A hierarquia urbana é o grau de subordinação e influência entre as cidades. Dentro das cidades, temos as desigualdades socioespaciais.
Conheça a complexidade que envolve estudar a vida urbana e alguns dos conceitos que a envolvem: hierarquia urbana, pobreza e segregação espacial.
A vida nas cidades envolve diversos desafios e, sendo assim, é um assunto que possui diferentes vieses de análise. Nesta aula aprofundaremos um pouco mais nos embates acerca de um desenvolvimento urbano pleno, além de conhecer a hierarquia urbana, as contradições e as desigualdades que são intrínsecas a este processo.
A vida urbana
Quando o assunto é estudar a vida urbana nos deparamos com um grande desafio, tendo em vista a complexidade que representa a vida nas cidades e grandes centros urbanos, atualmente. Ao assistirmos ao jornal, por exemplo, temos acesso a diferentes reportagens e matérias que envolvem o tema.
Assim podemos mensurar a dimensão e a abrangência deste tema, que abarca desde questões relacionadas ao trânsito e a mobilidade urbana, até questões relacionadas aos índices de criminalidade e violências ou até mesmo as diretrizes políticas locais e nacionais.
Os grandes centros urbanos crescem a cada ano e, um dos principais pontos de discussão sobre este crescimento é em relação às possibilidades de um desenvolvimento urbano pleno e sustentável.
Por desenvolvimento urbano pleno e sustentável, entende-se não apenas o crescimento econômico, mas também uma gestão democrática que promova justiça social e qualidade de vida para todas/os seus habitantes. Levando em consideração, também, o respeito aos recursos naturais e à preservação do meio ambiente.
Figura 1: Fotografia de uma movimentada rua da cidade de Nova York. A vida em grandes centros urbanos é permeada por inúmeras redes de relações e interdependência.
Hierarquia urbana e cidades
É importante ter em mente que as cidades são entendidas como um espaço que converge diversas pessoas e manifestações culturais. Muitas vezes há o conflito de interesses dos diferentes grupos sociais que a habitam a cidade.
E, por este motivo, existem diversos padrões de ocupação deste espaço urbano e diferentes modalidades de convívio entre esses grupos.
Analisar a cidade e a vida urbana, portanto, significa analisar, também, as contradições que envolvem a organização deste espaço.
Além disso, temos a hierarquia que existe entre as cidades. A hierarquia urbana é o grau de subordinação e influência entre as cidades, ou seja, cidades menores ficam subordinadas às cidades médias, que ficam subordinadas às cidades grandes.
Nessa hierarquia urbana vemos a teia de relações econômicas, sociais, políticas e culturais.
Para delinear toda esta reflexão acerca das cidades e da hierarquia urbana, é fundamental considerar que as cidades e os centros urbanos se tornaram o principal centro da organização social na modernidade.
Origens das cidades e da vida urbana
O principal marco histórico deste movimento é a Revolução Industrial que iniciou na Inglaterra em meados do século XVIII e desencadeou o processo de urbanização.
Com o surgimento das indústrias, verifica-se o rápido desenvolvimento da industrialização, do comércio e, logo, da urbanização. Sendo assim, a economia agrária, vigente até então, foi substituída por uma economia mercantil e capitalista.
Outro importante marcador na formação das cidades modernas é a Revolução Francesa de 1789. Esse evento estabeleceu a democracia liberal representativa como o modelo ideal de ser seguido e implementado na organização política das sociedades.
Além disso, a partir da Revolução Francesa, o Estado passou a ser o gestor oficial do espaço público e o tutor da segurança e do bem-estar de seus cidadãos, devendo assegurar os direitos e deveres estabelecidos em lei e descritos na constituição do país de forma igualitária.
Lembrando que foi neste momento que a cidadania foi ampliada e garantida a todos os indivíduos que pertencem àquele território.
Em 1859 – ou seja, aproximadamente 100 anos do início da Revolução Industrial – a população urbana no mundo ultrapassou, pela primeira vez, a população rural.
Veja nossa videoaula sobre Urbanização:
Urbanização no Brasil
No caso do processo de urbanização ocorrido no Brasil, a inauguração de Brasília (Distrito Federal) em 1960 é considerada um importante marco no que diz respeito ao planejamento urbano nacional.
Pouco tempo depois da inauguração da nova capital, na década de 1970, a população urbana do país ultrapassou a população rural pela primeira vez. Nesse momento, as pessoas em área urbana passaram a corresponder a proporção de 56% da população total do país.
Desde então, o processo de crescimento dos centros urbanos brasileiros continuou e, atualmente, a taxa de urbanização brasileira é de 84,4% de acordo com o IBGE (Censo, 2010).
A ocupação do espaço urbano e as desigualdades socioespaciais
É sempre bom lembrar que o processo de ocupação do espaço urbano é desigual. E, portanto, existem embates que interferem diretamente na organização do Estado, do capital e, consequentemente, na vida da população e na relação que os indivíduos estabelecem uns com os outros.
A distribuição dos serviços e da infraestrutura ao longo do território urbano é um forte exemplo das desigualdades e contradições do processo de desenvolvimento da cidade.
Essa ocupação nos permite notar, por exemplo, como a concentração de escolas, hospitais, supermercados, farmácias e demais serviços, além do próprio acesso à meios de cultura (como teatros, cinemas, shows e apresentações artísticas) e lazer (como parques e praças), diminuem radicalmente na medida em que nos distanciamos do “centro” em sentido às chamadas periferias da cidade.
Segregação socioespacial
A distribuição dos diferentes grupos ao longo do território urbano, por sua vez, possui geralmente um forte marcador de classe e de raça.
A distribuição das moradias, por exemplo, indica como as classes mais baixas tendem a estar localizadas justamente nas regiões mais periféricas da cidade.
Ainda, o perfil dessas classes baixas tende a ser composto por pessoas negras e pertencentes às chamadas minorias étnicas e sociais. Este é o cerne do processo de segregação espacial e social das cidades, muitas vezes conhecido como processo de favelização.
A formação das chamadas favelas tem relação direta com o processo de crescimento e as configurações das grandes cidades e centros urbanos. Além de escancarar as contradições da vida e da dinâmica urbana que está fortemente atrelada à lógica de funcionamento da sociedade capitalista.
Figura 2: É provável que você já tenha visto essa fotografia em alguns livros didáticos ou até outros posts aqui do CEG. A fotografia do fotógrafo e arquiteto Tuca Vieira mostra a discrepância entre um prédio de com apartamentos de alto padrão no Morumbi e a vizinhança na comunidade de Paraisópolis. Essa imagem emblemática nos ajuda a perceber a gritante desigualdade social e a grande segregação socioespacial do nosso país.
O mercado imobiliário e seus efeitos sobre a população
O mercado imobiliário é outro importante marcador das desigualdades relacionadas à segregação socioespacial já que os imóveis mais valorizados são aqueles que estão nas áreas ditas nobres ou centrais.
Essas áreas, por sua vez, são aquelas que possuem boa infraestrutura, acesso à saneamento básico e serviços considerados essenciais. Além disso, essas áreas costumam receber mais investimentos de recursos públicos como iluminação pública, pavimentação das ruas ou sistema de tratamento de água e esgoto, por exemplo.
Enquanto que nas áreas consideradas menos nobres e com menos valor comercial, como é o caso das periferias e favelas, há, muitas vezes, a falta de infraestrutura e de recursos que garantam uma vida digna e plena.
Nessas localidades estão grande parte da massa de trabalhadores que alimenta a dinâmica e o funcionamento cotidiano da cidade.
Desigualdade social e violência
Além disso, as favelas e periferias são, muitas vezes, relacionadas aos altos índices de violência e à falta de segurança, crescente nos centros urbanos. Os moradores desses locais são estigmatizados socialmente e, muitas vezes, associados a esses problemas de violência e criminalidade das cidades.
No entanto, quando analisamos a questão do aumento da violência nos centros urbanos, é fundamental ampliar esta análise para além da ideia de que a violência tem relação apenas com o aumento dos índices de criminalidade – que, geralmente, é a primeira associação feita.
É importantíssimo considerar como fator determinante e gerador destas violências e criminalidades as próprias desigualdades e contradições do processo de desenvolvimento urbano.
A concentração de riqueza e a mecânica capitalista vigoram, ao passo que a gestão democrática da cidade – na qual haja justiça social e garantia de acesso pleno aos direitos básicos para todas/os habitantes (como saúde, educação, saneamento básico, trabalho, lazer, etc) – são deixadas de lado, gerando uma situação de desamparo – e violência – para/com esta parcela da população.
Figura 3: A charge acima nos faz pensar o quanto as mazelas da sociedade são jogadas na conta das populações mais pobres. Quando na verdade, todos esses problemas vêm, principalmente, da forte desigualdade social em nosso país. Problema esse que vem recebendo cada vez menos atenção dos governantes. Marcadores: desigualdade social; violência; sociedade capitalista; segregação; direitos sociais.
O papel do Estado
É sempre bom lembrar que o Estado possui o papel de intermediador dos conflitos sociais, além de ser a instituição que administra a sociedade através de suas leis e regras – o que envolve a garantia e a manutenção dos direitos básicos aos cidadãos.
Mas, infelizmente, o panorama encontrado em grande parte das cidades contemporâneas e na hierarquia urbana é o de uma gestão que prioriza uns em detrimento de outros, reforçando o cenário de pobreza e desigualdade intrínseco à lógica capitalista.
A partir das diferentes formas de organização e de atuação política na gestão das cidades, portanto, encontramos diferentes modelos de urbanização e organização social.
Compreender essas diferentes organizações e práticas implementadas nos diferentes espaços urbanos possibilita investigar e conhecer os caminhos para a construção de uma gestão verdadeiramente democrática, que promova a cidadania plena a todas/os.
Por fim, resolva os exercícios sobre hierarquia urbana e segregação para continuar estudando Sociologia.
Exercícios sobre hierarquia urbana e segregação
Questão 01 – (UEM PR/2013)
De acordo com as transformações no espaço urbano, assinale o que for correto .
01) As grandes metrópoles do século XX se tornaram pontos estratégicos por centralizarem as relações políticas e sociais, bem como os fluxos de comunicação e circulação de pessoas e de bens, possibilitando o convívio de indivíduos de diferentes origens étnicas, religiosas e raciais.
02) A cidade-metrópole tem o poder de irradiar seu modo de vida para além de suas fronteiras, criando laços de dominação em relação às áreas circundantes.
04) Nas grandes metrópoles, não há espaço para a formação de pequenos territórios, que poderiam ser caracterizados pelo pertencimento a um grupo étnico específico.
08) Anonimato, coletivismo e pluralidade são características gerais das metrópoles, diferenciando-as das pequenas cidades e das áreas rurais.
16) A urbanização é um fenômeno contemporâneo e guarda autonomia dos processos de industrialização e de aceleração do desenvolvimento de tecnologias que facilitam as comunicações.
Questão 02 – (UEM PR/2010)
“Na verdade, a sociologia, desde o seu início, sempre foi algo mais do que uma mera tentativa de reflexão sobre a sociedade moderna. Suas explicações sempre contiveram intenções práticas, um forte desejo de interferir no rumo desta civilização. Se o pensamento científico sempre guarda uma correspondência com a vida social, na sociologia esta influência é particularmente marcante.”
(MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1982, p. 8).
Tendo como referência o texto acima e seus conhecimentos sobre o surgimento da sociologia, assinale o que for correto .
01) A análise da sociedade moderna se deu a partir de um debate harmonioso e consensual entre diferentes pensadores.
02) A sociologia tem uma dimensão política, e seus conceitos e suas teorias contribuem para manter ou alterar as relações de poder existentes na sociedade.
04) As duas Revoluções do século XVIII, a Industrial e a Francesa, são marcos importantes para pensar a instalação definitiva da sociedade capitalista.
08) As consequências da rápida industrialização e urbanização do capitalismo (prostituição, suicídio, alcoolismo, infanticídio, criminalidade, violência, epidemias etc.) não são objetos de reflexão sociológica.
16) As explicações sociológicas devem buscar a neutralidade científica, evitando interferir nos rumos escolhidos por determinados grupos sociais.
Questão 03 – (ENEM/2015)
A humanidade conhece, atualmente, um fenômeno espacial novo: pela primeira vez na história humana, a população urbana ultrapassa a rural no mundo. Todavia, a urbanização é diferenciada entre os continentes.
DURAND, M. F. et al. Atlas da mundialização : compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.
No texto, faz-se referência a um processo espacial de escala mundial. Um indicador das diferenças continentais desse processo espacial está presente em:
a) Orientação política de governos locais.
b) Composição religiosa de povos originais.
c) Tamanho desigual dos espaços ocupados.
d) Distribuição etária dos habitantes do território.
e) Grau de modernização de atividades econômicas.
Questão 04 – (ENEM/2018)
A partir da segunda metade do século XVIII, com a primeira Revolução Industrial e o nascimento do proletariado, cresceram as pressões por uma maior participação política, e a urbanização intensificou-se, recriando uma paisagem social muito distinta da que antes existia.
QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M. L. O.; OLI-
VEIRA, M. G. Um toque de clássicos : Marx, Dur- kheim e Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
As mudanças citadas foram conduzidas principalmente pelos seguintes atores sociais:
a) Burguesia e trabalhadores assalariados.
b) Igreja e corporações de ofício.
c) Realeza e comerciantes.
d) Campesinato e artesãos.
e) Nobreza e artífices.
Questão 05 – (UEM PR/2015)
“A marcha da urbanização em São Paulo está ligada ao progresso industrial e consequente abertura de mercados; daí a penetração, em áreas rurais, de bens de consumo até então menos conhecidos ou, na maioria, desconhecidos. Surgem assim, para o caipira, necessidades novas, que contribuem para criar ou intensificar os vínculos com a vida das cidades, destruindo a sua autonomia e ligando-o estreitamente ao ritmo da economia geral , isto é, da região, do estado e do país, em contraste com a economia particular , centralizada pela vida de bairro e baseada na subsistência. Doravante, ele compra cada vez mais, desde a roupa e os utensílios até alimentos e bugigangas de vário tipo; em consequência, precisa vender cada vez mais.”
(CANDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito. 11ª. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010, p. 189). No trecho, Antonio Candido trata de fenômenos sociológicos importantes relacionados ao campo e à cidade ocorridos no Brasil ao longo do século XX. De acordo com esse contexto, assinale a(s) alternativa(s) correta(s) .
01) A urbanização, a ampliação da produção e a circulação de produtos industrializados em São Paulo geraram impactos profundos na economia e na organização da vida social do interior do estado.
02) A transformação da natureza promovida pelo modo de vida caipira pode ser analisada a partir da perspectiva das relações entre natureza e cultura.
04) O impacto promovido pelas mudanças nos hábitos de consumo tem potencial de modificar tanto as relações entre natureza e sociedade quanto as relações entre trabalho e sociedade.
08) Rural e urbano são dimensões distintas e autônomas da vida social. Portanto, uma não é capaz de influenciar a outra.
16) Uma das transformações do modo de vida caipira resultou na venda da força de trabalho dos antigos agricultores para a agroindústria.
Gabarito das questões de hierarquia urbana:
1)11
2) 06
3) E
4) A
5) 23