Sincretismo, imposição cultural e as transformações da cultura

Você sabe definir o que é cultura? E conhece as diferenças entre imposição cultural e sincretismo? Nesta aula de História você vai descobrir tudo isso e ainda ver exemplos, videoaulas e exercícios!

Já parou para pensar por que a maioria dos filmes nos cinemas é produzido em Hollywood? E por que será que as representações dos orixás em terreiros costumam ser de pessoas brancas? Essas questões servem refletirmos sobre o sincretismo e a imposição cultural, dois fenômenos resultantes do encontro de diferentes culturas.

O estudo da diversidade de culturas existentes e que já existiram algum dia é central para as ciências humanas. Assim, diferentemente das ciências da natureza, as humanas buscam refletir sobre comportamentos, crenças, discursos e tantas outras manifestações essencialmente humanas.

No campo da História, isso é feito na perspectiva das transformações temporais, na geografia é a partir do espaço, e na sociologia e antropologia a partir do indivíduo e da sociedade.

A cultura é um dos grandes pontos de encontro desses diferentes campos do saber. Por isso, é necessário compreender seus movimentos e transformações antes de nos aprofundarmos no estudo da imposição cultural e do sincretismo.

O que é cultura

Mas afinal de contas, o que é cultura? Para caminharmos em um terreno um pouco mais sólido, na medida do possível, utilizaremos a definição de cultura como sinônimo da ação humana e em oposição do que é natural.

Todos os seres humanos agem e existem dentro de culturas e tudo o que fazem são produtos culturais. Por exemplo, a necessidade de obter energia e nutrientes a partir da alimentação é um fato natural (todos os seres humanos se alimentam). Mas o modo como indivíduos em diferentes sociedades realizam suas refeições é profundamente cultural.

Isso fica evidente quando vamos a uma grande feira: podemos encontrar alimentos e produtos indianos, japoneses, italianos, angolanos e das mais variadas sociedades. Dessa forma, podemos entender que a cultura é algo essencialmente humano, manifestando-se de diferentes formas em diferentes sociedades.

A transformação da cultura

As culturas não são constituídas conscientemente pelos seres humanos, mas também não são isentas da intencionalidade da ação de indivíduos. Elas, assim como os sujeitos históricos, produzem efeitos e são afetadas no curso da história.

Basta pensarmos nos diferentes sistemas de ensino que existem. É através da educação que se busca transmitir os valores e técnicas de uma sociedade. Porém, o modo como se realiza esse ensino sofre modificações ao longo do tempo por meio de críticas, de subversão, falhas e necessidades.

Isso significa que a cultura não é estática, mas sim histórica, pois muda de acordo com o contexto em que se encontra. Tais mudanças podem ocorrer conscientemente, quando os sujeitos envolvidos desejam modificar práticas ou ideias de um grupo.

Também ocorrem de forma inconsciente, quando essas práticas e ideias mudam em virtude de outros fatores, como a disponibilidade de recursos, por exemplo.

Imposição cultural

Podemos chamar de imposição cultural o ato de exigir e impor o abandono e modificação de mentalidades, símbolos e comportamentos de um determinado grupo em relação à sua cultura. Em outras palavras, trata-se do ato de exigir a mudança ou o abandono de uma cultura em favor de outra.

Essa situação ocorre dentro de relações de poder, que podem advir da vitória de uma nação sobre outra em uma guerra ou do controle econômico e político de um grupo sobre outro.

nações lusófonas - sincretismo
Figura 1: Nações que falam português (lusófonas) pelo fato de terem sido colonizadas por Portugal. Fonte: encurtador.com.br/gyCES.

Exemplos de imposição cultural

Tomemos como exemplo de imposição cultural os acordos comerciais entre a Inglaterra e o Brasil no contexto da Revolução Industrial. A posição de vantagem econômica dos britânicos permitia a inundação dos portos brasileiros com seus produtos.

Fabricados por um custo muito menor e em volume muito maior, as manufaturas brasileiras sequer conseguiam competir com a oferta industrial. Dessa forma, os hábitos de consumo dos brasileiros passaram a sofrer modificações em virtude da vantagem britânica.

Tentando modificar a situação, Manuel Alves Branco, Ministro da Fazenda durante o Segundo Reinado, criou uma tarifa para proteger a economia brasileira dos produtos ingleses.  No entanto, os britânicos responderam prontamente com ataques a navios negreiros (tumbeiros) e exigiram o fim do comércio atlântico de escravizados.

Da mesma forma, hoje, consumimos muitos produtos culturais estrangeiros, sobretudo estadunidenses. Isso ocorre por conta da influência dos Estados Unidos no comércio mundial. Pelo fato dos EUA manterem comércio com muitos países do mundo, sua própria moeda (dólar) é utilizada como padrão no comércio internacional.

Mas, na hierarquia do status quo, produtos brasileiros também são consumidos em outros países através de contratos comerciais. Nossas novelas são assistidas em outros países latinos, árabes, europeus e africanos.

Contudo, vale lembrar que a imposição cultural vai muito além do consumo de bens tangíveis, mas incorpora palavras, gestos, crenças e símbolos. Faça um experimento: repare em quantas palavras de língua inglesa você fala ou ouve em um dia.

Sincretismo

Ao mesmo tempo em que imposição cultural pode ser compreendida como o ato de se exigir a incorporação de elementos de uma cultura sobre outra, o conceito de sincretismo pode ser entendido uma pequena subversão nesse tipo de relação de poder.

É inegável que sociedades mais abastadas, com maior poder coercitivo e influência política possuem vantagens em fazer valer suas vontades. Entretanto, isso não significa que os sujeitos mais frágeis são isentos de ação ou espaço de influência.

As transformações culturais não ocorrem somente “de cima para baixo”. Se assim fosse, como explicaríamos o uso de palavras de origem indígena e africana nas atuais sociedades americanas, desde o Brasil até os Estados Unidos, por exemplo?

Sincretismo é a fusão, síntese, mistura de diferentes elementos de culturas distintas que provocam o surgimento de um modo específico de expressão humana.

iemanjá- sincretismo
Figura 2: Estátua de Iemanjá com características de uma santa branca. Fonte: encurtador.com.br/fhmy2.

Exemplos de sincretismo

Um exemplo brasileiro de sincretismo religioso se manifesta na representação dos orixás africanos em santos brancos, muitas vezes também referidos com nomes católicos.

Como isto é possível? Por causa da imposição cultural da religião cristã aos africanos trazidos em condição de escravizados ao Brasil, esses sujeitos precisavam encontrar uma maneira de manifestar sua religiosidade.

Se não podiam fazer isso com seus símbolos, nomes e língua materna, acabaram por relacionar suas divindades com os santos cristãos. Assim, Nossa Senhora da Conceição passou a corresponder à Iemanjá, Santa Bárbara corresponde à Iansã e São Jorge corresponde a Ogum.

As definições e considerações sobre cultura, imposição cultual e sincretismo são inúmeras e não estão nem perto de estarem concluídas – se é que um dia isso irá ocorrer. Muitos antropólogos, sociólogos e filósofos ainda se debruçam sobre esses assuntos, constantemente trazendo novas ideias e realizando críticas aos paradigmas estabelecidos. Portanto, se a própria cultura é histórica e mutável, o estudo sobre ela também o é.

Para finalizar, assista ao vídeo do canal Leitura ObrigaHistória sobre o conceito de cultura:

Exercícios sobre cultura, imposição cultural e sincretismo

1 – (FIEB SP)

Leia atentamente o texto abaixo:

“A religião dos negros não era o catolicismo. Por isso os padres queriam uma só religião: ser católico de verdade, não faltar à devoção, ouvir missa nem que fosse levado no empurrão.

Assim ensinavam os negros a sofrer com humildade. Pra não serem castigados, os negros obedeciam, embora contra a vontade, a religião seguiam, mas dos seus cultos da África eles nunca se esqueciam.

Uns queriam ser católicos por causa do cativeiro; pois o bem obediente podia ser jardineiro ou ficar na casa grande servindo de cozinheiro.

Só que aqui eles adoram sem pensar nada de cá. Senhora da Conceição para eles é Iemanjá, Santa Bárbara é Iansã, deuses que adoram lá.

O que a eles atrapalhava eram as muitas diferenças, porque mesmo lá na África havia diversas crenças”.

Fonte: Jorge Pereira Lima. Raízes da escravidão. São Paulo: Paulinas, 1982. p. 33

O texto acima expressa um elemento importante da cultura afro-brasileira durante o período colonial. Assinale a alternativa que revela a manifestação cultural presente no texto.

a) A crença em espíritos ancestrais e da natureza, rituais e feitiçarias.

b) A influência do Islamismo na religiosidade afro-brasileira.

c) A prática de danças de significado religioso.

d) A construção do que se tornou conhecido por sincretismo religioso.

e) As irmandades surgidas na Europa medieval e trazidas ao Brasil pelos colonizadores portugueses.

2 – (ESPM SP)

Somente a partir de 1850 vai se observar um maior dinamismo no desenvolvimento econômico do país em geral e de suas manufaturas em particular. O crescimento do número de empresas industriais se faria com relativa rapidez.

(Sonia Mendonça. A Industrialização Brasileira)

O assunto tratado no texto guarda relação com:

a) a eficácia duradoura da tarifa Alves Branco que protegeu a produção brasileira da concorrência dos produtos estrangeiros, sobretudo ingleses;

b) o fim do tráfico de africanos para o Brasil, estipulado pela Lei Eusébio de Queirós, medida que liberou capitais, até então empatados na compra de escravos, para outras atividades, como indústria, serviços urbanos e bancos;

c) a opção firme do governo imperial por apoiar a indústria em detrimento da agricultura, o que é comprovado pelo auxílio irrestrito às atividades do Visconde de Mauá;

d) a expansão da indústria, a partir de meados do século XIX, que ocorreu em todos os grandes centros do país, conforme comprovam o elevado número de empresas com mais de cem trabalhadores em regiões como o norte e o nordeste;

e) a formação de um consistente mercado interno decorrente da mineração, que impulsionou uma robusta urbanização capaz de oferecer escoamento da produção no âmbito local.

1- Gab: D

2- Gab: B

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