Invasão holandesa e invasões francesas no Brasil colonial

A invasão holandesa ocorreu de 1630 a 1654 e foi motivada por questões diplomáticas com a União Ibérica. Mas antes disso, os franceses já haviam tentado invadir o Brasil.

Apesar de o Brasil ter sido colonizado por Portugal, outros países tentaram iniciar projetos coloniais aqui. Primeiramente foram os franceses, que tentaram construir uma colônia chamada França Antártica no Rio de Janeiro, e depois fizeram uma segunda tentativa no Maranhão. Mais tarde foi a vez dos holandeses, que se estabeleceram por 24 anos no Nordeste. Acompanhe a aula e entenda como foram as invasões francesas e invasão holandesa no Brasil colonial.

O que foi a França Antártica

Os franceses já estavam no território do Brasil desde as primeiras décadas do século XVI, explorando pau-brasil ilegalmente e saqueando feitorias e navios portugueses.

Mas em 1555, durante o Governo-geral de Duarte de Sousa, houve uma invasão propriamente dita. Sob a liderança de Villegagnon, um grupo de franceses huguenotes (calvinistas) veio para o Brasil. Além de fugir de perseguições religiosas na França, eles tinham o objetivo de iniciar um projeto colonial francês.

Dessa forma, eles se estabeleceram na região da Baía de Guanabara, e lá permaneceram por 12 anos. Logo que chegaram, construíram o Forte de Coligny para defender a terra que deram o nome de França Antártica. Ela foi assim chamada porque os franceses acreditavam que o território estava próximo do polo antártico.

França Antártica - Invasão holandesa
Mapa da França Antártica do livro “Viagem à terra do Brasil” (1557), de Jean de Léry.

A Confederação dos Tamoios

Naquela época, os portugueses estavam começando o projeto de colonização do Brasil. Por isso, tentavam escravizar as populações indígenas para utilizá-las como mão de obra. Ao mesmo tempo, os jesuítas estavam chegando no Brasil com o objetivo de catequizar os indígenas. Por isso, não apoiavam a sua escravização.

Foi nesse contexto de tensão que surgiu uma das maiores revoltas indígenas da nossa história: a Confederação dos Tamoios. Ela reunia pessoas de diversos povos indígenas, como os Tupinambá, os Goitacá e os Carijó. Eles se uniram e, assim, resistiram contra as investidas dos portugueses.

Assim, os franceses se aproveitaram da situação conflituosa e aliaram-se à Confederação dos Tamoios. Isso foi possível porque, até então, não demonstravam plano de escravizá-los ou de tomar suas terras.

A retomada do território por Portugal

Entretanto, os portugueses logo agiram para recuperar o território que consideravam seu. Em 1557, o então governador-geral, Mem de Sá,  foi incumbido de expulsar os franceses. No entanto, os adversários se mostraram resistentes, ainda mais com o auxílio da Confederação dos Tamoios.

Por isso, Estácio de Sá, que comandava as tropas de Portugal – além de ser sobrinho de Mem de Sá –, aliou-se ao povo Temiminós, que era adversário dos Tamoios. Dessa forma, as batalhas que aconteceram na França Antártica não foram apenas entre europeus, mas também entre povos indígenas.

Além disso, em 1567, Estácio de Sá fundou no Rio de Janeiro um arraial com o nome de São Sebastião do Rio de Janeiro. Como era fortificado, o arraial passou a dar vantagem aos portugueses. No mesmo ano, o lado de Portugal e dos Temimimós venceu.

Como resultado, os franceses foram expulsos e os Tamoio terminaram massacrados. Mais de mil indígenas morreram, e o mesmo número de Tamoio acabou sendo escravizado.

França Equinocial

Apesar da derrota, os franceses realizaram outras tentativas de invasão do território. Em 1612, o fidalgo francês Daniel de la Touche, junto a 500 homens, se estabeleceu na região do Maranhão e iniciou a segunda invasão francesa. Sua intenção era iniciar uma nova colônia.

Assim, fundaram uma cidade e a nomearam São Luís, em homenagem ao rei Luis XIII da França. Mas o nome que deram a sua colônia foi França Equinocial, pois era uma região muito próxima da linha do Equador.

No entanto, a colônia durou pouco. No ano de 1615, tropas da capitania de Pernambuco foram enviadas para combater os franceses, que foram novamente expulsos da colônia portuguesa.

A partir de então, cresceu ainda mais a preocupação com invasões no território. Por isso, foi tomada a decisão de ocupar e colonizar a região Norte. Foi nessa ocasião que foi criada a cidade de Belém. É importante destacar que de 1580 a 1640, Portugal e Espanha formavam a União Ibérica. Portanto, esses foram projetos executados dentro do período da união.

Para aprofundar seus estudos sobre a invasão francesa, veja a aula do prof. Felipe:

A invasão holandesa no Brasil

Também foi durante a União Ibérica que uma nova e duradoura invasão ocorreu no Brasil: a invasão holandesa no Nordeste. Inicialmente, Holanda e Portugal possuíam relações amigáveis. Tanto é que os holandeses financiavam a construção de engenhos no Brasil e compravam grande parte do açúcar produzido aqui para refiná-lo e revendê-lo na Europa.

No entanto, a Espanha possuía desavenças com a Holanda. Como a União Ibérica transformou Portugal e Espanha em um só Estado, a Espanha impôs restrições aos holandeses no território brasileiro. Eles foram proibidos de ancorar os seus navios em todas as colônias espanholas e portuguesas.

Para que não perdessem os seus negócios ligados ao açúcar, a Holanda tentou invadir Salvador em 1624. A tentativa rendeu confrontos por um ano, com os luso-brasileiros tentando impedir que os holandeses chegassem ao interior da capitania. Em 1625, a União Ibérica enviou reforços à Bahia, e os holandeses foram, por ora, derrotados.

Invasão holandesa em Pernambuco

Cinco anos depois, em 1630, os holandeses voltaram a investir na invasão do Nordeste, mas, dessa vez, em Pernambuco. A região era estratégica, pois era ali que estava localizada a maior produção de açúcar do Brasil.

Primeiramente ocuparam Recife e Olinda, e depois conseguiram seguir pelo interior. Também chegaram a ocupar  áreas das antigas capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande.

Mapa da invasão holandesaUma tática utilizada pelos holandeses foi de oferecer segurança aos fazendeiros locais. Além disso, tomaram mais de 60 engenhos desativados e venderam a holandeses e luso-brasileiros. Assim, conseguiram a confiança da elite açucareira e evitaram que grandes revoltas acontecessem.

O governo de João Maurício de Nassau

Em 1637, a Holanda enviou o conde João Maurício de Nassau para governar o território que passou a ser chamado de “Nova Holanda”. Nassau tomou uma série de medidas durante o seu governo. Ele implantou um sistema administrativo e de Justiça semelhante ao de seu país natal.

Além disso, Nassau comandou a construção de uma nova cidade que seria chamada de Maurícia. Ele ordenou a construção de dois palácios, um jardim botânico e um zoológico com espécies da região e um museu de artefatos indígenas.

Também incentivou a vinda de pintores, astrônomos e botânicos para estudar e catalogar as espécies locais. Eles montaram um grande acervo documental e iconográfico que se tornou uma das maiores obras científicas sobre o Brasil até então.

A questão religiosa

Outra medida tomada por Nassau durante a invasão holandesa foi permitir a liberdade de culto, pois enquanto os holandeses eram calvinistas, a maior parte da população do Nordeste era católica. Dessa forma, eram evitados os conflitos de cunho religioso.

Também foi nessa época que judeus portugueses foram autorizados a virem para o Brasil. Eles haviam fugido para Amsterdã, onde não eram perseguidos pela Inquisição.  Entre 1637 e 1644, cerca de 1500 judeus chegaram em Pernambuco e na Paraíba. Construíram sinagogas e tiveram o respeito ao seu culto assegurado.

Lá eles deram continuidade aos seus negócios financeiros, principalmente na distribuição de produtos importados e cativos africanos. Sua posição econômica somada ao fato de que falavam português e holandês fez com que tivessem papel de destaque no Nordeste holandês.

A produção açucareira

Por fim, outra política estabelecida por Nassau foi a de conceder empréstimos para senhores de engenhos. Muitos deles haviam sido prejudicados durante o período de guerra entre holandeses e luso-brasileiros. Além dessa medida que incentivava a produção, também começaram a participar do tráfico negreiro.

Não foi só no Brasil que os holandeses tomaram as posses de Portugal. Já em 1637, tomaram a feitoria portuguesa de São Jorge da Mina, que ficava no Golfo de Benin. Depois disso, em 1641, também tomaram Luanda, cidade de Angola. Ambos os locais eram importantes para o tráfico português de escravos e de mercadorias.

Dessa forma, a Holanda passou a controlar o tráfico do Atlântico. Estima-se que entre 1630 e 1651, os holandeses trouxeram cerca de 26 mil cativos para os engenhos do Nordeste.

Insurreição Pernambucana

O fim da União Ibérica em 1640 começou a mudar a história da invasão holandesa no Brasil. Novamente independente, Portugal estabeleceu um acordo em que reconhecia a posse holandesa das terras no Brasil e na África. A condição era que a Holanda não deveria expandir seus domínios. No entanto, já em 1641, os holandeses ocuparam o Maranhão e o Sergipe.

Apesar disso, o que determinaria o fim da ocupação holandesa foi a queda no preço do açúcar. Isso ocorreu por causa de incêndios nos canaviais, epidemias entre os escravos e períodos de seca. Assim, os donos de engenho ficaram cada vez mais endividados com a Companhia das Índias Ocidentais.

A queda nos preços fez os holandeses aumentarem ainda mais os impostos sobre o açúcar para compensarem suas perdas. Enquanto isso, a elite açucareira não conseguia quitar suas dívidas e corria o risco de perder seus engenhos.

Por isso, iniciaram uma série de rebeliões que ficaram conhecidas como Insurreição Pernambucana ou Guerra Brasílica. Os conflitos iniciaram em 1645 e tiveram fim 9 anos depois.

Em 1648 e 1649, os holandeses foram derrotados em duas batalhas que ocorreram em Guararapes, ao sul do Recife. A vitória dos luso-brasileiros fez os holandeses se concentrarem na cidade Maurícia, onde permaneceram até o início de 1654. Ataques de navios portugueses fizeram com que a população da Holanda finalmente deixasse o Brasil e, assim, encerrasse a invasão holandesa.

Batalha dos Guararapes - Invasão holandesa
A Batalha de Guararapes, pintura de Victor Meirelles, 1879.

O mito das três raças

Além dos senhores de engenho, indígenas potiguares e negros forros lutaram contra os holandeses. Essa aparente união deu origem à ideia de que houve uma unidade das três raças formadoras da população brasileira a partir da Insurreição Pernambucana.

No entanto, houve indígenas lutando também ao lado da Holanda e o número de escravizados negros que fugiram foi muito expressivo. Nunca tantas pessoas escravizadas fugiram das fazendas pernambucanas quanto nesse período.

Atualmente, o mito das três raças é totalmente descreditado, não só por causa da Insurreição Pernambucana, mas também por ter sido elaborado com base em pressupostos racistas.

A crise da economia açucareira após a invasão holandesa

Os holandeses permaneceram por 24 anos no Nordeste brasileiro. Durante esse período, eles aprenderam muito sobre o funcionamento dos engenhos e a produção de açúcar. Assim, eles puderam aplicar em suas colônias no Caribe as técnicas aprendidas no Brasil. Por isso, o açúcar caribenho tornou-se o principal concorrente do produto brasileiro, o que acabou levando a economia açucareira a entrar em crise.

Revise a aula de invasão holandesa com a videoaula do nosso canal com o prof. Felipe, e em seguida resolva os exercícios:
Exercícios sobre as invasões holandesa e francesa:
 01 – (UniCESUMAR PR/2020)    

França e Holanda invadiram e buscaram instalar colônias no litoral brasileiro ao longo do período colonial. São exemplos dessas investidas:

a) A construção de São Luís, no Maranhão, como capital da França Equinocial, e a criação da Companhia das Índias Ocidentais, para colonizar o Brasil holandês, quando houve a ocupação de Olinda, cidade que passou a sediá-la.

b) A edificação do Palácio de Nova Friburgo, por Holandeses, na região serrana do Rio de Janeiro, onde fundaram sua primeira colônia, e a fundação da cidade de Macapá como parte da Guiana Francesa, antes de sua retomada pelos portugueses.

c) A ocupação temporária de Salvador pelos holandeses e a fundação da Confederação dos Tamoios por colonizadores franceses, que organizaram os índios da região do litoral norte de São Paulo para guerrear contra tropas portuguesas.

d) A primeira colonização do Rio de Janeiro por calvinistas franceses e a participação dos comerciantes holandeses na Guerra dos Mascates, em Pernambuco, contra os portugueses.

e) A fundação da colônia denominada França Antártica na Baía do Rio de Janeiro e a construção da Cidade Maurícia pelos holandeses, em uma parte de Recife.

2- (FM Petrópolis RJ/2016)    

Ao longo do período colonial da História do Brasil, o Império Português foi vítima de assédio e de tentativas de invasão de seus territórios ultramarinos por parte de diversas potências rivais. Alguns exemplos de invasões estrangeiras na América Portuguesa estão listados a seguir:

1612 – Estabelecimento da França Equinocial

1624 – Tentativa derrotada da invasão holandesa a Salvador

1630 – Tomada de Recife e Olinda por invasores holandeses

A interpretação dos dados acima permite identificar que uma causa direta de todas essas invasões estrangeiras foi a

a) fuga da Corte portuguesa para a América

b) vitória francesa na Guerra dos Sete Anos

c) conclusão da Reconquista da Península Ibérica

d) guerra de Restauração Portuguesa contra a Espanha

e) criação da União das Coroas Ibéricas

3- (PUC SP/2015)    

A invasão e a ocupação holandesas no Nordeste do Brasil, ocorridas durante o período da União Ibérica (1580-1640),

a) derivaram dos conflitos territoriais entre Portugal e Espanha, que fragilizaram o controle português sobre a colônia.

b) foram resultado das disputas entre Holanda e Inglaterra pelo controle da navegação comercial atlântica.

c) derivaram dos interesses holandeses na produção e comercialização do açúcar de cana.

d) foram resultado do expansionismo naval espanhol, que desrespeitou os limites definidos no Tratado de Tordesilhas.

e) derivaram da corrida colonial, entre as principais potências europeias, na busca de fontes de matérias-primas e carvão.

Gabarito:
  1. E
  2. E
  3. C

Sobre o(a) autor(a):

Ana Cristina Peron é formada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestranda em História na mesma universidade. Também é redatora do Curso Enem Gratuito e do Blog do Enem.

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