Conheça os Gêneros Literários Épicol Lírico; e Dramático. Veja a linguagem e o que os distingue. Esses conteúdos vão te auxiliar nos estudos de Literatura, Redação e Língua Portuguesa. Vem!
Os Gêneros Literários classificam e especificam o estilo de uma obra, sendo capazes de apontar a função desse discurso numa determinada linguagem verbal. Ao longo da história, houve diversas classificações de gêneros literários, de maneira que não se pode determinar uma categorização de todas as obras seguindo um mesmo critério.
Precede, contudo, a classificação que provém da Grécia Antiga por meio das obras dos filósofos Platão (A República) e Aristóteles (A Poética) – narrativo ou épico, lírico e dramático – e que abarcam também outros vários subgêneros menores.
Como você poderá perceber, não existe uma forma pura ou definitiva de gêneros literários, podendo eles, inclusive, serem combinados ou impregnados por outros. O que não diminui a utilidade dessas classificações no momento da análise e compreensão do estilo de uma dada obra e de sua linguagem.
Quer saber mais sobre os gêneros literários? Então revise Literatura para o Enem com esta aula do Curso Enem Gratuito! A primeira dica é conferir este resumo inicial com a professora Camila Zuchetto:
Gêneros ficcionais
Antes de mais nada temos a divisão entre os gêneros ficcionais e não-ficcionais. Assim sendo, os textos não-ficcionais formam-se a partir da realidade empírica, e os ficcionais criam uma realidade, composta pelos seus próprios parâmetros de verdade.
Em ambos os casos se cultiva a noção, cunhada por Aristóteles, da Verossimilhança, ou seja, da coerência ou nexo dos fatos e ideias narrados num texto em relação à dada realidade.
Épico
O gênero épico pode designar um relato histórico ou lenda, normalmente centrado na figura de um personagem histórico ou herói. Inicialmente era composto de uma narrativa em versos (poesia ou teatro épico) sobre um grande feito ou ação de um sujeito lendário (epopeia), representante de um povo ou de uma época. Exemplos são Os Lusíadas, de Luís de Camões, Ilíada e Odisseia, de Homero.
O gênero também nomeia narrativas em prosa, como romances, contos, novelas, poesias épicas, crônicas e fábulas, e os temas podem ser históricos, policiais, de amor, de ficção-científica, etc.
A estrutura que identifica o texto épico contém elementos como foco narrativo, enredo, personagens, tempo e espaço, conflito e desfecho. Veja agora algumas características e exemplos do gênero épico-narrativo:
Conto:
O conto é uma narrativa breve e ficcional, que aborda situações cotidianas ou fantásticas, detém poucas ações e personagens, girando, normalmente, em torno de um único conflito. Existem obras que levam compilações dessas narrativas como o Decamerão de Giovanni Boccaccio, O Aleph, de Jorge Luís Borges, Sagarana, João Guimarães Rosa, dentre outros.
Novela
É um gênero intermediário entre o romance e o conto, não sendo tão longo quanto o primeiro e nem tão breve quanto o segundo. Normalmente carrega um único conflito, que possui, no entanto, uma divisão em capítulos e por isso um desenvolvimento maior que o do conto. Veja as dicas da Novela com a professora camila:
Exemplos de novelas são as obras O Alienista, de Machado de Assis, A Metamorfose, de Franz Kafka, A Hora da Estrela, de Clarice Lispector e Morte em Veneza, de Thomas Mann.
Romance
Com uma extensão e complexidade maior que a dos gêneros novela e conto, o romance possui também diversos subgêneros como o Romance policial, Romance psicológico, romance histórico, de terror, de costumes, ficção científica, fantasia, etc. Confira com a professora Camila Zuchetto:
Exemplos de romance muito conhecidos temos Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, O Ateneu, de Raul Pompéia, Macunaíma, de Mário de Andrade, e muitos outros.
Crônica
A crônica é uma narrativa informal, crítica, feita em linguagem coloquial, breve (alguns poucos parágrafos), ligada a fatos e acontecimentos do cotidiano. No Brasil temos vários autores célebres por escrever neste gênero como Machado de Assis, Rubem Braga e Fernando Sabino.
Fábula
A fábula é um texto de caráter fantástico, em que os personagens principais são animais ou objetos, o enredo sempre conduz a alguma lição de moral. La Fontaine (Fábulas), Raimundo Lúlio (O Livro das Bestas) e George Orwell (revolução dos Bichos), são exemplos notórios.
Histórias em Quadrinhos ou Graphic Novels
Trata-se de um gênero cuja imagem surge combinada ao texto, as palavras (falas, narração e pensamentos dos personagens) são destacadas por balões, nuvens e retângulos, e as ações são divididas por quadros (quadrinhos).
Gênero lírico
Na maioria das vezes, o gênero lírico se apresenta em versos, como um poema, mas pode também vir na forma de uma prosa curta (poema em prosa). Trata dos sentimentos e emoções de um eu-lírico, e explora a musicalidade e a potência semântica das palavras. Os temas definem modalidades da lírica como:
Écogla e idílio: situações bucólicas e pastoris. Elegia: temática da morte ou do sofrimento. Epitalâmio: homenageia as núpcias. Hino: exaltação da pátria ou dos deuses. Ode: exaltação de pessoas, lugares ou objetos. Exemplo:
Amo o que Vejo Amo o que vejo porque deixarei Qualquer dia de o ver. Amo-o também porque é.
No plácido intervalo em que me sinto, Do amar, mais que ser, Amo o haver tudo e a mim.
Melhor me não dariam, se voltassem, Os primitivos deuses, Que também, nada sabem.
Ricardo Reis, in “Odes”
Sátira: ironiza as fraquezas e os defeitos humanos.
Resumo sobre o Gênero Lírico:
Gênero dramático
Na maioria das vezes o drama, como também é chamado, visa uma encenação, na forma de uma peça de teatro, sendo capaz de ser adaptado para cinema ou televisão.
A principal característica do gênero dramático é que a ação se desenrola através da fala dos atores. Contudo, podem estar presentes também um locutor – menos comum, ele pode ser introduzido como um personagem – e, no texto físico, as rubricas e didascálias, que são as partes do texto contendo indicações cênicas e a descrição das peculiaridades (como a intensidade das falas, modo de andar) e movimentos dos atores.
As ações da peça costumam ainda ser divididas em atos, quadros ou cenas. Alguns subgêneros do drama são:
Comédia:
drama focado no humor, normalmente extraído de uma situação de engano, pela qual passa um ou mais de seus personagens. Subgêneros ligados à comédia: Comédia musical, Commedia dell’arte, Farsa, Sátira (também presente no drama, possui a intenção de ridicularizar, ou criticar um fato ou uma pessoa. A anedota é um exemplo popular de sátira), Teatro de marionetes, Teatro de improvisação, Vaudeville e outros.
Tragédia:
representação de um fato trágico, normalmente culminando na morte de algum personagem central. Tende a provocar compaixão, catarse e terror. Subgêneros ligados à tragédia: Tragicomédia, Melodrama e Pantomima.
No teatro grego, a tragédia cultivava personagens nobre e figuras importantes, enquanto a comédia continha figuras comuns, camponeses e trabalhadores.
Gêneros não literários
Assim como existem tipos de textos que são próprios da Literatura, ocorrem outros que não o são, como o Ensaio Acadêmico, o texto analítico, argumentativo ou dissertativo (redação), o didático, o laudo médico, a notícia, a biografia, e outros, que possuem uma finalidade informativa e descritiva.
Por último, é importante salientar que qualquer gênero literário pode ser combinado a outro, não sendo, claro, obrigatório o uso de um único gênero numa obra, o que, inclusive, é uma prática muito comum na modernidade.
Simulado com exercícios sobre os Gêneros Literários
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Pergunta 1 de 10
1. Pergunta
(UFT TO/2019)
Leia o fragmento de O visitante, de Hilda Hilst.
O visitante (1968)
ANA (tecendo ou próximo do tear, como se estivesse acabado de tecer alguma coisa): muitas vezes tenho saudade das tuas pequenas roupas. Eram tão macias! (sorrindo) Tinha uma touca que, por engano meu, quase te cobria os olhos.
MARIA (seca): É bem do que eu preciso ainda hoje: antolhos.
ANA (meiga): E uma camisola tão comprida… branca. Nos punhos e no decote, coloquei umas fitas. E te arrastavas, choravas se, de repente, na noite, não me vias.
MARIA: Agora vejo-te sempre. Cada noite. Cada dia. (pausa)
ANA: Eras mansa. Me amavas. Ainda me amas agora?
MARIA: Ah, que pergunta! As coisas se transformam. Nós também.
ANA: A casa ainda é a mesma. E a mesa e…
MARIA (interrompendo): A casa, a mesa… todas essas coisas vivem mais do que nós. Ficam aí paradas. E assim mesmo envelhecem. Tu pensas que são as mesmas coisas e não são. (…)
Fonte: HILST, Hilda. Volume I. São
Paulo: Nankin Editorial, 2000, p. 101.
Considerando a leitura do trecho de O visitante, assinale a alternativa CORRETA quanto ao gênero literário.
Correto
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Incorreto
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Pergunta 2 de 10
2. Pergunta
(UFU MG/2019)
Morte e vida severina e O santo e a porca foram concebidas como peças de teatro, ou seja, foram projetadas para interpretação no palco. Considerando-se tal especificidade e seus enredos, assinale a alternativa que apresenta características comuns às obras.
Correto
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Incorreto
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Pergunta 3 de 10
3. Pergunta
(UNIRG TO/2018)
A SERENÍSSIMA REPÚBLICA
(CONFERÊNCIA DO CÔNEGO VARGAS)
Meus Senhores,
Antes de comunicar-vos uma descoberta, que reputo de algum Ilustre para o nosso país, deixai que vos agradeça a prontidão com que acudistes ao meu chamado. Sei que um interesse superior vos trouxe aqui; mas não ignoro também, – e fora ingratidão ignorá-lo, – que um pouco de simpatia pessoal se mistura à vossa legítima curiosidade científica. Oxalá possa eu corresponder a ambas.
Minha descoberta não é recente; data do fim do ano de 1876. […] Senhores, […] credes que se possa dar regímen social às aranhas? Aristóteles responderia negativamente, como vós todos, porque é impossível crer que jamais se chegasse a organizar socialmente esse articulado arisco, solitário, apenas disposto ao trabalho, e dificilmente ao amor. Pois bem, esse impossível fi-lo eu. […] A aranha, Senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas, nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre. Que melhor exemplo de paciência, de ordem, de previsão, de respeito e de humanidade? […] Sim, Senhores, descobri uma espécie araneídia que dispõe do uso da fala; coligi alguns, depois muitos dos novos articulados, e organizei-os socialmente.
Adaptado de: ASSIS, Machado de. A Sereníssima
República. In: ______Papéis avulsos. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1997, p. 340-341. (Col. Obra Completa).
O conto é uma narrativa curta, constituída por uma só célula dramática, um só conflito, um só drama, uma só unidade de ação. Entretanto, o autor pode empregar características distintas ao construir cenas do enredo. Considerando-se essa afirmação, “A sereníssima república” classifica-se como um conto de gênero híbrido, no qual estão presentes:
Correto
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Incorreto
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Pergunta 4 de 10
4. Pergunta
(UPE/2018)
Aristóteles, em Arte Poética, menciona três gêneros literários: lírico, épico e dramático. Ao primeiro denominou de palavra cantada; ao segundo, de palavra narrada e ao terceiro, de palavra representada.
Considerando os conceitos do estudioso grego, leia os três textos a seguir:
TEXTO 1
Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Próteo são cortadas,
(Camões)
TEXTO 2
[…]
Chega o Parvo ao batel do Anjo e diz:
PARVO Hou da barca!
ANJO Que me queres?
PARVO Queres-me passar além?
ANJO Quem és tu?
PARVO Samica alguém.
ANJO Tu passarás, se quiseres;
porque em todos teus fazeres
per malícia nom erraste.
(Gil Vicente)
TEXTO 3
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol e o dia.
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora
Quando vem passear-te pela fria.
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
(Gregório de Matos)
Analise as proposições a seguir, colocando V nas verdadeiras e F nas falsas.
( ) Os textos estão na ordem em que se encontram as denominações de gênero, presentes no enunciado, sendo o primeiro lírico, o segundo, épico e o terceiro, dramático.
( ) Os três textos possuem a mesma temática e são estruturados no mesmo gênero literário, pois apresentam características semelhantes, apesar de pertencerem a três momentos literários distintos.
( ) O texto 3, de Gregório de Matos, é lírico, porque possui como tema a efemeridade do tempo, enquanto a estrofe do poema camoniano é épica, por narrar o início da viagem de Vasco da Gama às Índias; já o texto 2, sendo um Auto vicentino, pertence ao gênero dramático.
( ) Não há nenhum texto lírico; todos são dramáticos, porque se organizam pela palavra representada.
( ) Cada um dos textos pertence a um gênero literário diferente: no texto 1, pode-se afirmar que a palavra é narrada; no texto 2, representada, e no texto 5, cantada.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA.
Correto
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Pergunta 5 de 10
5. Pergunta
(Unievangélica GO/2017)
Eu moro em Catumbi: mas a desgraça,
Que rege minha vida malfadada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
[…]
Ontem tinha chovido… Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama…
Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada…
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela…
O cavalo ignorante de namoros
Entre dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada…
[…]
AZEVEDO, Álvares de. Namoro a cavalo. In: Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 242-243.
Em termos de genealogia literária, o fragmento, embora pertença ao gênero lírico, comporta características do gênero
Correto
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Pergunta 6 de 10
6. Pergunta
(EsPCEX/2017)
A sátira é um exemplo do gênero
Correto
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Pergunta 7 de 10
7. Pergunta
(CEFET MG/2016)
Falaremos da hostilidade que Bloom,
o nosso herói,
revelou em relação ao passado,
levantando-se e partindo de Lisboa
numa viagem à Índia, em que procurou sabedoria,
e esquecimento.
E falaremos do modo como na viagem
levou um segredo e o trouxe, depois, quase intacto.
[…]
Esperamos, pois, Bloom, que cresças e que crescendo
vás directo à realidade
e não pares. Porque não basta
encostares-te aos acontecimentos,
o que pensamos para ti é bem mais profundo,
não basta conheceres as sete teorias,
terás que subir a sete altas montanhas.
E atravessar ainda os continentes
como se a terra fosse uma extensão temporal
capaz de medir os teus dias.
Atravessa as águas também, excelente amigo Bloom,
quebra o mar em dois.
O mar é um mamífero,
o barco, o punhal do sacrifício.
Porque, como todos os animais,
o mar só é arrogante
até encontrar o seu dono.
Falamos do mar, mas talvez
seja a terra e o céu que exigem ser descritos.
Bloom, Bloom, Bloom.
TAVARES, Gonçalo M. Uma viagem à Índia: melancolia
contemporânea (um itinerário). São Paulo: Leya, 2010, p. 28 – 31. (fragmento)
Nota explicativa:
Bloom é o protagonista do livro de Gonçalo Tavares, que empreende uma viagem de Lisboa à Índia no século XXI.
Aristóteles, em seu estudo da literatura, determinou gêneros capazes de abranger e classificar textos literários, organizando-os a partir de suas estruturas e temáticas. O texto de Gonçalo M. Tavares, publicado em 2010, aproxima-se do gênero
Correto
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Incorreto
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Pergunta 8 de 10
8. Pergunta
(UECE/2016)
João Gilberto Noll nasceu em Porto Alegre, no ano de 1946. Além de contista e romancista, fez incursões pela literatura infantil. Ganhou cinco prêmios Jaboti. João Gilberto Noll faz uma literatura caracterizada pela dissolução. Seus romances são concisos e apresentam enredos episódicos sustentados pela causalidade. Essa técnica difere da técnica narrativa que estabelece o elo entre o real e o ficcional. Os personagens de Noll são seres não localizados e alijados da experiência; muito embora lançados numa sucessão frenética de acontecimentos e passando por um sem número de lugares, o que vivem não se converte em saber, em consciência de ser e de estar no mundo.
Duelo antes da noite
1 No caminho a menina pegou uma pedra e 2 atirou-a longe, o mais que pôde. O menino 3 puxava a sua mão e reclamava da vagareza da 4 menina. Deviam chegar até a baixa noite a 5 Encantado, e o menino sabia que ele era 6 responsável pela menina e deveria manter uma 7 disciplina. Que garota chata, ele pensou. Se eu 8 fosse Deus, não teria criado as garotas, seria 9 tudo homem igual a Deus. A menina sentia-se 10 puxada, reclamada, e por isso emitia uns sons de 11 ódio: graças a Deus que eu não preciso dormir 12 no mesmo quarto que você, graças a Deus que 13 eu não vou morar nunca mais com você. Vamos 14 e não resmunga, exclamou o menino. E o sol já 15 não estava sumindo? Isso nenhum dos dois 16 perguntava porque estavam absortos na raiva de 17 cada um. A estrada era de terra e por ela poucos 18 passavam. Nem o menino nem a menina 19 notavam que o sol começava a se pôr e que os 20 verdes dos matos se enchiam cada vez mais de 21 sombras. Quando chegassem a Encantado o 22 menino poria ela no Opala do prefeito e ela 23 nunca mais apareceria. Ele não gosta de mim, 24 pensou a menina cheia de gana. Ele deve estar 25 pensando: o mundo deveria ser feito só de 26 homens, as meninas são umas chatas. O menino 27 cuspiu na areia seca. A menina pisou sobre a 28 saliva dele e fez assim com o pé para apagar o 29 cuspe.
30 Até que ficou evidente a noite. E o menino 31 disse a gente não vai parar até chegar em 32 Encantado, agora eu proíbo que você olhe pros 33 lados, que se atrase. A menina não queria chorar 34 e prendia-se por dentro porque deixar arrebentar 35 uma lágrima numa hora dessas é mostrar muita 36 fraqueza, é mostrar-se muito menina. E na curva 37 da estrada começaram a aparecer muitos 38 caminhões apinhados de soldados e a menina 39 não se conteve de curiosidade. Para onde vão 40 esses soldados? — ela balbuciou. O menino 41 respondeu ríspido. Agora é hora apenas de 42 caminhar, de não fazer perguntas, caminha! A 43 menina pensou eu vou parar, fingir que torci o 44 pé, eu vou parar. E parou. O menino sacudiu-a 45 pelos ombros até deixá-la numa vertigem 46 escura. Depois que a sua visão voltou a adquirir 47 o lugar de tudo, ela explodiu chamando-o de 48 covarde. Os soldados continuavam a passar em 49 caminhões paquidérmicos. E ela não chorava, 50 apenas um único soluço seco. O menino gritou 51 então que ela era uma chata, que ele a deixaria 52 sozinha na estrada que estava de saco cheio de 53 cuidar de um traste igual a ela, que se ela não 54 soubesse o que significa traste, que pode ter 55 certeza que é um negócio muito ruim. A menina 56 fez uma careta e tremeu de fúria. Você é o 57 culpado de tudo isso, a menina gritou. Você é o 58 único culpado de tudo isso. Os soldados 59 continuavam a passar.
60 Começou a cair o frio e a menina tiritou 61 balançando os cabelos molhados, mas o menino 62 dizia se você parar eu te deixo na beira da 63 estrada, no meio do caminho, você não é nada 64 minha, não é minha irmã, não é minha vizinha, 65 não é nada.
66 E Encantado era ainda a alguns lerdos 67 quilômetros. A menina sentiu que seria bom se o 68 encantado chegasse logo para se ver livre do 69 menino. Entraria no Opala e não olharia uma 70 única vez pra trás para se despedir daquele 71 chato.
72 Encantado apareceu e tudo foi como o 73 combinado. Doze e meia da noite e o 74 Opala esperava a menina parado na frente da 75 igreja. Os dois se aproximaram do Opala tão 76 devagarinho que nem pareciam crianças. O 77 motorista bigodudo abriu a porta traseira e 78 falou: pode entrar, senhorita. Senhorita… o 79 menino repetia para ele mesmo. A menina se 80 sentou no banco traseiro. Quando o carro 81 começou a andar, ela falou bem baixinho: eu 82 acho que vou virar a cabeça e olhar pra ele com 83 uma cara de nojo, vou sim, vou olhar. E olhou. 84 Mas o menino sorria. E a menina não resistiu e 85 sorriu também. E os dois sentiram o mesmo nó 86 no peito.
(NOLL, João Gilberto. In: Romances e contos reunidos.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 690-692. Texto adaptado.)
Segundo Massaud Moisés, o conto é, do ponto de vista dramático, univalente: contém um só drama, uma só história, um só conflito (oposição, luta entre duas forças ou personagens), uma só ação. As outras características (limitação do espaço e do tempo; quantidade reduzida de personagens; unidade de tom ou de emoção provocada no leitor, concisão de linguagem) decorrem da unidade dramática.
Relacione o que foi dito acima sobre o conto em geral com a estrutura do conto “Duelo antes da noite”. Você perceberá, nesse conto, uma característica decorrente da univalência que deve caracterizar os bons textos desse gênero. Assinale a opção em que é citada essa característica.
Correto
Parabéns! Siga para a próxima questão.
Incorreto
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Pergunta 9 de 10
9. Pergunta
(CEFET MG/2015)
Sobre os gêneros literários, afirma-se:
I. O gênero dramático abrange textos que tematizam o sofrimento e a aflição da condição humana.
II. Textos pertencentes ao gênero lírico privilegiam a expressão subjetiva de estados interiores.
III. O gênero épico compreende textos sobre acontecimentos grandiosos protagonizados por heróis.
IV. Em literatura, o romance e a novela são formas narrativas pertencentes ao gênero dramático.
Estão corretas apenas as afirmativas
Correto
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Pergunta 10 de 10
10. Pergunta
(UERN/2015)
Os gêneros literários são empregados com finalidade estética. Leia os textos a seguir.
Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
(Camões, L. V. de. Sonetos. Lisboa: Livraria Clássica Editora. 1961. Fragmento.)
Porém já cinco sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.
(Camões, L. V. Os Lusíadas. Abril Cultural, 1979. São Paulo. Fragmento.)
Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, a classificação dos textos.
Correto
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