Revise os principais aspectos da vida e da obra do escritor que mudou os rumos da linguagem literária no Brasil.
Esta aula vai apresentar para você os principais acontecimentos da vida do escritor Lima Barreto, enfatizando suas obras e seu estilo literário único. Lima Barreto se trata de uma personalidade pré-modernista que rompeu com certas tradições, revolucionando a estética e a linguagem literária.
Tal feito foi decisivo para a emancipação/consolidação da literatura modernista. Com isso, é possível afirmar que a obra de Lima Barreto influenciou a outros escritores, sendo uma referência atemporal.
Quem foi Lima Barreto?
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881. Era mulato, filho do tipógrafo João Henriques e da professora Amália Augusta. Seu padrinho era o Visconde de Ouro Preto, senador do Império. A mãe, escrava liberta, morreu precocemente, quando o filho tinha seis anos.
A abolição da escravatura ocorreu em 1888, no dia de seu aniversário de sete anos. Entretanto, as marcas desse período, o preconceito racial e a difícil inserção de negros e mulatos na sociedade brasileira nunca deixaram de ocupar o centro de sua obra literária.
Além do preconceito, a trajetória de vida de Lima Barreto foi marcada por muitas dificuldades econômicas. Na juventude, contou com a ajuda e a proteção de seu padrinho, o Visconde de Ouro Preto. Este financiou os estudos de seu afilhado, permitindo que ele concluísse o ensino médio no renomado Colégio Dom Pedro II. Terminado o ensino médio, o futuro escritor iniciou seus estudos de Engenharia Civil na Escola Politécnica.
Porém, em virtude dos problemas de seu pai, que sofria de distúrbios mentais e acabou sendo internado como louco na Colônia dos Alienados, sua situação financeira se agravou. Com isso, Lima Barreto se viu encarregado de arcar com o sustento de sua família. Para tanto, entrou para o funcionalismo público e passou também a contribuir para diversos jornais da época, escrevendo especialmente crônicas.
Em 1900, o escritor deu início aos registros do Diário Íntimo, com impressões sobre a cidade e a vida urbana do Rio de Janeiro. Também colaborou no A Quinzena Alegre, no Tagarela, em O Diabo, e na Revista da Época. Lima Barreto começa sua colaboração mais regular na imprensa em 1905, quando escreve reportagens, publicadas no Correio da Manhã, sobre a demolição do Morro do Castelo, no centro do Rio.
Tais reportagens são consideradas um dos marcos inaugurais do jornalismo literário brasileiro. Na mesma época, começa a escrever a primeira versão de Clara dos Anjos, livro que seria publicado apenas postumamente. Também é nessa época que o autor elabora os prefácios de dois romances: Recordações do escrivão Isaías Caminha e Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá. Lima terminaria de redigir quase que simultaneamente essas duas obras, ainda que o último dos títulos tenha sido publicado apenas em 1919.
Recordações do escrivão Isaías Caminha sai em folhetim na Revista Floreal, em 1907, e em livro em 1909. No romance, o jornal Correio da Manhã e seu diretor de redação são retratados de maneira impiedosa, e Lima Barreto tem então seu nome proscrito na grande imprensa carioca. O escritor passa a trabalhar e publicar crônicas, contos e peças satíricas em veículos como Fon-Fon, Careta, Brás Cubas, O Malho e Correio da Noite. Colaborou também com o ABC, periódico de orientação marxista e revolucionária.
Em 1911, escreve e publica Triste fim de Policarpo Quaresma em folhetim do Jornal do Comércio. Publicou ainda Numa e a ninfa (1915), Histórias e sonhos (1920). Postumamente saem Os bruzundangas e as crônicas de Bagatelas e Feiras e mafuás.
Já com uma certa idade, Lima Barreto passou a sofrer com o alcoolismo e foi acometido por diversas crises de depressão. Sua instabilidade emocional o levou à internação no Hospício Nacional para tratamento.
Morreu miserável, de um colapso cardíaco, aos 41 anos, no dia 1º de novembro de 1922, na cidade do Rio de Janeiro.
Características literárias de Lima Barreto
Todos os eventos expostos anteriormente serão decisivos para o tipo de escrita desenvolvida por Lima Barreto. De modo geral, o escritor subverteu o rígido padrão literário sustentado pelos parnasianos e apostou em uma escrita voltada para o subúrbio.
Além do subúrbio, privilegiou os funcionários públicos, os aposentados, os operários, os vilões e as raparigas sonhadoras, relembrando temáticas já exploradas pelo Naturalismo.
Do Realismo, Lima Barreto herdou a investigação psicológica e a crônica de costumes, fazendo uma severa crítica social. Tal característica lembra, em seus melhores momentos, a fina ironia de Machado de Assis. Barreto também era mestre na criação de caricaturas, construindo personagens arquetípicos representativos da sociedade. São personagens que têm seus defeitos e qualidades exaltados para demonstrar o ridículo de alguma situação ou conduta humana.
Lima Barreto produziu romances, crônicas, contos, sátiras políticas, crítica literária e um livro de memórias. Sua maior contribuição para a literatura foi o abandono do modo erudito e artificial de escrever em favor de um estilo mais simples e despojado. Seus romances são fortemente influenciados pelo estilo jornalístico, pela linguagem informal e a própria fala cotidiana.
Em vida, não foi reconhecido como um escritor de talento, recebendo violentas críticas pelo seu modo peculiar de escrever, que tanto diferia do padrão parnasiano.
Os escritores modernistas, que aparecem na cena nacional logo após a morte do escritor, em 1922, veem seu estilo leve, fluente e propositalmente frouxo como um modelo a ser seguido. Esse reconhecimento fez o escritor alcançar o posto de um dos maiores escritores do Brasil.
Principais obras
Sua obra mais representativa e apreciada é Triste fim de Policarpo Quaresma (1915). Entretanto, Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Clara dos Anjos (lançado postumamente somente em 1948) e Os bruzundangas (1922) também merecem destaque.
Muitas de suas obras foram adaptadas para o cinema, televisão, teatro e histórias em quadrinhos. Triste fim de Policarpo Quaresma foi transformando em um filme de título Policarpo Quaresma, o Herói do Brasil, e também em HQ.
Já o enredo de Clara dos Anjos foi utilizado para uma história paralela exibida na novela Fera Ferida (1993-1994), da Rede Globo, e também virou história em quadrinhos. E o seu conto O homem que sabia javanês, de 1911, foi transformado em filme, peça de teatro e história em quadrinhos.
Resumo sobre a vida e a obra de Lima Barreto
Para encerrar, revise o conteúdo com esta videoaula da prof. Camila!
Questões sobre Lima Barreto
Questão 1 (Enem-2012)
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que:
a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da natureza brasileira levou-o a estudar inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão mais ampla do país.
a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ideal de prosperidade e democracia que o personagem encontra no contexto republicano.
a construção de uma pátria a partir de elemento míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, conduz à frustração ideológica.
a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de decepção e desistência de Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete.
a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional faz parte de um projeto ideológico salvacionista, tal como foi difundido na época do autor.
Resposta correta: c.
Questão 2 (UFRGS-RS)
Uma atitude comum caracteriza a postura literária de autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha. Pode ela ser definida como
a) a necessidade de superar, em termos de um programa definido, as estéticas românticas e realistas.
b) pretensão de dar um caráter definitivamente brasileiro à nossa literatura, que julgavam por demais europeizada.
c) a necessidade de fazer crítica social, já que o realismo havia sido ineficaz nessa matéria.
d) uma preocupação com o estudo e com a observação da realidade brasileira.
e) aproveitamento estético do que havia de melhor na herança literária brasileira desde suas primeiras manifestações.
Resposta correta: c.
Questão 3 (FUVEST)
No romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, o nacionalismo exaltado e delirante da personagem principal motiva seu engajamento em três diferentes projetos, que objetivam “reformar” o país. Esses projetos visam, sucessivamente, aos seguintes setores da vida nacional:
a) escolar, agrícola e militar.
b) linguístico, industrial e militar.
c) cultural, agrícola e político.
d) linguístico, político e militar.
e) cultura, industrial e político.
Resposta correta: c.