A filosofia de Thomas Hobbes

Thomas Hobbes foi um matemático, teórico político e filósofo inglês, autor de diversas obras sobre a política e a metafísica. Hobbes também escreveu ensaios sobre temas como consciência, mente e alma.

Se isolada da sociedade desde o nascimento, uma pessoa seria boa ou má? Foi sobre isso e muito mais que pensou Thomas Hobbes em sua teoria política. Vem dar uma espiada nas principais ideias e frases de Thomas Hobbes, tão cobrado no Enem.

Quem foi Thomas Hobbes

Thomas Hobbes foi um matemático, teórico político e filósofo inglês, autor de diversas obras sobre a política e a metafísica. O filósofo foi bastante influenciado pelo contexto histórico e político que vivia.

Durante o século XVII, a Inglaterra passou por uma turbulenta época que ficou conhecida como Revolução Inglesa. O país viveu um caos político por conta da crise do absolutismo, pois a dinastia Stuart tentava implantar o absolutismo e dissolver o parlamento.

Hobbes era parceiro da família real inglesa, frequentou os mesmos círculos que a realeza e acabou se envolvendo com a monarquia. Nesse sentido, tornou-se um grande defensor desse tipo de regime.

Essa relação corroborou para criação da obra “O Leviatã” que ganhou bastante notoriedade, sendo uma das leituras consideradas obrigatórias para o estudo da política.

retrato thomas hobbes
Figura 1: Retrato de Thomas Hobbes. A obra encontra-se na National Portrait Gallery, na Inglaterra.

Hobbes e a metafísica

Para além da política, Thomas Hobbes se dedicou a muitas outras ciências, como a Matemática, a Física e a Psicologia. Uma parte menos popular de seus estudos, mas tão importante quanto seu tratado sobre a política, foram seus ensaios.

Hobbes abordou temas como consciência, mente, alma e outras ideias que fazem parte de uma grande e antiga discussão, a Metafisica.

O filósofo descreveu o cosmos como sendo algo material. Em outras palavras, o inglês dizia que tudo o que existe é corpóreo e possui uma dimensão no espaço, corroborando assim para a discussão Metafísica da época.

Essa ideia foi melhor desenvolvida em uma trilogia de obras (De Cive; De Corpore; De Homine) que, embora sejam bastante importantes a Filosofia, ficaram ofuscadas pela grande repercussão das suas publicações sobre política.

Oposição à Escolástica

A teoria Metafísica de Hobbes meio que seguiu o que era “trend topic” no século XVII, onde dominava uma visão empirista de mundo, com pouco espaço para coisas demasiadamente abstratas.

Isto porque as ciências naturais estavam em alta, pois áreas como a física traziam explicações mais concretas dos fenômenos antes cercados de um obscurantismo herdado da Idade Média.

Opondo-se as ideias Escolásticas de outrora, Hobbes considerava as Ciências Modernas e o surgimento da corrente empirista na Filosofia como o perfeito inverso daquela filosofia retrógrada da Idade Média, em que a razão estava ligada a fé e ao sobrenatural.

Inclusive, durante o seu trabalho como mentor da nobreza, ele teve a oportunidade de conhecer toda a “galera descolada” que trocava altas ideias sobre Filosofia na época. Isso inclui o “almofadinha” da turma, René Descartes, o que sempre estava de “bacon com a vida”, Francis Bacon, e por fim, mas não menos importante, o revolucionário Galileu Galilei.

charge estado de natureza
Charge sobre a origem da humanidade e o Estado de Natureza.

O Estado de Natureza

Toda essa reviravolta levou ao questionamento da natureza humana. Alguns filósofos, incluindo Hobbes, decidiram investigar mais a fundo a natureza humana, para além das concepções apresentadas pelas doutrinas religiosas que os precederam.

A partir de uma análise racional do comportamento humano, chegou-se a diversas conclusões acerca da condição da humanidade antes das estruturas e normas sociais.

Chamamos esse estado pré-civilizatório, em que as pessoas ainda não desenvolveram estruturas e tampouco normas sociais, de Estado de Natureza.

Entretanto, visto que essa é uma ideia teórica, embora haja um estudo com base racional que fundamente o assunto fazendo uso de uma metodologia científica para obtenção de dados relevantes que estruturem a teoria, muito do que foi dito na época era mera especulação.

A ideia por de trás desse estudo era conseguir propor um modelo político que conseguisse buscar a harmonia e o bem estar social a partir da análise do comportamento humano em seu estado pré-civilizatório.

Ora, foram várias as definições de Estado de Natureza que surgiram, mas poucas delas tiveram tanto sucesso quanto o Estado de Natureza proposto por Hobbes.

“O homem é o lobo do homem”

Na visão de Hobbes, descrito na obra “O Leviatã”, a humanidade em seu Estado de Natureza é algo sinistro. Isso por conta do que ele chamou de busca por autopromoção, ou seja, a “galera” vai tentar – racionalmente – buscar vantagens individuais, tentando alcançar o melhor para si.

Ora, nessa busca pelo individual a gente acaba se chocando com o resto da sociedade fazendo o mesmo, buscando o que é melhor para si. Nesse sentido, surgem os conflitos, uma vez que, podem não existir recursos, locais ou quaisquer outras vantagens que sejam impassíveis de compartilhamento.

Assim, o Estado de Natureza de Hobbes seria quando duas pessoas querem algo que só pode pertencer a uma delas, nesse sentido, provavelmente acontecerá uma disputa.

Exemplo

Imagine que em um dia qualquer do período pré-civilizatório (Estado de Natureza) você está de boa passeando feliz pelo mato.

Imagine que depois de vários dias sem comer nada, em uma manhã qualquer você se depare com o maior pedaço de bacon frito da história (ou o equivalente a isso, caso você não coma carne), sedento pela suculenta peça que irá saciar os seus mais delirantes devaneios culinários, você corre em disparada ao encontro de seu santo graal da gastronomia.

Na direção oposta, uma outra pessoa, também famélica, se deparou com a mesma cena e também saiu correndo em direção a iguaria em questão. Ao notarem-se ficam nítidas suas intenções e, segundo o Estado de Natureza de Hobbes, ambos estariam em um dilema entre a autopromoção e a autopreservação.

Por um lado, você precisa muito se alimentar, por outro, você tem medo de arriscar um conflito no qual pode morrer.

Nesse sentido, para Hobbes, quando em Estado de Natureza, as pessoas irão buscar sua sobrevivência, mesmo que isso signifique extinguir a possibilidade de sobrevivência de outrem, gerando assim uma guerra pela sobrevivência.

meme estado de natureza hobbes
Meme de Thomas Hobbes com sua famosa frase “O homem é o lobo do homem”.

O Contrato Social

Além de viver em uma constante guerra por sua sobrevivência, deixada sem governo a humanidade ficava em um ininterrupto estado de alerta.

Visto que, os conflitos gerados no Estado de Natureza por vezes tinham desfechos letais, de modo que as pessoas temiam a morte, em particular elas tinham medo de uma morte violenta.

É igual você andar de madrugada e encontrar uma viatura policial, você fica “cabreiro” com o que pode acontecer, mesmo que não tenha feito nada de errado.

Assim, existe no Estado de Natureza, um peso que as pessoas acabam carregando por exercerem a sua liberdade. Visto que em uma situação em que todo mundo pode fazer tudo, ou seja, a pessoa pode exercer sua liberdade sem quaisquer restrições, os limites das ações individuais acabam sendo apenas os limites da força do próprio indivíduo.

Ora, enquanto seres racionais tementes pela própria vida, nós acabamos buscando uma solução que garanta a auto preservação do indivíduo. Bem como, a sua autopromoção.

Assim para evitar a morte, e sobretudo a morte violenta, é proposto a criação de um Contrato Social, ou seja, o abandono do Estado de Natureza.

Absolutismo e da defesa da monarquia

Esse Contrato Social na teoria hobbesiana se dá a partir da renúncia de certas liberdades individuais em favor de uma autoridade soberana. Nesse sentido, a personificação dessa autoridade soberana é a figura monárquica.

A soberania de um indivíduo com poderes ilimitados irá prevenir à luta de todos contra todos, pois a sociedade abriria mão do seu poder de morte. Ou seja, da liberdade de matar alguém, dando esse poder único e exclusivamente ao soberano.

Dessa maneira, cabe somente ao estado, representado na figura de um soberano (Rainha ou Rei), a utilização desse poder de morte, isto é, a utilização da força como ferramenta coerciva e garantidora da paz e do bem estar social.

meme o contrato social
Meme mostrando a diferença das pessoas antes do Contrato Social e depois desse. As pessoas são representadas pelo Bob Esponja.

O Leviatã

A teoria política de Hobbes então se dá a partir do Contrato Social, quando a sociedade investiu o poder em um elemento externo, que para ele seria melhor representado na figura de um soberano. Tudo isso é muito bem descrito na obra “O Leviatã”, que faz alusão ao monstro colossal que aparece na história bíblica de Jó.

O estado seria, na visão de Hobbes, o tal Leviatã, uma besta a ser temida, todavia necessária para que haja o bem estar e a proteção dos cidadãos. Bem como o próprio Hobbes explicou “o grande Leviatã que não é se não um homem artificial para cuja proteção em defesa foi projetado”.

Por fim, Thomas Hobbes foi um filósofo de grande importância para Filosofia Política, embora sua visão a respeito do Estado de Natureza tenha sido rivalizada por outros grandes nomes da Filosofia como Jean-Jacques Rousseau.

E, apesar de sua defesa da monarquia absolutista hoje não seja nada popular, suas obras permanecem em um lugar de destaque dentro do estudo da Política. Em outras palavras, Hobbes é um autor muito importante para você estudar!

Exercícios sobre Thomas Hobbes

1) UNESP 2014

A China é a segunda maior economia do mundo. Quer garantir a hegemonia no seu quintal, como fizeram os Estados Unidos no Caribe depois da guerra civil. As Filipinas temem por um atol de rochas desabitado que disputam com a China. O Japão está de plantão por umas ilhotas de pedra e vento, que a China diz que lhe pertencem. Mesmo o Vietnã desconfia mais da China do que dos Estados Unidos. As autoridades de Hanói gostam de lembrar que o gigante americano invadiu o México uma vez. O gigante chinês invadiu o Vietnã dezessete.

André Petry. O Século do Pacífico. Veja, 24.04.2013. Adaptado.

A persistência histórica dos conflitos geopolíticos descritos na reportagem pode ser filosoficamente compreendida pela teoria

(A) iluminista, que preconiza a possibilidade de um estado de emancipação racional da humanidade.

(B) maquiavélica, que postula o encontro da virtude com a fortuna como princípios básicos da geopolítica.

(C) política de Rousseau, para quem a submissão à vontade geral é condição para experiências de liberdade.

(D) teológica de Santo Agostinho, que considera que o processo de iluminação divina afasta os homens do pecado.

(E) política de Hobbes, que conceitua a competição e a desconfiança como condições básicas da natureza humana.

2) UNIOESTE 2011

“A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. (…)

Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins. Portanto, se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo (…) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro. (…) Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama de guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens”.

Com base no texto citado, seguem as seguintes afirmativas:

I. Os homens, por natureza, são absolutamente iguais, tanto no exercício de suas capacidades físicas, quanto no exercício de suas faculdades espirituais.

II. Sendo os homens, por natureza, “tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito” é razoável que cada um ataque o outro, quer seja para destruí-lo, quer seja para proteger-se de um possível ataque.

III. Na inexistência de um “poder comum” que “mantenha a todos em respeito”, a atitude mais racional é a de manter a paz e a concórdia na “esperança” de que todos e cada um atinjam seus fins.

IV. A condição dos homens que vivem sem um poder comum é de guerra generalizada, de todos contra todos.

V. O homem, por natureza, vive em sociedade e nela desenvolve suas potencialidades, mantendo relações sociais harmônicas e pacíficas.

(A) Apenas I está correta.

(B) Apenas II e III estão corretas.

(C) Apenas I e V estão corretas.

(D) Apenas II e IV estão corretas.

(E) Todas as afirmativas estão corretas.

3) UFPA 2013

“Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais. A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito. Se assim fosse, poderiam existir num homem que estivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus sentidos e paixões.”

HOBBES, Leviatã, São Paulo: Abril cultural, 1979, p. 77.

Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a injustiça como não pertencentes às faculdades do corpo e do espírito, considere as afirmativas:

I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos homens em sociedade, e não na solidão.

II. No estado de natureza, o homem é como um animal: age por instinto, muito embora tenha a noção do que é justo e injusto.

III. Só podemos falar em justiça e injustiça quando é instituído o poder do Estado.

IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em conformidade com o poder soberano; ele favorece os mais fortes.

Quais alternativas estão corretas?

(A) I e II

(B) I e III

(C) II e IV

(D) I, III e IV

(E) II, III e IV

4) UFU 2013

Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes.

HOBBES, Thomas. Leviatã. Cap. XVII. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103.

Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que:

(A) O seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce com o advento do contrato social deve assiná-lo, para submeter-se aos compromissos ali firmados.

(B) A condição natural do homem é de guerra de todos contra todos. Resolver tal condição é possível apenas com um poder estatal pleno.

(C) Os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a criação do Estado deve servir como instrumento de realização da isonomia entre tais homens.

(D) A guerra de todos contra todos surge com o Estado repressor. O homem não deve se submeter de bom grado à violência estatal.

Gabarito

1. E, 2. D, 3. B, 4. B.

Sobre o(a) autor(a):

Os textos e exemplos acima foram preparados pelo professor Ernani Silva para o Blog do Enem. Ernani é formado em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista. Ministra aulas de Filosofia em escolas da Grande Florianópolis. Facebook: https://www.facebook.com/ErnaniJrSilva

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