A história dos negros no Brasil: quilombos, cultura e resistência

A presença negra na América é quase tão antiga quanto a dos europeus, mas se fala muito mais da contribuição dos segundos do que dos primeiros. Veja como foi a história dos negros no Brasil, e os desafios dos tempos atuais.

Mão de obra-escravizada. Mercadoria. Ignorantes, amaldiçoados e inferiores. Favelados, catadores e serviçais. Se o negro que alcança o sucesso financeiro e social é, infelizmente, a exceção no Brasil atual, que dirá em outros tempos.

Porém, isso não foi por falta de vontade, mas sim por conta de uma estrutura social racista cujos reflexos perduram até os dias de hoje. Nesta aula veremos rapidamente a história dos negros no Brasil e seu histórico de luta e resistência.

A história dos negros no Brasil

Em média, metade da atual população brasileira é negra, mas estas pessoas ainda são a minoria em escolas, universidades e empregos qualificados. Os territórios que habitam, em sua maioria, são comunidades com pouco acesso a recursos públicos e permeadas por diversas violências. Todos esses elementos são explicados historicamente.

Desde o início do século XVI, africanos eram trazidos para a América na condição de escravizados. Esse movimento só foi aumentando com o passar dos séculos conforme a escravização de indígenas se tornava cada vez mais difícil.

O tráfico Negreiro

Veja com a professora Ana Cristina Peron, do canal do Curso Enem Gratuito,  como acontecia o tráfico negreiro:

Chegou um momento em que o tráfico de escravizados tornou-se tão lucrativo quanto as atividades em que eles eram empregados.

Um dos motivos pelos quais essa situação foi se alterando foi pela pressão britânica, que não tinha interesse em concorrer com nações escravocratas que pudessem vir a se industrializar.

Tanto aqui como nos Estudos Unidos e em outras regiões da América, a escravidão foi abolida em lei, mas a população negra não foi incluída nas instituições públicas e teve de viver nas periferias ocupando os piores empregos ofertados. Tal cenário só veio se modificando nas últimas décadas.

Escravidão nos tempos coloniais e no Império

A motivação para se trazer africanos encarcerados do outro lado do Atlântico para o continente americano foi por razões econômicas. O mundo ocidental vivia o mercantilismo (fase inicial do capitalismo) e a ordem social era acumular o máximo de riquezas possível com o menor custo.

Por isso, pagar trabalhadores para fazer o trabalho braçal estava fora de cogitação para os europeus, que preferiram investir no comércio de pessoas escravizadas.

O próprio fato de se realizar trabalhos braçais era motivo de vergonha e não de orgulho. Logo, esse tipo de atividade foi deixada para aqueles que menos tinham direitos naquele período.

História dos negros no Brasil
Imagem 1: Carregadores de Café A Caminho da Cidade, 1826, Jean-Baptiste Debret . Fonte: https://bit.ly/2L0pQT9

Aprende-se na escola que os ciclos econômicos do Brasil foram a extração do pau-brasil, a produção de açúcar canavieiro, a mineração, o cultivo do café e o ciclo da borracha.

Em quase todos esses setores a mão de obra negra foi empregada, fora outras atividades econômicas secundárias na história do país. A construção do Brasil está inerentemente ligada ao trabalho de africanos e seus descendentes.

Os Quilombos de Resistência

Veja agora com o professor Fábio Luiz Pereira como os negros rebelados da escravidão se organizaram em Quilombos, e como algumas comunidades remanescentes atravessaram séculos, gerando as comunidades quilombolas.

República e a segregação

Em 1822, o Brasil tornou-se império, e a escravidão continuou. Ela era a base da economia latifundiária, mas foi sofrendo um processo de abolição gradual. A sustentação política da monarquia estava tão ligada aos latifundiários que apenas um ano depois da abolição foi proclamada a república brasileira.

Apesar disso, muitos donos de escravizados não perderam trabalhadores, pois como muitos negros não tinham propriedades nem seriam contratados em novos empregos, continuaram a trabalhar por teto e comida nas fazendas dos seus antigos senhores.

No novo regime a escravidão continuava abolida, mas não existia uma proposta de inclusão para a população negra. Muitos que resolveram se mudar para as cidades passaram a morar nas ruas e, na melhor das hipóteses, em cortiços. Poucos conseguiam abrir negócios, e a maioria trabalhava em empregos não qualificados que não exigiam nenhum tipo de instrução.

Como a maioria era analfabeta e outros tantos tinham pendências com as leis, não podiam votar nem se candidatar. Muitas mulheres negras continuaram a realizar trabalhos domésticos nas casas de famílias brancas, atividade exercida desde os tempos coloniais e existente até os dias de hoje.

Resumo sobre a Escravidão no Brasil

Veja agora com o professor Dudu Volpato um resumo sobre a trajetória desde a escravidão até à libertação, e os desafios de inclusão dos tempos atuais.

Nas primeiras décadas do século XX, o Brasil viveu intensas transformações urbanas com as políticas de higienização. Foram construídas calçadas, avenidas, instalados bondes, importados pardais franceses, entre tantas outras modificações com o intuito de tornar o Brasil um pouco mais “europeu”.

Acompanhado disso vieram as demolições de cortiços, proibição da circulação de pessoas sem sapatos nos centros das cidades e combate ao comércio de rua.

A população pobre e negra que vivia nos centros das cidades passou a habitar regiões desocupadas, na beira de morros. Esse foi o início do surgimento das favelas em diversas cidades brasileiras.

Imagem 2: Foto de um cortiço no início do século XX no Rio de Janeiro. Crédito: Augusto Malta/Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

Na década de 1930 surgiu a Frente Negra Brasileira, movimento que tornou-se partido, mas poucos anos depois acabou extinto. Há um retorno mais acentuado da ação política organizada da população negra na década de 60, mesmo período em que há a luta por direitos civis nos Estados Unidos.

Porém, neste mesmo período, instalava-se no Brasil uma ditadura militar que não tolerava a atuação de movimentos sociais, sobretudo oriundos da base da sociedade.

No fim da década de 70, quando o regime autoritário já dava sinais de fraqueza, surge o Movimento Negro Unificado no estado de São Paulo. Diversos outros movimentos sociais passaram a apoiar o MNU, e a instituição começou a denunciar diversos casos de racismo em instituições de ensino, presídios e em outros ambientes da vida cotidiana.

No Brasil do início dos anos 2000, ocorreram diversas outras conquistas para a população negra. Dentre elas podemos destacar as leis 10.639/03 e 11.645/08, que obrigam o estudo da cultura africana, afrodescendente e indígena nos currículos escolares, conquista advinda da pressão de movimentos sociais negros como o MNU.

Também deve-se mencionar a política de ações afirmativas (as conhecidas cotas) que são concebidas como meio de transformação da realidade dessa população: através da formação acadêmica, a população negra, que por tanto tempo viveu em desvantagem, tem maiores chances de ocupar cargos que lhes foram historicamente vetados.

A inclusão cidadã da população negra no Brasil, com base nos dados estatísticos ainda não é completa e isso se deve, principalmente, ao seu movimento tardio.

Lideranças e representantes negros na história do Brasil

Ao longo da história dos negros no Brasil podemos destacar diversos nomes de lideranças que contribuíram para modificar a situação de desigualdade social na história do nosso país. Algumas delas são:

Luís Gama

Jornalista, advogado autodidata e abolicionista nos tempos de Império. Acredita-se que tenha atuado pela libertação de pelo menos quinhentos escravizados.

Antonieta de Barros

Primeira deputada negra do Brasil. Eleita no estado de Santa Catarina, também era uma professora de língua portuguesa muito reconhecida. Antonieta lutou pela inclusão da população pobre e negra em Florianópolis através da educação.

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Imagem 3: Antonieta de Barros, a primeira mulher negra a entrar para a política formal no Brasil. Fonte: http://twixar.me/D2L1

João Cândido

Também conhecido como Almirante Negro, foi o principal líder da Revolta da Chibata, movimento de contestação de marinheiros no Rio de Janeiro realizado em 1910 contra a discriminação e castigos aplicados à militares negros.

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Imagem 4: Retrato de João Cândido, o conhecido Almirante Negro, líder dos marinheiros negros durante a Revolta da Chibata. Fonte: http://twixar.me/D2L1

Djamila Ribeiro

Mestra em Filosofia Política, é atualmente uma acadêmica brasileira e negra reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho. Djamila pesquisa e atua questionando relações raciais e de gênero. Já apresentou trabalhos em universidades mundialmente reconhecidas nos Estados Unidos e na França.

Assista à essa aula do Canal Futura sobre Antonieta de Barros, primeira deputada negra brasileira

Para finalizar sua revisão, veja esta videoaula sobre a história dos negros no Brasil:

Exercícios:

Resolva os exercícios abaixo sobre a história dos negros no Brasil para terminar sua revisão!

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