A Igreja católica foi a mais poderosa instituição que existiu durante a Idade Medieval. Ela se uniu a reinos de uma forma que chegava a se confundir com o próprio Estado. Acompanhe esta aula de História para conhecer sua trajetória e entender porque a instituição tem tanta influência sobre a sociedade até hoje.
Depois de séculos sendo perseguidos em Roma, os cristãos foram, aos poucos, conquistando espaço e poder. Um importante ponto de virada foi no ano 380, quando o cristianismo foi considerado a religião oficial do Império Romano. Com o tempo, a população dos novos reinos germânicos também se converteu à religião. Nesse cenário, a Igreja Católica na Idade Média se tornou uma das instituições mais importantes e estáveis por séculos.
Crescimento do cristianismo nos reinos germânicos
Para entender como a Igreja Católica se tornou tão importante na Idade Média, precisamos relembrar da transição do Império Romano para os reinos germânicos. Naquele contexto, conforme o Império decaía, a Igreja ganhava força. Isso porque a população, desiludida com um império decadente, buscava na religião uma forma de conforto.
Apesar de terem ocorrido inúmeras mudanças na fusão da cultura romana com a germânica, as elites cristãs do império mantiveram suas posições. Somaram-se a elas os chefes bárbaros, que recebiam terras e escravos em negociações com os romanos.
As diferenças entre as elites dos dois grupos foram diminuindo e casamentos uniram as linhagens. Essa fusão teve sucesso principalmente entre os francos, onde o cristianismo encontrou um terreno fértil para se desenvolver.
Dos séculos V a VII, os bispos receberam investimentos dessa elite, principalmente nos territórios que hoje pertencem à França e à Espanha. Eles se tornam as principais autoridades urbanas, concentrando poderes políticos e religiosos. Os bispos da Igreja Católica na Idade Média atuavam como juízes, conciliadores e protetores da cidade.
Foi nessa época, inclusive, que surgiram os santos, que dariam uma ajuda divina aos bispos. Aos poucos, a Europa começou a venerar os santos, intermediários na comunicação com Deus e garantia de proteção celeste. Cada diocese tinha o seu padroeiro, um patrono que intercedia pela população devido às homenagens prestadas a ele. Por tudo isso, a Igreja foi se tornando cada vez mais presente na estrutura da sociedade da Europa Ocidental.
Além do poder espiritual, a Igreja Católica também foi acumulando bens materiais durante a Idade Média. Enquanto as terras de nobres eram divididas entres seus herdeiros depois de suas mortes, a Igreja não tinha suas propriedades divididas. Isso porque os bens não pertenciam aos bispos, mas sim à instituição.
A Igreja Católica e os francos
Vendo o aumento da força da Igreja, o rei dos francos, Clóvis, converteu-se ao catolicismo em 496. Assim, conseguiu apoio da população e do bispado em seus empreendimentos militares. A aliança dos francos com a Igreja possibilitou que o reino se tornasse o mais influente da Europa Ocidental, e consolidou ainda mais o poder do catolicismo.
Nos séculos seguintes, o Reino Franco foi expandindo seu território e difundindo a fé cristã entre os povos conquistados. Além disso, os governantes doavam parte das terras conquistadas para a Igreja. Os carolíngios (como ficaram conhecidos os francos com o governo de Pepino, o Breve) eram vistos como os grandes defensores da cristandade romana.
No ano 800, quem governava o reino era Carlos Magno. Ele foi o responsável por uma fase de enorme expansão do Reino Franco e de conversão de povos ao cristianismo. Foi a formação do Império Carolíngio. Para a Igreja, era interessante estar associada ao grande império que havia se formado, pois além do aumento no número de fiéis, poderia aproveitar-se da estrutura do reino em seu benefício.
Como agradecimento, na noite de Natal do ano 800, o papa Leão III coroou Carlos Magno como imperador dos romanos. Essa era uma tentativa de reestabelecer o antigo Império Romano do Ocidente e transformar o rei em um representante de Deus na Terra. De fato, foi a primeira vez desde a queda dos romanos que houve uma unidade política tão grande na Europa.
Não lembra muito bem quem eram os francos? Então confere a aula do prof. Felipe que ele explica direitinho!
A organização da Igreja Católica na Idade Média
Na organização da Igreja medieval existia uma divisão territorial formada por províncias e dioceses. Cada uma delas era comandada por um arcebispo ou bispo, e as mais importantes possuíam patriarcas. A partir do século V é que o patriarca de Roma começou a ser chamado de papa. Ele ocupava o lugar mais alto na hierarquia eclesiástica, pois era considerado o sucessor de São Pedro. Esse foi o apóstolo a quem Cristo teria dado a missão de edificar a religião na Terra.
Esses cargos formavam o alto clero e seus membros eram provenientes da nobreza. Geralmente, possuíam grandes extensões de terra e cuidavam da administração dos reinos e dos feudos. Abaixo deles estavam diáconos e padres, que deveriam prestar assistência à comunidade. Muitos deles viviam em áreas rurais e não desfrutavam do poder e prestígio do alto clero. Alguns chegavam até a passar por situações de miséria.
Também é importante lembrarmos da importância que tiveram os mosteiros. Eles se multiplicaram a partir do século VI, e por volta do ano 700 já existiam cerca de 320 mosteiros na Gália (região da atual França).
Eles eram locais de preservação da cultura, retórica e gramática latinas e difusão da literatura cristã. Construídos em áreas rurais, eram a representação da Igreja Católica no campo. Entrar em um mosteiro não significava apenas a adesão ao catolicismo, mas a escolha de uma vida dedicada aos serviços para a fé cristã.
Influências mundanas e mudanças na Igreja
No final do século X, a Igreja Católica enfrentava crises que ameaçavam sua autoridade e estrutura. Apesar de cumprir um papel espiritual, a Igreja estava inserida no contexto da sociedade feudal e vários de seus membros eram provenientes da nobreza. A religião não era algo que existia fora da sociedade (e jamais irá existir). Por isso, vários membros do clero continuaram com hábitos e comportamentos valorizados pela aristocracia, mesmo que fossem condenados pela Igreja.
As influências do mundo mundano tornaram os clérigos vulneráveis à corrupção. Muitos deles eram casados ou tinham amantes e se aproveitavam dos bens da Igreja em benefício próprio. Também houve casos de cargos religiosos sendo vendidos a nobres. Muitos deles não tinham conhecimento algum sobre as funções que deveriam cumprir.
Por isso, foi realizada uma grande reforma na instituição. As primeiras medidas surgiram em mosteiros, principalmente com as ordens de Cluny e Cister. Eles foram fundados entre o fim do século X e início do XI na região leste da França. Apesar de os cluniacenses cultivarem vidas luxuosas e os monges de Cister defenderem a vida humilde, ambos trouxeram uma nova dinâmica para o clero.
Eles pregavam que os clérigos deveriam se dedicar com mais afinco às atividades espirituais. Padres e bispos deveriam cultivar o hábito do estudo de textos religiosos, a prática da oração e se afastarem de coisas mundanas. Essas medidas conseguiram reestabelecer parte da integridade da Igreja e da confiança dos fiéis. Isso também fez a Igreja ter autonomia o suficiente para enfrentar outro problema: a questão das investiduras.
A questão das investiduras
Durante o século X, após a fragmentação do Império Carolíngio, o reino da Germânia conquistou grande parte do território da Europa Ocidental. Assim foi formado o Sacro Império Romano-Germânico, e o imperador Oto I se tornou o soberano mais poderoso do Ocidente. Para a segurança da Igreja, era importante que ela se associasse ao novo império. Por isso, o papa coroou Oto como imperador do Ocidente em 962.
A partir desse momento, a pessoa responsável por nomear bispos e abades era o imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Esse ato se chama investidura. Com isso, os clérigos se tornavam funcionários do Estado e o imperador conseguia dominar a Igreja. Não era uma situação que agradava o clero, mas somente com as reformas dos mosteiros é que a Igreja teve autonomia para requisitar o poder das investiduras de volta.
Disputas entre o papa e o imperador
Em 1059, o papa Nicolau II convocou o concílio de Latrão, que determinou que seria proibido que o imperador fizesse nomeações sem autorização do papa. Além disso, foi nessa ocasião que o celibato dos padres foi confirmado. Mais tarde, em 1075, o papa Gregório VII publicou uma bula que determinava que o pontífice teria poder de derrubar o imperador. Também dava o direito de o papa excomungar qualquer pessoa que desobedecesse às leis da Igreja.
O então imperador do Sacro Império, Henrique IV, tentou depor o papa como resposta às suas medidas autoritárias. No entanto, ele foi excomungado e perdeu o apoio de nobres que ficaram com medo de receberem a mesma punição. Henrique ficou encurralado e teve que pedir perdão a Gregório. Dessa forma, a autoridade do papa se impôs como superior aos monarcas europeus.
Os sucessores de Gregório sentiram que tinham tanto poder que poderiam até reconquistar Jerusalém, que estava sob domínio muçulmano. Além disso, queriam recuperar o controle da Igreja Bizantina, que havia se separado em 1054 no que ficou conhecido como Cisma do Oriente. Foi assim que iniciaram as cruzadas. A Igreja Católica medieval estava mais forte do que nunca.
Inquisição
O enorme poder da Igreja Católica nesse contexto permitiu que o clero tomasse medidas extremamente autoritárias. Nessa época, se alguém levantasse dúvidas sobre os dogmas católicos, era considerado herege. Qualquer um que cometesse heresia ou não agisse contra ela, era fortemente reprimido. Nem mesmo autoridades escapavam das reprimendas e castigos da Igreja.
No século XIII, uma medida tornou a perseguição ainda mais opressiva: a criação do Tribunal do Santo Ofício, também conhecido como Inquisição. As pessoas passaram a ser aterrorizadas pela ideia de serem alvos da Inquisição, pois as acusações, na maioria das vezes, eram totalmente infundadas.
Bastava que alguém tivesse alguma prática não reconhecida como cristã para ser acusado de heresia ou bruxaria. As mulheres taxadas como bruxas não faziam nada além de utilizar ervas, chás ou outras substâncias como remédio.
Qualquer questionamento sobre alguma explicação de mundo dada pela Igreja também era considerado pecado. É por isso que houve tanta perseguição aos cientistas na época do Renascimento. Além disso, judeus e muçulmanos também eram condenados pelo Santo Ofício.
Se fossem a julgamento, as pessoas poderiam ser submetidas à tortura para que confessassem pecados que, muitas vezes, nem haviam cometido. Se fossem consideradas culpadas, poderiam ser condenados à fogueira ou outras formas extremamente cruéis de morte.
Apesar de muitas vezes a Inquisição ser associada diretamente à Idade Medieval, ela continuou funcionando intensivamente na Idade Moderna. A perseguição executada pela Inquisição só teve fim no início do século XIX.
Exercícios sobre a Igreja Católica na Idade Média
1 – (ENEM/2015)
TEXTO I
Não é possível passar das trevas da ignorância para a luz da ciência a não ser lendo, com um amor sempre mais vivo, as obras dos Antigos. Ladrem os cães, grunhem os porcos! Nem por isso deixarei de ser um seguidor dos Antigos. Para eles irão todos os meus cuidados e, todos os dias, a aurora me encontrará entregue ao seu estudo.
BLOIS, P. Apud PEDRERO SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média:
texto e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000.
TEXTO II
A nossa geração tem arraigado o defeito de recusar admitir tudo o que parece vir dos modernos. Por isso, quando descubro uma ideia pessoal e quero torná-la pública, atribuo-a a outrem e declaro: — Foi fulano de tal que o disse, não sou eu. E para que acreditem totalmente nas minhas opiniões, digo: — O inventor foi fulano de tal, não sou eu.
BATH, A. Apud PEDRERO SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média:
texto e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000.
Nos textos são apresentados pontos de vista distintos sobre as mudanças culturais ocorridas no século XII no Ocidente. Comparando os textos, os autores discutem o(a)
a) produção do conhecimento face à manutenção dos argumentos de autoridade da Igreja.
b) caráter dinâmico do pensamento laico frente à estagnação dos estudos religiosos.
c) surgimento do pensamento científico em oposição à tradição teológica cristã.
d) desenvolvimento do racionalismo crítico ao opor fé e razão.
e) construção de um saber teológico científico.
2 – (UFRR/2016)
O Estado Islâmico destrói estátuas milenares de civilizações passadas, cristãos protestantes brasileiros atiram pedras em adeptos de candomblé e umbanda, cristãos coptas são assassinados no norte da África, Judeus impedem com violência a cidadania de muçulmanos no Oriente Médio e, ao mesmo tempo, sofrem preconceito em outros cantos do mundo inteiro. São apenas alguns exemplos do avanço da intolerância religiosa.
Pires, Yuri. “Nós, idade média e tolerância religiosa.” 05/03/2015.
Disponível em http://www.ideafixa.com/nos-idade-media-e-tolerancia-religiosa. – ADAPTADO.
São comuns, na atualidade, associações entre os eventos de intolerância religiosa e uma suposta “mentalidade medieval”. Em se tratando de religião na chamada Idade Média, assinale o que for INCORRETO.
a) Parte da associação entre intolerância religiosa e Idade Média provém do surgimento, naquele período, dos Tribunais da Inquisição Católica para investigar e punir possíveis atitudes heréticas na Europa Ocidental.
b) Com dez séculos de duração, a Idade Média foi o período em que ocorreu a expansão e consolidação do poder da Igreja Católica na Europa Ocidental, o surgimento da Igreja Ortodoxa no Império Bizantino e o avanço do Islão pelo norte da África.
c) A perseguição de cristãos estendeu-se na Europa até o século X, quando o imperador Constantino finalmente proibiu o sacrifício de cristãos no Império Romano.
d) Fundada no século VII pelo profeta Maomé, a religião islâmica tem como livro sagrado o Alcorão e prega, entre outras coisas, a fidelidade de adoração aAlahe a prática da caridade.
e) Após a queda do Império Romano, diversos povos bárbaros converteram-se ao cristianismo, influenciando no fortalecimento da Igreja Católica na Europa.
3 – (UNITAU SP/2016)
“Carlos Magno, o primeiro europeu?
Nos séculos VIII e IX, a dinastia franca dos carolíngios reúne a maior parte da Cristandade sob seu único domínio: a Gália, a Germânia e a Itália. Será por longo tempo, mesmo depois de sua separação, o coração da Europa. O Império Carolíngio foi um fracasso, mas deixou uma herança muito importante para a Europa”.
LE GOFF, Jacques. Uma breve história da Europa. 4 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2007, p. 62.
No texto acima, Le Goff associa a formação da Europa à dinastia carolíngia,
a) devido a sua relação com a religião católica e a unificação entre germânicos e cristãos que passaram a conviver pacificamente no território em que hoje é a Europa.
b) devido a sua liderança política na formação do Império, o que permitiu conter as invasões dos povos não latinos, também chamados de bárbaros, que permaneciam pagãos.
c) devido a seu elo com as origens e os costumes germânicos, que deram origem à Europa e consolidaram o território europeu.
d) porque Carlos Magno foi um rei que conciliou as demandas de seus súditos e doou o patrimônio de São Pedro.
e) devido a sua relação com a religião cristã, à medida que sua conversão e a subsequente expansão do Império possibilitaram a unificação dos cristãos.
1- Gab: A
2- Gab: C
3- Gab: E