Unificação italiana e alemã: como ocorreram e contexto

Como os descendentes de italianos e alemães no Brasil estão relacionados com a primavera dos povos? Descubra essa e outras histórias singulares nesse resumo de História do Curso Enem Gratuito!

O século XIX inundou a Europa com revoluções que não só transformaram sua cultura, política e fronteiras, mas também impactaram a vida humana nos outros continentes. As transformações advindas de crises políticas eram consequências do iluminismo e das revoluções francesa e americana somadas ao espírito nacionalista da época. Neste momento, é central a Primavera dos Povos, onda revolucionária iniciada em 1848 que marcou estas transformações. É nesse contexto que ocorreram a unificação italiana e alemã.

Até aquele momento, tais nações não existiam enquanto governos organizados, mas apenas como territórios autônomos que possuíam características em comum. Também não existia o italiano ou o alemão enquanto identidade nacional. Antes das unificações devemos nos referir àqueles habitantes como napolitanos, calabreses, genoveses, bávaros, saxões, etc.

Unificação italiana e alemã

As unificações também atendiam aos interesses da alta burguesia das nações envolvidas. Assim como no fim da Idade Média, territórios unificados significavam moedas únicas, pesos e medidas consensuais, diminuição das barreiras alfandegárias, menos impostos e expansão comercial. Desta forma, o movimento nacionalista está diretamente ligado aos interesses capitalistas no século XIX.

Unificação italiana

unificação italiana
Mapa dos reinos italianos antes da unificação. Disponível em: http://twixar.me/gsNn

O desejo de controlar toda a península itálica não surgiu no século XIX, mas é durante a unificação italiana que grupos vão se mobilizar para romper as fronteiras internas daquela região. A principal liderança neste processo foi Giuseppe Mazzini, um republicano que desejava unificar a Itália para garantir sua soberania em relação às outras potenciais europeias. Na época, o império Austro-Húngaro e a França não só tinham domínios na península itálica como também exerciam forte influência política sobre a região.

A atuação de Mazzini e seus companheiros para a unificação italiana ocorreu, principalmente, por meio de sociedades secretas. Ele fez parte da Carbonária, defensora dos valores liberais, e posteriormente fundou as organizações Jovem Itália e Jovem Europa, com vistas a fortalecer as unificações e independências. Também teve papel de destaque enquanto liderança Giuseppe Garibaldi, a mesma figura que liderou os farrapos no Brasil durante o período regencial.

Republicanos, monarquistas e burgueses

Para além dos republicanos e dos monarquistas, foi a burguesia que forneceu o apoio decisivo para o sucesso da unificação, já que a classe era poderosa naquele período. É da região norte e insular da península, mais especificamente do reino de Piemonte-Sardenha, que partiu o movimento de unificação mais efetivo. A parte norte era a mais industrializada e também a mais rica. Por conta disso, era do interesse da burguesia daquela região a unificação territorial, pois poderiam expandir seus negócios e pagar menos impostos.

O rei Vitor Emanuel II e o ministro Cavour, de Piemonte, fariam a frente monarquista da unificação, expulsando os austríacos e, posteriormente, os franceses. A unificação iniciou no norte e foi em direção ao sul. Para expulsar a influência austríaca, os piemonteses firmaram uma cooperação com os franceses. No sul, Garibaldi com seu Exército dos Camisas Vermelhas unificou o reino das Duas Sicílias à Piemonte-Sardenha, num apoio a Vitor-Emanuel. As regiões que restavam eram Roma e Veneza.

Guerra Franco-Prussiana

A Guerra Franco-Prussiana foi decisiva para a anexação desses territórios, já que Veneza estava sob o domínio austríaco e Roma sob o domínio francês. Nas negociações com a Prússia ao término da guerra, a Áustria acabou entregando Veneza para os italianos, que haviam apoiado os alemães.

Já no caso francês, quando estourou a guerra, foi o momento que os italianos puderam invadir a região, aproveitando a mudança de foco de Napoleão III. O território, que foi unificado por meio da guerra, não tinha uma população que se podia chamar de italiana. Daquele momento em diante se iniciou o projeto de criação da identidade italiana sob uma monarquia liberal, sobretudo através da língua, da cultura e da história.

Unificação alemã

Assim como o caso da unificação italiana, na Alemanha o processo foi iniciado pela nação mais industrializada e rica da Europa Central: a Prússia. Esse Estado chefiava, juntamente com o Império Austro-Húngaro, a Confederação Germânica. A Confederação era formada por um conjunto de regiões que tinham o alemão como idioma. Essa forma de organização permitiu uma unificação econômica antes mesmo da unificação política. Tratava-se do Zollverein, uma política de abolição das tarifas aduaneiras entre aquelas nações instituída pela Prússia, mas não compartilhada pela Áustria.

Mapa dos reinos alemães antes da unificação. Disponível em: http://twixar.me/8sNn

O Zollverein possibilitou o enriquecimento da burguesia germânica, mas a monarquia prussiana desejava mais. Assim como Piemonte contou com o conde Cavour, a unificação alemã teve como principal líder o ministro Otto Von Bismarck. Por meio de investimentos estatais, Bismarck fortaleceu a economia e as forças armadas.

Esses costumam ser sinais de preparação para um futuro conflito – como de fato aconteceu. Para o contínuo enriquecimento da nação prussiana, a burguesia precisava ampliar sua fonte de recursos e seu mercado consumidor. A unificação territorial contribuía para isso, e Bismarck atuou justamente para este objetivo.

A estratégia adotada para ampliação do território prussiano e construção do Império Alemão foi o ingresso e vitória de três guerras planejadas: Contra a Dinamarca (Guerra dos Ducados), contra o Império-Austro Húngaro e contra a França (Guerra Franco-Prussiana).

O espírito nacionalista foi instrumentalizado por Bismarck para dar início a esses conflitos, convencendo o povo prussiano sobre seu direito aos territórios vizinhos. Além disso, Bismarck realizou e desfez alianças de maneira estratégica para ampliar os domínios prussianos aos poucos.

Para iniciar a Guerra Franco-Prussiana ele chegou a manipular um telegrama para o imperador francês Napoleão III. No mesmo conflito, o governante francês acabou prisioneiro, os prussianos cercaram Paris e venceram a guerra. Com o ressarcimento recebido, consolidaram o Império Alemão.

Veja mais sobre a unificação alemã nesta videoaula:

Para saber mais sobre o processo de unificação da Alemanha, confira a aula do professor Felipe:

Impactos no Brasil

A história da unificação italiana e alemã está diretamente ligada com a história do trabalho no Brasil. Ao longo do século XIX, o Brasil se manteve como uma nação escravagista, optando por um processo de abolição gradual. Desde a vinda da família real para cá, haviam sido assinados tratados que prometiam o fim do transporte de escravizados da África para o Brasil (1808), que só iria ser efetivamente cumprido com a Lei Eusébio de Queiróz (1850). Em seguida vieram a Lei do Ventre Livre (1871) e Lei do Sexagenário (1885), até a abolição com a Lei Áurea (1888).

O Império brasileiro tinha sua base de sustentação no latifúndio, que cresceu com base na mão de obra escravizada. Contudo, já havia a percepção de que ela tinha prazo de validade, já que muitos americanos haviam abolido o regime de trabalho, pelo menos legalmente. Por isso a opção gradual parecia mais atrativa ao Império.

Imigração europeia

O projeto de nação brasileiro, influenciado pela onda positivista, almejava equiparar-se a Europa, uma nação branca que “servia de modelo” para o resto do mundo ocidental. Para isso, incentivou-se muito a imigração de europeus, que eram atraídos com promessas de terras e sucesso econômico.

Com as revoluções europeias do século XIX, incluindo as guerras de unificação italiana e alemã, houve um aumento significativo de imigração para diversas partes do Brasil. Sobretudo no sudeste e no sul – mas não exclusivamente nestas regiões –, “italianos” e “alemães” se instalaram em cidades e zonas rurais. O fato é que não se tratavam de italianos e alemães (por isso a menção em aspas), mas de europeus vindo de regiões até então unificadas, como a Sicília, Calábria, Nápoles, etc.

Por isso que no presente as famílias que preservam o idioma de origem dos seus antepassados têm dificuldade de se comunicar com os italianos e alemães atuais. Isso acontece porque após as unificações foram reformuladas as identidades daquelas nações, o que foi feito através da unificação do idioma, o que acabou criando, praticamente, uma nova língua.

Saiba mais sobre a imigração europeia com a videoaula do professor Felipe:

Exercícios sobre a unificação italiana e alemã

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Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

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