Nesta revisão veremos que as nomenclaturas das classes se transformaram ao longo do tempo e entenderemos como estas transformações são o reflexo de mudanças sociais e também da manutenção do poder das classes dominantes.
A divisão da sociedade em classes, estratos ou grupos sociais não é algo recente, já que remonta os primórdios da civilização ocidental. Porém o termo classe social surge na modernidade, com o desenvolvimento do capitalismo industrial, por volta do século XIX.
Os diferentes conceitos de classes sociais
Na história da Sociologia, diversos autores de debruçaram sobre o estudo das classes sociais. Assim como em outros temas, neste destacam-se as contribuições de Max Weber e Karl Marx.
As classes sociais para Max Weber
Max Weber foi um dos primeiros a identificar o fenômeno da estratificação social. Para ele, isto que nada mais é do que a divisão da sociedade a partir de três elementos fundamentais: prestígio social, econômico e político.
Para este autor, o termo classe refere-se a qualquer grupo de pessoas que se encontram em uma mesma situação econômica. Weber acreditava, no entanto, que o status de uma pessoa, ou seja, sua posição social definida a partir de seu estilo de vida e instrução formal, não necessariamente estaria vinculado a sua posição de classe, pois a posse de uma propriedade ou o acúmulo de capital nem sempre é suficiente para garantir uma posição social de prestígio.
Classes sociais para Marx e Engels
Outros autores, como Karl Marx e Friedrich Engels, tomarão o termo classe social como central para a análise da sociedade capitalista e suas contribuições foram fundamentais para entendermos a divisão de classes hoje.
Como você já deve saber, segundo Marx, a dinâmica social capitalista está centrada na propriedade privada. Com base nela se constituem as classes sociais e todas as relações de troca.
Assim, a sociedade será estruturada a partir de duas classes antagônicas, uma que tem os meios de produção e, por isso, tem o poder de explorar – a burguesia – e outra que precisa vender sua força de trabalho e, por isso, é explorada – o proletariado.
Para Marx, o poder econômico da burguesia é determinante sobre os outros poderes – político, social, etc –, logo, quem tem a propriedade privada automaticamente tem acesso aos outros poderes, tornando-se parte da classe dominante.
A divisão de classes na sociedade contemporânea
Marx e Weber, cada um a seu modo, estavam corretos em suas análises, porém, hoje, com a chegada do capitalismo pós industrial e as transformações provocadas pela globalização, o buraco é mais embaixo.
A complexidade das sociedades contemporâneas não cabe em duas classes sociais e vai muito além das condições de status e prestígio político.
Questões como raça e gênero passaram a ser fundamentais para entender a divisão da sociedade em classes, assim como para perceber as nuances da dominação, exclusão e discriminação de alguns grupos sociais.
Em meados do século XX, surgiu a nomenclatura classe baixa, classe média e classe alta. A emergência da classe média como classe que vem crescendo em tamanho e importância social nos países capitalistas em desenvolvimento, como o Brasil, a Índia e a África do Sul, fez com que muitas pessoas concluíssem que estamos nos encaminhando para uma vida em sociedade mais justa, com menos desigualdade, dominação e exclusão social.
Porém, os índices de desemprego, violência e discriminação por raça, classe e gênero vêm crescendo na maior parte dos países, fazendo com que essa teoria das supostas melhorias sociais caia por terra.
Em relação às classes baixas e altas sabemos, por exemplo, que a questão de raça é determinante, já que vemos uma grande porcentagem de indígenas e negros nas classes baixas e uma grande porcentagem de brancos nas classes altas.
Essas classes correspondem também à divisão “pobres” e “ricos”, que é frequentemente utilizada no cotidiano, mostrando como as sociedades de hoje, em alguns aspectos, continuam parecidas com a sociedade analisada por Marx.
Recentemente, surgiu uma nova nomenclatura para diferenciar as classes a partir de letras: A, B, C, D e E. Essa nova divisão, embora possa parecer mais desenvolvida e menos preconceituosa, invisibiliza as desigualdades sociais que definem a divisão da sociedade em classes.
Ou seja, essa divisão acaba por mascarar a dominação das classes A e B sobre as classes C, D e E.
Por outro lado, esta nova divisão dá conta da complexidade das sociedades contemporâneas, mostrando que numa mesma classe podem estar uma mulher branca com apenas ensino médio completo e um homem negro com nível superior, já que fatores como raça e gênero, juntamente com a instrução escolar e o poder aquisitivo (dinheiro), serão preponderantes para definir a classe social de uma pessoa atualmente.
Videoaula
Para saber mais sobre este tema, assista à videoaula a seguir, com o professor Fábio Luís Pereira, de Sociologia!
Questões sobre classes sociais
Agora que você já estudou as principais teorias sobre as classes sociais, responda às questões a seguir, selecionadas pela professora Juliana.
1. (UEL – 2006) Contardo Calligaris publicou um artigo em que aborda a prática social brasileira de denominar como doutores os indivíduos pertencentes a algumas profissões, dentre eles mé-dicos, engenheiros e advogados, mesmo na ausência da titulação acadêmica. Segundo o autor, estes mesmos profissionais não se apresentam como doutores no encontro com seus pares, mas apenas diante de indivíduos de segmentos sociais considerados subalternos, o que indica uma tentativa de intimidação social, servindo para estabelecer uma distância social, lembrando a so-ciedade de castas. A questão levantada por Contardo Calligaris aborda aspectos relacionados à estratificação social, estudada, entre outros, pelo sociólogo alemão Max Weber.
De acordo com as ideias weberianas sobre o tema, é correto afirmar:
a) As sociedades ocidentais modernas produzem uma estratificação social multidimensional, articulando critérios de renda, status e poder.
b) Médicos, engenheiros e advogados são designados de doutores porque suas profissões beneficiam mais a sociedade que as demais.
c) A titulação acadêmica objetiva a intimidação social e a demarcação de hierarquias que culmi-nem em uma sociedade de castas.
d) A intimidação social perante os subalternos expressa a materialização das castas nas sociedades modernas ocidentais.
e) Nas sociedades modernas ocidentais, a diversidade das origens, das funções sociais e das condições econômicas são critérios anacrônicos de estratificação.
2. (UEM – Inverno 2008) Em termos sociológicos, assinale a alternativa que não for correta sobre o conceito de classes sociais:
a) Sua utilização visa explicar as formas pelas quais as desigualdades se estruturam e se reproduzem nas sociedades.
b) De acordo com Karl Marx, as relações entre as classes sociais transformam-se ao longo da história conforme a dinâmica dos modos de produção.
c) As classes sociais, para Marx, definem-se, sobretudo, pelas relações de cooperação que se desenvolvem entre os diversos grupos envolvidos no sistema produtivo.
d) A formação de uma classe social, como os proletários, só se realiza na sua relação com a clas-se opositora, no caso do exemplo, a burguesia.
e) A afirmação “a história da humanidade é a história das lutas de classes” expressa a ideia de que as transformações sociais estão profundamente associadas às contradições existentes entre as classes.
3) A sociedade capitalista é divida em classes desde seu surgimento, porém, os critérios para definir os membros de uma classe foram se transformando e se complexificando ao longo do tempo. Que aspectos são considerados fundamentais para o pertencimento de uma pessoa a uma determinada classe hoje?
a) apenas raça e gênero
b) raça, idade e preferência política
c) apenas raça e poder aquisitivo
d) apenas gênero e preferência política
e) raça, gênero, instrução escolar e poder aquisitivo
Gabarito:
1) a
2) c
3) e