Mulheres no Iluminismo: conheça as principais autoras

Algumas mulheres, como Olympe de Gouges e Constance de Salm conseguiram lutar contra o machismo e escreveram obras durante o Iluminismo. Conheça essas autoras e mais nessa aula.

Qual o lugar das mulheres na luta pelos princípios iluministas de liberdade e igualdade? Elas fizeram parte desta corrente de pensamento e foram contempladas nas Constituições modernas? Descubra isso e muito mais nessa aula sobre as mulheres no Iluminismo.

Contexto das mulheres no Iluminismo

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. A frase de Simone de Beauvoir, escrita no segundo volume do seu livro “O segundo sexo”, que já foi tema de questão no Enem de 2015, sintetiza uma reflexão profunda: viemos ao mundo como seres humanos. Mas são a cultura e a sociedade, e não a natureza, que produzem as mulheres.

Beauvoir é uma autora do século XX, portanto, posterior à construção do pensamento iluminista. Todavia, sua frase traz uma importante lição para nós que desejamos conhecer um pouco mais da história das mulheres no Iluminismo (e na sociedade em si).

Elas são seres humanos cuja compreensão de si e do mundo, assim como os homens, é afetada por uma estrutura secular denominada patriarcado.

Diferença entre gênero e sexo

Posteriormente outras autoras como Judith Butler, Michelle Perrot e Joan Scott vieram contribuir ainda mais para os estudos de gênero.

Primeiramente, façamos uma importante distinção: o termo sexo diz respeito às determinações e diferenças sexuais e, por tanto, biológicas dos corpos. Enquanto o gênero diz respeito às determinações comportamentais e simbólicas impostas pela sociedade e cultura.

retrato de simone de beauvoir
retrato em preto e branco de Simone de Beauvoir

Desta forma, em cada período histórico esperava-se que homens e mulheres se comportassem de maneiras distintas e específicas.

Isso nem sempre ocorria, pois o gênero também é um instrumento de poder e nem sempre os sujeitos históricos curvam-se diante de imposições como esta o tempo todo.

Entender estes conceitos é necessário para compreender como as mulheres não foram passíveis durante toda a história e puderam, entre outras coisas, produzir conhecimento em períodos amplamente adversos à sua liberdade.

A condição da mulher ocidental na modernidade

Na antiguidade ocidental, o papel atribuído à maioria das mulheres nas diferentes sociedades foi o de reprodutoras e cuidadoras do lar.

Isto não impediu que elas exercessem cargos políticos, se tornassem intelectuais e guerreassem, mas tornou muito mais difícil que estas situações ocorressem. Por este motivo não costumamos ver muitos nomes de mulheres no Iluminismo e muitos outros assuntos na internet.

Entre algumas expoentes da filosofia antiga podemos citar Diotima, Safos de Lesbos e Hipatia de Alexandria. Infelizmente, devido a pouca valorização que tinham nos espaços predominantemente masculinos, ainda sabemos muito pouco sobre elas.

Intelectuais de renome, como Aristóteles, afirmavam que as mulheres eram passivas e inferiores aos homens. O constante reforço de tal perspectiva justificou por séculos a tutela das mulheres, o que foi a regra até o século XX, quando o movimento feminista organizado passou a conquistar mais direitos.

Infelizmente, ainda hoje, muitas mulheres precisam se esforçar muito mais do que os homens para fazer valer sua autoridade em muitos assuntos.

As mulheres no Iluminismo

Agora veremos um pouco mais sobre algumas expoentes mulheres no Iluminismo. É importante informar que aqui estamos tratando de mulheres brancas, europeias e, em sua maioria, pertencentes a classes mais abastadas dos séculos XVII e XVIII.

Hoje reconhecemos a importância de se interseccionar (entrecruzar) os estudos de gênero com dimensões étnico-raciais e de classe, o que torna este campo de estudo ainda mais especializado e complexo.

Olympe de Gouges (1748-1793)

Nascida na França, Olympe de Gouges foi uma escritora, dramaturga e política que pode presenciar os primeiros anos da Revolução Francesa. Ela, assim como praticamente todos os intelectuais daquele contexto, estavam amplamente envolvidos no debate iluminista. No caso de Olympe de Gouges, a questão da igualdade se sobressaiu.

Ao ser publicada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento que reúne a defesa dos principais ideais iluministas, de Gouges questiona a falta de representação das mulheres.

Em resposta, ela tratou de escrever uma versão própria da declaração, substituindo todas as ocorrências do termo “homem” por “mulher”. Por fim, Olympe de Gouges foi acusada de tomar uma atitude contrarrevolucionária e acabou sendo condenada à morte em 1793.

mulheres no Iluminismo: Olympe de Gouges
Retrato pintado de Olympe de Gouges.

Mary Wollstonecraft (1759-1797)

Britânica, nascida em Londres, foi uma reconhecida escritora que atuou na luta pelo ideal de igualdade entre homens e mulheres. Ela criticava a educação e a tradição como limitadoras da inteligência das mulheres afirmando que estas poderiam refletir e contribuir sobre qualquer assunto.

Nesse sentido, também criticava a ideia de tutela pelos homens, defendendo a plena capacidade das mulheres de tomarem seus próprios rumos. Tais argumentos foram expostos em sua obra A Vindication of the Rights of Woman, publicada em 1792. Como retaliação a sua “ousadia”, sofreu com difamações.

Constance de Salm (Pipelet, 1767-1845)

Constance de Salm (também conhecida com o sobrenome Pipelet de Leury, de seu primeiro casamento com Jean-Baptiste Pipelet de Leury) foi também uma escritora francesa, tendo se destacado na poesia e na dramaturgia.

Ela se divorciou do seu primeiro marido, um direito que havia sido conquistado nos primeiros anos da Revolução Francesa. Assim como muitas outras mulheres, foi influenciada por Wollstonecraft, mas não ousou advogar por direitos políticos como o sufrágio feminino.

Contudo, em seus escritos, ela crítica a postura iluminista por negligenciar as mulheres no Iluminismo e os direitos das mulheres à educação e ao reconhecimento público. Ela acreditava que os homens pensavam que ao fazer isso ampliariam seus poderes.

Retrato de Constace Pipelet
Retrato de Constace Pipelet

Muitas outras mulheres escreveram e contestaram o fato do processo revolucionário coloca-las para escanteio no reconhecimento por maior autonomia.

Conclusões

A verdade é que os ideais iluministas tiveram contribuições importantes por muito tempo após a Revolução Francesa, sendo utilizados em campanhas abolicionistas, nas independências da América e na luta pela tolerância religiosa, além da própria causa feminista.

Contudo, é importante lembrar que tais discussões políticas acabavam sendo restritas às mulheres letradas e que já circulavam em ambientes intelectuais. As mulheres mais pobres também participaram efetivamente dos processos revolucionários, mas passavam distantes dos debates teóricos.

Para saber um pouco mais sobre as mulheres no Iluminismo, veja esta videoaula do canal Historiar-se:

Questões para praticar:

Questão 01 – (UDESC SC)

Assim como muitos movimentos sociais, o movimento feminista caracteriza-se, historicamente, pela diversidade de pautas e de sujeitos. Por outro lado, é possível afirmar a existência de objetivos que foram bastante significativos para a consolidação deste movimento, em âmbito abrangente.

Sobre o movimento feminista, é correto afirmar:

a) No Brasil, durante o período republicano, o movimento feminista era formado exclusivamente por mulheres da classe trabalhadora.

b) O movimento feminista institucionalizou-se em 1789, com a eclosão da Revolução Francesa, e foi fundado por Olympe de Gouges.

c) O direito ao sufrágio foi uma reivindicação presente em diferentes países entre o século XIX e a primeira metade do século XX.

d) O movimento feminista declarou o fim de sua estruturação institucional em 2016, com a inclusão das discussões a respeito de gênero e de sexualidade em todos os planos estaduais e municipais de educação, no Brasil.

e) Na contemporaneidade, o movimento feminista reconhece-se como desnecessário por acreditar que homens e mulheres vivem em regime de plena e absoluta igualdade.

Gab: C

Questão 02 – (Fac. Direito de São Bernardo do Campo SP)

Muitos vasos estão decorados com cenas relativas às cerimônias do casamento. No entanto, estas cenas são variadas e diferem entre si; certos elementos repetem-se de umas imagens para outras, mas parece não existir uma iconografia canônica do casamento (…) as informações textuais que possuímos, elas próprias incompletas, subjetivas e por vezes incertas, deixam entrever um cerimonial que se decompõe em diversos momentos. O casamento assenta num acordo formal, engye, entre o noivo e o pai da noiva, acordo em que está associada a entrega de um dote por parte desse último. A jovem parece não ter direito a dizer uma palavra de consentimento nesse acordo celebrado entre sogro e genro. É a transferência propriamente dita da noiva que constitui a realização do casamento, na qual se efetiva a união, gamos, do casal. Por meio dessa transferência a noiva muda de casa, oikos, e também de senhor, kyrios

(Duby, Georges e Perrot, Michelle

– História das Mulheres no Ocidente

– Vol. 1: A Antiguidade, sob a direção de Pantel, Pauline Schmitt – Porto: Edições Afrontamento, p.206)

A partir do texto, referente ao cotidiano das mulheres na Grécia Antiga, podemos afirmar que:

a) As mulheres da Antiguidade foram muito mais livres do que se pode imaginar, pois, mesmo que em estado de submissão aos homens, decidiam sobre a vida política das cidades-estados.

b) Na sociedade grega o casamento seguia ritos estritos, num cerimonial regido por religiosos que organizavam a mesma simbologia em todos os momentos de matrimônio.

c) As mulheres helênicas estavam inseridas em uma sociedade patriarcal que, por mais que pudesse tratá-las por vezes com alguma deferência, as submetia ao controle do poder masculino.

d) A liberdade que as mulheres gregas, em especial as atenienses, conquistaram ao longo da História, foi notável. Em Atenas elas podiam participar dos jogos, ir ao teatro, votar e participar das decisões políticas.

Gab: C

Questão 03 – (ENEM)

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a)

a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual.

b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.

c) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero.

d) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos.

e) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.

Gab: C

Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

Compartilhe: