A Peste Negra, também chamada de peste bubônica, juntamente com a fome e a Guerra dos Cem Anos, provocou uma crise no século XIV e alterou o rumo da história na Europa. Aprenda como isso aconteceu e suas consequências nesta aula de História!
A Baixa Idade Média começou com um grande desenvolvimento comercial e urbano na Europa, mas terminou com uma crise econômica, social e sanitária. Entenda como a fome, a peste negra, rebeliões e a Guerra dos Cem Anos provocaram a crise do século XIV e o fim da Idade Medieval.
A Europa no século XIV
As inovações tecnológicas que surgiram durante o renascimento comercial e urbano promoveram um grande aumento na produtividade agrícola. No entanto, não foi suficiente para acompanhar o alto crescimento populacional. No século XIV, as terras da Europa Ocidental já não davam conta de produzir alimento para toda a população.
Para complicar ainda mais, no ano de 1315 ocorreu um volume alto de chuvas que foi extremamente incomum. As sementes de trigo ficaram apodrecidas e a safra foi prejudicada. Por isso, o preço do produto, que era a base da alimentação dos camponeses, disparou.
Nos anos seguintes, uma série de outras condições climáticas, como secas, geadas e fortes tempestades devastaram ainda mais os campos. Além disso, muitas terras começaram a ser utilizadas para a criação de ovelhas que forneciam lã. Assim, a fome se tornou um enorme problema para os europeus.
A Crise do Século XIV
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A peste negra
Acredita-se que a peste bubônica tenha chegado à Europa em 1347 num navio genovês que atracou na Itália após ter feito uma viagem ao Oriente. Entre os seus tripulantes havia ratos contaminados que espalharam a doença.
No mesmo ano, já foram registrados casos em locais bem distantes da cidade italiana, como a Península Ibérica e a Inglaterra. Logo, a epidemia tomou conta do continente.
A peste bubônica é uma doença bacteriana transmitida pela picada de pulgas de ratos infectados. As péssimas condições sanitárias da época facilitaram a proliferação da doença.
Quem a contraía manifestava sintomas como manchas escuras pelo corpo, pústulas (pequenos tumores na pele com pus), vômito, febre alta, dores intensas e confusão mental. Muitos dos infectados morriam em até três dias.
As consequências da peste negra
Estima-se que 30 milhões de pessoas morreram pela peste, o que representa cerca de um terço da população europeia da época. As pessoas começaram a fugir das cidades, onde os corpos se acumulavam. Muitas comunidades ficaram completamente abandonas pelo alto número de vítimas ou porque os camponeses fugiam com medo de serem infectados.
As corporações de ofício também paralisaram, pois muitas ficaram sem seus mestres, oficiais e aprendizes. Até mesmo obras artísticas e arquitetônicas foram interrompidas pela enfermidade de artistas e pedreiros.
O cotidiano começou a voltar ao normal em 1350, quando o primeiro e maior surto da peste bubônica terminou. A epidemia voltaria algumas vezes na década seguinte, mas de forma menos aterradora.
Apesar de hoje sabermos que a causa da peste bubônica é o bacilo Yersinia pestis, essa descoberta foi feita apenas no século XIX. Na época dos surtos, o conhecimento médico e sanitário estava longe de entender a doença e combater a epidemia.
A população tentava culpar grupos que já eram menosprezados pela disseminação da Peste Negra. Muitos acusavam os judeus, por terem crucificaram Jesus Cristo, e diziam que a reposta divina teria vindo sob a forma de epidemia. Outros culpavam os leprosos de estarem transmitindo uma nova forma de seu mal.
A peste bubônica nas manifestações artísticas
A peste bubônica fez a morte tornar-se onipresente nas obras de arte da época. Apareceram várias pinturas, iluminuras e tapeçarias com temas fúnebres contendo personagens como esqueletos dançantes e a própria morte.
Uma das mais famosas é a gravura “Dança da morte”, produzida por Michael Wolgemut em 1493.
Além disso, o terror da Peste Negra também foi tema na literatura, como na obra Decamerão, de Giovanni Bocaccio. Boa parte do livro de contos foi escrito durante o surto da doença em Florença. O autor começou-o em 1348 e terminou em 1353.
Hoje, Decamerão nos serve de fonte histórica e como forma de aproximação com o que ocorreu na crise do século XIV. Confira um trecho do livro em que Bocaccio descreve o desespero das pessoas, que chegavam a abandonar tudo o que tinham para tentar fugir da doença:
“Diziam que não havia remédio melhor, nem tão eficaz, contra as pestilências, do que abandonar o lugar onde se encontravam, antes que essas pestilências ali surgissem. Induzidos por essa forma de pensar, não se importando fosse com o que fosse, a não ser com eles mesmos, inúmeros homens e mulheres deixaram a própria cidade, as próprias moradias, seus lugares, seus parentes e suas coisas”.
(BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. São Paulo: Abril Cultural, 1970, p. 6.)
A Guerra dos Cem Anos
Como se a fome e a peste negra não bastassem, a crise do século XIV teve mais um motivo: a Guerra dos Cem Anos. Apesar do nome, o conflito durou 116 anos (1337 a 1453) e foi a guerra mais longa de toda a Idade Medieval.
Naquela época, os Estados nacionais ainda não estavam formados. Os conflitos ocorriam entre reis, príncipes e outros membros da nobreza que disputavam um título ou o domínio sobre determinado território. Neste caso, os embates iniciaram porque o rei da Inglaterra possuía feudos no norte da França.
Ao Leste desses feudos ingleses, ficava a região de Flandres, que tinha uma relação muito complicada com as duas coroas. Embora os senhores da região prestassem vassalagem ao rei francês, eles dependiam economicamente da Inglaterra. Era de lá que vinha a lã, matéria-prima dos tecidos, que eram a principal riqueza da região.
A situação ficou ainda mais tensa quando Carlos IV, rei da França, morreu sem deixar um herdeiro. O parente mais próximo era Eduardo III, que era rei da Inglaterra. Os franceses se recusaram a aceitar um soberano inglês. Por isso, coroaram Felipe de Valois (ou Felipe IV), que tinha um parentesco mais distante de Carlos IV, mas era um legítimo francês.
A guerra foi declarada em 1337 pelo rei Eduardo III quando Felipe IV invadiu um dos feudos ingleses. Os exércitos lutaram durante toda a guerra com o pretexto de dominar o norte da França. Um dos grandes motivadores de um confronto tão duradouro é que ambos os lados esperavam conseguir recursos para a nobreza, que estava empobrecida pela crise da fome e da Peste Negra.
O saldo do conflito
Após várias idas e vindas, tentativas de tratados de paz, um casamento entre as nobrezas dos dois países e disputas sucessórias, a guerra terminou em 1453. No fim, os franceses venceram a última batalha em Bordeaux e ficaram com o território disputado.
Mas o mais importante é que a Guerra dos Cem anos impulsionou a crise do feudalismo e a formação de monarquias modernas. Isso aconteceu por conta de alguns acontecimentos do conflito. Primeiro, os reis franceses tiveram apoio popular na centralização dos impostos para conseguir vencer os ingleses. E mais poderes nas mãos dos reis significava menos poder para os senhores feudais.
Outro motivo foi que os soldados a serviço do rei se mostraram mais eficientes do que os cavaleiros nobres. Os plebeus que eram convocados pelos monarcas utilizavam armas como arco e flecha, que poderiam ser utilizados à distância para matar os cavalos. Além disso, como eram baratos, os camponeses puderam permanecer com os arcos. Dessa forma, tinham mais poder para enfrentar os seus senhores.
Assim, estavam foram sendo consolidados os exércitos nacionais, que são elementos fundamentais para a formação e a consolidação dos Estados modernos.
Joana D’Arc
Na fase final da Guerra dos Cem Anos, a França contou com uma soldada que marcaria para sempre a história do conflito: Joana D’Arc. Aos 13 anos de idade, a menina afirmou que ouvia vozes de santos que lhe diziam para ir lutar contra os ingleses. Ela adotou como missão pessoal livrar a França da dominação estrangeira.
Em 1429, ela conseguiu se encontrar com Carlos VI, que governava a França. Impressionado com a determinação de Joana, o príncipe lhe concedeu o comando de um exército de 2 mil soldados. Vestida na armadura de homem – o que foi extremamente escandaloso para a época –, ela liderou várias vitórias até a reconquista da região de Orléans.
Entretanto, em 1430 ela foi capturada pelos ingleses, que a acusaram de bruxaria e de incitar a guerra e o derramamento de sangue. Como punição, no ano seguinte ela foi condenada à morte e foi queimada viva aos 19 anos de idade.
No século XX, ela foi canonizada pela mesma Igreja Católica que a havia condenado cinco séculos antes. Hoje, ela é considerada a padroeira da França.
Revoltas populares
A crise do século XIV, que iniciou com a fome, a peste negra, e foi agravada pela Guerra dos Cem Anos, teve na população pobre sua maior vítima. Com o despovoamento no campo e nas cidades, a mão de obra se tornou escassa e o preço dos alimentos cresceu ainda mais.
A fim de recuperar suas perdas, os senhores feudais aumentaram a carga de impostos e de trabalho da fragilizada população camponesa. Nas cidades, os habitantes também viram seus tributos aumentarem.
Essa situação opressiva levou a várias rebeliões no campo e nas cidades. As duas que mais se destacaram foram a de Jacquerie, na França (1358) e a Revolta de Watt Tyler, na Inglaterra (1381).
Na França, milhares de camponeses mataram nobres e incendiaram castelos e documentos que os obrigavam a pagar impostos aos senhores feudais. No entanto, os revoltosos foram vencidos pelos nobres, que possuíam melhores armas e treinamento militar.
Já na Inglaterra, cerca de 10 mil camponeses marcharam em Londres exigindo que o rei Ricardo II diminuísse os impostos. Mas, assim como na França, foram brutalmente reprimidos.
A crise do feudalismo
Se o renascimento comercial e urbano já havia provocado o início da ascensão da burguesia e enfraquecido os senhores feudais, a crise do século XIV abalou ainda mais o sistema. Mais poder estava nas mãos de comerciantes e do rei, e menos nas da antiga nobreza feudal.
Até mesmo os nobres cavaleiros entraram em decadência, pois não conseguiam competir com arcos, flechas e as novas armas de fogo (como o canhão) dos exércitos que estavam crescendo.
Na Europa Oriental também estavam ocorrendo mudanças. O Império Bizantino estava em crise desde o século XI, quando foi invadido pelos muçulmanos seljúcidas – os mesmos que estavam dominando Jerusalém durante as Cruzadas.
O Feudalismo e o fim da Idade Média
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No século XIII, novas invasões ocorreram, dessa vez pelos turcos-otomanos. As tentativas de recuperar a autonomia de Constantinopla incluíram até uma tentativa do imperador de unir novamente a Igreja Oriental com Roma. Mas os patriarcas de Bizâncio recusaram o acordo. A tomada de Constantinopla pelos turcos-otomanos em 1453 marca o fim da Idade Medieval e o início da Idade Moderna.
Exercícios sobre a peste negra e a crise do século XIV
1 – (FUVEST SP/2020)
Afirmo, portanto, que tínhamos atingido já o ano bem farto da Encarnação do Filho de Deus, de 1348, quando, na mui excelsa cidade de Florença, (…) sobreveio a mortífera pestilência. (…) apareciam no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou na axila, algumas inchações (…) chamava‐as o populacho de bubões (…). – Giovanni Boccaccio, Decamerão.
A respeito da Peste Negra do século XIV, é correto afirmar:
a) Provocou gravíssima queda demográfica, que afetou grande parte da produção econômica europeia.
b) Originou‐se no Oriente, penetrou no continente europeu pelos portos e manteve‐se restrita à Península Itálica.
c) Foi provocada pela fome e pela desnutrição dos camponeses e favoreceu o processo de centralização política.
d) Foi contida pelo caráter de subsistência da economia europeia, que dificultava o contato humano e, assim, o contágio.
e) Estimulou as investidas contra os territórios muçulmanos no movimento conhecido como Segunda Cruzada.
2 – (UFRGS/2019)
Assinale a alternativa correta sobre a chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre Inglaterra e França.
a) O conflito marcou a gradual transformação dos exércitos feudais em forças militares profissionalizadas e iniciou o lento processo de decadência da aristocracia feudal nos respectivos países.
b) A guerra foi vencida pela Inglaterra e teve como consequência a eclosão de rebeliões na França que culminaram com a deposição da dinastia dos Valois do trono francês.
c) O confronto consolidou a transformação da Inglaterra na principal potência econômica do período moderno, por meio do processo de pacificação interna que se seguiu à guerra.
d) A consequência da guerra para os dois países foi a consolidação de estruturas sociais feudais, tornadas mais fortes com o enfraquecimento das monarquias centrais.
e) A origem do conflito foi a invasão da Inglaterra pela França e a subsequente instalação de uma dinastia pró-França no trono inglês, derrubada ao longo da guerra.
3 – (FATEC SP/2020)
Observe o gráfico.
A leitura do gráfico permite concluir, corretamente, que o período de queda demográfica mais acentuada na Europa ocorreu
a) na primeira metade do século XI, devido ao período de secas que comprometeu as colheitas e provocou fome generalizada em toda a porção ocidental do Continente.
b) na primeira metade do século XII, quando a introdução de técnicas agrícolas não-sustentáveis provocou o esgotamento dos pastos e a diminuição pronunciada dos rebanhos bovinos.
c) na segunda metade do século XIII, devido à perseguição promovida pela Igreja Católica contra judeus, muçulmanos e praticantes de religiões pagãs, acusados de bruxaria.
d) na primeira metade do século XIV, quando o número de infectados pela peste negra atingiu seu ápice, provocando a morte de pouco menos de um terço da população europeia.
e) na segunda metade do século XV, devido à migração de milhões de europeus em direção aos continentes recém-descobertos no processo das Grandes Navegações.
GABARITO
1- Gab: A
2- Gab: A
3- Gab: D
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