Células do sangue e suas funções

O nosso sangue é composto por uma parte líquida (plasma) e outra parte sólida (eritrócitos). Cada uma das partes é formada por várias células do sangue. Saiba quais são!

O sangue, em termos poéticos, é o fluido da vida, e do ponto de vista biológico também! As células do sangue e outras estruturas trabalham na corrente sanguínea para nos manter vivos, pois são responsáveis pelo transporte de inúmeras substâncias e pela participação na defesa imunológica do nosso corpo. Quer saber mais sobre o tecido sanguíneo? Então acompanhe esse post e aqueça o sangue para o Enem!

Características do sangue

O sangue é um tecido conjuntivo especializado e nele são transportados nutrientes, gases da respiração celular (oxigênio e gás carbônico), resíduos do metabolismo celular, hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas e até mesmo células do nosso sistema imunológico.

Quando visualizamos o sangue, o entendemos apenas como um fluido espesso de cor vermelha escura. Contudo, se realizarmos a sua centrifugação em um tubo de ensaio, já podemos observá-lo em duas camadas no tubo. A camada mais ao fundo possui coloração avermelhada e a outra acima é menos densa e de coloração amarelada.

Processo de separação do sangueRepresentação do processo de separação da parte líquida do sangue (plasma), em amarelo claro, da parte sólida (os eritrócitos), em vermelho. Entre essas duas camadas, também está indicada uma camada esbranquiçada (leucócitos e plaquetas). Fonte: Anatomia Humana (MARIEB; WILHELM;  MALLAT, 2014)

A porção vermelha corresponde às células denominadas eritrócitos ou hemácias, que são aquelas responsáveis pelo transporte de oxigênio e gás carbônico.

Já a porção amarela, denominada plasma, corresponde a mais da metade do volume sanguíneo. É composta predominantemente por água (90%), mas também por íons (Na+ e Cl-, por exemplo), gás carbônico na forma de bicarbonato de sódio, hormônios, vitaminas e por três importantes proteínas: albumina, globulina e fibrinogênio.

As albuminas ajudam na retenção de água dentro dos vasos sanguíneos. Já as globulinas podem ser anticorpos ou proteínas que transportam lipídios, ferro e cobre. Por fim, o fibrinogênio participa da coagulação sanguínea.

Há ainda uma porção acinzentada entre o plasma e os eritrócitos, que corresponde a um outro tipo de célula: os leucócitos, que são atuantes no nosso sistema imunológico; e as plaquetas (trombócitos), que são fragmentos celulares atuantes no estancamento de sangue.

Células do sangue - leucócitos, eritrócitos e plaquetasLeucócitos, eritrócitos e plaquetas. Fonte: Anatomia Humana (MARIEB; WILHELM;  MALLAT, 2014)

Elementos figurados ou células do sangue

As células do sangue são também chamadas de elementos figurados. Como vimos, elas são representadas pelos eritrócitos e leucócitos, sendo as plaquetas apenas fragmentos de células.

Contudo, nem mesmo o eritrócito é propriamente uma célula, pois não possui núcleo. Além disso, com exceção de alguns tipos de leucócitos, as células do sangue não possuem capacidade de se dividir e apresentam um ciclo de vida curto.

Eritrócitos, hemácias ou glóbulos vermelhos

Essas são as células mais numerosas do sangue, estando em maior quantidade nos homens que nas mulheres, e são formadas na medula óssea vermelha. Antes de entrarem para corrente sanguínea, os eritrócitos expelem seu núcleo e organelas na medula, assumindo um formato bicôncavo, como você pode observar na imagem a seguir:

Células do sangue - hemáciaRepresentação de uma hemácia com ênfase em sua forma discoide e bicôncava. Fonte: Anatomia Humana (MARIEB; WILHELM;  MALLAT, 2014)

Tal perda de estruturas é bem importante, pois aumenta a área de superfície da hemácia em relação ao seu volume. Isso possibilita maior agilidade na difusão de oxigênio entre os vasos e tecidos do nosso corpo.

Assim, os eritrócitos são os responsáveis por capturar o oxigênio dos alvéolos pulmonares quando estão circulando nos capilares pulmonares. Isso ocorre graças à presença numerosa de uma proteína no interior dessas células, chamada de hemoglobina.

Essa proteína é constituída por quatro polipeptídeos (cadeias longas de aminoácidos) e um átomo de ferro, o qual atrai a molécula de oxigênio. Assim, a sangue tem coloração vermelha por causa da oxidação do ferro presente na hemoglobina. Mas não é só o oxigênio que ela carrega, já que se liga a 20% do gás carbônico absorvido pelo sangue dos tecidos.

Por fim, os eritrócitos terminam o seu ciclo de atividade entre 100 e 120 dias e se decompõem na corrente sanguínea, sendo a célula sanguínea com maior sobrevida.

Leucócitos ou glóbulos brancos

Como as hemácias, os leucócitos também são produzidos na medula óssea. Contudo, não perdem seu núcleo nem organelas. É preciso ressaltar que os leucócitos não ficam restritos à corrente sanguínea, pois seu sítio de atividade é nos tecidos conjuntivos frouxos, onde ocorrem as infecções.

Assim, os leucócitos passam por entre as células da parede dos capilares e atuam na destruição de moléculas e células estranhas ao nosso corpo.

Essas células de defesa podem ser divididas em cinco tipos, que em ordem de maior para menor abundância no sangue são: neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos. Cada tipo é oriundo de uma linhagem diferente que se desenvolve a partir das células tronco hematopoiéticas.

Células do sangue - leucócitosRepresentação dos cinco tipos de leucócitos presentes em nosso sangue. Fonte: Anatomia Humana (MARIEB; WILHELM;  MALLAT, 2014)

Neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos

Os neutrófilos digerem bactérias, pois liberam enzimas que destroem a parede celular bacteriana na matriz extracelular do tecido infectado e a fagocitam. Os eosinófilos destroem parasitas e, por isso, se concentram na parede do tubo digestório. Já os basófilos são o tipo mais raro e atuam em processos alérgicos, liberando histamina, por exemplo.

Os linfócitos, por sua vez, são as células chave do sistema imunológico, pois atuam de forma específica contra um agente infeccioso, também chamado de antígeno.

Essas células se subdividem em dois tipos: os linfócitos T e os linfócitos B. Os linfócitos T destroem diretamente um antígeno. Enquanto isso, os linfócitos B produzem anticorpos capazes de se ligarem ao corpo estranho e, assim, funcionarem como sinalizadores para os macrófagos digerirem-no.

Já os monócitos são células que, ao saírem da corrente sanguínea e chegarem ao tecido conjuntivo infectado, se transformam em células denominadas de macrófagos. Essas células são especialistas em digerir grande quantidade de células e moléculas estranhas ao nosso organismo.

Você lembra da vez, ou das vezes, em que ralou o joelho e logo depois formou um pus antes de criar a casca do machucado? O pus formado foi o resultado da ação de células leucocitárias mortas e fragmentos de bactérias para proteger o seu corpo de infecções mais graves.

Plaquetas ou “trombócitos”

As plaquetas, também chamadas de trombócitos (“células de coagulação”), são fragmentos dos megacariócitos (uma das linhagens das células tronco). Mesmo não sendo células, as plaquetas apresentam grânulos (sacos) secretores de substâncias importantes no processo de estancamento sanguíneo quando ocorre a ruptura de algum vaso.

No local de ruptura do vaso, as plaquetas se prendem ao colágeno já existente nas margens do corte. A partir disso, elas secretam substâncias que sinalizam às outras plaquetas de aderirem ao local, bem como outras que iniciam o processo inflamatório e, sobretudo, também secretam a tromboplastina (substância responsável por dar início ao processo de coagulação).

O coágulo sanguíneo é o conjunto formado por uma rede de fios de fibrina que aprisionam plaquetas, eritrócitos e outras células do sangue a fim de “tampar” a ruptura do vaso. Assim, o sangramento cessa e a entrada de possíveis agentes infecciosos é impedida.

Elementos do coágulo sanguíneoElementos do coágulo sanguíneo. As estruturas em forma de fios são as fibrinas, os discos em vermelho são as hemácias e a estrutura esbranquiçada em forma de meia lua, próxima ao centro da imagem, é uma plaqueta. Fonte: Anatomia Humana (MARIEB; WILHELM;  MALLAT, 2014)

Grupos sanguíneos

Os grupos sanguíneos são os “tipos” de hemácias (ou eritrócitos) que temos em nosso corpo e que foram herdados de nossos pais. Eles podem ser classificados com base nos antígenos analisados. Aqui, falaremos das principais classificações: o sistema ABO e o sistema Rh.

Sistema ABO

Na superfície externa da membrana citoplasmática das hemácias podemos encontrar aglutinogênios (antígenos), que são constituídos por glicoproteínas. Esses antígenos podem ser de dois tipos, com base em pequenas diferenças moleculares entre eles: o antígeno A e o antígeno B.

Assim, se uma pessoa possui hemácias com o antígeno A, seu sangue é considerado do “tipo A”. Ou, se suas hemácias possuem antígeno B, seu sangue é do tipo B. Ainda, ela pode apresentar os dois antígenos, sendo o seu sangue do tipo AB. E se uma pessoa não apresentar qualquer dos dois antígenos? Daí, seu sangue é considerado do tipo O.

Além disso, no plasma sanguíneo podemos encontrar a presença de aglutininas (anticorpos), que podem ser do tipo anti-A ou anti-B. A aglutinina anti-A se liga às glicoproteínas do antígeno A, assim como a aglutinina anti-B no antígeno B, provocando a coagulação do sangue.

Isso quer dizer que, pessoas do tipo sanguíneo A possuem aglutinina anti-B, enquanto pessoas do tipo B possuem aglutinina anti-A. Já o sangue do tipo AB não possui aglutininas. Do contrário poderia haver um entupimento dos vasos ocasionado pela coagulação dessas proteínas ao se ligarem aos antígenos A e B dessas hemácias. Em contrapartida, o sangue do tipo O apresenta as duas aglutininas, anti-A e anti-B.

Sistema ABORepresentação de hemácias com seus respectivos antígenos e anticorpos. No caso do sangue do tipo AB não há anticorpos no plasma, e no caso do tipo O, não há antígenos A ou B. Fonte: mdsaude.com

Representação dos genes dos grupos sanguíneos

E como esses tipos sanguíneos se expressam? Possuímos um gene, representado pela letra ‘I’, que possui três alelos, IA, IB e i, sendo considerado um gene polialélico. Os alelos IA e IB são codominantes entre si e o alelo i é recessivo. Assim, nosso tipo sanguíneo é determinado a partir de seis genótipos possíveis (IAIA, IAi, IBIB, IBi, IAIB ou ii), mas que resultam em quatro fenótipos: tipo A, tipo B, tipo AB ou tipo O.

Sistema Rh

Nessa classificação de grupos sanguíneos, o que se leva em consideração é a presença ou ausência de antígenos Rh, que são um grupo de proteínas de membrana encontradas somente nas hemácias. Os genes responsáveis por sua expressão apresentam um alelo dominante “R” e um alelo recessivo “r”.

Assim, indivíduos que apresentam antígeno Rh tem o tipo sanguíneo Rh +, e os que não o possuem têm o tipo sanguíneo Rh -. No plasma, não há produção natural de anticorpo para o antígeno Rh, o anti-Rh. Mas, caso uma pessoa Rh- receba sangue Rh+, sua produção é induzida.

Transfusões sanguíneas

Agora que sabemos que a presença de antígenos nos eritrócitos provoca a reação de anticorpos e, consequentemente, a coagulação e a destruição de hemácias, a transfusão sanguínea precisa ser realizada de forma cuidadosa, respeitando a tipagem sanguínea do doador e do receptor de sangue.

Transfusão sanguíneaRepresentação em tabela, indicados a compatibilidade entre os tipos sanguíneos no sistema ABO em conjunto com o sistema Rh. Fonte: mdsaude.com

Videoaula sobre tipos sanguíneos

Quer saber mais sobre como funciona o sistema de classificação ABO? Assista à videoaula da profª Juliana:

Transtornos dos eritrócitos

Em seguida veremos alguns transtornos ligados aos eritrócitos. São eles: anemia, doença da célula falciforme e eritroblastose fetal.

Anemia

A anemia é o estado em que os eritrócitos estão em baixas concentrações no sangue ou mesmo com baixa concentração de hemoglobinas, ocasionando pouco transporte de oxigênio para os tecidos.

Ela pode ser provocada por inúmeros fatores, desde uma grande perda de sangue, deficiências em ferro ou em vitamina B12, até disfunções do próprio organismo, como uma falha genética na produção de hemoglobina. Os sintomas típicos são as sensações de cansaço, calafrios e falta de ar.

Doença da célula falciforme

A doença da célula falciforme é uma doença hereditária que provoca má formação da hemoglobina. Quando ocorre a baixa concentração de oxigênio no sangue ou a desidratação das hemácias por um dado evento, como a realização de atividades físicas, as hemoglobinas se cristalizam e deformam as hemácias, que ficam em formato de “foices”, por isso “falciforme”.

Eritroblastose fetal ou doença hemolítica do recém-nascido

No final da gravidez e no parto, uma grande quantidade de sangue do feto e da mãe se misturam. Se a mulher tiver sangue Rh- e seu filho for Rh+, ela passa a produzir anticorpos anti-Rh em resposta a esse antígeno.

Se ocorrer uma segunda gravidez em que o próximo filho também seja Rh+, a memória imunológica da mãe produz anti-Rh em maior quantidade e provoca anemia do feto pela ruptura de suas hemácias (hemólise), podendo causar insuficiência cardíaca e até a morte fetal.

Exercícios sobre células do sangue

Agora, vamos testar um pouco do que você aprendeu sobre as células do sangue? Então responda às seguintes questões de vestibulares e se prepare para o Enem!

1- (ENEM – 2011)

Um paciente deu entrada em um pronto-socorro apresentando os seguintes sintomas: cansaço, dificuldade em respirar e sangramento nasal. O médico solicitou um hemograma ao paciente para definir um diagnóstico. Os resultados estão dispostos na tabela:

Constituinte Número normal Paciente
Glóbulos vermelhos 4,8 milhões/mm³ 4 milhões/mm³
Glóbulos brancos (5 000 – 10 000)/mm³ 9 000/mm³
Plaquetas (250 000 – 400 000)/mm³ 200 000/mm³

Relacionando os sintomas apresentados pelo paciente com os resultados de seu hemograma, constata-se que

a) O sangramento nasal é devido à baixa quantidade de plaquetas, que são responsáveis pela coagulação sanguínea.

b) O cansaço ocorreu em função da quantidade de glóbulos brancos, que são responsáveis pela coagulação sanguínea.

c) A dificuldade respiratória decorreu da baixa quantidade de glóbulos vermelhos, que são responsáveis pela defesa imunológica.

d) O sangramento nasal é decorrente da baixa quantidade de glóbulos brancos, que são responsáveis pelo transporte de gases no sangue.

e) A dificuldade respiratória ocorreu pela quantidade de plaquetas, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio no sangue.

2- (Mackenzie – 2009)

O quadro representa os resultados dos testes de tipagem sanguínea para um homem, para seu pai e para sua mãe. O sinal + indica que houve aglutinação e o sinal – indica ausência de aglutinação.

Tabela de tipagem sanguínea

Assinale a alternativa correta.

a) Esse homem tem anticorpos contra o sangue de sua mãe.

b) O pai desse homem é doador universal.

c) Esse homem apresenta aglutinogênio A em suas hemácias.

d) Esse homem poderia ter um irmão pertencente ao tipo O, Rh -.

e) Esse homem poderia ter tido eritroblastose fetal ao nascer.

3- (UECE – 2018)

Atente ao que se afirma a seguir sobre células do tecido sanguíneo:

I. Neutrófilos são leucócitos agranulosos que têm função de defesa e atuam na fagocitose de micro-organismos invasores e partículas estranhas.

II. Basófilos são leucócitos granulosos relacionados à liberação de heparina e de histamina; também são relacionados a diversos tipos de alergia.

III. Monócitos são células efêmeras na corrente sanguínea, pois migram para tecidos específicos, como por exemplo, baço e pulmões, onde se transformam em macrófagos.

Está correto o que se afirma em

a) I, II e III.

b) II e III apenas.

c) I e III apenas.

d) I e II apenas.

Gabarito

  1. A
  2. E
  3. B
Referências

DULAY, A. T. Eritroblastose fetal. Manual MSD. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/ginecologia-e-obstetr%C3%ADcia/anormalidades-na-gesta%C3%A7%C3%A3o/eritroblastose-fetal>. Acesso em: 29 de set. de 2021.

MARIEB, E.; WILHELM, P.;  MALLAT, J. Sangue. In:______. Anatomia Humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. p. 567-584.

Ministério da Saúde. Imuno-Hematologia Laboratorial. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

PINHEIRO, P. Tipos sanguíneos: Sistema ABO e Fator Rh. MD.Saúde. Disponível em:<https://www.mdsaude.com/hematologia/tipos-sanguineos-sistema-abo/>. Acesso em: 29 de set. de 2021.

Sobre o(a) autor(a):

Mariana Silva Corrêa é graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina. É integrante do Laboratório de Crustáceos e Plâncton (Dep. de Zoologia e Ecologia do Centro de Ciências Biológicas) e também do Programa de Educação Tutorial Biologia (PET Biologia). No PET, atua no projeto de extensão Brotar, sobre Educação Ambiental.

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