círio de nazaré

O que é Círio de Nazaré e como saber sobre isso te ajuda no Enem?

Descubra como o Círio de Nazaré une fé, cultura e identidade amazônica e veja por que esse patrimônio imaterial é tema certeiro no Enem.


Se tem um evento que é a cara do Brasil e que vive aparecendo nas provas de Ciências Humanas, esse evento é o Círio de Nazaré. Mas atenção: não estamos falando de uma festa qualquer. O Círio é simplesmente uma das maiores manifestações culturais e religiosas do mundo.

Todo segundo domingo de outubro, Belém (PA) se transforma. Mais de 2 milhões de pessoas participam da celebração, que já entrou para o mapa global como uma das maiores procissões católicas do planeta. O próprio nome, vindo do latim cereum (“vela grande”), carrega a simbologia da fé que ilumina esse ritual.

O que é o Círio de Nazaré, afinal?

Imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré. (Foto: Manoel Campos)

O Círio de Nazaré é, em essência, a maior demonstração de devoção à Nossa Senhora de Nazaré na Amazônia brasileira. Ele não se resume apenas ao cortejo principal de domingo, mas a uma “quadra nazarena” que dura cerca de 15 dias, unindo rituais religiosos, cultura e o calendário econômico da região.

Pense nele como um gigantesco evento cívico-religioso que paralisa a capital paraense e atrai fiéis de todo o mundo. É a celebração do milagre do achado da imagem da Virgem pelo “Caboclo Plácido” no século XVIII. Para o povo paraense, o Círio é a reafirmação anual da sua identidade amazônica: um momento onde a fé católica se funde de forma inseparável com as tradições ribeirinhas, a história local e o sincretismo. É a fé em sua hiperescala, transformando a rua em um espaço sagrado de sacrifício, promessa e profunda coesão social.

Por que o Círio é tão importante?

O que faz do Círio um fenômeno é justamente sua escala monumental e sua duração. Por cerca de 15 dias, a cidade praticamente para: o trânsito muda, o comércio se reorganiza e a vida urbana entra em um “tempo social” totalmente voltado à celebração.

Esse evento concentra:

  • A história do catolicismo popular no Brasil.
  • A força da cultura ribeirinha e da vida amazônica.
  • O valor do Patrimônio Cultural Imaterial, tão cobrado no Enem.

Ou seja, um prato cheio para quem quer repertório de peso na redação.

Histórias e lendas: do achado caboclo ao controle estatal

Como toda devoção popular, o Círio nasceu de uma mistura de mito e realidade amazônica.

O mito fundador (1700)

A devoção começa no início do século XVIII com a lenda do “Caboclo Plácido” (Plácido José de Souza). Diz a história que ele encontrou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré entre as pedras do Igarapé Murutucu, por volta de 1700.

O que solidificou o local como sagrado é o toque milagroso: Plácido levava a imagem para casa, mas ela sempre voltava sozinha para o local exato do achado. Esse fenômeno estabeleceu o sítio como um ponto de intervenção divina, dando à Virgem uma autonomia que se tornou a base da fé popular.

A procissão oficializada (1793)

A devoção é antiga, mas a procissão só foi institucionalizada em 1793, e isso é um ponto de análise crucial para a História do Brasil no Enem!

Para a procissão ser oficializada, foi preciso a autorização da Igreja Católica e, pasme, da Coroa Portuguesa. O Governador da Província, Francisco de Sousa Coutinho, agiu estrategicamente, determinando que a feira regional acontecesse junto com a homenagem à Virgem.

O Estado e a Igreja, em vez de reprimir o fervor popular, absorveram a popularidade para dinamizar a economia e exercer controle social. A feira não vendia só artigos religiosos, mas produtos regionais da Amazônia (como peixe-boi e pirarucu).

Essa integração da fé ao calendário econômico e mercantil transformou o Círio em um evento cívico-religioso que é, até hoje, fundamental para a integração territorial da Amazônia.

A anatomia do rito

Romaria fluvial do Círio de Nazaré, no Trapiche de Icoaraci, em 2024. (Foto: Ricardo Stuckert)

Ciclo de romarias

  • Trasladação (sábado à noite).
  • Círio fluvial: a imagem segue em cortejo pelas águas, cercada por embarcações coloridas e cheias de devoção.
  • Moto e rodoviária: procissões terrestres que mostram a adaptação do rito à vida moderna.
  • Cortejo principal: com cerca de 13 Carros de Promessas, que carregam ex-votos e memórias.
  • Recírio: a procissão de encerramento.

A berlinda, os mantos e a imagem peregrina

A berlinda leva a imagem peregrina em cortejo, cercada de flores. Já a imagem original, raramente exposta, carrega manto e coroa pontifícia concedidos pelo Papa Pio XII em 1953, dando ao Círio um peso internacional.

A corda e os ex-votos

  • A corda: feita de sisal, com 400 metros e 700 quilos, puxada pelos fiéis como prova de fé.
  • Os ex-votos: réplicas de partes do corpo ou objetos que simbolizam promessas cumpridas.

Aqui está a essência: o sacrifício físico vira ato público de devoção, reforçando o poder coletivo do Círio.

O Círio e a identidade amazônica

A devoção à Virgem de Nazaré é um elemento constitutivo da identidade paraense, e ela não está sozinha!

Fé, revolta e encantados

A fé se integra a outros pilares socioculturais da Amazônia:

  1. A cabanagem: A revolta popular do século XIX, que uniu indígenas, negros, quilombolas e caboclos.
  2. O encantado do fundo: O personagem mítico amazônico, fruto do sincretismo (crenças indígenas, africanas e católicas), que se manifesta como a cobra-grande ou a Iara.
  3. O catolicismo popular (Círio): A Virgem é popularmente vista como a santa das águas, um elo com a origem ribeirinha e o local do achado de Plácido.

Essa imbricação entre revolta social, folclore sincretista e a fé católica mostra que a identidade paraense é forjada pela resistência e pela profunda adaptação ao meio ambiente ribeirinho.

A coesão social: do sagrado ao profano

O Círio é a maior expressão do Brasil da ponte que une o sagrado (a procissão) e o profano (o convívio social). Essa coesão é cimentada pelo ritual da comensalidade, o famoso “almoço do Círio”.

O ato de comer junto e compartilhar pratos típicos (como pato no tucupi e maniçoba) é uma força de agregação de vital importância. A fartura do banquete simboliza a abundância das graças e bênçãos da Virgem.

O evento anualmente reverte o fluxo migratório “cidade-interior”, atraindo devotos interioranos de volta a Belém. Essa reunião reconecta a capital com o universo ribeirinho e a origem rural do mito, consolidando o Círio como um espelho da geografia humana amazônica.

Patrimônio, economia e projeção global

Sim, o Círio é um megamoto de fé, mas também um gigantesco motor econômico e um dos principais cartões-postais do Brasil.

Reconhecimento internacional

Esse é um tópico quente para o Enem, especialmente em Ciências Humanas. O Círio tem reconhecimento oficial de alto nível:

  • 2004: Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN.
  • 2013: Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

Para o Enem, grave isso: O registro Imaterial protege formas de expressão, memória coletiva e performance cultural, e não estruturas físicas (que é o que faz o tombamento). O Círio ressalta a diversidade brasileira, ao lado de manifestações como o Samba de Roda e o Frevo.

Impacto econômico

O Círio injeta milhões na economia. As projeções recentes (2024/2025) indicam que Belém deve receber 89 mil a mais de 100 mil visitantes externos, injetando entre R$ 189 milhões e R$ 210 milhões na economia local.

  • Quem vem? Maranhão, São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro são os principais estados emissores, o que demonstra a amplitude da peregrinação nacional.
  • Onde o dinheiro gira? Artigos religiosos e, crucialmente, na “economia doméstica”, onde a famosa hospitalidade paraense aumenta os gastos familiares com alimentação e serviços, estimulando a produção local.

Plataforma de imagem nacional

O evento funciona como uma plataforma de projeção da Amazônia, atraindo atenção do Ministério do Turismo e grandes patrocinadores. A visibilidade global do Círio tem posicionado Belém como porta de entrada para a região, promovendo não só a fé, mas também a rica gastronomia e belezas naturais (como Marajó e Alter do Chão).

Por que esse assunto é relevante para você que está se preparando para o Enem?

Porque o Círio de Nazaré conecta diversos temas que caem na prova, especialmente em Ciências Humanas e redação. Olha só:

  • Patrimônio Cultural Imaterial: o Círio foi reconhecido pelo IPHAN e pela UNESCO, e isso se relaciona a questões de identidade nacional, memória coletiva e diversidade cultural.
  • Geografia e Sociologia: mostra como a religião organiza o espaço urbano, movimenta milhões de pessoas e transforma Belém durante o evento.
  • História: envolve o catolicismo popular, a relação entre Igreja e Estado no período colonial e a formação da identidade amazônica.
  • Economia: injeta milhões na cidade, movimenta comércio, turismo e serviços, funcionando como motor econômico.
  • Redação: dá repertório sociocultural para discutir temas como diversidade cultural brasileira, patrimônio imaterial, identidade regional, fé e coesão social.

Ou seja, estudar o Círio ajuda a ter conteúdo multidisciplinar e ainda fornece exemplos práticos que podem enriquecer tanto as questões objetivas quanto a redação.

Como já caiu no Enem?

Enem 2024

O Círio de Nazaré é uma festa que ocorre, anualmente, na cidade de Belém do Pará, no segundo domingo do mês de outubro. Sua estrutura ritualística tem origem no catolicismo devocional que surge em Portugal por volta do século XV. Até 1789, a festa em louvor a Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, era marcada pelas ladainhas e novenas. Em 1790, a Igreja Católica autorizou a realização de festa em homenagem à Virgem. A primeira procissão ocorreu em 1793. Existindo há mais de duzentos anos, a Festa congrega um extenso mosaico de elementos integrados em diferentes planos e graus de intensidade.

ALMEIDA, I. M. A. Revisitando o Círio de Nazaré a partir da lente sociológica de Eidorfe Moreira. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, n. 3, set.-dez. 2015 (adaptado).

O reconhecimento da festa descrita no texto, como patrimônio histórico, encontra sustentação no(a)

a) instituição de políticas públicas de âmbito local.
b) registro de bens culturais de natureza imaterial.
c) tombamento de sítios arqueológicos de propriedade privada.
d) salvaguarda de elementos sacros de expressão regional.
e) categorização de manifestações cristãs de caráter oficial.

    GABARITO: B)
    Autor(a) Luana Santos

    Sobre o(a) autor(a):

    Luana Santos - Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, é redatora com foco em educação, produção de conteúdo para o Enem e vestibulares. Atualmente, integra a equipe da Rede Enem, onde cria materiais informativos e inspiradores para ajudar estudantes a alcançarem seus objetivos acadêmicos. Ama café, livros e uma boa conversa sobre educação.  

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