Revise o panorama histórico e o contexto de produção da poesia da Segunda Fase Modernista. Vale lembrar que é um período de poetas e poetisas brilhantes, como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Mário Quintana e Vinicius de Moraes.
Nesta aula de Literatura você vai conhecer os principais aspectos referentes ao panorama histórico e ao contexto de produção da poesia modernista na sua Segunda fase (1930-1945).
Trata-se de uma fase de fixação, aprofundamento e maturação das concepções teóricas e temáticas do Modernismo, onde o projeto ideológico estará sobreposto ao projeto estético.
Como o referido período literário é muito rico, com muitos autores e obras, o presente texto tematizará somente a poesia produzida à época.
Contexto histórico da poesia modernista
A Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, provocou uma série de eventos econômicos e sociais conhecida como a Grande Depressão.
A crise ocasionada pela Quebra da Bolsa de Nova Iorque foi a maior de toda a história do país
Nas décadas seguintes, o mundo vivenciaria ainda a Segunda Guerra Mundial. Sendo a grande guerra mais um momento da história que alteraria, de forma definitiva, os paradigmas ideológicos, sociais e econômicos ao redor do globo.
Junto a essa mudança de paradigmas, a ascensão de governos ditatoriais ao poder começou a vigorar em diversos países.
No Brasil, a Revolução de 1930 conduziu Getúlio Vargas ao governo nacional. Em sua gestão, então provisória, Vargas passou a incentivar a franca industrialização do país, alavancada pela gradativa substituição do subsídio inglês pelo dos Estados Unidos.
Marcada por medidas notavelmente autoritárias, a política Vargas provocou insatisfação em diversos grupos sociais. Os paulistas levaram esse descontentamento a termo, insurgindo-se contra o governo provisório de Getúlio em 1932. Ocorreu, então, a Revolução Constitucionalista de 9 de julho.
Na tentativa de evitar novas revoltas, Vargas promulgou a Constituição Brasileira de 1934. Tal feito foi acompanhado de sua eleição, por parte do Congresso, ao posto de presidente da República.
Getúlio Vargas, no centro da imagem e no meio do povo, acompanhado de sua comitiva, em 1930
Em 1937, Vargas instaurou o Estado Novo, por meio de um Golpe de Estado, e passou a conduzir o país por regime totalitário. Em 1941, o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial, prestando apoio aos Estados Unidos da América.
No ano de 1945, que marcou o fim do conflito, Getúlio Vargas foi deposto pelas Forças Armadas. Seu governo ditatorial chegou ao fim com a eleição do general Eurico Gaspar Dutra para presidente da República.
Os soldados brasileiros, na Segunda Guerra Mundial, que ficaram conhecidos como “pracinhas”
Características da Segunda Fase do Modernismo
Veja com o professor Rollo, do canal do Curso Enem Gratuito, os autores de maior destaque e as características preponderantes.
A necessidade de pensar a terra natal, expressa pelos modernistas da Primeira Fase no resgate folclórico, por exemplo, agora é voltada à exploração de ambientes geográficos específicos do território nacional.
Segunda fase modernista
É nesse cenário que se desenvolveu a literatura da Segunda Fase Modernista no Brasil (1930-1945). Após o momento de explosão do ideário modernista proposto na década de 1920, houve a fixação e a maturação das concepções teóricas e temáticas do Modernismo.
Literatos e intelectuais dirigem suas atenções para o ambiente rural, marcado pelo êxodo gradativo de boa parte da população para as grandes cidades, em busca de melhores condições de vida, em decorrência das secas.
O Regionalismo entra em cena
No mesmo sentido, nas diversas regiões do país serão feitos esforços para explorar o que houver de peculiar e distinto, sobretudo social e historicamente. O regionalismo torna-se, então, um dos núcleos temáticos mais caros a Segunda Fase do Modernismo.
Alguns historiadores da literatura entendem que essa fase concentra os esforços na tentativa de construção de novas estéticas e ideologias, em oposição às práticas iconoclastas da Primeira Geração. Para outros, o grupo de literatos da Segunda Fase do Modernismo será ainda chamado de Geração de 30.
Carlos Drummond de Andrade: o poeta maior
Confira as principais características, a vida e os destaques da obra daquele que entrou para a história como o grande emblema da poesia modernista.
- Uma síntese sobre Drummond:
- Poeta versátil e multifacetado, Drummond transitou por diversos temas, contemplando o amor, as relações humanas, aspectos de sua vida, de sua infância em Minas Gerais, bem como questões sociais de seu tempo.
- Apelidado de Urso Polar, Gauche, Poeta Itabirano ou Poeta de Sete Faces, é um dos principais escritores brasileiros de todos os tempos.
- Seu legado literário o imortalizou e o faz ser considerado por muitos críticos como o maior escritor brasileiro do século XX.
- Nesta aula acima, a professora Camila Brambilla te conta um pouco mais dessa figurinha carimbada do Enem.
Temas na poesia modernista
Abandonando o experimentalismo radical, a poesia modernista desse período não tem como intenção causar choque ou romper paradigmas. No entanto, a exploração da linguagem coloquial, do verso livre, das variantes linguísticas regionais e sociais, exaltada pelo Modernismo de 22, continuará em foco.
Inclusive, a reflexão sobre o fenômeno linguístico será uma das preocupações dos escritores da Segunda Fase do Modernismo Brasileiro. Surge daí uma série de poemas metalinguísticos, cuja matéria será o fazer poético em si, a língua, ou a poesia.
Mário Quintana
Veja com a professora camila Brambilla uma introdução à obra genial do irônico poeta gaucho Mário Quintana.
No âmbito temático, os poetas da Segunda Fase passaram a questionar a realidade, tanto psíquica quanto social, do indivíduo de seu tempo. Essa preocupação com o refletir a condição humana dará origem a duas vertentes poéticas centrais: uma mais existencialista, outra politizada.
Ao lado desses dois núcleos temáticos da poesia modernista, surge também uma poesia espiritualizada, muitas vezes marcadas por tendências religiosas. Trata-se, provavelmente, de uma reação à poesia materialista da Primeira Fase do Modernismo ou mesmo à brutalidade com que a realidade social imediata é representada no romance de 30.
A prosa do período é dotada de um enfoque acentuadamente documental. Seus autores procuraram tecer um retrato da realidade brasileira, sobretudo sob o aspecto social, ao focalizar a experiência de vida dos retirantes nordestinos. O êxodo rural e a decadência das fazendas, base da economia agrária, são refletidos na literatura do período.
Regiões distantes dos grandes centros urbanos da época tornaram-se o centro de atenção dos escritores. É o caso do Nordeste brasileiro, com a seca e os flagelos dela decorrentes dela decorrentes. No mesmo sentido, constituem motivo literário usual na época o interior da Bahia, com a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar e das terras do cacau.
Os principais autores da poesia modernista da Segunda Geração do Modernismo foram Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Vinícius de Moraes e Mário Quintana.
Questões
Questão 1(Enem-2001)
Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz de Caminha:
“A terra é mui graciosa,
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias,
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muito,
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
Diamantes tem à vontade
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui”.
MENDES, Murilo. Murilo Mendes — poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como ocorre em:
a) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais
b) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
c) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
d) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
e) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
Resposta correta: A.
Questão 2 (Enem-2012)
Ai, palavras, ai, palavras
que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
principia a vossa porta:
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota…
A liberdade das almas,
ai! Com letras se elabora…
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam…
MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 (fragmento).
O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:
a) A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras.
b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras.
c) O significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem pela vida.
d) Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças.
e) Como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos.
Resposta correta: b.
Questão 3 (Enem-2009)
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima:
a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.
b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.
c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.
d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira.
e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
Resposta correta: c.