Venha conhecer um pouco mais sobre os inícios da Sociologia no Brasil! Nesta aula você vai rever as principais características das análises sociológicas que surgiram a partir da década de 30 no país e que foram elementares para a formação do pensamento sociológico brasileiro.
Venha conhecer um pouco mais sobre os inícios da Sociologia no Brasil! Nesta aula você vai rever as principais características das análises sociológicas que surgiram a partir da década de 30 no país e que foram elementares para a formação do pensamento sociológico brasileiro.
Os primórdios da Sociologia no Brasil e, consequentemente, da construção de um pensamento sociológico brasileiro, datam do início da década de 30, quando essa ciência foi institucionalizada no país. Nesta aula, veremos quais foram as principais preocupações e constatações da Sociologia produzida por autores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior, considerados os pais do pensamento social brasileiro.
A Sociologia é uma ciência que surge por volta do século XIX a partir da necessidade e tentativa de compreender a sociedade que se configurava em alguns países da Europa após a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.
A partir do terrível quadro de desigualdade que se tornava cada vez mais explícito e contrário aos ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade” suscitados pela Revolução Francesa, o pensamento sociológico dedicou-se à compreensão das consequências do processo de industrialização e do estabelecimento do capitalismo. Também se concentrou no que diz respeito às desigualdades sociais e aos conflitos sociais que se originaram destes processos.
Surgimento da Sociologia no Brasil
Podemos dizer que a Sociologia já estava presente no Brasil desde finais do século XIX, sendo praticada por intelectuais não especializados que procuravam, de maneira geral, refletir questões acerca da sociedade brasileira.
É no século XX, no entanto, que se destacam no cenário nacional preocupações e reflexões baseadas em dados e aspectos delimitados da realidade brasileira daquela época.
O pensamento social vigente era pautado por um sentimento nacionalista e a vontade de conhecer e explicar o “verdadeiro Brasil”, em contraposição a um país colonizado e cujas interpretações estavam marcadas pela visão europeia.
O contexto de valorização do pensamento científico, além do grande anseio por modernizar a estrutura social brasileira, colaboraram para a procura do desenvolvimento de uma sociologia brasileira.
Geração de 30 na sociologia brasileira
É na década de 30 que a Sociologia adentra os ensinos secundário e superior no Brasil. Nas universidades brasileiras, ela passa a ser utilizada como instrumento de análise social. Isso influencia diretamente sua consolidação enquanto disciplina, além do reconhecimento social da atividade do(a) sociólogo(a).
Surgem, assim, estudos de temas que envolvem as consequências do processo de colonização. Alguns exemplos são o papel dos negros e indígenas na sociedade, o processo de escravização, migrações e êxodos dessas populações, e a abolição da escravatura e suas consequências na / para a formação e configuração da sociedade brasileira.
Principais nomes da sociologia no Brasil
Tais estudos são considerados o início do pensamento sociológico brasileiro, no qual destacam-se os autores: Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. Os estudos e obras desses três sociólogos foram fundamentais não apenas para a elaboração do pensamento sociológico nacional como também para a tentativa de compreensão dos problemas, relações e dinâmicas sociais estabelecidos em nossa sociedade.
Esses autores são considerados clássicos da Sociologia no Brasil. Suas obras e contribuições, apesar de publicadas há quase um século, ainda são consideradas importantíssimas para a compreensão dos problemas do Brasil contemporâneo. São discutidas até hoje nas universidades e em estudos especializados.
Gilberto Freyre (1900 – 1987)
Gilberto Freyre destacou-se por seu livro “Casa Grande e Senzala”, publicado em 1933. Nesse livro o autor retrata as relações sociais do Brasil a partir do cenário colonial. Sua obra foi e ainda é alvo de muitas críticas por relativizar os conflitos existentes, a relação entre colonizador e colonizado, e a questão da miscigenação.
Porém, ela permitiu analisar o Brasil sob um ponto de vista diferente do considerado até aquele momento. Foi importante também para compreender as relações cotidianas a partir dos elementos culturais presente naquele contexto.
Suas constatações acerca de questões como o tratamento dado à vida sexual no patriarcalismo e a importância decisiva atribuída ao escravo na formação do modo de ser do brasileiro foram consideradas inovadoras e chocantes para a sociedade da época da publicação de sua obra.
Sérgio Buarque de Holanda (1902 – 1982)
Sérgio Buarque de Holanda destacou-se na Sociologia do Brasil, principalmente, por seu livro “Raízes do Brasil”. A obra, publicada em 1936, buscava na história colonial as origens dos problemas nacionais. Foi considerada inovadora na questão da procura por uma identidade nacional, além de muito importante para os entendimentos sobre a formação social do Brasil.
Um dos grandes destaques da obra está na elaboração da ideia de cordialidade que, para o autor, é intrínseca à nossa formação. A cordialidade é considerada uma herança do sistema patriarcal e colonial ao qual a sociedade brasileira foi submetido ao longo de seu processo de formação.
Esse elemento pode ser entendido como a flexibilidade com que o brasileiro costuma tratar diversas questões em seu dia-a-dia, o que hoje em dia é conhecido como o famoso “jeitinho brasileiro”.
Caio Prado Júnior (1907 – 1990)
Caio Prado Júnior destacou-se por seu livro “Formação do Brasil Contemporâneo” publicado em 1942. Essa obra é considerada muito importante para a historiografia e para o pensamento social brasileiro. As análises do autor permitiram entender a realidade nacional a partir da compreensão dos fenômenos de nossa formação histórica.
Partindo dos aspectos econômicos como os principais para formação do Brasil, destaca como alguns elementos da sociedade brasileira da época mantinham-se parecidos com a estrutura colonial. Afirmava que mesmo após a independência política do país, a base da economia brasileira era a produção voltada para o mercado externo em detrimento de sua estrutura interna.
É importante ressaltar, por fim, que a principal contribuição destes três autores da chamada “geração de 30” foi a construção de uma Sociologia no Brasil. Eles possibilitaram a formação da visão sobre as origens coloniais do país e do legado do processo de colonização na constituição da nação.
Assista à videoaula apresentada pelo professor Fábio Luís Pereira e entenda um pouco mais sobre os princípios da Sociologia no Brasil:
Questões sobre a sociologia no Brasil
Para terminar, resolva as questões sobre a sociologia no Brasil a seguir!
01 – (UEPG PR/2017)
A sociedade colonial brasileira tem sido, em algumas décadas, objeto de estudo de historiadores, sociólogos e antropólogos renomados. Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior figuram entre os intelectuais que se preocuparam com o estudo desse tema. A respeito da sociedade colonial brasileira, assinale o que for correto.
01. Apesar de presente desde o princípio da colonização portuguesa, a Igreja Católica pouco interferiu na formação da sociedade colonial brasileira. A participação da Igreja nos séculos coloniais ficou restrita às celebrações religiosas e ao âmbito do conforto espiritual dos fiéis.
02. Na casa-grande, sede das grandes fazendas e engenhos, viviam as famílias dos senhores das terras. A estrutura familiar era patriarcal e, geralmente, numerosa. Em torno do senhor costumavam gravitar seus filhos (legítimos e ilegítimos), parentes próximos e agregados.
04. Enquanto no nordeste açucareiro predominou uma sociedade rural e com pouca mobilidade social, na região da mineração, floresceu uma sociedade caracterizada por um alto grau de urbanização e por uma maior possibilidade de ascensão social.
08. A miscigenação foi um dos traços fundamentais na formação da sociedade colonial brasileira. O perfil mestiço dessa sociedade – personificado, por exemplo, no caboclo (indígena + europeu) e no mu-lato (africano + europeu) – compôs a base social brasileira entre os séculos XVI e XVIII.
02 – (PUC GO/2018)
A mulher que comeu o amante
Minueto em fó menor
[…]
Era questão de ponto de vista. Podia matar sumariamente que ninguém saberia jamais. Mas ele já se viciara com a justiça. Precisava achar uma desculpa, um pé qualquer para justificar seu crime e começou a nutrir um ódio feroz pelo velho.
Foi Camélia que propôs um dia: – Bamo matá o cujo?
De tarde, o velho estava agachado, santamente despreocupado, cochilando na porta do rancho, quando o primo deu um pulo em cima dele, e numa mão de aloite desigual, sojigou o bruto, amarrou-lhe as mãos e peou-o. O velho abriu os olhos inocente e perguntou que brinquedo de cavalo que era aquele.
— Que nenhum brinquedo, que nada, seu cachorro! ocê qué me matá, mais in antes de ocê me jantá eu te armoço, porqueira. Vou te tacá ocê pras piranhas comê, viu!
Januário pediu explicação: – apois se é pra móde a muié ocê num carece de xujá sua arma. Eu seio que ocês tão viveno junto e num incomodo ocês, mas deixa a gente morrê quando Deus fô servido. – Depois fez uma careta medonha e seus olhos murchos, cansados, encheram-se de lágrimas, que corriam pela barba branca e entravam na boca contraída.
O moço, porém, falava com uma raiva convicta, firme, para convencer a si mesmo da necessidade do ato:
— Coisa ruim, cachorro, farso.
A covardia, a fraqueza do velho davam-lhe força, aumentavam a sua barbaridade. E foi daí que ele carregou Januário e o atirou ao poço, entre os garranchos e as folhas podres.
Uma lágrima ainda saltou e caiu na boca de Camélia que estava carrancuda e quieta atrás do primo. Ela teve nojo, quis cuspir fora, mas estava com tanta saudade de comer sal que resolveu engulir.
O corpo de Januário deu uns corcovos elegantes, uns arrancos ágeis; depois uns passos engraçados de cururu ou de recortado e se confundiu com o sangue, com os tacos de porcaria.
[…]
(ÉLIS, Bernardo. A mulher que comeu o amante. In: ______. Melhores contos. 4. São Paulo: Global, 2015. p. 20-21.)
No texto, o velho Januário despertou achando que era vítima de uma “brincadeira de cavalo”. O brincar de cavalo era algo comum nas fazendas, conta Gilberto Freyre, em sua obra clássica Casa-Grande & Senzala. Diz o autor que, nos divertimentos infantis, os moleques afrodescendentes “serviam para tudo: eram bois de carro, eram cavalos de montaria, eram bestas de almanjarras, eram burros de liteiras e de cargas, as mais pesadas. Mas principalmente, cavalos de carro” (FREYRE, 2005, p. 419).
(FREYRE, G. Casa-Grande &
Senzala. São Paulo: Global, 2005.)
Acerca de tais relações entre os grupos sociais da casa grande e da senzala, assinale a alternativa correta:
a) No Brasil, o divertimento entre os dois grupos tem sido uma forma de relação passageira, de caráter inconsequente, pois, ao se tornarem adultos, cada um se comporta de acordo com as regras sociais e a etiqueta pertinentes ao próprio grupo de convívio.
b) Os divertimentos descritos e o papel subalterno dos afrodescendentes indica uma forma de relação social comum no Brasil, em que a discriminação racial é combinada com demonstrações de afetividade.
c) As brincadeiras infantis descritas e seu abandono nos dias atuais demonstra que no Brasil a diversão foi uma maneira de superar o preconceito racial e gerar políticas públicas guiadas pelo ideal igualitário.
d) O autor, nessa obra clássica, descreve a convivência violenta entre as crianças, apontando como elas podem resistir conscientemente aos preconceitos raciais e criar uma política caracterizada pela cidadania, mantendo a interação produtiva entre casa-grande e senzala.
03 – (ENEM/2017)
A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria conservado enorme entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou no sentido de aristocratização, extremando a sociedade brasileira em senhores e escravos, com uma rala e insignificante lambujem de gente livre sanduichada entre os extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado pelos efeitos sociais da miscigenação.
FREYRE, G. Casa-grande & senzala. Rio de Janeiro: Record, 1999.
A temática discutida é muito presente na obra de Gilberto Freyre, e a explicação para essa recorrência está no empenho do autor em
a) defender os aspectos positivos da mistura racial.
b) buscar as causas históricas do atraso social.
c) destacar a violência étnica da exploração colonial.
d) valorizar a dinâmica inata da democracia política.
e) descrever as debilidades fundamentais da colonização portuguesa
04 – (ACAFE SC/2015)
Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda foram dois grandes historiadores brasileiros. Acerca da História brasileira do século XX e da contribuição desses dois grandes expoentes da História é correto afirmar, exceto:
a) Há grande polêmica ainda hoje sobre a atuação de Getúlio Vargas como governante brasileiro entre 1930 e 1945. De reformador e transformador da ordem oligárquica a ditador de inspiração fascista há inúmeras percepções sobre sua atuação.
b) O Brasil republicano foi marcado pela defesa da grande propriedade, dos coronéis e da abolição do trabalho servil dos imigrantes. A obra de Caio Prado “Os Sertões” representa bem esse contexto.
c) Uma das características marcantes da sociedade brasileira é o chamado patrimonialismo, ou seja, a pretensão de grandes setores da elite de utilizar do patrimônio público como se fosse sua própria propriedade ou, pelo menos, para seus interesses próprios.
d) “Raízes do Brasil”, de Sergio Buarque de Holanda, é até hoje um clássico. Sua abordagem da História brasileira apesar de antiga permanece instigante e sofisticada.
01- Gab: 14
02- Gab: B
03- Gab: A
04- Gab: B