O que é história, fontes históricas e contagem do tempo

Você já se perguntou o que é história e para que ela serve? Confira nesta aula o que a história estuda, como é o trabalho do historiador, o que são fontes históricas e como é feita a contagem do tempo. Prepare-se para questões de Ciências Humanas do Enem!

É comum que estudantes que não gostam muito de História questionem o porquê de ficar estudando o passado e porque ele é cobrado pelo Enem. O estudo de fatos organizados numa linha do tempo e sem relação com o presente realmente não faz muito sentido. Por isso, antes de começar a estudar qualquer conteúdo de História, é importante pensar o que é história e pra que ela serve.

O que é história

Uma das possíveis definições para história é “a ciência que estuda os seres humanos através do tempo e do espaço”. Por isso, a história não se interessa somente pelo passado. Essa ciência também se dedica às ligações e influências que cada fenômeno possui com diferentes locais e períodos, incluindo o presente.

Por muito tempo, a noção que se tinha da história é que somente importava a trajetória de líderes e governantes. Se pensava que apenas eles é que tinham o poder de alterar os rumos de suas sociedades. Por isso, os estudiosos do tempo só escreviam histórias de guerra e política. Era como se as pessoas “comuns”, seus hábitos, cultura e ações não fossem dignas de serem lembradas no futuro.

No entanto, no século XX surgiram correntes historiográficas que chamaram a atenção para outros aspectos, como economia e cultura. Um marco importante foi o surgimento da Escola dos Annales. Ela foi uma corrente de pensamento que teve origem na publicação de uma revista que questionavam a história que era escrita até então.

Uma nova história

A partir dessas reflexões, o historiador Fernand Braudel criou a concepção de que haveria diferentes ritmos de tempo. Seriam eles a curta duração (o acontecimento), a média duração (a conjuntura), e a longa duração (estrutura). Ficou confuso? O que Braudel quis explicar é que certos acontecimentos só ocorrem de determinada forma porque estão localizados em um período com características específicas.

Ritmos de evolução do tempo - o que é história
Desenho esquemático dos ritmos de evolução do tempo. Referência: https://bit.ly/39vDvLv

Vamos pensar na escravidão de africanos, por exemplo. O tráfico de uma pessoa da África para o Brasil não ocorreria no século XXI da mesma forma como ocorreu no século XVIII. O tráfico negreiro é o acontecimento e a colonização baseada no sistema escravista é a conjuntura. Como hoje não estamos mais na mesma conjuntura, um acontecimento que já foi considerado normal nos soaria, no mínimo, escandaloso.

A partir desse modelo, foi possível entender que eventos não acontecem de forma isolada uns dos outros. Ao contrário, é possível delimitar conjuntos de fatos que pertencem a um mesmo processo. Por isso, possuem conexões com outros períodos e locais.

Dessa forma, foi possível questionar permanências e rupturas ao longo do tempo. Alguns exemplos são: o que mudou do século XVIII para o XXI para que não se considerasse a escravidão aceitável? O que continuou para que o racismo continue existindo na sociedade brasileira?

Além desses questionamentos, os historiadores também passaram a escrever a história de novos sujeitos e novos temas. Alguns exemplos são o trabalho, os costumes, os hábitos, a sexualidade, o meio ambiente, as migrações, entre vários outros.

Assim, as pessoas consideradas comuns também passaram a ter a possibilidade de se enxergarem na história. Por conhecerem a história de indivíduos semelhantes a si, passaram a ver a possibilidade de ter papel ativo na transformação da sociedade.

As fontes históricas

Você já se perguntou como é que sabemos como as pirâmides foram construídas, como os gregos viviam e como era organizada a sociedade na Mesopotâmia? Para entendermos o que é história, precisamos compreender como ela é escrita.

O trabalho do historiador é semelhante ao de um detetive. Ambos buscam evidências para entender e analisar o que aconteceu. Para escrever a história, são buscados registros deixados por cada sociedade, que podem ser materiais ou imateriais. Chamamos esses registros de fontes.

Para examinar cada tipo de fonte existem metodologias diferentes e cabe ao pesquisador escolher a mais adequada para conseguir elaborar o conhecimento científico. Tudo o que conhecemos sobre a história do Brasil e do mundo vem do cruzamento dos vários tipos de fontes disponíveis. Podemos dividi-las em:

Fontes escritas

São as mais tradicionais na pesquisa histórica.  Podemos citar cartas, jornais, revistas, diários, atas, livros, certidões de nascimento e óbito, processos criminais, manifestos, manuais, entre outros.

carta de pero vaz de caminha - o que é história
A carta de Pero Vaz de Caminha é um exemplo de fonte escrita. Ela pode ser utilizada por historiadores para pesquisar como os portugueses perceberam o novo território onde haviam chegado.

Fontes materiais

É possível trabalhar com todo o tipo de vestígio material produzido por cada sociedade. Alguns exemplos são monumentos, utensílios, ferramentas de trabalho, moedas, fósseis, vestimentas, moradias e meios de transporte.

Fontes iconográficas

A arte produzida por cada grupo social pode revelar muito sobre a forma como se expressavam, viviam e pensavam. Além disso, é possível estudar o papel que a arte tem em cada sociedade, a importância a ela conferida, como era patrocinada e comercializada, entre outras características. Pinturas e fotografias são exemplos de fontes iconográficas.

fonte iconográfica - o que é história
Passatempos depois do jantar, de Jean Baptiste Debret. As pinturas do pintor são muito utilizadas por historiadores para pesquisar a escravidão no Brasil.

Fontes orais

Nas últimas décadas, as fontes orais tem ganhado cada vez mais importância para a escrita da história. Ouvir e interpretar informações que podem ser transmitidas pela fala, como experiências pessoais, cantos, lendas e orações. Elas permitem que o historiador entenda o passado por meio de memórias individuais e coletivas.

Contagem do tempo

Ao longo da história, diferentes povos criaram diversas formas de contar o tempo. Os maias, por exemplo, apesar de seguirem um calendário solar com 365 dias, também possuíam um calendário religioso de 260 dias. Outro caso é o dos muçulmanos, que estabeleceram o ano 1 de sua contagem na ocasião da fuga de Maomé de Meca para Medina. Essa data corresponde ao ano 622 d. C.

calendário maia - o que é história
Calendário maia.

O calendário que utilizamos hoje tem origem no calendário romano. Originalmente, era organizado com base nas fases da lua e durava 354 dias. Como as estações começaram a se embaralhar, Júlio César ordenou uma reforma. As reelaborações se basearam no calendário egípcio, que possuía 365 dias.

No entanto, no fim de cada ano faltavam seis horas para que a Terra desse uma volta completa ao redor do Sol. Por isso, foi criado o ano bissexto, que ocorre a cada 4 anos. É quando fevereiro tem 29 dias. Se fizermos as contas, perceberemos que se juntarmos as seis horas de quatro anos, obteremos 24 horas, a duração de um dia a mais.

Esse foi o modelo de contagem de tempo adotado pelos cristãos, que presumiram a data do nascimento de Jesus Cristo para estabelecer o ano 1. Dessa forma, os anos anteriores ao ano 1 são contados de forma decrescente e utilizamos a sigla a. C. para indicar que aconteceram antes de Cristo. Se algo aconteceu 200 anos antes de Cristo nascer, por exemplo, dizemos que foi em 200 a. C.

A contagem do tempo após o ano 1 é feita em ordem crescente, e podemos optar entre usar a sigla d. C. (depois de Cristo), ou simplesmente escrever o número do ano. Afinal, é incomum dizermos que estamos no ano 2022 d. C. Essa é a forma de contagem do tempo adotada pela maior parte das sociedades atuais.

Medidas de tempo

É importante conhecer algumas medidas de tempo para não ficar confuso enquanto se estuda história. Apesar de a quantidade de anos parecerem óbvias, as classificações de século, década e milênio podem apresentar pegadinhas. Antes de entendermos como eles funcionam, veja as principais medidas de tempo utilizadas pela história:

  • Milênio: 1.000 anos;
  • Século: 100 anos (representados em algarismos romanos);
  • Década: 10 anos.

Para identificar em qual século está localizado determinado ano, basta identificar os dois primeiros algarismos do ano e somar mais um. Veja um exemplo:

1789 -> 17+1 = 18 (século XVIII)

No caso de anos com três algarismos, isolamos apenas o primeiro e somamos mais um:

476 -> 4 +1 = 5 (século V).

No caso de anos terminados em 00, não há necessidade de somar mais um. O ano 2000, por exemplo, pertence ao século XX. Isso acontece porque o primeiro século foi do ano 1 ao ano 100. Consequentemente, o século II começou no ano 101 e foi até o ano 200.

O mesmo fenômeno ocorre com os milênios. Convencionou-se que eles começariam a ser contados a partir do nascimento de Cristo. Assim, o primeiro milênio foi do ano 1 até o ano 1000 e o segundo do ano 1001 até o ano 2000. Atualmente, estamos no terceiro milênio.

No fim de 2019, ocorreu uma polêmica na internet sobre o início da década de 20 do terceiro milênio. Enquanto alguns afirmavam que começaria em 2021, outros defendiam que iniciaria já em 2020. Se considerarmos que a primeira década foi do ano 1 até o ano 10 e que a segunda foi do ano 11 até o 20, a troca de década ocorre em 2021.

Apesar de essa ser a resposta matematicamente correta, a história nos ensina que as convenções sociais são tão ou mais importantes do que regras preestabelecidas há muito tempo. No fim das contas, se não for em um trabalho escolar ou acadêmico, nada vai mudar se você falar que está começando uma nova década em 2020.

Videoaula sobre fontes históricas

Para continuar seus estudos sobre este conteúdo, assista à esta videoaula:

Sobre o(a) autor(a):

Ana Cristina Peron é formada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestranda em História na mesma universidade. Também é redatora do Curso Enem Gratuito e do Blog do Enem.

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