O gênero dramático tem um importante personagem: a emoção humana. Alegria e tristeza dividem o palco e servem de estudo a este gênero. Nesta revisão, veremos a importância do teatro para fazer bonito no Enem.
Você já deve ter ouvido – ou até dito – a expressão “Ah, não faça drama” em alguma situação, não é? Geralmente falamos isso quando ouvimos uma história exagerada. Não é sobre esse tipo de drama de que vamos tratar hoje, mas da encenação. O gênero dramático tem a ver com o teatro. É um tipo de texto que é feito para ser representado.
O filósofo clássico Aristóteles, na sua obra chamada Poética, faz uma discussão sobre o drama. A palavra tem origem no idioma grego e significa agir (drân). Aristóteles afirma que o significado da palavra se deve ao fato de as pessoas serem representadas “em ação” no teatro.
Por isso, podemos afirmar que esse gênero literário tem esta característica muito importante: um texto criado para ser representado, dramatizado. Por isso que em um texto dramático a voz narrativa está nas ações das personagens.
Origem do gênero dramático
Há registros de festivais anuais que ocorriam na Grécia Antiga em honra ao deus Dionísio – Baco para os romanos – e era muito comum beber e comer bastante.
Um pouco mais tarde, esses festejos foram mudando até que surgiu a figura do hypokités, o ator protagonista. Téspis, um poeta grego da época, assumiu esse papel, daí nascia a tragédia.
Outras pessoas atuavam como o coro, que neste momento passou a ser a plateia. Antes, o coro tinha a função de cantar hinos que narravam a vida de Dionísio.
Com a presença do protagonista, sentimentos no coro eram provocados – raiva, alegria, medo – e o coro respondia ao protagonista cantando, seja para aprovar ou não seus comportamentos.
Agora, já sabemos como surgiram dois elementos importantíssimos que estão presentes no gênero dramático até hoje: o público e o ator ou atriz para lhe causar as emoções por meio da dramatização.
A tragédia
No começo, tragédia e drama eram praticamente uma coisa só. Tratavam de temas sobre transgressão familiar ou social. Pathos era o elemento que fazia com que os seres humanos agissem de forma irracional.
Pathos e paixão tinham o mesmo significado, era o elemento principal da tragédia. Isso porque os seres humanos se comportavam de forma, por vezes, violenta, ignorando as leis humanas e divinas.
Aristóteles, na obra Poética, afirmou que as paixões humanas eram o que desencadeavam as ações nas tragédias. Os personagens geralmente eram nobres ou heroicos.
Podemos definir, então, que tragédia é uma peça de teatro, onde temos a presença de personagens nobres e que por meio da ação dramática procura levar tensão à plateia.
A comédia
A comédia tem origem muito parecida com a da tragédia: festejos em determinada época do ano. Também eram em honra a Dionísio, mas com uma diferença: as pessoas usavam máscaras.
Esses cortejos eram tinha o nome de komos. Percebeu agora de onde vem o nome comédia? Komoidía: komos; cortejo, procissão e oidé; canto. Iam a pé, cantando e recitado poemas que satirizavam os costumes das pessoas.
Houve um tempo, ainda nessa era da Grécia Antiga, que a comédia foi proibida porque fazia uma crítica política. Com essa informação, podemos fazer um paralelo com a comédia contemporânea, não é mesmo?
Uma diferença entre as duas é que a tragédia trata de temas mais sérios, por assim dizer, apoiados na mitologia. Já a comédia, por sua vez, trata de temas mais cotidianos com personagens que são seres humanos.
Aprender pelo teatro
A importância do teatro na educação de um grego era tanta que Atenas fechava seus comércios durante os festejos. Consegue imaginar o motivo?
O gênero dramático tinha uma função pedagógica muito importante, pois lidava com as emoções. O público assistindo às peças refletia sobre a situações nelas retratadas.
Por isso, falar de teatro, entender sua importância, mesmo atualmente, é muito importante. Alguns vestibulares ainda optam em pôr na lista de leitura uma peça de teatro. Claro que o Enem também já cobrou fragmentos de peças clássicas.
O teatro na Idade Média
Como sabemos, a Igreja Católica tinha forte influência em vários campos da sociedade. As peças de teatro medieval tinham como tema cenas bíblicas e a vida de santos. Duas modalidades do gênero dramático se tornaram muito populares neste período: o auto e a farsa.
O auto era uma peça curta e tinha o objetivo de moralizar. De cunho religioso, as personagens apresentavam características como bondade, virtude, pecado, luxúria, ou seja, conceitos abstratos.
Já a farsa, apesar da estrutura muito parecida, tinha como tema assuntos que serviam para criticar os costumes sociais das pessoas da época.
Gil Vicente: crítica e humor
Um importante dramaturgo do século XVI foi Gil Vicente. Ao menos 44 peças são de sua autoria entre farsas e autos. Suas peças têm o objetivo de moralizar as pessoas.
Mesmo criticando o comportamento mundano de pessoas ligadas à Igreja, não criticavas instituições, pois viveu em uma sociedade em que a Igreja Católica tinha forte influência social.
A estrutura do texto dramático
Como já foi dito aqui, o gênero dramático não tem um narrador. As ações se desenrolam pelas ações dos personagens. O texto é feito em diálogos com a rubrica criada pelo autor.
Oswald de Andrade, importante modernista brasileiro, escreveu em 1933 a peça chamada O Rei da vela, porém só foi publicada em 1937. Leia este fragmento:
1º ATO
Em São Paulo. Escritório de usura de Abelardo & Abelardo. Um retrato da Gioconda. Caixas amontoadas. Um divã futurista. Uma secretária Luís XV. Um castiçal de latão. Um telefone. Sinal de alarma. Um mostruário de velas de todos os tamanhos e de todas as cores. Porta enorme de ferro à direita correndo sobre rodas horizontalmente e deixando ver no interior as grades de uma jaula. O Prontuário, peça de gavetas, com os seguintes rótulos: MALANDROS — IMPONTUAIS — PRONTOS — PROTESTADOS. — Na outra divisão: PENHORAS — LIQUIDAÇÕES — SUICÍDIOS — TANGAS.
Pela ampla janela entra o barulho da manhã na cidade e sai o das máquinas de escrever da antessala.
ABELARDO I, ABELARDO II E CLIENTE.
ABELARDO I (Sentado em conversa com o Cliente. Aperta um botão, ouve-se um forte barulho de campainha.) — Vamos ver…
ABELARDO II (Veste botas e um completo de domador de feras. Usa pastinha e enormes bigodes retorcidos. Monóculo. Um revólver à cinta.) — Pronto Seu Abelardo.
ABELARDO I — Traga o dossier desse homem.
Note que antes das falas temos uma descrição do cenário, que servirá de referência para montar o ambiente. Logo em seguida, temos as falas das personagens com seus nomes no início.
O que está entre parênteses são as ações que o autor deseja que o ator faça durante a fala.
Para terminar, tenho dois convites:
Assista à esta videoaula sobre gênero dramático da professora Camila no nosso canal do YouTube:
Assista também a este fragmento de uma palestra do Ariano Suassuana, dramaturgo brasileiro, autor de O Auto da Compadecida:
Agora que você já sabe tudo sobre o gênero dramático, que tal testar seus conhecimentos com os exercícios que selecionei para você?
1 – (PUC GO/2015)
Palhaço, grande voz
Auto da Compadecida! O julgamento de alguns canalhas, entre os quais um sacristão, um padre e um bispo, para exercício da moralidade.
Toque de clarim.
Palhaço
A intervenção de Nossa Senhora no momento propício, para triunfo da misericórdia. Auto da Compadecida!
Toque de clarim.
A Compadecida
A mulher que vai desempenhar o papel desta excelsa Senhora, declara-se indigna de tão alto mister.
Toque de clarim.
Palhaço
Ao escrever esta peça, onde combate o mundanismo, praga de sua igreja, o autor quis ser representado por um palhaço, para indicar que sabe, mais do que ninguém, que sua alma é um velho catre, cheio de insensatez e de solércia. Ele não tinha o direito de tocar nesse tema, mas ousou fazê-lo, baseado no espírito popular de sua gente, porque acredita que esse povo sofre, é um povo salvo e tem direito a certas intimidades.
Toque de clarim.
Palhaço
Auto da Compadecida! O ator que vai representar Manuel, isto é, Nosso Senhor Jesus Cristo, declara-se também indigno de tão alto papel, mas não vem agora, porque sua aparição constituirá um grande efeito teatral e o público seria privado desse elemento de surpresa.
Toque de clarim.
Palhaço
Auto da Compadecida! Uma história altamente moral e um apelo à misericórdia.
[…]
(SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida.
34. ed., 3a reimpr. São Paulo: Agir, 2006, p. 22-24.)
O Auto da Compadecida retoma elementos do teatro popular, contidos nos autos medievais, e realiza uma pesquisa sobre a tradição oral e as narrativas dos romanceiros e das narrações nordestinas, para destacar o regionalismo e elementos da literatura de cordel com a finalidade de exaltar os humildes e satirizar os poderosos e os religiosos que se preocupam apenas com bens materiais.
A respeito dessa peça teatral de Ariano Suassuna, analise as afirmativas a seguir:
I. O autor está representado pelo Palhaço e incorpora elementos do circo à representação da peça teatral.
II. O Palhaço anuncia o auto e também é o grande comentador das situações.
III. Nas falas do Palhaço predomina discurso indireto, dando a impressão que narra os feitos e as declarações de alguém.
IV. O Palhaço exerce função metalinguística no espetáculo e reflete sobre o próprio mecanismo mágico de produção da imitação. Também elimina a distância entre representação e realidade.
Em relação às proposições analisadas, assinale a única alternativa cujos itens estão todos corretos:
a) I, II e III.
b) I , II e IV.
c) I , III IV.
d) II, III e IV.
2 – (UNIFOR CE/2015)
MULHER: – Que é que vocês estão combinando aí?
JOÃO GRILO: – Estou dizendo que, se é desse jeito, vai ser difícil cumprir o testamento do cachorro, na parte do dinheiro que ele deixou para o padre e para o sacristão.
SACRISTÃO – Que é isso? Que é isso? Cachorro com testamento?
JOÃO GRILO: – Esse era um cachorro inteligente. Antes de morrer, olhava para a torre da igreja toda vez que o sino batia. Nesses últimos tempos, já doente para morrer, botava uns olhos bem compridos para os lados daqui, latindo na maior tristeza. Até que meu patrão entendeu, com a minha patroa, e é claro que ele queria ser abençoado pelo padre e morrer como cristão. Mas nem assim ele sossegou. Foi preciso que o patrão prometesse que vinha encomendar a bênção e que, no caso dele morrer, teria um enterro em latim. Que em troca do enterro acrescentaria no testamento dele dez contos de réis para o padre e três para o sacristão.
SACRISTÃO: – (enxugando uma lágrima) Que animal inteligente! Que sentimento nobre!
(SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 31.ed. Rio de Janeiro: Agir, 1997)
A leitura das peças teatrais de Ariano Suassuna nos faz mergulhar nas nossas origens culturais. Suassuna é um contador de histórias que pratica a intertextualidade na construção de suas narrativas e prepara o leitor para uma moral conforme a filosofia medieval cristã. Especificamente sobre a peça “Auto da Compadecida”
NÃO é correto afirmar que:
a) a peça faz uma sátira aos poderosos e aos religiosos que se preocupam apenas com questões materiais e, ainda, exalta os humildes.
b) o enredo da peça retoma elementos dos autos medievais de Gil Vicente e da literatura de cordel.
c) a peça apresenta texto introdutório que objetiva orientar a encenação e explicar, em linhas gerais, o espírito da obra.
d) o “Auto da Compadecida” traz a figura do anti-herói, uma espécie de personagem folclórica que vive ao sabor das aventuras e do acaso.
e) o “Auto da Compadecida” busca inspiração nos mamulengos, tradicional teatro de bonecos nordestino.
Questão 03 – (UEPG PR/2007)
O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, considerada uma obra-prima do teatro brasileiro, apresenta episó-dios com uma mecânica simples e divertida, que se prestam à sátira social e evocam temas e motivos recorrentes do fabulário popular. Suassuna constrói, assim, uma espécie de “painel” da sociedade rural nordestina. Sobre as peculiaridades dessa obra, assinale o que for correto.
01. A concepção da peça como herança do teatro medieval português tem a intenção de questionar a literatura popular de transmissão oral.
02. João Grilo e Chicó são personagens marcantes do Auto. João Grilo é o amarelinho esperto e Chicó, seu amigo inseparável, é um mentiroso incorrigível.
04. A falsa morte e falsa ressurreição; o dinheiro igualado ao excremento; o cachorro que deixa a herança igualada ao gato que descome dinheiro são episódios que têm a intenção de desvalorizar a cultura popular nordestina.
08. João Grilo e Chicó reproduzem a tradição circense de mostrar dois tipos de palhaços: um esperto e ousado e outro ingênuo e atrapalhado.
16. Alguns personagens não recebem nomes próprios, pois são tipos fixos do imaginário nordestino: é o caso do Frade, do Sacristão, do Bispo e do Cangaceiro.
1- Gab: B
2- Gab: E
3- Gab: 26