Colocação pronominal: como usar próclise, mesóclise e ênclise

Posso arriscar que você já ouvir falar sobre Colocação Pronominal. Além de muitas dúvidas, esse assunto gera piada também. Os pronomes oblíquos átonos têm sua posição no português do Brasil. Vamos dar uma boa olhada.

A colocação pronominal está não só na gramática como na literatura e até mesmo na história do Brasil. Oswald de Andrade, o criador do Manifesto Antropofágico, valorizava muito a forma coloquial do nosso idioma. Isso fez com que a colocação pronominal tivesse um grande papel no modernismo.

Colocação pronominal

Vamos aprender um pouco mais sobre a colocação pronominal e de quebra aprender sobre mesóclise, próclise e ênclise.

O que são pronomes?

Veja abaixo um poema dessa fase que fala justamente sobre pronomes.

Pronominais

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro.

Oswald de Andrade ANDRADE, O. Obras completas, Volumes 6-7. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

O poema brinca justamente com pronome oblíquo átono e sua posição, enfatizando o “público” que o usa dentro dos possíveis contextos. O poema trata, ainda, da questão do modo de como podemos usar a língua falada. O assunto de hoje tem a ver com o poema de Oswald de Andrade: pronome oblíquo átono.

Resumo sobre Colocação Pronominal

Confira agora com a professora Mercedes Bonorino, do canal do Curso Enem Gratuito, as dicas bássicas para você comp-reender toda esta aula de revisão, e não perder pontos em Colocação Pronominal.

Valeu o resumo da professora Mercedes? Confira agora a Colocação Pronominal na Literatura, e veja como alguns políticos fizeram história ao usar a mesóclise em suas falas ou discursos.

A colocação pronominal e o modernismo literário

Quando o Modernismo teve início, por assim dizer, em 1922, o pronome oblíquo átono já era caso de discussão.

Anos depois, quando Jânio Quadros, vigésimo presidente do Brasil, exerceu a função entre 1º de janeiro de 1961 até 25 de agosto do mesmo ano. O pronome oblíquo átono continuava sendo um caso de discussão.

Isso porque o então presidente Jânio Quadros gostava muito de usar palavras difíceis, estruturas pouco comuns para manter aquela moral de pessoa culta, entende? Reza “a lenda dessa paixão” que, quando foi questionado sobre as causas de sua renúncia, lançou a braba, como dizem os jovens hoje em dia: “Fi-lo porque qui-lo”, traduzindo: fiz por que quis!

A repercussão da mesóclise na história brasileira

Ainda falando de presidente e pronomes oblíquos átono durante discursos, temos o presidente Michel Temer que, também por outros motivos, ficou famoso pelo uso de algumas mesóclises por aí. 

Ou seja, quase no fim da segunda década dos anos 2000, o pronome oblíquo átono ainda é caso de discussão.

Veja este vídeo do canal TV Folha, Português em foco: a mesóclise de Temer.

O que é um pronome oblíquo átono

Os pronomes oblíquos são palavras que funcionam como complemento em uma oração. Diferente, por exemplo, do que vemos nos pronomes do caso reto como eu, tu, ele, ela. Esses últimos são palavras que podem exercer o papel de sujeitos ou predicativo do sujeito.

Outra característica importante dos oblíquos é que eles podem ser átonos ou tônicos. Os pronomes oblíquos átonos são aqueles que nunca são precedidos por preposições, como me, te, lhe. Além disso, eles têm acentuação tônica fraca.

Em contrapartida os pronomes oblíquos tônicos são aqueles que vêm sempre precedidos de preposição, como os pronomes mim e comigo.

Outro fator importante é que os pronomes pessoais oblíquos átonos atuam, sintaticamente, como complementos de verbos. Sendo assim, a colocação pronominal é a parte da gramática normativa que determina qual deve ser a posição ocupada pelos pronomes oblíquos em relação aos verbos, a depender do contexto sintático em que ocorrem.

As posições ocupadas pelos pronomes oblíquos átonos

Os pronomes oblíquos átonos podem ocupar três posições diferentes.

São elas:

– Próclise

Quando o pronome oblíquo vem antes do verbo, diz-se que ocorreu uma próclise pronominal. Exemplo: “Me colocaram no fundo da sala”.

– Ênclise

Quando aparece após o verbo, diz-se que ocorreu uma ênclise pronominal. Exemplo: “Ela percebeu-me”.

– Mesóclise

Quando o pronome aparece entre o radical e a desinência das formas verbais do futuro do presente e do futuro do pretérito, então, podemos dizer que ocorreu uma mesóclise.

Exemplo: Inscrever-me-ei para o vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Regras de colocação pronominal

Agora, apresentaremos, a seguir, algumas orientações gerais da gramática normativa acerca a colocação dos pronomes oblíquos átonos. Essas orientações são válidas principalmente, para o uso da modalidade escrita formal, uma vez que no uso coloquial (em contextos de fala e de escrita) a próclise é cada vez mais generalizada e mais comum no português do Brasil.

Ênclise

Segundo a gramática normativa, o pronome obliquo átono deve assumir uma posição enclítica ao verbo em alguns contextos.

  • Verbo iniciando a oração

Faça-me o favor de não chegar atrasado para o ENEM!

  • Verbo no imperativo afirmativo

Veja no anúncio a seguir um exemplo da ênclise com o verbo no imperativo afirmativo.

colocação pronominal

Figura 1: Cartaz de uma exposição do pintor Pablo Picasso. Nele lemos a frase “Dê-me um museu e eu o encherei”, onde o pronome oblíquo átono está em ênclise. Fonte: Google Imagens

  • Verbo no gerúndio

Nossos parentes de Palhoça chegaram ontem, trazendo-nos muitas notícias da família.

  • Verbo no infinitivo impessoal

É importante alertá-los para os riscos do consumo de bebidas alcoólicas.

Convém dar-Ihes o aviso agora mesmo.

Próclise

A gramática normativa recomenda o uso da próclise nos seguintes contextos:

Na presença de palavras atrativas (atratores);

Existem determinadas palavras da língua que são consideradas “atratores” dos pronomes pessoais oblíquos átonos, porque, nos enunciados em que elas ocorrem, esses pronomes devem anteceder o verbo que complementam.

  • Palavras ou locuções de sentido negativo

Ninguém me contou que eles haviam sido expulsos do colégio.

Dinheiro algum nos compra a consciência.

  • Advérbios

Ontem a vi no teatro.

Sempre lhe pedem que conte piadas no intervalo.

Se liga aí: quando há uma pausa (marcada por vírgula, na escrita) entre o advérbio e o pronome, recomenda-se a ênclise. Nesse contexto, para fins de locação pronominal, é como se ocorresse o início de um novo enunciado:

Ontem, vi-a no teatro.

  • Pronomes relativos

Os discos que lhes foram emprestados deverão ser devolvidos em 15 dias.

Conversamos longamente com os alunos, os quais nos pareceram bastante favoráveis com o adiamento do ENEM.

  • Pronomes indefinidos

Alguém me inscreveu?

Todos nos pediram que trouxéssemos álcool em gel.

  • Pronomes demonstrativos neutros

Isso me lembra as paródias do terceirão!

Aquilo nos provocou uma satisfação imensa.

  • Conjunções e locuções subordinativas

Os trabalhadores ficaram frustrados, porque nos esperavam para a reunião e não pudemos comparecer.

Ainda que o admire muito como pessoa, não votarei nele para presidir o conselho.

  • Nos enunciados exortativos, exclamativos e nas perguntas direta

Costuma-se optar pela próclise nos enunciados que traduzem uma exortação, uma exclamação ou uma interrogação direta.

Deus Ihe proteja!

Quanto me é doloroso ver desavisados furar o isolamento social!

Quem nos ajuda a enfeitar o salão para a festa junina?

  • Nas locuções verbais e nos tempos compostos

Nos enunciados em que ocorrem tempos verbais compostos e locuções verbais, a tendência generalizada no português brasileiro é a de colocar o pronome átono depois do verbo auxiliar e antes do verbo principal:

Esta música dos Beatles está me incomodando muito.

O professor de redação tem nos explicado pacientemente os temas propostos antigos dos ENEM.

Mesóclise

A gramática normativa sugere o uso da mesóclise sempre que o verbo estiver no futuro do presente ou no futuro do pretérito e não vier precedido por uma das palavras que atraem os pronomes átonos, vistas anteriormente.

Veja:

Conformar-nos-emos em ser para sempre um país em atraso?

(Mas: Não nos conformaremos em ser para sempre um país em atraso.)

Ajudar-nos-ia muito mais se você limpasse sua própria sujeira.

(Mas: Alguém me faria o favor de me passar o link do Curso Enem Gratuito?)

Sobre o uso da mesóclise, convém lembrar que essa forma de colocação pronominal está em franco desuso, na língua, ficando hoje restrita apenas a alguns contextos formais de uso escrito da linguagem.

Ah! Antes de terminarmos:

Voltando à frase atribuída a Jânio Quadros, segundo a gramática tradicional, o correto seria “FI-LO PORQUE O QUIS”. A conjunção é uma palavra atrativa.

Exercícios sobre colocação pronominal

TEXTO: 1 – Comum à questão: 1

O sertanejo, assoberbado de reveses, dobra-se, afinal. Passa, certo dia, à sua porta, a primeira turma de “retirantes”. Vê-a, assombrado, atravessar o terreiro, miseranda, desaparecendo adiante numa nuvem de poeira, na curva do caminho… No outro dia, outra. E outras. É o sertão que se esvazia.

Não resiste mais. Amatula-se num daqueles bandos, que lá se vão caminho em fora, debruando de ossadas as veredas, e lá se vai ele no êxodo penosíssimo para a costa, para as serras distantes, para quaisquer lugares onde o não mate o elemento primordial da vida.

Atinge-os. Salva-se.

Passam-se meses. Acaba-se o flagelo. Ei-lo de volta. Vence-o saudade do sertão. Remigra. E torna feliz, revigorado, cantando; esquecido de infortúnios, buscando as mesmas horas passageiras da ventura perdidiça e instável, os mesmos dias longos de transes e provações demoradas.

(Euclides da Cunha. Os Sertões)

Questão 01)

Assinale a alternativa que atende à norma-padrão de colocação pronominal.

a) Vai-se o sertanejo no êxodo para a costa, para as serras distantes – esvazia-se o sertão, ainda que a saudade acompanhe o retirante.

b) Quando acaba-se o flagelo, é como se todos os problemas fossem esquecidos, e tudo se reestabelecesse como antes.

c) Por fim, o sertanejo se dobra e, depois de tantos retirantes à sua porta, rapidamente amatula-se em um daqueles bandos.

d) Ainda que o flagelo tenha ameaçado-o, o sertanejo volta ao sertão, movido pela saudade por estar meses longe de sua casa.

e) Se vê, com assombro, a primeira turma de retirantes atravessar o terreiro, e depois outras seguem-se nos dias posteriores.

TEXTO: 2 – Comum à questão: 2

HÁ EMBUTIDA NAS OBRAS de Aristóteles uma ideia medular, que escapou à percepção de quase todos os seus leitores e comentaristas, da Antiguidade até hoje. Mesmo aqueles que a perceberam — e foram apenas dois, que eu saiba, ao longo dos milênios — limitaram-se a anotá-la de passagem, sem lhe atribuir explicitamente uma importância decisiva para a compreensão da filosofia de Aristóteles. No entanto, ela é a chave mesma dessa compreensão, se por compreensão se entende o ato de captar a unidade do pensamento de um homem desde suas próprias intenções e valores, em vez de julgá-lo de fora; ato que implica respeitar cuidadosamente o inexpresso e o subentendido, em vez de sufocá-lo na idolatria do “texto” coisificado, túmulo do pensamento. A essa ideia denomino Teoria dos Quatro Discursos. Pode ser resumida em uma frase: o discurso humano é uma potência única, que se atualiza de quatro maneiras diversas: a poética, a retórica, a dialética e a analítica (lógica).”

CARVALHO, O. de. Aristóteles em nova perspectiva: Introdução à teoria dos quatro discursos. Campinas (SP): Vide editorial, 2013, pp.21-2.

Questão 02)

Sobre a colocação pronominal (próclise, ênclise, mesóclise), a próclise na sentença “sem lhe atribuir explicitamente uma importância decisiva para a compreensão da filosofia de Aristóteles”, está correta. Marque a alternativa em que se dá corretamente a justificativa.

a) A próclise é a regra geral do português.

b) O pronome oblíquo sempre antecede o infinitivo.

c) O advérbio explicitamente posposto ao verbo “atribuir” afasta o pronome “lhe”.

d) O uso proclítico na sentença acima é estilístico apenas.

e) A partícula negativa sem atrai o pronome lhe.

TEXTO: 3 – Comum à questão: 3

Leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953.

Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado…”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo1 e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.

Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular: – Onde vais assim tão elegante?

Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse:

Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão.

De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:

Cantas?

Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo:

É, canto às vezes, de brincadeira…

Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador:

Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de… gramática.

Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:

Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro!

E, a seguir, ponderou:

Agora, piano é diferente. Pianista ela é!

E acrescentou:

Eximinista pianista!

(Para uma menina com uma flor, 2009.)

1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.

2 ressabiado: desconfiado.

3 lide: trabalho penoso, labuta.

4 ramerrão: rotina.

Questão 03)

Observa-se no texto um desvio quanto às normas gramaticais referentes à colocação pronominal em:

a) “Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.” (1º parágrafo)

b) “Seu Afredo […] tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador.” (1º parágrafo)

c) “Tratava-se de um mulato quarentão, ultra respeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal.” (2º parágrafo)

d) “[…] seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular […].” (2º parágrafo)

e) “Seu Afredo virou-se para ela e disse: […].” (4º parágrafo)

GABARITO

1 – A

2 – E

3 – B

Sobre o(a) autor(a):

Anderson Rodrigo da Silva é professor formado em Letras Português pela UNIVALI de Itajaí. Leciona na rede particular de ensino da Grande Florianópolis.

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