O que é sintaxe

Sintaxe é o ramo da gramática que estuda as regras que ditam as possibilidades de associação de palavras na língua portuguesa para a construção de enunciados.

Cada classe de palavras tem sua definição baseada na função que desempenha, e esta revisão trata exatamente disto: sintaxe.

Um jedi muito famoso tem um jeito bem peculiar de usar a gramática, não é mesmo? Nem precisa ser muito fã de Star Wars para saber que estou falando do grande Mestre Yoda.

Se você não conhece – o que eu duvido – veja a fala do personagem em seguida:

Yoda - Sintaxe

Notou que o mestre jedi “usando a gramática de um jeito diferente está”? Um exemplo como esse nos ajuda a entender uma característica simples de todas as línguas.

Além de um léxico construído por centenas de milhares de palavras, elas também precisam de regras que determinam o modo como podem se combinar para formar enunciados. Essas regras determinam a sintaxe das línguas.

O que é sintaxe

Sintaxe é o conjunto das regras que ditam as várias possibilidades de associação das palavras da língua para a construção de enunciados. Assim, é função da sintaxe organizar a estrutura das unidades linguísticas – sintagmas – que se articularão em sentenças.

Estudante, é o fato de todas as línguas possuírem sua sintaxe própria que nos impede de combinar aleatoriamente as palavras, tal como faz o mestre Yoda.

Mas isso não quer dizer que exista apenas uma forma de organização possível para as palavras nas sentenças. Saca só:

Ontem Carla arrumou uma estante de madeira em casa
Ontem arrumou Carla uma estante de madeira em casa
Carla arrumou ontem uma estante de madeira em casa
Carla arrumou uma estante de madeira ontem em casa
Carla arrumou uma estante de madeira em casa ontem
Carla arrumou em casa uma estante de madeira ontem
Ontem em casa Carla arrumou uma estante de madeira

As combinações que eu trouxe de exemplo são algumas das possibilidades de organização sintática das palavras desse enunciado.

Note que, em todas elas, o sentido desejado fica mantido e é perfeitamente compreensível.

No entanto, existem combinações que não passam de meras sequências de palavras e não conseguem formar um simples enunciado.

Casa Carla estante de arrumou ontem madeira em uma
estante casa uma Carla em de arrumou ontem madeira

Sei que você reconhece todas as palavras dessas combinações, mas concluímos que sua disposição, nessa ordem, não produz enunciados aceitos pela língua portuguesa.

Relações e funções sintáticas

Os enunciados da língua constroem unidades linguísticas que têm uma estrutura sintática, ou seja, que refletem uma organização própria prevista pela língua.

Portanto, não são um emaranhado de combinações aleatórias de palavras. Pelo contrário: as associações de palavras são sempre organizadas pela sintaxe, que define as sequências possíveis no interior dessas estruturas.

Para que fique bem claro, estudante, o que é estrutura sintática, é importante compreender as noções de relação sintática de função sintática.

Relação sintática

 Carla arrumou uma estante de madeira.

  • Carla: é o agente da ação expressa pelo verbo;
  • arrumou: verbo, a ideia de ação;
  • uma estante de madeira: completa o sentido do verbo arrumou;
  • de madeira: especifica, particulariza a estante arrumada.

Quando se diz algo como “Carla arrumou uma estante de madeira”, estamos relacionando sintaticamente “Carla” a “arrumou uma estante de madeira”, porque se afirma, a respeito de Carla, que foi ela a agente da ação de arrumar algo.

Relacionamos, ainda, “arrumou a uma estante de madeira”, porque “uma estante de madeira” completa o sentido de “arrumar”.

Da mesma forma, há, também, uma relação sintática entre “estante” e “de madeira”, porque “de madeira” especifica, particulariza “a estante” que foi arrumada. E assim por diante.

Saca só: são as relações sintáticas formadas entre as palavras que definem as estruturas possíveis na sintaxe das línguas. Dessa forma, as ideias de estrutura e de relação estão, como podemos deduzir, intimamente ligadas.

Portanto, só é possível estabelecer uma relação sintática entre os termos do enunciado anterior porque eles desempenham uma função sintática específica nas estruturas das quais fazem parte e no interior das quais entram em relação.

Função sintática 

Carla arrumou uma estante de madeira.

  • Carla: sujeito do verbo arrumar;
  • arrumou uma estante de madeira: predicado verbal do sujeito Carla;
  • uma estante de madeira: objeto direito do verbo arrumar;
  • uma e de madeira: adjuntos adnominais do objeto direto.

Dito isso, já podemos entender que fazer a análise sintática dos enunciados da língua, portanto, é explicar as estruturas, as relações e as funções dos elementos que os formam.

Enunciados da língua: frase, oração e período

Quando estudamos os enunciados da língua, podemos identificar 3 unidades que apresentam características estruturais próprias: frase, oração e o período.

Frase

Frase é um enunciado linguístico que, independentemente de sua estrutura ou extensão, traz um sentido completo em uma situação de comunicação.

O início e o fim da frase são marcados, na fala, por uma entoação característica. Enquanto isso, na escrita, são marcados por uma pontuação específica.

Entonação

Entonação pode ser definido como o modo que os falantes ligam os enunciados a algumas maneiras melódicas de falar.

Além de expressarem sentido interrogativo ou declarativo, as muitas variações da entoação são utilizadas pelos falantes para trazer aos enunciados uma série de outros sentidos – espanto, ironia, dúvida, irritação, tristeza.

Em seguida, fale e compare:

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As frases podem ser construídas por uma única palavra ou por várias palavras. Podem, ainda, apresentar um verbo ou não. O essencial para saber se um enunciado é ou não uma frase é o fato de ele trazer um sentido completo em um contexto específico.

Oração

Como você viu, estudante, o critério que foi utilizado para identificar as frases é discursivo, ou seja, está diretamente relacionado ao contexto em que são apresentados os enunciados.

A gramática normativa, como você já deve saber, trata de estudar também os enunciados a partir de considerações de natureza sintática, aquelas que explicam as relações entre as palavras de um enunciado e a função de cada uma delas.

Uma importante unidade sintática é a oração. Oração é um enunciado linguístico que traz uma estrutura caracterizada sintaticamente pela presença obrigatória de um predicado.

O predicado é introduzido, na língua, por um verbo. Por esse motivo, se diz que toda oração necessita ter a presença de um verbo.

A oração apresenta, na maioria dos casos, um sujeito e vários outros elementos – essenciais, integrantes ou acessórios.

Termos essenciais, integrantes ou acessórios também fazem parte do estudo da sintaxe, mas veremos isso em outro momento.

Período

A gramática normativa prevê, por fim, um outro tipo de unidade sintática: o período. Período é um enunciado de sentido completo formado por uma ou mais orações.

O início e o fim do período são marcados, na fala, pelo uso de uma entonação característica e, na escrita, pelo uso de uma pontuação específica.  A entonação e a pontuação marcam, também, a extensão dos períodos.

São exemplos de períodos:

Corram!

Levantem-se, soldados!

Os dias de inverno são bem curtos na Ilha.

Quantos quilos de carne vocês precisam comprar para o churrasco do grupo?

Não sabemos quantos exercícios devemos resolver para a prova de amanhã.

Lilica disse que não viria, porém mudou de ideia, pois precisa pagar os documentos que vencem amanhã.

Período simples e período composto

Chamamos de períodos simples somente aqueles construídos por uma só oração. Nesse caso, a oração é denominada absoluta. Por exemplo:

Os dias de inverno são bem curtos na Ilha.

Enquanto isso, os períodos compostos, como o próprio nome sugere, apresentam mais de uma oração. Por exemplo:

Lilica disse que não viria, porém mudou de ideia, pois precisa pagar os documentos que vencem amanhã.

Temos uma revisão mais detalhada sobre frase, oração e período publicada na página do Curso Enem Gratuito. O objetivo desta revisão é deixar bem claro que toda palavra exercerá uma função sintática.

E, daí em diante, falaremos da sintaxe, portanto, sinta-se à vontade.

Videoaula sobre sintaxe

Por fim, faça aquele simuladinho maroto e a videoaula para ajudar a fixar o conteúdo, beleza?

Exercícios sobre sintaxe

1- (UNESP SP)    

Leia o soneto “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia”, do poeta Gregório de Matos (1636-1696).

 

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da Luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.

 

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?

Se é tão formosa a Luz, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

 

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,

E na alegria sinta-se tristeza.

 

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.

(Poemas escolhidos, 2010.)

O verso está reescrito em ordem direta, sem alteração do seu sentido original, em:

a) “Começa o mundo enfim pela ignorância,” (4a estrofe) Pela ignorância, enfim, o mundo começa.

b) “Em tristes sombras morre a formosura,” (1a estrofe) A formosura morre em tristes sombras.

c) “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,” (1a estrofe) O Sol não dura mais que um dia que nasce.

d) “Depois da Luz se segue a noite escura,” (1a estrofe) Segue-se a noite escura depois da Luz.

e) “Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,” (3a estrofe) Mas falte a firmeza no Sol e na Luz.

2- (ENEM/2019)    

Menino de cidade — Papai, você deixa eu ter um cachorro no meu sítio? — Deixo. — E um porquinhoda- índia? E ariranha? E macaco e quatro cabritos? E duzentos e vinte pombas? E um boi? E vaca? E rinoceronte? — Rinoceronte não pode. — Tá bem, mas cavalo pode, não pode? O sítio é apenas um terreno no estado do Rio sem maiores perspectivas imediatas. Mas o garoto precisa acreditar no sítio como outras pessoas precisam acreditar no céu. O céu dele é exatamente o da festa folclórica, a bicharada toda e ele, que nasceu no Rio e vive nesta cidade sem animais.

CAMPOS, P. M. Balé do pato e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1988.

Nessa crônica, a repetição de estruturas sintáticas, além de fazer o texto progredir, ainda contribui para a construção de seu sentido,

a) demarcando o diálogo desenvolvido entre o pai e o menino criado na cidade.

b) opondo a cidade sem animais a um sítio habitado por várias espécies diferentes.

c) revelando a ansiedade do menino em relação aos bichos que poderia ter em seu sítio.

d) pondo em foco os animais como temática central da história narrada nessa prosa ficcional.

e) indicando a falta de ânimo do pai, sem maiores perspectivas futuras em relação ao terreno.

3- (IFAL/2019) (adaptada)   

Quanto à análise sintática dos termos abaixo, pode-se dizer apenas que:

a) Em “Já entre os 30 logradouros de nomes femininos, apenas quatro não são de caráter religioso”, temos um núcleo de sujeito oculto.

b) Em “Homens ainda dão nome à maior parte dos viadutos”, o sujeito é indeterminado, uma vez que o contexto não permite ao leitor atestar que homens são esses.

c) Em “Você provavelmente não é o responsável pela escolha dos nomes do seu país, Estado, cidade ou rua”, o termo em destaque é um agente da passiva.

d) Em “A mulher ficava em casa”, o termo em destaque é um predicativo do sujeito “A mulher”.

e) Em “Os fatores mudam ao longo do tempo”, o termo em destaque é um objeto indireto, dado que se liga ao verbo por intermédio de uma preposição.

Gabarito:

  1. B
  2. C
  3. A

Sobre o(a) autor(a):

Anderson Rodrigo da Silva é professor formado em Letras Português pela UNIVALI de Itajaí. Leciona na rede particular de ensino da Grande Florianópolis.

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