A partir do século XV, os portugueses estiveram cada vez mais presentes na África em busca de metais preciosos e de pessoas escravizadas. Entenda nesta aula!
A história do Brasil e do continente africano foram conectadas a partir do século XVI. O início do projeto de colonização do Brasil aumentou a presença de portugueses na África e impulsionou o tráfico negreiro. Por isso, nesta aula veremos como os europeus chegaram ao continente africano e como ocorreu a cristianização do Reino do Congo.
O século XV corresponde ao momento em que os reinos Ibéricos de Portugal e Espanha se organizam para empreender as expedições ultramarinas. Após expulsarem os árabes e unificarem seu território, ambos os Estados encabeçaram uma política mercantilista.
Assim, eles começaram a procurar novas rotas de comércio com o Oriente. A fim de evitar o monopólio italiano no mediterrâneo, procuravam novas redes de comércio e jazidas com metais e pedras preciosas. Isso porque, no mercantilismo, o acúmulo de metais e a manutenção da balança comercial favorável eram condutas centrais. A catequização de outros povos também acabou pegando carona nestas expedições.
Como Portugal conseguiu expulsar os árabes e unificar seu território primeiro em torno de um governo absolutista, eles puderam se lançar ao mar e iniciar as grandes navegações antes dos espanhóis.
Como o Atlântico ainda era um oceano desconhecido, atrelado à monstros marinhos e a esfericidade da Terra ainda não era um consenso, os portugueses lançaram-se ao mar acompanhando o litoral africano. Afinal, essa era uma maneira segura de explorar novos lugares e permitiu com que eles controlassem aquela rota.
Mas a história dos portugueses na África já é conhecida e isso ocorre pelo fato de que ela é contada de uma perspectiva eurocêntrica. Será que não conseguimos saber um pouco mais sobre este mesmo período histórico de uma perspectiva que abandone a narrativa europeia?
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Os europeus chegam à África
O conhecimento europeu sobre o continente africano foi muito restrito durante muito tempo. Isso porque o comércio com os nativos estava limitado às regiões costeiras. Os europeus não faziam ideia de como era a África no período medieval.
Mas esse cenário começou a mudar com as viagens dos portugueses à África no século XV. Nos locais onde os portugueses atracavam em sua jornada, eles fundavam feitorias. Elas serviam como entrepostos comerciais com os povos nativos e armazéns para o abastecimento das embarcações que seguiam viagem.
Foram exceções os casos em que os brancos adentraram aquelas terras caminhando ou por meio de rios. Para a mentalidade mercantilista, bastava a obtenção de ouro, marfim e, posteriormente, seres humanos escravizados.
Entretanto, outros sujeitos puderam nos legar conhecimento sobre os povos africanos, permitindo com que não dependêssemos somente da etnografia e dos estudos arqueológicos.
Um dos principais nomes que podemos destacar aqui é o de Ibn Battuta (1304-1377), um viajante e intelectual muçulmano berbere nascido no Marrocos. Battuta produziu registros sobre suas viagens que se tornaram valiosos testemunhos da vida do continente africano no século XIV.
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Novos reinos africanos no século XV
É importante lembrar que após a morte de Maomé, os árabes ocuparam o norte da África, região conhecida como Magreb. Por isso, a religião muçulmana foi e ainda é muito presente no continente. Os árabes também já mantinham comércio com as nações africanas antes mesmo de os europeus partirem na busca de novas rotas comerciais com o Oriente.
Portanto, durante o século XV, uma grande quantidade e variedade de povos habitava o continente africano, diferenciando-se em formas de governo, línguas, religiões, culturas e atividades. Entre os mais importantes reinos africanos e impérios deste período estão Mali, Benin, Ilê-Ifé, Songai e Congo.
O reino do Congo
O caso do Congo é bem singular em relação à presença dos portugueses na África, pois houve uma aproximação dos governantes daquele reino com os europeus. No entanto, essa aproximação acabou acarretando transformações drásticas e dramáticas para aquela população.
A região passou por um processo de cristianização e roedura (exploração), tornando-se um dos principais centros de comércio de escravizados para serem trazidos para o Brasil.
Portugueses no Congo
O Congo era um grande e bem estruturado reino cujo governante possuía o título de Mani Congo. Seu domínio era exercido sobre diferentes povos da etnia e tronco linguístico banto. Sua localização se dava na região centro oeste do continente africano, um território entre as atuais Angola e Congo, e tinha como capital a cidade de Mbanza Congo.
A formação deste reino é marcada por historiadores como tendo ocorrido no final do século XIV. Esse era o exato momento em que os portugueses estavam passando pelo litoral atlântico da África. Nesse encontro entre povos tão distintos que se originaria um dos pontos de comércio e tráfico de escravizados mais intensos da história do Atlântico.
No Congo, o trabalho com metais preciosos e a escravidão já eram uma realidade antes da chegada dos portugueses na África. Contudo, a relação daquelas populações com essas práticas era bem diferente do que os europeus praticavam.
Diferente do projeto colonial, a escravidão na África não era voltada para uma produção em massa com um trabalho compulsório diário. O escravizado acabava fazendo parte da família de seu senhor e podia atingir até atingir grandes postos. Além disso, o Congo também não era uma nação tão comercial antes da chegada dos portugueses.
Cristianização do Congo
Foi neste contato que os comportamentos foram profundamente transformados. Desde a chegada dos portugueses com Diogo Cão, em 1845, o Mani Congo aproximou-se cada vez mais dos estrangeiros. Nos anos seguintes, o líder africano dedicou-se a aceitar e difundir o cristianismo em seu reino, alimentando uma grande troca de produtos e cultura entre os dois reinos.
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A capital Mbanza Congo acabou virando São Salvador em 1491 e os nobres congolenses passaram a se batizar, adotando a religião e nomes cristãos. Esse processo continuou ocorrendo ao longo de anos, o que provocou conflitos com lideranças que não viam com bons olhos tal transformação. Afonso I, rei congolês, foi um dos principais promotores dessa assimilação cultural.
A partir de 1530, os portugueses voltam o olhar para o Brasil e decidem iniciar uma política de ocupação da terra. O trabalho escravo compulsório, voltado para a produção em larga escala, estava na base dessa ocupação. Rapidamente passaram a aumentar a procura por escravizados nos litorais africanos. O Congo sentiu esse processo, que acabou, inclusive, fazendo com que nobres congolenses passassem também a ser escravizados.
As relações entre os dois reinos passaram a se deteriorar, e posteriormente, europeus de outras nações passaram também a explorar recursos do Congo. Os historiadores Ronaldo Vainfas e Marina de Mello e Souza destacam a batalha de Mbwila entre congolenses e portugueses como marco nas animosidades entre os dois reinos.
Nesta batalha os portugueses, aliados aos guerreiros imbangalas dizimaram os congolenses e cortaram a cabeça de seu rei, Antônio I. Após o conflito, São Salvador veio à ruína.
Em seguida, assista este vídeo do canal Parabólica sobre a história do reino do Congo:
Exercícios sobre os portugueses na África:
Questão 01 – (UNIFOR CE)
Principalmente a partir do século XVI, a Coroa portuguesa interveio militarmente em disputas e conflitos entre africanos para manter no governo autoridades africanas convenientes com o tráfico e a escravidão. Tanto no reino Ndongo (Angola), quanto no reino do Congo, os portugueses auxiliaram na imposição de monarcas dóceis ligados aos interesses do tráfico atlântico. Com o tráfico, teve início o processo de roedura.
Fonte: BOULOS JUNIOR, Alfredo. História. Sociedade & Cidadania. 2ª Edição. Vol. 2. São Paulo: FTD, 2016, 81.
Ao levar em consideração as informações acima, qual das opções abaixo se refere a relação entre o tráfico atlântico e o processo de roedura?
a) A venda de escravos organizados por africanos garantiram o surgimento de mercado inexistente até então: venda de homens e mulheres para trabalhos forçados no mundo.
b) No momento em que as guerras europeias afetaram os africanos, os últimos se viram obrigados a vender seus irmãos para evitarem ser mortos, ganhando muito dinheiro.
c) Os africanos, conscientes do excedente de pessoas dentro de seu continente, se viram obrigados a migrar para outros países, esta relação foi erroneamente chamada de tráfico.
d) O comércio de homens e mulheres negros, perpetrados principalmente por europeus, garantiu a escravização de africanos nas Américas, resultando na exploração colonial da África.
e) A população existente nas Américas não desejava adquirir escravos, porém, foram obrigados a comprar africanos escravizados, deteriorando, assim, a história da América colonial.
Questão 02 – (UECE)
O principal porto do Congo localizava-se em Mpinda, de onde milhares de pessoas foram embarcadas como escravos da África para a América. Após 1665, o medo tomou conta da população congolesa com a introdução do comércio escravagista para o outro lado do Atlântico pelos
a) franceses.
b) holandeses.
c) portugueses.
d) ingleses.
Questão 03 – (UECE)
A parte da África localizada ao sul do equador foi habitada por povos cuja língua falada pertencia a um tronco linguístico com dezenas de famílias e cerca de 470 línguas, as quais atualmente são faladas por aproximadamente 100 milhões de pessoas em territórios como o Congo, Angola e Moçambique. Por extensão, os povos que falam essas línguas são chamados de
a) mbanza longos.
b) malinezes.
c) bantos.
d) congolezes.
Gabarito
- D
- C
- C