Você já parou pra pensar como a religião age na sociedade e exerce influência sobre ela? Nesta aula abordaremos o tema da questão religiosa e como ela é pensada na Sociologia para o Enem.
A religião está presente nas mais diversas sociedades e exerce forte influência na forma como os indivíduos interpretam e se relacionam com a realidade. Por ser considerada uma instituição social, a religião é parte constitutiva da estrutura social e, portanto, interfere diretamente na configuração das sociedades. A questão religiosa está presente nos principais estudos da sociologia.
A questão religiosa na Sociologia
Nesta aula abordaremos este tema, além de estudar como os autores clássicos da Sociologia abordaram a questão religiosa em suas teorias.
Quando o assunto em pauta é religião e os diferentes preceitos religiosos existentes, não é incomum ouvirmos falar que “religião não se discute”. Podemos, até mesmo, considerar que esta frase é um senso comum na nossa sociedade. Ter uma crença, optar por seguir uma determinada religiosidade e não outra parece uma escolha um tanto individual, não é mesmo?
Mas, você já parou pra pensar de que forma a questão religiosa pode influenciar ou até mesmo interferir em nosso dia-a-dia e na sociedade como um todo?
O chamado conhecimento religioso – também denominado de conhecimento teológico – é uma das formas de conhecimento verificado nas sociedades e cujas explicações orientam as ações dos indivíduos há muito tempo. A perspectiva religiosa talvez seja uma das formas mais antigas de explicação acerca da realidade observada.
Durante muito tempo, antes da ascensão do conhecimento científico – no qual a Sociologia se encaixa – como forma de conhecimento mais amplamente aceito, era a religião que fornecia as explicações sobre fenômenos naturais e sociais.
Entretanto, ainda que o conhecimento científico atualmente apresente este status de conhecimento mais “objetivo” e “neutro” no que diz respeito às explicações sobre a realidade social, isso não quer dizer que a perspectiva religiosa tenha deixado de existir. Muito pelo contrário, ela continua bastante presente no cotidiano de boa parte da população mundial.
O que é religião?
Podemos definir religião como um conjunto de crenças e práticas comuns a uma coletividade. Essas práticas são sustentadas a partir da crença em uma ou mais divindade, e cuja visão de mundo determina os princípios morais daquele grupo, conduzindo suas ações e as formas de se perceber e se relacionar com o mundo.
Muitas religiões possuem também uma escritura ou livro sagrado, no qual tais princípios morais e de ação são descritos, além de narrar a história por trás de suas perspectivas. A religião oferece explicações sobre a vida e sobre os diferentes fatos e acontecimentos do cotidiano, orientando as diferentes interpretações da realidade e, consequentemente, as diferentes ações humanas.
As tradições religiosas existentes ao redor do globo são variadas e diversas. Tendo em vista o número de pessoas adeptas, algumas são consideradas predominantes, como é o caso do cristianismo, do islamismo, do hinduísmo, do judaísmo e do budismo. No caso do Brasil, especificamente, as manifestações religiosas também são amplas e diversas.
Grupos religiosos no Brasil
De acordo com os dados do Censo demográfico de 2010 do IBGE (publicado em 2012), existem mais de 40 grupos religiosos em todo o país.
Dentre eles, podemos listar cinco grupos principais: católicos (64,4%), evangélicos (22,2%), espíritas (2,1%), candomblé e umbanda (0,4%), e outras religiosidade (2,7%) que incluem judaísmo, religiões de matrizes indígenas, islamismo, budismo, hinduísmo, entre outras. Existem, também aquelas(es) que se consideram “sem religião”, correspondendo a 8% da população brasileira.
Observando esses dados, podemos notar como a presença da religião é bastante significativa em nosso país, já que 92% das(os) brasileiras(os) afirmam ter religião. Neste sentido, podemos notar como que, ainda que o Brasil seja um país considerado laico, a questão religiosa não pode ser deixada de lado quando pensamos na nossa configuração e realidade social.
Estado laico e Estado religioso
É importante ter em vista que a ideia de Estado laico – também denominado Estado secular – é caracterizada por aquele Estado cujas diretrizes políticas e governamentais são imparciais. Ou seja, não adotam nenhuma religião oficial assim como não apoiam nem discriminam nenhuma crença.
Como dito acima, o Brasil é um Estado laico e, portanto, representa um país que acolhe as mais diversas religiões, oferecendo liberdade religiosa e liberdade de culto à todas(os), sem espaço para intolerâncias no âmbito de seu território.
Em contrapartida ao Estado laico, existe o Estado religioso – também chamado de Estado confessional –, cujas ações e decisões de governo são orientadas em uma determinada religião.
Ainda que o chamado Estado moderno tenha como um de seus fundamentos a separação entre as esferas política e religiosa, existem, nos dias atuais, diversos Estados religiosos, como no caso do Estado do Vaticano (Estado católico) ou da Arábia Saudita (Estado teocrático), por exemplo.
Podemos considerar que a religião não apenas foi como ainda é elemento fundamental e constitutivo de praticamente todas as sociedades, sendo primordial na e para a experiência humana.
Manifestações religiosas, como símbolos e cerimônias, são observadas desde as chamadas sociedades antigas, até as denominadas sociedades modernas, nos dias atuais.
Do ponto de vista sociológico, a religião é considerada uma instituição social, ou seja, é parte integrante da estrutura social, e isso significa dizer que a religião é peça elementar no que diz respeito à configuração da sociedade e, consequentemente, das pessoas que a compõem. Neste sentido, podemos perceber que diferentes crenças produzem diferentes sociedades e diferentes culturas.
A questão religiosa para Marx, Durkheim e Weber
Diversos autores da Sociologia analisam a influência e o papel da questão religiosa na sociedade. Para o francês Émile Durkheim, por exemplo, a religião é uma força integrativa na sociedade, já que influencia as crenças coletivas e orienta diversas funções, tais como: incentivar o sentimento de coletividade e união, fornecendo estabilidade e coesão social; ser agente de controle social; e promover o bem estar físico e emocional ao oferecer significado e propósito à vida.
Já para o alemão Karl Marx, a religião é um dos meios utilizados para oprimir as classes e promover a estratificação social, uma vez que os ensinamentos religiosos se apoiavam na hierarquização e subordinação dos homens às autoridades religiosas. Para o autor, a religião era causa de conflitos e opressão na sociedade, além de funcionar como “o ópio do povo” por lhes fornecer sentimento de satisfação com sua condição existente.
O alemão Max Weber, por sua vez, foi o que mais se aprofundou nos estudos acerca do papel da questão religiosa nas sociedades. Analisou diversas religiões existentes no mundo observando o papel que as crenças exerciam na conduta dos indivíduos.
Em seu livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber indica como os princípios e valores da religião protestante alinhavam-se à racionalidade característica do empreendimento capitalista e, portanto, exerceram forte influência no estabelecimento do capitalismo como modo de produção.
Assista a esta entrevista e aprimore seus estudos sobre a questão religiosa na Sociologia e a perspectiva dos autores clássicos da disciplina.
Exercícios sobre a questão religiosa
Questão 01 – (PUCCamp SP/2019)
Na história do Brasil, a oficialização do Estado brasileiro como um Estado laico, ocorreu
a) logo após a Independência do Brasil, com a Constituição de 1824, que determinava o poder moderador e a subordinação da Igreja ao Estado, condição que assegurava a laicidade da nova nação.
b) no ato da proclamação da Independência, quando D. Pedro I, que era maçom, decidiu que a religião católica, marca inegável do colonialismo português, não seria mais a religião oficial do Império.
c) após a proclamação da República, em meio às influências do liberalismo e do positivismo, e com a constituição de 1891, que ratificava a separação entre Igreja e Estado e estabelecia a liberdade de culto conquanto este não prejudicasse a ordem pública.
d) durante o Estado Novo, quando Vargas, sob a influência do fascismo italiano, promulgou a Constituição de 1937, que reconhecia oficialmente a importância do catolicismo como a religião majoritária e mais importante do Brasil, mas afirmava que o Estado era laico.
e) na Nova República, com a Constituição de 1988, cujo conteúdo progressista, de princípios democráticos, assegurou, pela primeira vez, a liberdade religiosa e a laicidade do Estado brasileiro.
Questão 02 – (FUVEST SP/2018)
Um grande manto de florestas e várzeas cortado por clareiras cultivadas, mais ou menos férteis, tal é o aspecto da Cristandade – e algo diferente do Oriente muçulmano, mundo de oásis em meio a desertos. Num local a madeira é rara e as árvores indicam a civilização, noutro a madeira é abundante e sinaliza a barbárie. A religião, que no Oriente nasceu ao abrigo das palmeiras, cresceu no Ocidente em detrimento das árvores, refúgio dos gênios pagãos que monges, santos e missionários abatem impiedosamente.
Le Goff. A civilização do ocidente
medieval. Bauru: Edusc, 2005. Adaptado.
Acerca das características da Cristandade e do Islã no período medieval, pode-se afirmar que
a) o cristianismo se desenvolveu a partir do mundo rural, enquanto a religião muçulmana teve como base inicial as cidades e os povoados da península arábica.
b) a concentração humana assemelhava-se nas clareiras e nos oásis, que se constituíam como células econômicas, sociais e culturais, tanto da Cristandade quanto do Islã.
c) a Cristandade é considerada o negativo do Islã, pela ausência de cidades, circuitos mercantis e transações monetárias, que abundavam nas formações sociais islâmicas.
d) o clero cristão, defensor do monoteísmo estrito, combateu as práticas pagãs muçulmanas, arraigadas nas florestas e nas regiões desérticas da Cristandade ocidental.
e) a expansão econômica islâmica caracterizou-se pela ampliação das fronteiras de cultivo, em detrimento das florestas, em um movimento inverso àquele verificado no Ocidente medieval.
Questão 03 – (FMABC SP/2018)
O processo conhecido como Reforma Protestante não foi homogêneo em todos os países onde ocorreu, embora marcado por elementos comuns. Sobre a implementação da reforma ocorrida na Europa do século XVI, é correto afirmar que a monarquia inglesa
a) fundou uma nova igreja, enquanto a monarquia francesa manteve seu vínculo com Roma, e a nobreza germânica do Sacro Império se dividiu, com a religião oficial de cada estado sendo determinada pelos príncipes locais.
b) encontrou resistência para a execução da reforma por parte do clero, temeroso de represálias por parte dos países vizinhos, enquanto a monarquia francesa apoiou o Estado laico e a pluralidade religiosa, e a nobreza germânica do Sacro Império renegou o catolicismo e adotou a religião criada por Martinho Lutero.
c) reformulou as bases da Igreja Anglicana existente, enquanto a monarquia francesa rompeu com o papado, e a nobreza germânica do Sacro Império apoiou o luteranismo, depois da adesão do Imperador Carlos V a essa religião.
d) apoiou a criação de uma igreja protestante, angloalemã, enquanto a monarquia francesa manteve-se fiel ao papado, apoiada pelos huguenotes, e a nobreza germânica do Sacro Império, contrariando a vontade da população camponesa, aderiu à reforma protestante imposta pelo Imperador.
e) se defrontou com a divisão da sociedade em uma guerra civil entre calvinistas e luteranos, enquanto a monarquia francesa fundou uma nova igreja, e a nobreza germânica, dividida entre luteranismo e catolicismo, provocou a desintegração do Sacro Império.
Questão 04 – (UEM PR/2017)
Max Weber considerou a Reforma Protestante fundamental para a construção do mundo ocidental moderno. Sobre esse tema, assinale o que for correto.
01. Inicialmente, a Reforma foi um movimento para ajustar algumas práticas da Igreja Católica, e não para romper com ela.
02. O ideal dos reformadores não era flexibilizar o cristianismo, mas sim fazer que a doutrina fosse cumprida plenamente por todos os cristãos.
04. O calvinismo, uma das doutrinas religiosas surgidas durante a Reforma, teria sido central para o desenvolvimento do capitalismo moderno.
08. Ao analisar a formação do mundo ocidental moderno, bem como do capitalismo, Max Weber percebeu que os significados dados ao trabalho no período Pré-Reforma foram mantidos pelo protestantismo.
16. Para Max Weber, essa Reforma foi um marco fundamental para o “desencantamento” do mundo e para o avanço do processo de racionalização.
01 – Gabarito: C
02 – Gabarito: B
03 – Gabarito: A
04- Gabarito: 23