Palavras derivadas e neologismo

Você já parou para pensar como nascem as palavras? Os processos de derivação ou empréstimo de termos são muito comuns na língua. Vamos entender como funcionam e qual sua importância para uma boa escrita.

Quando falamos em formação das palavras da língua portuguesa, é importante entender que as palavras podem ser primitivas ou derivadas.

Chamamos de palavras primitivas aquelas que não foram formadas a partir de outras palavras já existentes no nosso idioma. É a raiz, ou seja, o radical desta palavra que permite a formação de novas palavras.

E o que são as palavras derivadas?

As palavras derivadas são aquelas que, como a própria definição traz, se originam a partir de outras já existentes na nossa língua, acrescentando morfemas – sufixos ou prefixos.

Opa! Vamos relembrar o que é um Morfema

Os falantes de qualquer língua dominam e usam um número muito grande de palavras. Todas essas palavras juntas formam o léxico de cada falante, como se fosse um repertório de todas as palavras que esse falante conhece.

Essas palavras podem ser, na maioria dos casos, divididas em elementos menores que possuem um significado. Chamamos de morfemas esses elementos menores das palavras.

Veja esses exemplos:

Portaportão; portaria; porteiro.

Livrolivrinho; livreiro; livraria.

Percebeu que nas palavras porta e livro temos elementos menores que são idênticos entre elas? Essas partes que se repetem são os morfemas.

Os morfemas também são conhecidos como afixos. Você também já deve ter ouvido falar de sufixo e prefixo, não é mesmo? Olha só!

Os afixos

Afixos são morfemas que, adicionados aos radicais, formam novas palavras. O prefixo vem antes do radical, e o sufixo vem depois.

No caso da palavra desalmado, temos a presença de um prefixo e um sufixo. Logo adiante, veremos que tipo de composição é essa.

Classificação dos morfemas

Os morfemas são classificados em lexicais e gramaticais. Os lexicais fazem referência a seres ou conceitos da realidade objetiva ou subjetiva (Luíza, dia, vento), então, possuem referentes extralinguísticos.

Os gramaticais, por sua vez, têm relações internas com o sistema linguístico, porque atuam para criar e manter relações entre termos – palavras – ou para marcar gênero, número, modo e etc.

Os tipos de Morfemas

Analise mais essa palavrinha comigo: FELIZES.

O radical desta palavra é feliz, como você já percebeu, e ele serve de base para a criação de outras palavras. Temos a vogal de ligação E e, ainda, o morfema de plural S no final da palavra.

Importante: vogal de ligação não é morfema, beleza? Ela existe apenas para “facilitar” a estrutura de um termo.

Elementos mórficos que formam palavras

Bonito; bonita. Algumas palavras da nossa língua assumem uma forma diferente para marcar uma variação de gênero.

Se fosse BONITAS, temos a variação de gênero e número, certo? Plural e feminino.

Os elementos mórficos responsáveis por essas variações são as desinências. São as desinências que atuam como sufixos e indicam a flexões de palavras variáveis.

As desinências podem ser verbais ou nominais. Como o próprio nome diz, a desinências nominais são responsáveis pelas flexões de gênero e número (substantivos, adjetivos, pronomes).

Aquelas indicam modo-tempo e número-pessoa são as desinências verbais.

Desinências nominais: menina, meninas, cansado, cansados, esses, essas;

Desinências verbais: correr, corremos, correríamos, corressem;

Para entender melhor os elementos que formam as palavras, confira a videoaula da prof. Mercedes no nosso canal do YouTube:

Palavras derivadas

Já vimos que são afixos, agora já podemos entender como funciona o processo de derivação na formação de palavras.

Derivação é o processo de formação de palavras que é feito por meio de acréscimo de prefixo ou sufixo – ou dois ao mesmo tempo – a um radical. As palavras derivadas podem ser prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria.

Vamos conhecer cada um dos tipos de palavras derivadas.

Palavras derivadas: derivação prefixal

Para se fazer esse tipo de derivação, com o próprio nome diz, basta acrescentar um prefixo a uma palavra primitiva. Quando isso ocorre, o sentido do radical sofre alguma alteração semântica.

Por exemplo, o acréscimo do prefixo des à palavra primitiva construir, temos a palavra desconstruir. O efeito, neste caso, foi de negar o conteúdo semântico do verbo construir.

Os prefixos usados na derivação de palavras da nossa língua são de origem grega ou latina. Dê uma olhadinha na tabela abaixo com alguns exemplos de prefixos gregos.

prefixos em palavras derivadas
Tabela com prefixos famosos vindos do grego e do latim. Fonte: Google Imagens

Derivação Sufixal

Essa forma de derivação ocorre quando há um acréscimo de um sufixo à palavra primitiva. Assim como na derivação prefixal, a semântica do radical sempre sofre alguma alteração.

Os sufixos podem ser nominais, verbais ou adverbias, de acordo com o resultado do processo de derivação.

São nominais os sufixos que derivam de substantivos e adjetivos (eza, como em beleza), verbais quando derivam de verbos (icar, como explicar) e adverbiais quando derivam de advérbios (mente, como em deliciosamente).

Derivação regressiva

Você já ouviu falar em substantivos deverbais?

A derivação regressiva ocorre quando há uma redução fonológica da palavra derivada em relação à forma da palavra primitiva. Exemplo: busca, de buscar; troca de trocar.

É nesse processo de derivação que temos os substantivos deverbais.

Os deverbais são substantivos formados a partir de verbos, pela eliminação da desinência verbal, trazendo o acréscimo das vogais temáticas -a, -o ou -e ao radical verbal.

Derivação Parassintética

Como já foi dito aqui, algumas derivações de palavras ocorrem quando são acrescidos um sufixo e um prefixo ao mesmo tempo. Chamamos, nesse caso, de derivação parassintética.

É bom observar que a derivação é feita de uma vez só, ou seja, os afixos são incorporados ao radical juntos, ao mesmo tempo. Veja que curioso.

Radical FELIZ.

INfeliz; felizMENTE e INfelizMENTE.

Viu só? Todas essas etapas dão origem a palavras novas. IN é o prefixo e MENTE é o sufixo. Fácil, né?

Derivação Imprópria

Quando uma palavra muda de classe gramatical, temos uma derivação imprópria, mas sua forma original não é alterada.

Naquela velha piadinha que diz “Deverias tentar, pois o não você já tem.”, temos um exemplo de derivação imprópria, já que o adverbio não mudou sua classe gramatical para se tornar um substantivo.

Geralmente, essa transformação se dá com a presença anteposta de um artigo, como foi o caso do nosso exemplo.

Neologismo

A palavra neologismo é formada pelos radicais néo, que quer dizer “novo” e logos que, por sua vez, quer dizer “palavra”. Portanto, significa palavra nova.

Um grande nome da nossa literatura que criou inúmero neologismos foi João Guimarães Rosa. A palavra que abre seu romance, “Grande Sertão: Veredas”, é um belo exemplo.

Nonada: ele usou a forma non, um arcaísmo que significa não e junto com a palavra nada, reforçando, assim, algo que não tem importância.

Estrangeirismo

Também conhecidos como empréstimo lexical, o estrangeirismo nada mais é do que uma palavra que vem de outro idioma e acaba “entrando” em outros idiomas, e os falantes usam sem problemas.

No século XIX, era comum palavras francesas entrarem no nosso vocabulário e estão até hoje desde então. Abajur, sutiã e boné, por exemplo.

Hoje, palavra do inglês estão tão enraizadas no nosso idioma que usamos quase sem nos darmos conta: mouse, site, e-mail, show etc.

Hibridismo

Esse tipo de derivação ocorre quando usamos, no processo de formação, elementos de idiomas diferentes. Fácil, né? Olha esse curioso exemplo.

BICICLETA – BI vem do latim; CILCO vem do grego; ETA vem do francês.

SOCIOLOGIA – SOCIO vem do latim; LOGIA vem do grego.

Agora que revisamos o conteúdo, precisamos fixá-lo.

Bora fazer os exercícios sobre palavras derivadas.

Questão 01)  

Leia o glossário que segue:

Migrante: termo genérico empregado para designar qualquer pessoa que se desloque do país ou da região onde nasceu.

Emigrante: designa aquele que deixa seu local de nascimento para viver em outro país, região ou estado.

Imigrante: migrante que entra em determinado país ou região para ali viver. Imigrantes ilegais são pessoas que imigram informalmente, em busca de melhores condições de vida, sem atender às exigências da legislação do país a que chegam.

Refugiado: Constitui um tipo especial de migrante – pessoas que deixam seu país ou região de origem devido à perseguição política, religiosa ou étnica, a conflitos armados, ou por violação dos direitos humanos. O governo do país que recebe esses migrantes é quem reconhece, em documento oficial, o status de refugiado.

Fonte: Dicionário Houaiss,  2001. Adaptado.

Assinale a alternativa CORRETA.

a) Os vocábulos “imigrante” e “emigrante” são formados pelo processo de justaposição.

b) As palavras “migrante”, “emigrante” e “imigrante” são formadas a partir do mesmo radical.

c) Os vocábulos “emigrante” e “imigrante” são formados pelo processo de sufixação.

d) A palavra “refugiado” é formada por prefixação.

e) A palavra “refugiado” é formada por redução vocabular.

Gab: B

TEXTO: 2 – Comum à questão: 2

Antes do Nome Adélia Prado, in ‘Bagagem’

Não me importa a palavra, esta corriqueira.

Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,

os sítios escuros onde nasce o «de», o «aliás»,

o «o», o «porém» e o «que», esta incompreensível

muleta que me apoia.

Quem entender a linguagem entende Deus

cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.

A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,

foi inventada para ser calada.

Em momentos de graça, infrequentíssimos,

se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.

Puro susto e terror.

Você pode ler esse texto aqui. Acesso em 10.10.18

Questão 02)

As palavras incompreensível e infrequentíssimos, utilizadas no poema, apresentam o mesmo prefixo de origem latina in-.

Esse prefixo possui o sentido de

a) separação, ação contrária.

b) afastamento, separação.

c) negação, contrariedade.

d) anterioridade, procedência.

e) movimento, posição em frente.

Gab: C

Questão 03)

Derivação regressiva: formação de palavras novas pela redução de uma palavra já existente. A redução se faz mediante supressão de elementos terminais (sufixos, desinências).

(Celso Pedro Luft. Gramática resumida, 2004.)

Constitui exemplo de palavra formada pelo processo de derivação regressiva o termo sublinhado em:

a) “Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça igual às outras no seu tempo remoto”

b) “E a boca inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca.”

c) “Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e a pega de passarinho.”

d) “A doida habitava um chalé no centro do jardim maltratado.”

e) “O sentimento de que a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era uma falta grave”

Gab: C

Sobre o(a) autor(a):

Anderson Rodrigo da Silva é professor formado em Letras Português pela UNIVALI de Itajaí. Leciona na rede particular de ensino da Grande Florianópolis.

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