Descartes, Voltaire, Montesquieu e Rousseau foram alguns dos principais pensadores do Iluminismo, movimento intelectual do século XVIII caracterizado pela racionalidade.
Aposto que você já ouviu, em algum lugar, as expressões “conhecimento é poder”, ou “penso, logo existo”. Mas, você realmente conhece o contexto no qual tais enunciados foram criados? Venha conhecer mais sobre os principais pensadores iluministas!
Principais pensadores iluministas
O Iluminismo é um termo utilizado, nas línguas ibéricas, como sinônimo de Esclarecimento. Essa é uma tradução comum do conceito de Aufklärung, de Immanuel Kant, em alemão.
Não se pode falar de uma coesão ou unidade entre os pensadores iluministas. Isso porque muitas das questões tratadas por esses pensadores eram motivo de debate. Entretanto, existem algumas características de pensamento que reúnem os principais nomes da filosofia iluminista. Por exemplo: crença na razão humana inata, defesa de livre expressão, postura crítica e igualdade entre os homens
Em seguida, veja um pouco sobre os principais pensadores iluministas.
Francis Bacon e René Descartes
Francis Bacon (1561-1626) e René Descartes (1596-1650) nasceram ainda no século XVI, muito antes do conceito de Iluminismo ser utilizado. Bacon e Descartes entraram para a história ocidental por fazerem importantes contribuições à filosofia moderna.
Francis Bacon
Francis Bacon pertencia à nobreza e à elite intelectual britânica. Dentre suas principais obras estão “Instauratio magna” e “Novum organum”, onde discorre sobre um novo método investigativo dos fatos com base no empirismo.
Assim, a compreensão de como os fenômenos do mundo natural ocorrem de maneira racional já estava se desenvolvendo entre estes pensadores. O intelectual sintetiza o valor que atribuí ao conhecimento na famosa frase “conhecimento é poder”.
René Descartes
Enquanto isso, na Europa continental, René Descartes apresentava algumas similaridades com as preocupações de intelectuais de Francis Bacon. Contudo, seguiu um caminho distinto para obter suas conclusões. O matemático francês tem como obra mais famosa “O Discurso do Método”, de 1637.
Como era interessado em relacionar filosofia e matemática, Descartes afirma nessa obra que os sentidos humanos podem ser traiçoeiros. Assim, apenas a partir do raciocínio lógico é que podemos construir um conhecimento sólido.
Portanto, ele defendia que era necessário repensar todo o conhecimento construído com base em medições e conclusões lógicas, sem margem de erro. Sua frase “ego cogito ergo sum”, adaptada para o português como “Penso, logo existo”, resume como o filósofo pôde comprovar a existência do seu ser.
Os contratualistas
Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau são três filósofos iluministas que podem ser definidos como contratualistas.
Eles se dedicaram a refletir sobre a formação das sociedades. Os três compartilhavam a crença na existência de um “estado de natureza”, que seria uma situação anterior ao contrato social, ato fundador das sociedades.
Todavia, cada um desses filósofos concebeu de maneira muito distinta sua noção de estado natural e as razões pelas quais os homens estabelecem seu convívio de forma contratual.
Thomas Hobbes
Hobbes (1588-1679) ficou conhecido pela obra Leviatã. Na obra ele justifica que o contrato social ocorre porque os homens, no estado de natureza, desconfiam uns dos outros. Assim, tendem a adotar um comportamento agressivo para preservar a própria integridade.
De acordo com Hobbes, somente através de um contrato que criaria o Estado, dotado de poder coercitivo, é que os homens poderiam escapar da situação de desconfiança e violência. Contudo, este Estado é representado por Leviatã, um enorme monstro de origem bíblica. Isso porque, ao firmarem o contrato, os homens devem abdicar de sua liberdade e obedecer às regras.
Jean-Jacques Rousseau
Rousseau (1712-1778) elaborou uma concepção de estado de natureza muito distinta da de Hobbes, e, por isso, possui uma definição autêntica do contrato-social.
Para Rousseau, o homem, na condição de indivíduo, nasce livre e bom por natureza, mas no convívio com seus semelhantes ele passa a ser corrompido. Dessa forma, Rousseau expressa um saudosismo ao estado de natureza, onde o homem era livre e bom. Ao mesmo tempo, acreditava que o progresso racional traria corrupção e degeneração.
Não acreditando na possibilidade de retorno ao estado de natureza, Rousseau escreve O Contrato Social. Ele criticou os desmandos do Estado e defendeu uma sociedade regida por um contrato que reconhecesse a igualdade dos homens. Tal ideia influenciou muito a concepção das Constituições na modernidade.
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John Locke
John Locke (1632-1704) foi um intelectual inglês que também discorreu sobre o estado de natureza. Contudo, também vale destacar a importância da defesa da propriedade em sua filosofia. Ele também estava preocupado em criticar os desmandos do absolutismo da dinastia Stuart, defendendo a crença na liberdade inata do homem.
Sua explicação para o contrato social advém da premissa de que, no livre estado de natureza, o ser humano goza de direitos, entre eles a liberdade e a propriedade. Para assegurar que esses direitos não sejam violados, os indivíduos fundam o Estado.
Apesar de enaltecer a liberdade natural dos homens, Locke foi acionista no mercado de escravizados. Ele considerava os índios como selvagens, preguiçosos e uma ameaça à propriedade, o que justificaria sua escravidão. Suas principais obras foram “Dois tratados sobre governo” e “Ensaio acerca do entendimento humano”.
Montesquieu e Voltaire
Mais conhecidos por seus pseudônimos, Montesquieu (Charles-Louis de Secondat) e Voltaire (François-Marie Ar) foram pensadores iluministas franceses nascidos no século XVII e que tornaram-se ícones da filosofia no século XVIII.
Além da nacionalidade, da filosofia e do período em que estavam inseridos, também tinham outros pontos em comum. Ambos defendiam a liberdade, a razão e eram próximos de déspotas esclarecidos.
Montesquieu
Montesquieu (1689-1755) ficou conhecido por desenvolver a teoria da separação dos três poderes. Em resumo, o autor defende que uma maneira útil de evitar o despotismo seria dividindo os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário em esferas autônomas.
Tal concepção tornou-se muito influente em diversas nações, inclusive no Brasil, que faz uso dessa separação desde o surgimento da República. Provavelmente, sua obra mais conhecida é o Espírito das Leis, publicada em 1748.
Voltaire
Voltaire (1694-1778) foi um dos principais defensores da liberdade de pensamento e expressão. Ele não via uma incompatibilidade entre a monarquia e o livre pensar, desde que o monarca obedecesse a uma constituição.
Ao contrário de Rousseau, seu contemporâneo e crítico, ele acreditava que o uso da razão levaria os homens ao progresso e a uma consequente melhoria de vida. Era próximo de Frederico II, da Áustria, talvez o maior exemplo de déspota esclarecido.
A frase “posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo” frequentemente é atribuída a Voltaire.
Denis Diderot e Jean le Rond d’Alembert
Ainda na França, podemos encontrar outros dois grandes pensadores iluministas: Diderot e d’Alembert. Eles ficaram conhecidos não apenas por defenderem a ciência, a razão e a liberdade de expressão, mas também por elaborarem a enciclopédia. Tratou-se de um compêndio reunindo textos explicativos com cerca de 70 mil verbetes escritos por 140 autores.
Ela foi publicada, originalmente, em 17 volumes entre 1751 e 1765. Os organizadores e autores da enciclopédia foram perseguidos e acabavam tendo que se movimentar bastante para fugir das autoridades que se sentiam ameaçadas pelas ideias que eles difundiam.
Denis Diderot (1713-1784) também escreveu romances e foi crítico de arte, além de filósofo. Ele mantinha contato com Catarina II, da Rússia, uma déspota esclarecida.
Jean le Rond d’Alembert (1717-1783), admirador de Isaac Newton, aceitava a distinção das ciências propostas por Francis Bacon entre memória, razão e imaginação.
Kant e Hume
Em seguida, deixando um pouco de lado os franceses, completamos nosso quadro dos principais pensadores iluministas com Kant e Hume.
Immanuel Kant
Immanuel Kant (1724-1804) viveu toda sua vida na cidade de Königsberg, na Alemanha. Conta-se que vivia de maneira tão regrada que as pessoas da região em que morava acertavam os relógios pelas caminhadas diárias que Kant realizava.
Aqui neste texto já foi apresentada sua relevância com a definição de esclarecimento (o termo iluminismo só surge no século XIX nas línguas Ibéricas).
Para ele, a saída da minoridade significava o momento em que os homens começavam a fazer uso de sua própria razão e passavam a pensar por si próprios. Assim, defendia que os homens não deveriam deixar que nenhuma instituição ou autoridade pensasse por eles.
De acordo com o autor, tal inércia do pensamento seria motivada pela preguiça e pela covardia. Apesar da ênfase na racionalidade natural do homem, Kant, assim como outros filósofos iluministas, não considerava que a mulher fosse igualmente sábia.
David Hume
David Hume (1711-1776), nascido em Edimburgo, na atual Escócia, pode ser considerado um empirista por defender a validação do conhecimento científico com base nas experiências. Assim como Adam Smith, criticou a intervenção estatal na economia, como foi exemplificado em nosso texto sobre liberalismo econômico.
Sua principal obra é o “Tratado sobre a natureza humana”. O autor também pode ser compreendido como um cético. Acreditava que o ser humano estava limitado pelos sentidos e que nem sempre as mesmas causas produziriam os mesmos efeitos.
Exercícios sobre os pensadores iluministas
1- (ESPCEX)
Durante a Idade Moderna, ocorreu o fortalecimento gradual dos governos das monarquias nacionais em grande parte da Europa. Desse processo resultou o absolutismo monárquico. Dentre os argumentos usados para se justificar tal condição, havia um que definia o poder absoluto como condição necessária para a manutenção da paz e do progresso. Assinale a alternativa abaixo que apresenta o responsável por tal pensamento.
a) Thomas Hobbes
b) Immanuel Kant
c) John Locke
d) Jean Le Rond D’ Alembert
e) Jacques Bossuet
2- (Fac. Cultura Inglesa SP)
O homem “esclarecido” é aquele que, ao superar a passividade da razão, sai de uma “menoridade” intelectual pela qual é o único responsável “por preguiça e frouxidão” e que não é senão “incapacidade de se servir de sua inteligência sem ser dirigido por outrem”.
(Louis Guillermit. “Emanuel Kant e a Filosofia Crítica”. In: François Châtelet (org.) A filosofia e a história, vol. 5, 1974.)
O argumento kantiano deve ser entendido no interior dos princípios da filosofia
a) escolástica medieval.
b) existencialista cristã.
c) racionalista cartesiana.
d) positivista cientificista.
e) iluminista da época moderna.
3- (UNIFICADO RJ)
O Espírito das Leis (1748)
Montesquieu
Quando na mesma pessoa, ou no mesmo órgão de governo, o poder Legislativo está unido ao poder Executivo, não existe liberdade. E também não existe liberdade se o poder Judiciário (poder de julgar) não estiver separado do poder Legislativo (poder de fazer as leis) e do poder Executivo (poder de executar, de pôr em prática as leis).
FREITAS, G. 900 Textos e Documentos de História. Lisboa: Plátano, 1978. v. III. p. 24.
A partir de 1789, a França passou por um período revolucionário em que alguns ideais iluministas foram “testados” na prática.
Qual foi o ato legislativo produzido pelos revolucionários franceses que correspondeu às ideias de Montesquieu sintetizadas no texto acima?
a) Constituição de 1791
b) Conspiração dos Iguais
c) Constituição Civil do Clero
d) Abolição da escravidão nas colônias
e) Lei do Máximo
4- (UECE)
Os pensadores iluministas do século XVIII difundiram ideias liberais que ganharam força com a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos, e firmaram-se com as Revoluções de 1848. No século XIX, o liberalismo defendia os interesses da
a) classe operária.
b) imprensa
c) elite industrial.
d) burguesia
5- (SANTA CASA)
Os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito. […]
Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e sua própria invenção. […]
Portanto não é de admirar que seja necessária alguma coisa mais, além de um pacto, para tornar constante e duradouro seu acordo: ou seja, um poder comum que os mantenha em respeito, e que dirija suas ações no sentido do benefício comum.
(Thomas Hobbes. Leviatã, 1983.)
Thomas Hobbes (1588-1679) defende, no texto,
a) a instituição de um poder político soberano, capaz de conter os homens e permitir a vida em sociedade.
b) a submissão plena a um poder religioso, que impeça os homens de lutarem uns contra os outros.
c) a constituição de um pacto social, necessário para que os homens retornem à liberdade do estado de natureza.
d) a guerra social, fundamental para que se eliminem as diferenças entre as classes e se construa uma sociedade igualitária.
e) a implantação de uma ditadura, que elimine as disputas político-partidárias e suprima a democracia.
Gabarito:
- A
- E
- A
- D