Você sabia que José Américo de Almeida foi o primeiro autor a ser reconhecido como um romancista do regionalismo moderno de 30? Saiba tudo sobre esse escritor nordestino que representa um marco na Literatura Modernista Brasileira
Esta aula de Literatura para o Enem tem o objetivo de apresentar a vida e o legado literário do escritor José Américo de Almeida. Trata-se do escritor que iniciou o movimento do romance regionalista de 30 no Modernismo Brasileiro, o qual abriu caminho para outros autores e autoras que tematizariam o interior do Brasil, especialmente o Nordeste, com suas mazelas e problemas sociais. Além disso, o conteúdo e os livros didáticos de Literatura do ensino médio nem sempre levam em consideração a importância literária, cultural e humana que esse escritor representa.
Quem foi José Américo de Almeida?
José Américo de Almeida nasceu em Areia, Paraíba, em 10 de janeiro de 1887. Era filho de Inácio Augusto de Almeida e de Josefa Leopoldina Leal de Almeida. Órfão de pai aos 9 anos, o menino foi entregue aos cuidados do tio Padre Odilon Benvindo.
José Américo fez seus estudos no Seminário da capital do Estado e no Liceu Paraibano. Em 1903 ingressou na Faculdade de Direito do Recife e após a formatura foi nomeado para o cargo de promotor público na comarca de Sousa. Em 1911 passou a ocupar as elevadas funções de Procurador Geral do Estado.
Em 1922 publica as Reflexões de uma cabra a que se seguiu A Paraíba e seus problemas (1923), obra de grande conteúdo social.
Secretário do Interior e Justiça durante o governo de João Pessoa na Paraíba, teve de enfrentar os conflitos políticos na região de Princesa.
A publicação do romance A bagaceira, em 1928, projetou-lhe o nome em todo o país, com o destaque dado à literatura regionalista que, ainda no século XIX, se concentrara, sobretudo, nas obras de Franklin Távora e de Domingos Olímpio.
A obra A bagaceira foi adaptada para o cinema. O filme completo está disponível online para todos assistirem. Assista e aprenda se divertindo sobre este romance tão importante para a nossa literatura.
Com a vitória da Revolução de 1930 José Américo assumiu, de 1930 a 1934, o Ministério da Viação e Obras Públicas. Um desastre aéreo na cidade de Salvador, em 1932, deixou-o seriamente ferido.
Em 1934 Getúlio Vargas o nomeou para o cargo de Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, que não chegou a exercer. Eleito Senador em 1935, foi depois, designado Ministro do Tribunal de Contas da União. Depois do êxito de sua principal obra, A bagaceira, publicou, ainda, os romances O boqueirão (1935) e Coiteiros.
Em 1937 foi apresentado como candidato dos partidos governistas à presidência da República, mas o golpe de Estado de 10 de novembro desse ano suprimiu a campanha eleitoral. O Congresso Nacional foi dissolvido e implantado, no país, o Estado Novo.
A Bem-te-vi filmes preparou um pequeno documentário sobre a vida e a obra do autor de A bagaceira. O documentário conta com depoimentos do próprio escritor! Confira:
Em fevereiro de 1945, com uma entrevista ao matutino carioca Correio da Manhã, José Américo contribuiu decisivamente para pôr fim à ditadura implantada por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937.
Nas eleições de 2 de dezembro de 1945, José Américo de Almeida foi eleito Senador pelo seu Estado natal. Voltando a ocupar a pasta ministerial da Viação e Obras Públicas em 1951, cargo em que se conservou até o suicídio do Presidente Vargas, em de 24 de agosto de 1954.
Entregou-se José Américo à tarefa de escrever as suas memórias e, em 1966, ingressou na Academia Brasileira de Letras.
Ao terminar sua gestão à frente do Executivo paraibano, afastou-se dos cargos públicos. Manteve, porém, forte influência sobre a política daquele estado ainda por muitos anos. Em 1964, deu apoio ao golpe militar que depôs o presidente João Goulart e instalou novo período ditatorial no país.
Morreu em João Pessoa, em 1980.
A bagaceira, romance precursor do regionalismo de 30
José Américo já advertia: “É um livro triste que procura a alegria. A tristeza do povo brasileiro é uma licença poética”. A bagaceira aborda o tema da migração dos sertanejos, consequência da seca no sertão, para a região da Zona da Mata.
O romance social nordestino está voltado para a denúncia da miséria regional e o coronelismo. Publicado em 1928, junto com Macunaíma, de Mário de Andrade, é considerado o marco inicial do romance regionalista do Modernismo brasileiro, inserido em sua Segunda Fase.
É importante salientar que, por questões estéticas e ideológicas, o romance de Mário de Andrade integra a Primeira Fase do Modernismo Brasileiro, mesmo sendo publicado no mesmo ano do romance de José Américo.
O enredo baseia-se no êxodo da seca no ano de 1898, e o tema central da narrativa gira em torno de um triângulo amoroso entre Soledade, Lúcio e Dagoberto. Soledade, menina sertaneja, uma retirante da seca, chega ao engenho de Dagoberto, pai de Lúcio, acompanhada de vários retirantes: Valentim, seu pai, Pirunga, seu irmão de criação, e outros que fugiam do castigo da seca. Lúcio e Soledade acabam se apaixonando. A relação entre ambos ganha ares dramáticos no momento em que Dagoberto, o dono da fazenda, violenta Soledade e faz dela sua amante.
Essa história trágica de amor serve ao autor, político paraibano, puramente como pretexto para que denuncie a questão social no seu estado e no Nordeste, em especial, o aspecto da seca e da necessidade da população. É feita também uma análise da vida dos retirantes que surgem nas bagaceiras dos engenhos, quando ocorrem as estiagens, não sendo bem vistos pelos brejeiros (trabalhadores permanentes dos engenhos).
O título desse romance denomina o local em que se juntam, no engenho, os bagaços da cana. Figuradamente, pode indicar um objeto sem importância, ou ainda, “gente miserável”. Todos esses significados se podem mobilizar no entendimento de A Bagaceira, romance de ardor e violência, desavenças familiares, flagelações da seca.
Obras de José Américo de Almeida:
- Reflexões de uma cabra, 1922;
- A Paraíba e seus problemas, 1923;
- A bagaceira, 1928;
- O boqueirão, 1935;
- Coiteiros, 1935;
- Ocasos de sangue, 1954;
- Discursos de seu tempo, 1964;
- A palavra e o tempo, 1965;
- O ano do nego, 1968;
- Eu e eles, 1970;
- Quarto minguante, 1975;
- Antes que me esqueça, 1976;
- Sem me rir, sem chorar, 1984.
Questões sobre José Américo de Almeida
Questão 1 (UERS)
Assinale a alternativa incorreta sobre o romance A Bagaceira de José Américo de Almeida.
a) Romance inaugural do regionalismo neo-realista de 30, A Bagaceira, narrado na terceira pessoa, por um narrador observador onisciente, apresenta um trabalho de linguagem muito rico. O narrador utiliza-se de uma linguagem erudita, de acordo com a norma culta da língua portuguesa. Já as falas das personagens procuram reproduzir o falar sertanejo, alcançando, por vezes, efeitos de poeticidade próximos àqueles alcançados, décadas depois, por João Guimarães Rosa.
b) A dicotomia entre a linguagem refinada do narrador e a brutalidade da linguagem das personagens cria uma tensão lingüística que é um dos aspectos mais salientes e importantes do romance.
c) Guimarães Rosa afirma que José Américo de Almeida “abriu para todos nós o caminho do moderno romance brasileiro”. Sem dúvida, muito do que um Graciliano Ramos ou um José Lins do Rego iriam tematizar, de maneira mais contundente, já está presente em A Bagaceira– a miséria do sertão: a brutalidade do ser humano nordestino; as relações entre os senhores de engenho e os seus empregados; os conflitos de gerações; o ser humano e os animais apresentados como “sócios da fome”.
d) O romance se abre com um prefácio/manifesto intitulado “Antes que me falem”, em que José Américo expõe alguns dos princípios básicos que haveriam de nortear, não apenas a composição da sua obra, mas também de todo o regionalismo de 30.
e) A linguagem do romance é diretamente influenciada pelas inovações de Oswald de Andrade. José Américo de Almeida reproduz, através do narrador personagem, a língua errada do povo, com seus solecismos e suas corruptelas. Cria, como Oswald, neologismos e procura criar uma nova gramática do português.
Resposta: e.
Questão 2 (UFG)
Obras como A bagaceira, Menino de engenho, Terras do sem-fim, entre outras, representam uma corrente de ficção moderna que:
a) explora o registro de costumes locais e a opção pela crítica e pelo engajamento – atitudes suscitadas por necessidades próprias de certas regiões brasileiras.
b) insiste sobre a estranheza das relações entre os homens, na fronteira indefinida entre o moral e o aberrante.
c) joga com os planos do presente e do passado armando símbolos que os unificam.
d) realiza um meio-termo entre a crônica de costumes e a notação intimista.
e) reúne uma pluralidade de tendências filosóficas, científicas, sociais e literárias, advindas do Realismo/Naturalismo.
Resposta correta: d.
Questão 3 (UEL)
A primeira manifestação da moderna literatura regionalista brasileira representa-se na obra de …………………………. com o romance …………………………, que inaugura a prosa modernista.
a) Mário de Andrade – Macunaíma
b) José Lins do Rego – Menino de engenho
c) Raquel de Queiroz – O Quinze
d) José Américo de Almeida – A Bagaceira
e) Jorge Amaro – Mar Morto
Resposta: d.