar o poder ao qual todos nós estamos submetidos. O juiz representa a lei, apesar de não o ser na realidade. É esse significado que impede Fabiano, de “Vidas Secas”, de desafiar o Soldado Amarelo. Apesar do evidente abuso de poder, Fabiano submete-se ao guarda, acreditando que submete-se diariamente ao Estado.
Essas três instituições mostram a dependência do valor simbólico para sua manutenção e credibilidade. Sem suas imagens, haveria um súbito desequilíbrio na sociedade, pois todo poder e ordem seriam questionados. Não é necessário destituí-las de toda sua significação, apenas enxergar, como Magritte, a diferença entre a imagem e o real. Assim não haverá idealização das instituições, o que abre espaço para questionamentos e evitar casos como o de Fabiano, abusado pelo Soldado Amarelo, ou Bento Santiago, frustrado na expectativa de tornar-se um só com Capitu, possibilitando críticas como no “Auto da Barca do Inferno”, que diferenciava a Igreja de seus membros.
Análise da redação
A analogia na redação é um dos coringas do texto acima. Como você pode ver, para contextualizar o tema, o autor utiliza a obra de Magritte para explicar a relação entre conceito e imagem. Desse modo, ao trazer a tese de que as instituições carregam relações simbólicas, o conceito já está muito mais claro e didático.
Introdução
Sendo assim, podemos perceber que a introdução é construída sobre essa analogia. Ademais, há uma listagem “casamento, Igreja e Estado” a qual demonstra os aspectos que serão defendidos no desenvolvimento, organizando o desenvolvimento por meio da técnica de enumeração.
Desenvolvimento
No segundo parágrafo, o argumento literário pautado na relação de Capitu e Bentinho (ambos personagens de Machado de Assis no livro Dom Casmurro) cria uma analogia para a tese defendida pelo autor. Segundo os argumentos que ele tece, o que estimula em muito a união de casais por meio do casamento é a sua valoração social por meio do conceito de “união de corpos”, o que nem sempre resulta em um relacionamento saudável.
Já no terceiro parágrafo, há a analogia com o Auto da Barca do Inferno (do autor Gil Vicente) para demonstrar como a imagem é essencial aos rituais religiosos e a aplicação de sua moral na sociedade contemporânea, o que também ocorria no auto medieval.
Finalmente, no quarto parágrafo, há a analogia com Vidas Secas (de Graciliano Ramos), mostrando que o cidadão relaciona-se com o Estado por meio das hierarquias sociais, o que pode gerar desigualdade e corrupção, o que cabe perfeitamente no livro com a temática do sertão.
Conclusão
Já na conclusão, há uma síntese de todas as analogias em defesa da tese: a diferença entre a imagem e o real. O texto é muito bem estruturado e competente nas suas metáforas, ainda assim, as analogias também poderiam ser relacionadas a fatos da atualidade de modo a aprofundar a análise.
E aí, você conseguiria aplicar a técnica da analogia na redação do Enem? Não? Que tal testar produzindo um texto seguindo a mesma proposta da redação que usei como exemplo? Treinar a escrita é o segredo para mandar bem no Enem.
Videoaula
Confira com a professora Dani como organizar o Desenvolvimento, que é a parte da Redação onde você apresenta os argumentos, os dados, e faz as comparações por Analogia, se for o caso: