Quem foram os povos bárbaros germânicos: história Enem

O termo “bárbaros” seria uma designação justa para denominar aqueles que viviam de forma distinta dos antigos gregos e romanos?  Entenda o significado desta expressão carregada de etnocentrismo com esta aula de História!

A história das civilizações grega e romana produziu o que os historiadores chamam de antiguidade clássica. Clássica porque no decorrer da história ocidental essas civilizações influenciaram profundamente a Europa medieval e moderna.

Quando Carlos Magno disse que os homens de seu tempo eram anões nos ombros de gigantes, estava querendo afirmar que eles deviam a sua compreensão de mundo aqueles que vieram muito antes deles. Porém, a história não é feita de povos e culturas homogêneas e fechadas em si.

Apesar dos gregos e, principalmente, dos romanos construírem sua própria identidade na diferenciação dos outros, o sincretismo cultural (mistura de culturas) foi inevitável. Então, quem eram os povos bárbaros?

Introdução aos povos germânicos

Confira agora com o professor Felipe de Oliveira, do canal do Curso Enem Gratuito, uma introdução sobre os povos germânicos. Ajuda geral para você entender a origem dos povos bárbaros.

A origem da expressão “povos bárbaros”

A ideia do termo “povos bárbaros” é anterior ao Império Romano. Os gregos utilizavam esse conceito para designar aqueles que tinham uma cultura (modo de vida e visão de mundo) distinta da sua.

Essa noção, assim como muitos outros aspectos da cultura grega, foi assimilada pelos romanos. Estes, principalmente após a expansão de seus domínios durante o período da República (VI a.C. até I a.C.), defendiam que sua capital era o centro do mundo e que sua cultura era superior à de outros povos, já que não encontravam limites para suas conquistas.

Essa é uma visão profundamente etnocêntrica de mundo (etno = povo e cêntrica = centro). Uma noção de seu tempo e superada para o nosso contexto histórico, já que sabemos que não há nenhum povo que manteve sua cultura sem influências e miscigenação.

Hoje sabemos também que os ditos “povos bárbaros” também tinham suas instituições, valores morais e organização social (apenas eram distintos da cultura romana). Além disso, os romanos também ficaram conhecidos pela violência praticada aos outros povos.

átila e os povos barbaros
Figura 1: Detalhe do quadro “Átila e seu exército na Itália”, de Eugene Delacroix. Imagem retirada de: https://seuhistory.com/microsite/a-rebeliao-dos-barbaros/news/8-lideres-barbaros-famosos Marcadores: Hunos, Bárbaros, Germânicos

Apesar disso, os romanos entendiam-se como um povo civilizado pela sua potência militar, por terem instituições fortes e formarem uma sociedade organizada na sua complexidade.

Todos os outros povos que não falavam latim, vestiam peles, usavam barbas e cabelos compridos, não construíam suas casas em vilas pavimentadas, cultuavam entidades da natureza e baseavam suas leis em tradições tribais, eram considerados “bárbaros” e “selvagens”.

Neste grupo destacam-se principalmente os povos ao norte, que por muito tempo ficaram separados dos romanos pelos rios Reno e Danúbio, e ao oriente do continente europeu, de onde vinham povos das estepes asiáticas, como foi o caso dos hunos.

Quem eram os povos bárbaros

Diversos eram os povos que cercavam o império romano e disputavam os territórios em suas fronteiras. Alguns deles eram os Suevos, os Vândalos, os Hunos, os Lombardos, os Francos, os Anglo Saxões, os Vikings, os Godos (que foram divididos pelos intelectuais em Visigodos, que ocuparam a península Ibérica, e ostrogodos, que ocuparam a Europa central e a península itálica) entre outros tantos.

Os termos “bárbaro” e “vândalo” nos remetem a uma noção de violência. Ideia esta que nos foi herdada dos romanos pela diferenciação que faziam destes povos. Estes segundos, por exemplo, ficaram conhecidos por arrasarem os povos por eles conquistados.

Uma cena icônica do cinema que representa bem esta diferenciação cultural concebida pelos romanos está no filme “Gladiador”, dirigido por Ridley Scott em 2000. Quando o general Maximus, personagem interpretado por Russel Crowe, está visitando os limites do império e vê um bárbaro lançando a cabeça decepada de um soldado romano em sua direção.

A própria noção de bárbaro servia para que os soldados evitassem nutrir algum sentimento de solidariedade em relação aos seus inimigos, não tendo piedade durante os confrontos. Tácito, historiador romano, descreveu os povos do norte, no livro Germânia, da seguinte forma:

Para tratar de negócios, ou quase sempre para o prazer dos banquetes, vão armados. Passar o dia e a noite em beberagens não se considera ato vexatório. As rixas, inevitáveis entre eles e poucas vezes ficam no terreno das injúrias: terminam comumente em ferimentos ou morte”.

Trecho retirado do livro Germânia

Alianças entre bárbaros e romanos

Apesar de todo esse distanciamento, as barreiras que separavam os romanos e os ditos povos bárbaros não eram impermeáveis. Além das disputas por territórios, houve também tratados de paz e negociações entre as partes.

Principalmente quando o império começou a se enfraquecer pela crise econômica e escassez de escravizados. Veja no resumo como se deram as relações dos povos bárbaros com o Império Romano:

Como forma de evitar maiores perdas, diversas alianças foram estabelecidas, permitindo a entrada destas populações no império. Os próprios imperadores chegaram a ter guarda-costas germânicos, demonstrando a proximidade das relações entre os diferentes povos.

Essa gradativa aproximação foi crucial para formar o cenário medieval na Europa: são heranças da realeza germânica os cabelos e barbas compridas, a liderança militar, os laços de suserania e vassalagem, o escambo e a ligação com a terra e a importância da agricultura.

Essas heranças culturais dos povos bárbaros serão posteriormente características centrais no feudalismo.

Com o tempo essa miscigenação foi se aprofundando cada vez mais. Para consolidarem seu poder, os reis germânicos precisaram estabelecer alianças com a Igreja e os bispados que restaram do antigo império, da mesma forma que estes tinham interesse em preservar a religião cristã.

Exemplos disso foi o batizado e conversão ao cristianismo de Clóvis I, rei dos francos, e posteriormente, a coroação de Carlos Magno como Imperador do Sacro Império Romano Germânico pelo papa Leão 3º no natal do ano 800.

carlos magno
Figura 2: Carlos Magno, imagem retirada de: https://mybrainsociety.blogspot.com/2017/12/carlos-magno.html Marcadores: Idade Média, Francos, Germânicos

Na península Ibérica, onde estão localizam-se Portugal e Espanha, os visigodos conquistaram terras, formaram reinos e lá se estabeleceram. Eles assimilaram muitas características do império romano, como o direito e o cristianismo. Na expansão do Império Árabe perderam territórios para os muçulmanos, que só foram recuperados na guerra de Reconquista.

Representação cultural dos povos bárbaros na atualidade

Para além das transformações no cenário e comportamentos da idade média, os ditos “povos bárbaros” exerceram sua influência nos vocabulários de diversas línguas (inclusive o português) e servem de inspiração para diversas produções culturais e artísticas de nosso tempo.

Pode-se identificar características destes povos em produções cinematográficas e televisivas, como nas séries Vikings e Game of Thrones. Os personagens gauleses, Asterix e Obelix, que viviam cercados pelos romanos nas histórias em quadrinhos de Albert Uderzo e René Goscinny, também são exemplos destas inspirações.

Asterix e Obelix
Figura 3: Asterix e Obelix. Imagem retirada de: https://br.pinterest.com/solidaoelivros/asterix-obelix/?lp=true Marcadores: Povos Bárbaros, Gauleses, Germânicos.

Exercícios sobre os povos bárbaros

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